ARTIGO DE REVISÃO

 

ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO NA CONSULTA DE PUERICULTURA: UMA REVISÃO INTEGRATIVA

 

NURSES' PERFORMANCE IN CHILD CARE CONSULTATION: AN INTEGRATIVE REVIEW

 

DESEMPEÑO DEL ENFERMERO EN LA CONSULTA DE CUIDADO INFANTIL: UNA REVISIÓN INTEGRADORA

https://doi.org/10.31011/reaid-2023-v.97-n.1-art.1404

 

1Ana Erica de Souza Lima

2Brenda Arnaldo Falcão

3Moane Fernandes Granjeiro

4Carolinne Kilcia Carvalho Sena Damasceno

5Adélia Dalva da Silva Oliveira

6Juliana Macêdo Magalhães

 

1 Graduanda em Enfermagem do Centro Universitário UNINOVAFAPI, Teresina, Brasil, ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1058-7832, E-mail: anaerica12.ae@gmail.com.

2Graduanda em Enfermagem do Centro Universitário UNINOVAFAPI, Teresina, Brasil, ORCID: https://orcid.org/0000-0002-9663-2293, E-mail: brendinhafalcao@gmail.com.

3 Graduanda em Enfermagem do Centro Universitário UNINOVAFAPI, Teresina, Brasil, ORCID: https://orcid.org/0000-0002-0683-1855, E-mail: moanefernandesgranjeiro@gmail.com.

4Enfermeira. Mestra, Docente do curso de enfermagem do Centro Universitário UNINOVAFAPI, Teresina, Brasil, ORCID: https://orcid.org/0000-0001-5766-5984, E-mail: carolkilcia@yahoo.com.br.

5 Enfermeira. Doutora, Docente do curso de enfermagem do Centro Universitário UNINOVAFAPI, Teresina, Brasil, ORCID: https://orcid.org/0000-0001-8344-9820, E-mail: adelia.oliveira@uninovafapi.edu.br.

6 Enfermeira. Doutora em Engenharia Biomédica, Docente do curso de enfermagem do Centro Universitário UNINOVAFAPI, Teresina, Brasil, ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9547-9752, E-mail: juliana.magalhaes@ uninovafapi.edu.br.

 

Autor correspondente

Autor correspondente

Erica de Souza Lima

Rua São Leonardo, 890, condomínio Tunas Ferreira –Uruguai/ CEP: 64.073-063.

Teresina, Piauí, Brasil.

Telefone: +55(99)99183-9323,

E-mail: anaerica12.ae@gmail.com

 

Submissão:17-05-2022

Aprovado: 14-12-2022

 

RESUMO

Objetivo: Analisar na literatura científica a atuação do enfermeiro na consulta de puericultura. Método: Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, realizada nas bases de dados eletrônicas LILACS, MEDLINE, BBDENF via BVS e na SciELO. Resultados: Foram utilizados 23 artigos. Os mesmos foram agrupados em categorias temáticas, sendo elas: atuação do enfermeiro na puericultura e dificuldades encontradas na atuação do enfermeiro na puericultura. Conclusão: O enfermeiro desempenha um papel importante no cuidado de enfermagem a partir da formação de vinculo e atendimento integral. Contudo vale ressaltar que apesar da criação desse vinculo o enfermeiro enfrenta algumas dificuldades na realização das consultas, tanto dificultas estruturais quanto técnicas, havendo a necessidade de um treinamento desses profissionais. Acredita-se também que o enfermeiro é um dos maiores apoiadores da equipe e cuida da criança com base na aceitação, atenção e coesão. As pesquisas atuais sobre o assunto apontam para uma lacuna importante e representa uma limitação pela necessidade de pesquisas nos últimos anos para aprimorar o novo processo de vivência da atuação do enfermeiro na consulta de puericultura.

Palavras-chave: Cuidados de Enfermagem; Enfermagem de Atenção Primária; Cuidado da Criança.

 

ABSTRACT

Objective: To analyze in the scientific literature the role of nurses in childcare consultations. Method: This is an integrative literature review, carried out in the electronic databases LILACS, MEDLINE, BBDENF via VHL and SciELO. Results: 23 articles were used. The same were grouped into thematic categories, namely: nurse's performance in childcare and difficulties encountered in the nurse's performance in childcare. Conclusion: The nurse plays an important role in nursing care from the formation of bond and comprehensive care. However, it is worth mentioning that despite the creation of this link, nurses face some difficulties in carrying out consultations, both structural and technical difficulties, with the need for training these professionals. It is also believed that the nurse is one of the biggest supporters of the team and takes care of the child based on acceptance, attention and cohesion. Current research on the subject points to an important gap and represents a limitation due to the need for research in recent years to improve the new process of experiencing the role of nurses in childcare consultations.

Keywords: Nursing Care; Primary Care Nursing; Child Care.

 

RESUMEN

Objetivo: Analizar en la literatura científica el papel de las enfermeras en las consultas de puericultura. Método: Se trata de una revisión integrativa de la literatura, realizada en las bases de datos electrónicas LILACS, MEDLINE, BBDENF vía BVS y SciELO. Resultados: se utilizaron 23 artículos. Los mismos fueron agrupados en categorías temáticas, a saber: actuación del enfermero en el cuidado del niño y dificultades encontradas en la actuación del enfermero en el cuidado del niño. Conclusión: La enfermera juega un papel importante en el cuidado de enfermería desde la formación del vínculo y el cuidado integral. Sin embargo, vale mencionar que a pesar de la creación de este vínculo, los enfermeros enfrentan algunas dificultades en la realización de las consultas, tanto estructurales como técnicas, con la necesidad de formación de estos profesionales. También se cree que la enfermera es uno de los mayores apoyos del equipo y cuida al niño a partir de la aceptación, la atención y la cohesión. Las investigaciones actuales sobre el tema apuntan a un vacío importante y representan una limitación debido a la necesidad de investigaciones en los últimos años para mejorar el nuevo proceso de vivencia del papel del enfermero en las consultas de puericultura.

Palabras clave: Atención de Enfermería; Enfermería de Atención Primaria; Cuidado de los Niños.

 

 

INTRODUÇÃO

A implementação dos marcos legais brasileiros, como a Constituição Federal de 1988, que garantiu o direito universal à saúde por meio da criação do Sistema Único de Saúde (SUS) e a proteção integral da criança, através da instituição do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em 1990, possibilita melhoras significativas referentes à saúde da criança. Entretanto, garantir que esses avanços cheguem à população infantil de maneira universal, de modo que atinja também os grupos mais vulneráveis, é uma tarefa constante. Em razão disso, no ano de 2015, houve a elaboração da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança (PNAISC), com o intuito de assegurar o pleno desenvolvimento de todas as crianças e o exercício da cidadania das mesmas (1).

Mediante tais conquistas decorrentes da criação do SUS, um novo modelo foi instaurado aos responsáveis pela promoção do cuidado, sobretudo aos Enfermeiros, baseando-se nos princípios do sistema para elaborar novas maneiras de acolher e assistir. Diante disso, a Enfermagem pôde realizar a sua consolidação por intermédio da Consulta de Enfermagem (CE), quando a tornou obrigatória em todos os níveis de assistência à saúde, através da Resolução nº159/COFEN, ao passo que se fortalecia cientificamente como profissão (2).

A CE compõe o conjunto de tecnologias para o cuidado realizadas pelo profissional como assistência individual, que integra o conhecimento humano, sendo ele científico e também empírico, onde se busca o desenvolvimento de estratégias do cuidado, como intervenções e orientações, baseadas na prevenção e promoção da saúde. Dentre tais planejamentos, a CE pode se desdobrar no campo da puericultura, com o intuito de alcançar o aproveitamento por completo do potencial intrínseco fornecido por meio do crescimento da criança, desde a vida intrauterina (3).

Sendo assim, a Consulta de puericultura é uma ferramenta primordial na garantia da saúde dos infantes, visto que reúne procedimentos orientados para o cuidado integral, aspirando acompanhar de forma regular e sistemática, o crescimento, desenvolvimento, imunização, aleitamento materno, alimentação e orientações sobre a prevenção de acidentes (4).

Logo, pode-se considerar que a Consulta de puericultura é uma das portas de entrada do SUS, que fornece a possibilidade da integração entre o indivíduo, a assistência e o profissional. Ainda nesse âmbito, é válido destacar o desenvolvimento de um vínculo fundamental para obter uma consulta de puericultura de qualidade, representado pelo profissional e o responsável pela criança, que geralmente é a mãe. Tal conexão é importante no que diz respeito à execução da assistência, pautada nos princípios e diretrizes da promoção da saúde, inclusive na compreensão do ambiente familiar, seus relacionamentos, contexto sociocultural, econômico e ambiental no qual a criança está inserida (5).

Através da consolidação da Política Nacional de Atenção Básica (PNAB), tal como a ampliação das equipes da Estratégia de Saúde da Família (ESF), o profissional da Enfermagem ganhou maior relevância ao ter oportunidade de aproximação com a puericultura (6). Desse modo, o Enfermeiro destaca-se durante a avaliação da criança, escuta ativa aos cuidadores e atuações de prevenção. Em razão disso, a eficácia das ações do Enfermeiro possibilita a garantia de qualidade de vida das crianças, responsável por promover um desenvolvimento mais saudável. Diante disso, urge a necessidade do reconhecimento e aplicabilidade desse profissional (7).

 

MÉTODOS

Este estudo foi elaborado por meio de uma revisão integrativa da literatura.

A revisão integrativa da literatura é um dos métodos de pesquisa que concede a agregação das evidências que integra a análise de pesquisas significativas que dão base para a tomada de decisão e a melhoria da prática clínica. Este método de pesquisa proporciona a síntese de múltiplos estudos publicados e permite conclusões gerais a respeito de uma particular área de estudo (8).

Para elaboração desta pesquisa, seguiu-se as etapas definidas pelos autores (8), quais sejam: elaboração da questão da pesquisa, busca ou amostragem na literatura dos estudos primários, extração dos dados dos estudos primários, avaliação dos estudos primários incluídos, análise e síntese do resultado da revisão e apresentação da revisão integrativa.

 

Questão para pesquisa

                       

O estudo teve como questão para a pesquisa: Qual é a atuação do Enfermeiro na consulta de puericultura, segundo as evidências cientificas? Elaborada por meio da estratégia PICo, em que P: corresponde aos participantes, no caso os Enfermeiros, I: fenômeno de interesse, representado pela atuação do Enfermeiro, Co: contexto do estudo, que é a puericultura/atenção básica (9).

A busca na literatura foi realizada em setembro de 2021, nas seguintes bases de dados: Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE), Base de Dados em Enfermagem (BDENF) e na Scientific Electronic Library Online (SciELO). Destaca-se que as bases de dados LILACS, MEDLINE e BDENF, foram consultados através da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). As buscas foram realizadas utilizando os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) da Biblioteca Regional de Medicina (Bireme): Cuidados de Enfermagem, Enfermagem de Atenção Primária e Cuidado da Criança, com auxílio do operador booleano “AND”. Ressalta-se que a busca foi realizada de forma independente por três pesquisadoras, conforme recomendam a pesquisa (8).

Adotou-se como critérios de inclusão: artigo original, com texto completo, publicados em português, inglês e espanhol, indexados nas bases de dados consultadas referente ao período de janeiro de 2011 à setembro de 2021 (porque a pesquisa foi realizada antes do ano fechar) que abordassem a atuação do Enfermeiro na consulta de Puericultura. Em contrapartida foram excluídos artigos de revisão, teses, dissertações, reportagens, notícias e aqueles que não atenderem ao objeto do estudo. Os artigos duplicados foram considerados apenas uma vez. 

Destaca-se que para seleção das publicações, seguiram-se as recomendações do Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses - PRISMA (10), conforme apresentado na Figura 1, a seguir.

 

Figura 1 – Fluxograma do processo de seleção dos estudos para a revisão adaptado do Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA). Teresina, PI, Brasil, 2021.

                Fonte: Elaborado pelos autores. Bases de dados (LILACS, MEDLINE, BDENF e SciELO).

 

A análise de dados foi realizada de forma descritiva, enfatizando a atuação do Enfermeiro na consulta de puericultura. Para melhor compreensão, a discussão foi subdividida em categorias temáticas, o que exigirá a comparação dos resultados dos artigos científicos selecionados com o conhecimento teórico. Referindo-se a elementos ou aspectos com características comuns, que estão relacionados entre si, ou que se liga a ideia de classe ou série, com a função de estabelecer classificação.

 

RESULTADOS

Nesta revisão foram selecionados 23 artigos, dos quais em relação à autoria, um foi produzido por dois autores e as outras vinte e duas produções foram realizadas por três ou mais autores. Os manuscritos foram publicados entre 2011 e 2021, destacando-se os anos de 2013, 2015 e 2020 com 4 produções cada.  Em seguida, sobressaíram os anos de 2012 e 2019 com 3 cada e o ano de 2016 com duas produções científicas. Os anos de 2011, 2014 e 2018 tiveram apenas uma cada.

No que diz respeito a base de dados, dez foram identificados na LILACS, dez na BDENF-Enfermagem, dois na SciELO e um na MEDLINE. (Quadro 1). Com relação ao periódico, dezoito foram publicados em periódicos de Enfermagem e cinco em revistas interdisciplinares de saúde. Destacou-se a Revista Cogitare Enfermagem com três publicações sobre a temática e a abordagem metodológica mais frequente foi a pesquisa descritiva, exploratória, com abordagem qualitativa com onze estudos. Os estudos incluídos foram escritos na língua portuguesa. Quanto à origem dos estudos, todos, vinte e três artigos foram desenvolvidos no Brasil.

 

Quadro 1 - Síntese dos estudos incluídos na revisão, segundo autores, ano de publicação, título, base de dados, periódico, tipo de estudo, país e principais resultados. Teresina, PI, Brasil, 2021.

 

 

Código

Autores/

Ano

Título

Base de dados/Periódico

Tipo de estudo/País

 

 

Principais resultados

A1

Favaro et al./2020

 

Percepção do enfermeiro sobre assistência às crianças com necessidades especiais de saúde na atenção primária

 

LILACS/

REME rev. min. enferm 

 

Estudo descritivo, exploratório de abordagem qualitativa/

Brasil

 

Da análise emergiram duas categorias (despreparo para assistência e suas implicações e acesso aos serviços de saúde da rede de atenção às crianças com necessidades especiais de saúde), as quais mostram que os enfermeiros, em sua maioria, não se sentem capacitados para oferecer assistência de qualidade; avaliam o acesso dessas crianças e suas famílias aos serviços de saúde como dificultado.

A2

Zanatta et al./ 2020

 

Consulta de enfermagem em puericultura à criança haitiana: dificuldades e possibilidades

LILACS/

Rev. baiana enferm 

Estudo exploratório, descritivo com abordagem qualitativa/ Brasil

Na análise evidenciou-se que uma das principais dificuldades da consulta de puericultura está relacionada à intercomunicação entre os enfermeiros e as famílias de crianças haitianas, ocasionadas principalmente pela língua estrangeira utilizada pelos haitianos. Outra dificuldade é que os enfermeiros entendem que existe uma diferença cultural entre haitianos e brasileiros, e que esta pode interferir na dinâmica da CE em puericultura, e consequentemente no cuidado à criança.

A3

Monteiro et al./ 2020

Consulta de enfermagem em puericultura na perspectiva de mães atendidas pela estratégia saúde da família

LILACS/

Rev. baiana enferm 

Pesquisa descritiva, exploratória, com abordagem qualitativa/ Brasil

Observou-se que alguns fatores dificultam a consulta de enfermagem a puericultura, porém há uma boa aceitação por parte das mães onde elas reconheceram a importância da consulta de puericultura no acompanhamento do crescimento e desenvolvimento de seus filhos, e referiram que a consulta em puericultura possibilitava também que se detectassem, de forma precoce, possíveis alterações patológicas que os filhos poderiam ter, nas consultas desenvolvidas sempre que necessário eram repassadas as orientações.

A4

Siega et al./ 2020

Vivências e significados da Consulta do Enfermeiro em puericultura: análise à luz de Wanda Horta

LILACS/

Rev. enferm. UFSM 

Trata-se de uma pesquisa qualitativa do tipo pesquisa-ação/ Brasil

Para os enfermeiros, durante a consulta é o momento de realizar a escuta qualificada, o que requer competência, habilidade e conhecimento com vistas a desenvolver a CE em puericultura na sua integralidade. Além disso, relatam que há rotatividade dos profissionais, dificultando a criação de vínculo entre a equipe, famílias e comunidade, resultando na pouca confiança no enfermeiro que realiza a consulta

A5

Araujo Filho, Rocha, Gouveia/ 2019

Possibilidades para a integralidade do cuidado da criança na atenção básica

LILACS/

Rev. Cuba. enferm 

Estudo descritivo, qualitativo/ Brasil

Observou-se que o cuidado integrado qualifica e beneficia a assistência prestada à criança na atenção básica. Ainda, referiu-se que a consulta de puericultura e nas visitas domiciliares tem com o objetivo de reduzir a morbimortalidade e proporcionar uma melhoria na qualidade de vida das crianças.

A6

Vieira et al./ 2019

Processo de trabalho de enfermeiros na vigilância do desenvolvimento infantil

LILACS/

REME rev. min. enferm 

Pesquisa qualitativa do tipo descritiva/ Brasil

Evidenciou-se que os enfermeiros implementam algumas ações de cuidado preconizadas para consulta de puericultura, porém a vigilância do desenvolvimento neuropsicomotor e as técnicas relacionais encontram-se fragilizadas. Os fatores que dificultam o processo de trabalho dos enfermeiros na realização da vigilância do desenvolvimento infantil foram a precária infraestrutura, escassez de insumos e baixa adesão das mães às consultas.

A7

Ferreira et al./ 2019

Consulta de puericultura: problemas encontrados em menores de 2 anos

LILACS/

Rev. enferm. UFPE on line

Trata-se de um estudo quantitativo, descritivo, retrospectivo/ Brasil

Durante a consulta de puericultura, observou-se que algumas das crianças apresentaram problemas de saúde mais de uma vez durante os dois primeiros anos de vida. Observou-se também, segundo os registros encontrados nos prontuários, que, no espaço destinado à consulta de puericultura, as anotações, muitas vezes, não existiam, e aquelas existentes eram incompletas e desprovidas de detalhes.

A8

Vieira et al./ 2018

A prática do enfermeiro na consulta de puericultura na estratégia saúde da família

Scielo/

Revista Texto e Contexto Enfermagem

Estudo observacional, quantitativo/ Brasil

As dimensões do cuidado realizadas em maior proporção foram a avaliação da imunização e as suplementações de ferro e vitamina A; a anamnese, o acolhimento, o exame físico/desenvolvimento neuropsicomotor e a educação em saúde foram as menos efetivadas pelos enfermeiros.

A9

Moreira, Gaiva/ 2016

Comunicação do enfermeiro com a mãe/família na consulta de enfermagem à criança

LILACS/

Rev@Enf.

Pesquisa descritiva, de abordagem qualitativa/ Brasil

Observou- se que para se garantir uma assistência de qualidade e efetiva, o enfermeiro deve ouvir e valorizar as demandas trazidas pela família sobre a saúde da criança.

A10

Reichert et al/ 2016

Vínculo entre enfermeiros e mães de crianças menores de dois anos: percepção de enfermeiros.

Scielo/

Ciência & Saúde Coletiva

Pesquisa qualitativa/

Brasil

A avaliação das relações estabelecidas entre enfermeiros e mães de crianças menores de dois anos na consulta de enfermagem é de fundamental importância, por ter repercussão direta na atenção integral à saúde da população infantil. Foi evidenciado que, apesar de algumas dificuldades para a formação do vínculo efetivo entre elas e as progenitoras, as enfermeiras consideram que existe uma relação intersubjetiva desenvolvida por elas na atenção primária.

11

Reichert et al./ 2015

Child development surveillance: intervention study with nurses of the Family Health Strategy

MEDLINE/

Revista Latino-Americana de Enfermagem

Estudo quase experimental, do tipo antes-depois, com aplicação de pré e pós-teste/ Brasil.

Encontram-se os itens de avaliação do conhecimento dos enfermeiros sobre o desenvolvimento infantil, informações prestadas pelos enfermeiros sobre suas práticas de vigilância do desenvolvimento antes e após a intervenção e informações maternas.

12

Pereira et al./ 2015

 

Prática educativa de enfermeiras na atenção primária à saúde, para o desenvolvimento infantil saudável

LILACS/

Cogitare Enfermagem.

Pesquisa exploratória, descritiva de campo, com abordagem qualitativa/ Brasil.

 

Evidenciou-se que as enfermeiras relataram orientar as mães/cuidadores das crianças em assuntos relacionados à higiene, imunização e nutrição, durante individual e coletivo. No entanto, eles não incluem monitoramento do crescimento e desenvolvimento infantil entre suas atividades rotineiras, revelando a fragilidade dessas ações quando não são tratadas durante visitas de puericultura ou outro tipo de cuidado.

 

13

Moura et al./ 2015

 

Facilidades e dificuldades dos enfermeiros no cuidar da alimentação infantil na atenção básica

LILACS/

O Mundo da Saúde.

Abordagem qualitativa, do tipo história oral temática/ Brasil.

Identificou-se que as facilidades no cuidado de enfermagem na alimentação infantil envolvem as categorias: 1) Criança e família; 2) Enfermeiro; e 3) Unidade de atenção básica. Quanto às dificuldades, estas se concentram no universo da criança englobando fatores sociais, culturais e econômicos de seu contexto.

14

Silva,

Veríssimo Azevedo, 2015

Vulnerabilidade no desenvolvimento infantil: influência das políticas públicas e programas de saúde

BDENF - Enfermagem /

Universidade Federal do Paraná

Estudo exploratório de abordagem qualitativa/ Brasil

O enfermeiro relata a expressão de processos individuais que são reflexos da sociedade pós-moderna e compreende esta relação sociedade-família como uma situação adversa ao desenvolvimento infantil. Para ele, o desenvolvimento de uma criança exprime a organização de sua família e consequentemente a organização da sociedade

15

Baratieri et al./ 2014

 

Consulta de enfermagem na puericultura: enfoque no prontuário

BDENF – Enfermagem/  

Revista de enfermagem da UFSM.

Estudo documental, descritivo-exploratório, quantitativo.

/Brasil.

 

Apenas 17% das crianças iniciaram a puericultura no primeiro mês de vida; 32%. Foram atendidas com frequência irregular; quanto aos dados registrados no prontuário, 100% tinham registro de peso; 89%  de  estatura  e  perímetro  cefálico;  98%  tipo  de  alimentação; apenas um havia registro do desenvolvimento neuropsicomotor; 100% não possuíam registro de perímetro  torácico  e  abdominal,  e  vacinação.

 

16

Silva et al./ 2013

Perfil da clientela atendida pelo enfermeiro na estratégia acolhimento mãe-bebê

BDENF – Enfermagem/

Cogitare Enfermagem.

 

Estudo quantitativo do tipo descritivo-exploratório/ Brasil.

Os resultados mostraram que a consulta do enfermeiro na Estratégia Acolhimento Mãe-Bebê propicia que o enfermeiro esteja atento aos agravos que podem acometer a mãe no período pós parto, como a hemorragia, temperatura elevada ou alteração nas mamas.

17

Gomes, Rocha, Tyrrell/ 2013

The technical skills of the nurses on the assistance of the newborn recém-nascido

BDENF – Enfermagem/

Revista de Pesquisa Cuidado é Fundamental.

Estudo Quantitativo, transversal, descritivo/ Brasil.

O estudo constatou que 66,66% de todos os enfermeiros possuem conhecimento avaliado.  A competência profissional do enfermeiro neonatal traduz, então, a capacidade de usar conhecimentos e habilidades adquiridas na prática para o cuidado do recém-nascido.

18

Souza et al./ 2013

Atenção à saúde da criança: prática de enfermeiros da saúde da família

BDENF – Enfermagem/

REME (Impresso): revista mineira de enfermagem.

Pesquisa qualitativa/ Brasil.

Mostrou-se que é atribuição do enfermeiro realizar o primeiro atendimento ao recém-nascido sadio e ao de risco. A consulta de enfermagem à criança realizada logo nos primeiros dias de vida é de fundamental importância. Ela possibilita ao enfermeiro a realização de diagnóstico precoce e a orientação mais eficaz sobre o aleitamento materno.

 

19

Oliveira et al./ 2013

Consulta de puericultura realizada pelo enfermeiro na Estratégia Saúde da Família

BDENF – Enfermagem/

Revista Rene

Pesquisa observacional, descritiva, quantitativa/ Brasil

Averiguou-se a necessidade de capacitação dos enfermeiros, pela educação permanente, para aperfeiçoamento do cuidado, visando contribuir com a melhoria da qualidade da assistência de enfermagem voltada à promoção da saúde da criança durante as consultas de puericultura.

20

Barboza, Barreto, Marco/ 2012

Registros de puericultura na atenção básica: um estudo descritivo.

BDENF – Enfermagem/

Online braz. j. Nurs. (Online) 

Trata-se de uma pesquisa descritiva, de natureza quantitativa/ Brasil

 

Observou-se que de todas as crianças que foram acompanhadas pela puericultura, que o enfermeiro foi responsável por mais da metade dos atendimentos, demonstrando a importância deste profissional no acompanhamento da atenção básica à saúde das crianças, desde que realize uma assistência sistematizada e com qualidade.

21

Vieira et al./ 2012

 Puericultura na atenção primária à saúde: atuação do enfermeiro

BDENF – Enfermagem/

Revista Cogitare Enfermagem

Pesquisa descritiva exploratória de natureza qualitativa/ Brasil

Notou-se que a compreensão do que é o Programa de Puericultura pelos enfermeiros que o conceito de puericultura esteve atrelado à prática de orientar, mas de maneira geral, a consulta de puericultura foi considerada pelos enfermeiros como muito importante na atenção à saúde da criança. Onde os mesmos destacaram que o valor das consultas está ligado à oportunidade de realizar a avaliação infantil.

22

Reichert et al./ 2012

Vigilância do crescimento infantil: conhecimento e práticas de enfermeiros da atenção primária à saúde.

BDENF – Enfermagem/

Revista RENE

Pesquisa quantitativa transversal/ Brasil

Identificou-se a necessidade de atualização dos enfermeiros sobre conteúdos relacionados à saúde da criança, para realizarem a vigilância do crescimento infantil de forma integral.

 

23

Monteiro et al./ 2011

A enfermagem e o fazer coletivo: acompanhando o crescimento e o desenvolvimento da criança.

BDENF – Enfermagem/

Revista Rene

Pesquisa qualitativa / Brasil

Avaliou-se que o acompanhamento da criança no atendimento prestado pelas enfermeiras, destacam-se como atividades necessárias durante a consulta os atos de pesar, medir e auscultar, na qual as atividades dos pais são restritas as ações de ouvir, perguntar e responder aos questionamentos do profissional.

 

Fonte: Os autores

DISCUSSÃO

De acordo com os dados levantados, a partir dos artigos selecionados, a atuação do enfermeiro na consulta de puericultura e as dificuldades encontradas serão apresentados em duas categorias descritas a seguir.

 

Atuação do enfermeiro na consulta de puericultura

A consulta de puericultura é um recurso fundamental, com foco na promoção e recuperação da saúde e do bem-estar da criança, possui ainda como propósito a garantia tanto de um bom crescimento, quanto um desenvolvimento favorável aos aspectos físico, emocional e social, de modo que colabore na redução da morbimortalidade infantil. Sendo assim, a consulta de puericultura constitui-se em uma importante estratégia para a promoção da saúde infantil, contudo, requer o envolvimento da família com o enfermeiro, para que haja maior efetividade (11).

A partir dessa interação entre a família e os enfermeiros, ocorrem as orientações acerca da importância do aleitamento materno, visto que essa consulta deve ser realizada logo nos primeiros dias de vida das crianças. Além disso, esse procedimento também se torna relevante devido ao fato de ser uma grande ferramenta de auxílio em diagnósticos precoces e por ser durante um momento sensível para a mãe, funciona também como um espaço para conversação sobre suas ansiedades referentes ao bebê e à família, possibilitando a ocorrência da comunicação terapêutica (12).

Dessa maneira, fica evidente a importância da realização da CE logo no início, isto porque ela pode atuar interferindo e colaborando na prevenção de inúmeras intercorrências. Por ser um momento permeado por muitas dúvidas, medos e diferentes novas sensações, a atuação do Enfermeiro é essencial na assistência tanto da mãe quanto do bebê, este profissional é o responsável por orientar e também por encaminhar, de acordo com as necessidades de saúde apresentadas durante a avaliação (13).

Ademais, é durante esse contato inicial que ocorre o processo de adaptação em virtude das várias mudanças biológicas, sociais e emocionais. Ainda cabe destacar que a compreensão do perfil da paciente pelos enfermeiros no acolhimento materno-infantil é de grande importância para o desenvolvimento das medidas de promoção de saúde, que contribuem para diminuir a morbimortalidade infantil e estreitam o vínculo da família com o serviço de saúde (14).

Tendo em vista que o diálogo entre a família da criança e o enfermeiro é primordial para que haja resolutividade dos problemas, essa comunicação deve ser vista como uma dimensão central do cuidado, bem como uma intervenção também responsável por promover a saúde da criança. Dessa forma, a CE é uma interação onde ambas as partes devem expor o que acham, composta de ações e atividades voltadas ao usuário e com ele compartilhadas, com foco na escuta, ajuda, troca, apoio, conforto e o esclarecimento de dúvidas, permeada por sensibilidade, valorização e compreensão do outro (15).

 Os autores (16) relatam que para os Enfermeiros, a CE em puericultura possibilita a ampliação do conhecimento acerca da história pregressa e atual da criança e sua família, permitindo a verificação de suas principais necessidades. A identificação é realizada, principalmente, durante a etapa de coleta de dados, momento reservado para a ocorrência de uma escuta qualificada, que necessita de competência, habilidade e conhecimento com vistas a desenvolver a CE em puericultura na sua integralidade. O profissional ainda é apto a tornar a CE mais efetiva através da avaliação da criança durante o exame físico, utilizando métodos propedêuticos de inspeção, percussão, palpação e ausculta.

Segundo os autores (17) o desenvolvimento de trabalho do enfermeiro na consulta de puericultura é marcado por ações que incluem a promoção da saúde, prevenção, tratamento e reabilitação, aplicando o conhecimento científico profissional na prática clínica da atenção básica. Outro procedimento realizado pelos enfermeiros durante as consultas de puericultura é o registro na Caderneta de Saúde da Criança (CSC), que se constitui como importante ferramenta de acompanhamento do desenvolvimento infantil. Além disso, a execução dos procedimentos citados se potencializa quando feito em equipe, visto que a atuação conjunta com o médico e demais profissionais é uma solução para as necessidades de saúde das crianças.

Ademais, a educação em saúde é de extrema importância no contexto da consulta de puericultura, pela finalidade de proporcionar qualidade de vida e garantir um crescimento saudável. Cabe também, na atuação dos enfermeiros, a realização de atividades de educação em saúde que envolvam orientação sobre práticas de puericultura durante as visitas de acompanhamento, tanto em consultas individuais quanto em consultas coletivas (18). Ainda é comum encontrar falhas nas atuações de alguns enfermeiros no contexto da ESF, principalmente em relação ao atendimento integral à criança e também na orientação às mães, o que torna essencial a ocorrência de mudanças na dinâmica dos serviços de saúde e destinar maior ênfase nas ações educativas. Portanto, com o intuito de reduzir tal problemática, a melhor maneira de aprofundamento de conhecimentos e busca de respostas para as demandas por conhecimentos na área da saúde da criança ainda está na estratégia de educação permanente (19).

Desse modo, é importante considerar a transmissão de conhecimentos por meio das orientações nas consultas de puericultura como uma tarefa indispensável do enfermeiro, ao passo que deve também buscar ampliar a autonomia do responsável e reiterar a condição de sujeito social, com a finalidade de expor e incentivar a capacidade de prestar cuidado à criança. A transmissão de confiança entre os serviços de saúde e os responsáveis pode ser responsável por contribuir na melhoria da condução do processo de desenvolvimento das crianças (20).

Com a pesquisa (21) percebeu-se que ao utilizar profissionais para a educação crítica e problemática na promoção e educação em saúde, o cunho científico da enfermagem foi fortalecido, em colaboração para o desenvolvimento de ações inovadoras, como o acompanhamento coletivo das crianças, potencializando a valorização e a visibilidade da profissão (22). A autonomia do enfermeiro é uma conquista que precisa ser valorizada e ainda mais encorajada no processo de trabalho. Logo, ao cuidar das crianças, deve ser responsável também pelas ações de educação, desenvolvimento de confiança e transmissão de segurança à mãe ao responsável.

O aconselhamento de enfermagem ajuda a construir um vínculo entre o enfermeiro, a criança e a família responsável. Em razão disso, a comunidade é assistida por meio de ações e estratégias desenvolvidas por profissionais da saúde, que despertam o sentimento de empatia e acolhimento desde o período de gestação. Nesse sentido, a pesquisa ressalta a importância do estabelecimento de um bom relacionamento com os membros da família da criança, no contexto de promoção da saúde e desenvolvimento infantil (23).

Em face do exposto, percebe-se a significância que a Consulta de Puericultura tem para o crescimento e desenvolvimento de crianças de modo saudável. Além do mais, a interação tanto do enfermeiro, quanto do serviço de saúde em si com a família responsável e o próprio bebê é circunspecto por fortalecer a conexão entre os mesmos, facilitando assim o acesso à assistência que é oferecida e possibilitando a ampliação do cuidado.

 

Dificuldades encontradas na atuação do Enfermeiro na consulta de puericultura 

Quanto às dificuldades encontradas, destacou-se a incompatibilidade entre os horários do trabalho dos responsáveis e da consulta, que os impossibilita de comparecerem na consulta de puericultura. Este fato prejudica o andamento do cuidado programado destinado à fase de desenvolvimento do infante (24,11).

Vale pôr em evidência que dificuldades do cotidiano dos enfermeiros, relacionadas às crianças e à família ainda são existentes e relacionam-se aos aspectos social, cultural e econômico. Desse modo, nota-se a relevância do cuidado na promoção de saúde das crianças, que contribui para a melhoria da qualidade de vida, além de evitar o aparecimento de problemas nutricionais (24).

Conforme os autores (25), alguns outros aspectos também contribuem para dificultar a consulta de puericultura, dentre eles podem ser citados a infraestrutura inadequada das unidades básicas de saúde, a indisponibilidade de recursos materiais, o déficit de recursos humanos, aliados à falta de treinamentos específicos voltados para a saúde da criança. Ainda podem ser mencionadas as questões relacionadas à articulação da rede de atenção à saúde da criança, bem como o contexto cultural no qual as famílias estão inseridas e a não implantação da Sistematização da Assistência de Enfermagem na atenção básica.

Os profissionais enfermeiros também relataram despreparo para assistirem crianças com necessidades mais específicas. Nesse cenário, destaca-se a influência da ausência de capacitação no modo como a assistência é prestada, visto que dificuldades em manusear dispositivos e até mesmo para lidar com os responsáveis são apresentadas, o que resulta em insegurança, medo e posterior inadequação na oferta de acompanhamento, ressaltando a necessidade de capacitações, atualizações e suporte psicológico (26).

Os autores (27) ressaltam a escassez de conhecimento sobre conteúdos e práticas de emergência relacionadas aos cuidados do recém-nascido entre os enfermeiros. Em vista disso, deve-se considerar o óbito neonatal como uma das consequências da falta de capacidade de resposta e que tais dados demonstram a necessidade da atualização através de treinamentos e cursos dos conhecimentos e habilidades dos profissionais.

Na ESF, uma gama de problemáticas da saúde pode ser solucionada ou amenizada, através da capacitação dos profissionais, essa capacitação teórico-prática aliada à supervisão da educação continuada das equipes de saúde da família e de atenção básica são essenciais para a plena inserção de todos os profissionais no cuidado com a criança (28). Nesse sentido, a ESF surge como um modelo assistencial do crescimento e desenvolvimento infantil entre suas atividades rotineiras, revelando a fragilidade dessas ações quando não são tratadas durante visitas de puericultura ou outro tipo de cuidado (29).

Segundo os autores (30) os resultados do estudo demonstram um subregistro de informações referente ao estado vacinal das crianças incluídas na pesquisa. Verificou-se também, que o acompanhamento da imunização está sendo realizado de forma parcial, isso porque durante a execução da puericultura, os profissionais de saúde não estão dando a devida valorização para a atualização do calendário básico de vacinação no prontuário das crianças. Tais resultados podem estar relacionados à fragmentação da assistência, visto que o prontuário deveria reunir todas as informações referentes à saúde/doença da criança, permitindo assim o acompanhamento integral da mesma.

Além disso, é válido enfatizar que diante do cenário de imigração dos haitianos no Brasil, o setor de saúde vem passando por grandes modificações e adaptações. Em uma pesquisa realizada com famílias haitianas, observou-se que uma das principais dificuldades encontradas pelos enfermeiros ao cuidado da criança está relacionada à intercomunicação entre os profissionais e as famílias, ocasionadas principalmente pela divergência no idioma utilizado por eles. Os enfermeiros identificam as dificuldades encontradas na comunicação como um desafio e, diante dele, buscaram adotar medidas diferenciadas de comunicação e criar estratégias que possibilitem o acompanhamento dos cuidados propostos pelo enfermeiro na CE em puericultura, como, por exemplo, a busca por essas famílias por meio de visitas domiciliares (31).

Os autores (16) destacaram que os enfermeiros fazem menção à falta de rotina implementada na unidade básica de saúde (UBS) para a realização da CE em puericultura. Além disso, relatam que há rotatividade dos profissionais, dificultando a criação de vínculo entre a equipe, as famílias e a comunidade. Ainda se ressaltou a falta de incentivo por parte da gestão local às atividades de Educação Permanente em Saúde (EPS), bem como, o pouco interesse por parte dos próprios profissionais em buscar por qualificações.

  Alguns registros encontrados sem anotações, incompletos e carentes de detalhamentos no espaço da consulta de puericultura nos prontuários, evidenciam um possível descaso com o processo. Dessa maneira, percebe-se que a realidade encontrada nos prontuários é preocupante, visto que é um fato tendencioso para o enfermeiro, que pode desconsiderar dados importantes para a identificação do processo saúde-doença das crianças e suas famílias, informações estas que constituem pontos relevantes para a escolha da melhor conduta terapêutica (32).

Logo, pôde-se verificar o despreparo dos enfermeiros referente à realização de consulta a criança, com negligência de ações importantes que compõem a avaliação da mesma. Tais ações correspondem, principalmente, ao histórico de enfermagem e ao exame físico e à escassez no que diz respeito à implementação das ações de educação em saúde (33).

Na pesquisa (34), os profissionais citaram como características dos laços familiares fracos a intolerância em casa, presença ou ausência do pai e múltiplos companheiros da mãe. Tais conexões frágeis podem contribuir para prejudicar a conexão emocional com outros indivíduos, bem como o estímulo ao seu desenvolvimento. Foi relatado ainda, a expressão de processos individuais como reflexos da sociedade pós-moderna e a compreensão desta relação sociedade-família como uma situação adversa ao desenvolvimento infantil.

Sobretudo, verifica-se a necessidade dos Enfermeiros buscarem atuar em consonância com a vigilância do crescimento infantil, de modo que o cuidado em saúde exija uma visão integral do usuário e a organização da assistência ocorra em linhas de cuidado, colocando-se como estratégia para prover resposta satisfatória na produção do cuidado e contribuir na superação da desarticulação entre os diversos níveis de atenção em saúde e, ainda, garantir a continuidade do cuidado integral, desde as ações de promoção às de tratamento e reabilitação.

 

CONCLUSÕES

Os achados da pesquisa abordam a relevância da atuação do Enfermeiro na consulta de puericultura para o desenvolvimento saudável, para a promoção de uma assistência integral e holística para as crianças e suas famílias. Percebeu-se ainda que o enfermeiro é um dos maiores apoios da equipe, e desempenha o cuidado de enfermagem a partir da receptividade, atenção, formação de vínculo e atendimento integral.

No entanto, existem algumas dificuldades encontradas na atuação do Enfermeiro durante a consulta de puericultura, como por exemplo: a incompatibilidade entre os horários do trabalho dos responsáveis e da consulta, que os impossibilitam de comparecerem, a infraestrutura inadequada das unidades básicas de saúde, a indisponibilidade de recursos materiais, o déficit de recursos humanos, aliados à falta de treinamentos específicos voltados para a saúde da criança, não implantação da Sistematização da Assistência de Enfermagem na atenção básica. Além disso, observou-se a falta de conhecimentos por partes de alguns Enfermeiros para trabalhar frente a essa população. Sendo necessária a expansão do conhecimento e das práticas desses profissionais.

A produção de estudos experimentais atuais sobre a temática apontou uma importante lacuna e representou uma limitação, no sentido da necessidade de estudos nos últimos anos para melhorar o processo das novas vivências na atuação do Enfermeiro na consulta de puericultura. Sobretudo, a investigação desse estudo poderá contribuir para a comunidade acadêmica e profissional por permitir a reflexão sobre a iminente atuação do Enfermeiro na consulta de puericultura e suas principais dificuldades, e a partir disso favorecer por meio da promoção, prevenção e recuperação o bem-estar da criança, garantindo um desenvolvimento de qualidade e diminuindo a taxa de morbimortalidade infantil.

 

REFERÊNCIAS

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Fomento: não há instituição de fomento

 

Editor Científico: Francisco Mayron Morais Soares. Orcid: https://orcid.org/0000-0001-7316-2519



Rev Enferm Atual In Derme v. 97, n. 1, 2023 e023006