SAÚDE MENTAL DO ENFERMEIRO FRENTE AO SETOR DE EMERGÊNCIA E A REANIMAÇÃO CARDIOPULMONAR
NURSES' MENTAL HEALTH IN FRONT OF THE EMERGENCY SECTOR AND CARDIOPULMONARY RESUMPTION
SALUD MENTAL DE LAS ENFERMERAS DEL SECTOR DE URGENCIAS Y REANIMACIÓN CARDIOPULMONAR
1Marina Ramos Estuqui
2Rafaela Gorges Guesser
3Thailinni Ferreira de Souza
4Luciana de Fátima Leite Lourenço
5Wanusa Grasiela Amante de Souza
1Faculdade de Santa Catarina. Santa Catarina, Brasil. https://orcid.org/0000-0002-2774-6115
2Faculdade de Santa Catarina. Santa Catarina, Brasil. https://orcid.org/0000-0002-1659-0688
3Faculdade de Santa Catarina. Santa Catarina, Brasil. https://orcid.org/0000-0002-2774-6115
4Doutora em Enfermagem. Enfermeira servidora da Prefeitura Municipal de Florianópolis, SC https://orcid.org/0000-0002-2304-4562
5Especialista em Enfermagem. Docente de enfermagem da Faculdade de Santa Catarina, SC. https://orcid.org/0000-0002-0711-759x
Autor correspondente
Luciana de Fátima Leite Lourenço
Avenida Santa Catarina, 133, 88070-740, (48)996638508
RESUMO
Objetivos: Reconhecer a percepção do enfermeiro(a) sobre a sua saúde mental em unidade de emergência e diante da reanimação cardiopulmonar. Método: Trata-se de um estudo do tipo qualitativo, descritivo e exploratório, realizado no setor de emergência de uma instituição de cardiologia do estado de Santa Catarina. A coleta de dados ocorreu por meio de questionário semiestruturado, de forma online, e os dados foram analisados através da metodologia de Bardin. Resultados: Metade dos participantes realiza ou já realizou acompanhamento com o psicólogo/psiquiatra. Alguns participantes relataram piora da sua saúde mental ao atuar no setor de emergência. Dentre os fatores estressantes apresentados no setor de emergência, destacaram-se o excesso de atribuições e a baixa remuneração. Sentimentos como tristeza e conformismo foram identificados durante a reanimação cardiopulmonar. Cerca de metade dos profissionais afirmou se sentir estressado em relação ao trabalho. Considerações finais: Os profissionais enfermeiros não perceberam piora da saúde mental em decorrência da atuação no setor de emergência, entretanto foram apontam fatores e sintomas de estresse diante do setor em questão. Constatou-se que a falha na ressuscitação cardio pulmonar ocasiona desmotivação e tristeza, contribuindo para o sofrimento psíquico. É crucial favorecer o entendimento da saúde mental do enfermeiro frente ao setor de emergência e realizar novas discussões e reflexões acerca desta temática.
Palavras-chave: Saúde Mental; Enfermeiros; Parada Cardíaca; Enfermagem em Emergência; Reanimação Cardiopulmonar.
ABSTRACT
Objectives: To recognize the nurses' perception of their mental health in an emergency unit and in the face of cardiopulmonary resuscitation. Method: This is a qualitative, descriptive and exploratory study carried out in the emergency department of a cardiology institution in the state of Santa Catarina. Data collection took place through a semi-structured online questionnaire, and the data were analyzed using Bardin's methodology. Results: Half of the participants perform or have already performed follow-up with the psychologist/psychiatrist Some participants reported worsening of their mental health when working in the emergency department. Among the stressors presented in the emergency sector, the excess of assignments and low remuneration stood out. Feelings such as sadness and conformism were identified during cardiopulmonary resuscitation. About half of the professionals said they felt stressed about work. Final considerations: Nursing professionals did not perceive the occurrence of mental health as a result of working in the emergency sector, however, they were identified as worse factors and symptoms of stress in the sector in question. It was found that the failure in occasional cardio pulmonary resuscitation demotivation and sadness, suffered psychic suffering. It is crucial to promote the understanding of nurses' mental health in the emergency sector and carry out further discussions on this topic.
Keywords: Mental health; Nurses, Male; Heart Arrest; Emergency Nursing; Cardiopulmonary Resuscitation.
RESUMEN
Objetivos: Reconocer la percepción de los enfermeros sobre su salud mental en una unidad de emergencia y frente a la reanimación cardiopulmonar. Método: Este es un estudio cualitativo, descriptivo y exploratorio realizado en el servicio de urgencias de una institución de cardiología en el estado de Santa Catarina. La recolección de datos se realizó a través de un cuestionario en línea semiestructurado, y los datos se analizaron utilizando la metodología de Bardin. Resultados: La mitad de los participantes realizan o ya realizaron seguimiento con el psicólogo/psiquiatra. Algunos participantes informaron empeoramiento de su salud mental cuando trabajaban en el servicio de urgencias. Entre los estresores presentados en el sector de emergencia, se destacó el exceso de asignaciones y la baja remuneración. Se identificaron sentimientos como tristeza y conformismo durante la reanimación cardiopulmonar. Cerca de la mitad de los profesionales dijeron sentirse estresados por el trabajo. Consideraciones finales: Los profesionales de enfermería no percibieron la ocurrencia de salud mental como consecuencia del trabajo en el sector de emergencia, sin embargo, fueron identificados como peores factores y síntomas de estrés en el sector en cuestión. Se constató que la falla en la reanimación cardiopulmonar ocasional, la desmotivación y la tristeza, padecían sufrimiento psíquico. Es crucial promover la comprensión de la salud mental de los enfermeros en el sector de emergencia y llevar a cabo más discusiones sobre este tema.
Palabras
clave: Salud Mental; Enfermeros; Paro Cardíaco; Enfermería de Urgencia; Reanimación
Cardiopulmonar.
INTRODUÇÃO
A Enfermagem é uma ciência, e sua essência é o cuidado ao ser humano. Os enfermeiros estudam e trabalham para com êxito promover a saúde, auxiliar na prevenção de doenças, na recuperação e na reabilitação da integridade física e psicológica dos pacientes.¹ Ademais, a equipe de enfermagem é o grupo de profissionais que mais tem contato com o paciente, participando e auxiliando o mesmo em seus processos de dor, angústia e sofrimento.²
Os profissionais que optam pela Enfermagem se deparam com uma gama ampla de áreas de atuação. Para toda e qualquer atividade que o enfermeiro escolha realizar, é imprescindível manter e respeitar os princípios éticos e legais da profissão. Dentre as atribuições do enfermeiro, destaca-se a gestão e coordenação da equipe de enfermagem. O profissional pode atuar em todos os ambientes relacionados à saúde, direta ou indiretamente ligados à Enfermagem, e tem o direito de suspender as atividades quando o ambiente não oferece condições seguras para o mesmo.³
Assim como em vários outros setores de um hospital, o enfermeiro é um agente constante nas unidades de emergência, sendo um dos primeiros a ter contato com os pacientes que chegam a essas unidades. Diante disto, é de suma importância que o enfermeiro esteja atento e tenha conhecimento para agir nessas situações com propriedade. Tais profissionais estão constantemente expostos a fatores que podem comprometer sua integridade física e psíquica, podendo prejudicar a qualidade de seu atendimento.4
Considerando a imprevisibilidade do setor de emergência, os profissionais ficam expostos a diversos fatores de estresse neste ambiente. O estresse ocupacional dos enfermeiros está relacionado a: Escassez de recursos humanos; Carga horária de trabalho; Recursos materiais; Instalações físicas inadequadas; Plantões noturnos; Interface trabalho-lar; Relacionamentos interpessoais; Trabalhar em clima de competitividade; Distanciamento entre teoria e prática.5
Em pesquisa realizada sobre o estresse dos enfermeiros que trabalham no setor de emergência, constatou-se um escore médio de estresse, tendo como atividade mais estressante a de atender às emergências da unidade, seguido por enfrentar a morte do paciente e orientar familiares de paciente crítico.6
A parada cardiorrespiratória (PCR) é uma das situações de emergência em que o enfermeiro atua, devendo seguir o protocolo de atendimento, com o intuito de minimizar as lesões. Para isso, o enfermeiro, juntamente com a equipe multiprofissional, deve tomar decisões de forma rápida e precisa, não deixando de lado a liderança da equipe durante o atendimento.7 Objetivando o êxito na reanimação cardiopulmonar (RCP), o enfermeiro deve ser competente em sua atuação, considerando que é um dos responsáveis por agir prontamente, coordenando as ações e avaliando as prioridades.7,8
A PCR exige dos profissionais, além de conhecimento teórico-prático, equilíbrio emocional, pois necessita de ações imediatas e que devem ser realizadas de modo sincronizado e objetivo, bem como o que o setor de emergência exige. Por conseguinte, o equilíbrio emocional por parte dos enfermeiros é a peça-chave para evitar qualquer tipo de transtorno diante do cenário de PCR, assim, faz-se necessário salientar que o estado emocional destes profissionais é de extrema relevância tanto para a realização de uma adequada assistência ao paciente como também para si próprios.9,10
A Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC)11 (2019) afirma que o enfermeiro e sua equipe devem estar cientes de suas atribuições ao realizar o atendimento de uma PCR, visto que tal atendimento ocorre a partir de uma sequência lógica baseada em condutas que ocasionam a melhoria das taxas de reversão do quadro inicial que deu origem ao evento em questão. Para isso, visando aperfeiçoar o desempenho do enfermeiro e de sua equipe, torna-se evidente a importância da educação continuada acerca da PCR e RCP para esses profissionais.
A parada cardiorrespiratória, juntamente com outras atividades estressantes, faz parte do cotidiano dos enfermeiros atuantes nas emergências. Perante o exposto, faz-se necessário realizar pesquisas que demonstrem como o emocional dos enfermeiros pode ser afetado frente a estas ocorrências, possibilitando a análise das áreas psicológicas mais debilitadas, bem como de que forma esses profissionais lidam com algo que está constantemente presente em seu ambiente laboral. A percepção e reflexão dos profissionais da enfermagem sobre as condições de trabalho, é fundamental para o desenvolvimento de estratégias que possam também contribuir para a melhoria do processo de trabalho e para qualidade de vida.12
MÉTODO
Trata-se de uma pesquisa qualitativa, exploratória e descritiva. O cenário da pesquisa foi o setor de Emergência do Instituto de Cardiologia de Santa Catarina (ICSC), localizado em anexo ao Hospital Regional Homero de Miranda Gomes, em São José, Santa Catarina.13 O público alvo da pesquisa foram os(as) enfermeiros(as) que compõe o quadro de funcionários do ICSC, situados no setor de emergência nos turnos diurno e noturno.
No período da coleta de dados havia 28 participantes legíveis à pesquisa, sendo realizado convite a todos através da carta convite, via e-mail e/ou via aplicativo de conversa. Destes, chegou-se a amostra por conveniência de 20 enfermeiros(as) responderam a pesquisa, compondo assim a amostra final do estudo.
Os critérios de inclusão foram: enfermeiros(as) que possuíam no mínimo seis meses de experiência no setor de emergência de qualquer instituição, e que eram maiores de 18 anos de idade. Os critérios de exclusão foram: não estar em período de férias ou folgas nos dias da coleta de dados e também não se afastar, ou já estar afastado em atestado médico durante a aplicação do questionário.
A coleta de dados ocorreu no mês de outubro de 2021, por meio de questionário semiestruturado, elaborado pelas autoras, inserido no Google Forms e preenchido de forma online pelos participantes. Anteriormente à etapa de preenchimento do questionário, os participantes tiveram acesso ao Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), os quais assinalaram em “concordo” para prosseguir com a participação na pesquisa. Foram utilizados em média 20 minutos para o preenchimento do instrumento de coleta de dados. Os participantes também receberam via e-mail, a cópia do TCLE, assinado pelas pesquisadoras, para que tivessem acesso a tal documento.
As respostas dos participantes foram organizadas em documento do Word e analisadas por meio da análise de conteúdo de Bardin, dispostas em três fases: 1) pré-análise, 2) exploração do material e 3) tratamento dos resultados, inferência e interpretação.
Para a realização desta pesquisa de campo foram atendidas as exigências da Resolução nº 510, de 07 de abril de 2016, do Conselho Nacional de Saúde (CNS) e a Resolução nº 466, de 12 de dezembro de 2012, que tratam sobre as pesquisas que envolvem seres humanos, respeitando os princípios de equidade, beneficência, não maleficência, justiça e autonomia.14,15 O projeto de pesquisa foi encaminhado para análise do Comitê de Ética em Pesquisa, do ICSC, sendo aprovado pelo parecer nº 4.925.326.
RESULTADOS
Dentre os sujeitos da presente pesquisa, a maioria, representada por 60%, tem idade acima de 28 anos, sendo que 65% atuam no setor de emergência de dois a 10 anos, 80% relataram que possuem especialização e 90% dos enfermeiros atualizaram seu conhecimento técnico-científico nos últimos 12 meses.
No que diz respeito às atividades laborais dos enfermeiros, 55% dos participantes trabalham seis horas diárias, enquanto o restante trabalha por 12 horas. Referente aos seus vínculos empregatícios, 55% dos participantes relataram trabalhar em mais de um local e o restante apresenta apenas um vínculo empregatício. Acerca das condições de saúde dos enfermeiros, 40% referiram não possuir comorbidades prévias, 60% não faz uso de nenhum medicamento contínuo, e 20% referiram fazer uso de anti-hipertensivos.
No que concerne à realização de acompanhamento com o psicólogo/psiquiatra, 50% dos sujeitos referiram fazer ou já ter feito. A maioria dos profissionais não apresentava diagnósticos relacionados a transtornos mentais. A minoria relatou diagnóstico de depressão e/ou transtorno de ansiedade.
A maioria dos enfermeiros não relacionou piora da sua saúde mental em decorrência do setor de emergência quando comparado a outros setores. Contudo, destacaram-se alguns fatores estressantes no local de trabalho, destacando-se o excesso de atribuições e a baixa remuneração. Ainda, constatou-se que os afirmaram sentir-se estressados em relação ao local de trabalho, tendo na família o principal suporte emocional.
Quando questionados sobre sua percepção referente aos sintomas que apresentam ao se prepararem para sua jornada de trabalho ou durante a mesma, foi constatado sintomas como cefaleia e angústia. Com enfoque na realização da RCP e os sentimentos dos enfermeiros em relação aos pacientes que não resistem, foram de tristeza e conformismo. Quando a RCP é um sucesso, a maioria se sente motivado, enquanto a minoria apresenta sentimentos de indiferença e conformismo.
Os sentimentos que mais se ressaltaram entre os enfermeiros em relação à perda de pacientes durante suas jornadas laborais foram tristeza e angústia, seguidos de luto pela família, conformismo, impotência e desmotivação, como se pode observar no relato:
Vem um sentimento de impotência e desmotivação. Porém, depois vem o raciocínio lógico dizendo que todos temos o nosso tempo. Inclusive o paciente, podemos prestar uma assistência de qualidade e mesmo assim devido ao quadro/gravidade do doente não é possível a reversão (Participante 1).
Triste pela família que fica, e pelas lembranças que tenho dos pacientes que já acompanho há muitos anos e venham a falecer (Participante 9).
Também foi questionado sobre seus sentimentos no decorrer do restante do dia em que há perda de paciente, sendo constatada a prevalência do sentimento de conformismo, seguido de pensamentos reflexivos:
Fico mais quieta e pensativa. Porém, tento me concentrar para continuar prestando um bom atendimento para os pacientes que estou assistindo (Participante 1).
Acabo me conformando pois sei que a assistência foi completa (Participante 18).
Nos dias em que o falecimento de pacientes ocorre, os sentimentos de maior prevalência percebidos pelos profissionais ao fim de sua jornada de trabalho foram desmotivação, tristeza, desconforto e reflexão, enquanto a minoria busca não se envolver emocionalmente, como descrito a seguir:
Trabalho e trato minha mente para que eu não me desgaste com as perdas. Tento viver este luto somente no momento (...) (Participante 15).
Sentimento de tristeza pela perda, familia que ficara em luto, mas seguindo no objetivo que é a assistência ao paciente (Participante 2).
Tristeza, empatia, vulnerabilidade (Participante 7).
Ao serem indagados sobre o que compartilham com seus familiares/amigos, a maioria das respostas foram direcionadas aos casos clínicos dos pacientes, compartilhando questões de diagnósticos, prognósticos e atendimento, seguidos pelos relacionamentos interpessoais e conflitos.
Geralmente desabafo com meu parceiro e família sobre as situações estressantes do dia a dia pedindo conselhos em como agir da melhor forma (Participante 3).
Gosto de comentar como foi meu dia, situações de sucesso, as divergências que enfrentei. Discuto um pouco parte clínica com meu esposo tiro algumas dúvidas, e também peço conselhos (Participante 5).
A maior parte dos participantes considera positivo em seu ambiente laboral a qualidade do trabalho em equipe, comentando sobre sua união e parceria quando necessário, além de pontuarem também a organização e o apoio da chefia. Os pontos negativos evidenciados foram a falta de insumos e de infraestrutura, conflitos entre os integrantes, falta de comprometimento e deficiência na comunicação assertiva da equipe.
DISCUSSÃO
A saúde mental relacionada ao trabalho é um tema bastante abordado atualmente, visto que os trabalhadores vivenciam diariamente situações estressantes e traumáticas, que podem desencadear em algum momento da vida transtornos mentais. Somando-se a isto, é imprescindível destacar que o adoecimento mental dos trabalhadores é muitas vezes atrelado ao próprio indivíduo, tornando-o culpado de um problema meramente social, que normaliza a exigência e as cobranças presentes no cotidiano da população, especialmente em economias dependentes como o Brasil e outros países da América Latina.16,17
Os participantes não perceberam piora da sua saúde mental quando comparado a outros setores, contudo, metade dos profissionais afirmou se sentir estressado em relação ao trabalho, conforme constatado no presente estudo. Sabe-se que o setor de emergência pode apresentar diversos fatores desencadeantes para o estresse relacionado ao trabalho, no qual a maioria dos profissionais abordados sente-se estressada.18
Diante do exposto nos resultados, tem-se como principais fatores estressantes o excesso de atribuições e a baixa remuneração. Somando-se a isto, os principais desencadeadores de estresse descritos pelos enfermeiros são a falta de materiais, falta do profissional médico na emergência, unidade desorganizada e equipamentos sem condições de pronto uso.6
Percebeu-se que sintomas como cefaleia e angústia foram identificados por alguns participantes, na perspectiva do trabalho no setor de emergência. Os sintomas de desgaste mental são comumente confundidos com sintomas de estresse, e, muitas vezes, são negligenciados pelos profissionais da área da saúde. Quando não investigados, os sintomas podem se agravar e comprometer a capacidade para o exercício da profissão. Os profissionais de saúde, em especial os enfermeiros, tendem a desenvolver mecanismos de defesa que podem agravar os danos à saúde do trabalhador e gerar sofrimento psíquico.16
Observou-se que a atuação durante a RCP pode gerar sentimento de tristeza para a maioria dos enfermeiros quando o paciente não resiste e evolui ao óbito. Por ser um atendimento que exige um elevado nível de eficácia, a dificuldade do enfermeiro durante o atendimento de vítimas de PCR nas unidades de emergência, ocorre pela falta de segurança dos profissionais em seu conhecimento, provocado por falta de capacitação, habilidade, segurança sobre a técnica, falta de liderança e, principalmente, por instabilidade emocional da equipe.19 Mesmo tratando-se de um procedimento que provoca sentimento de frustração quando realizado sem sucesso, muitos enfermeiros relatam sentimentos positivos de prazer e valorização pessoal e profissional após realizarem as técnicas corretas de RCP.20
O estudo evidenciou que a perda do paciente durante suas jornadas laborais pode ocasionar tristeza e angústia, luto pela família, conformismo, impotência e desmotivação. Sentimentos semelhantes foram identificados em estudo no qual há culpa, fracasso e sofrimento, especialmente quando ocorre a criação de vínculo entre o paciente e seus familiares21.
Os sentimentos de fracasso e derrota dos profissionais de saúde que lidam cotidianamente com a morte estão relacionados à não preparação para o enfrentamento, dificuldade em discutir o assunto e não aceitação da morte como processo natural da vida.22
Na enfermagem, o desgaste mental é decorrente da elevada carga horária, geralmente aliada à baixa remuneração, vínculo com mais de um estabelecimento empregatício e ambiente de alta exigência. Junto a isto, o enfermeiro se envolve e vivencia com seus pacientes suas fases de dor, sofrimento e morte. Muitas vezes, os profissionais não aceitam ou se culpam pela perda do paciente Esses sentimentos negativos contribuem para o surgimento de problemas de saúde mental relacionados ao trabalho.16
Os pontos negativos relacionados ao setor de emergência examinados no presente estudo, foram relacionados aos aspectos materiais, como a falta de insumos e infraestrutura, além de conflitos nas equipes. Seguindo essa perspectiva, um estudo publicado em 2017 sobre a satisfação e insatisfação da equipe de enfermagem, afirma que outras questões podem ser consideradas negativas, como a falta de interação da equipe, o baixo reconhecimento profissional, apoio e autonomia, além de condições de trabalho inadequadas.23
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os profissionais enfermeiros não perceberam piora da saúde mental em decorrência da atuação no setor de emergência, entretanto foram apontam fatores e sintomas de estresse diante do setor em questão. Ademais, tornou-se evidente que a escassez de recursos materiais e de infraestrutura interfere na qualidade da assistência, que, por sua vez, desencadeia sentimento de frustração nos profissionais, interferindo no seu bem-estar.
Concomitantemente, constatou-se que a falha na RCP ocasiona desmotivação e tristeza, contribuindo para o sofrimento psíquico. Sob esse viés, o apoio psicossocial é peça-chave para a redução do adoecimento mental destes profissionais. Nesse prisma, a educação continuada é uma alternativa que visa evitar e minimizar as falhas, já que proporciona o aperfeiçoamento das habilidades e do desempenho em todas as etapas do procedimento.
Portanto, no que concerne à realização de novos estudos, e, buscando favorecer o entendimento da saúde mental do enfermeiro frente ao setor de emergência, a presente pesquisa colabora ativamente para permitir o reconhecimento das áreas psicológicas mais debilitadas e possibilita novas discussões e reflexões acerca desta temática.
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Submissão: 2022-02-06
Aprovado: 2022-03-25