ARTIGO DE REVISÃO
TECNOLOGIAS DO CUIDADO UTILIZADAS PELO ENFERMEIRO NA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM EM SAÚDE MENTAL: REVISÃO INTEGRATIVA
CARE TECHNOLOGIES USED BY NURSES IN NURSING ASSISTANCE IN MENTAL HEALTH: INTEGRATIVE REVIEW
TECNOLOGÍAS DE CUIDADO UTILIZADAS POR ENFERMEROS EN ASISTENCIA DE ENFERMERÍA EN SALUD MENTAL: REVISIÓN INTEGRATIVA
1Marcelino Maia Bessa
2Rodrigo Jácob Moreira de Freitas
3Álvaro Micael Duarte Fonseca
4Ellany Gurgel Cosme do Nascimento
5Micássio Fernandes de Andrade
1Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), Mossoró, Brasil, https://orcid.org/0000-0001-6699-5109
2Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), Mossoró, Brasil, https://orcid.org/0000-0002-5528-2995
3Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), Mossoró, Brasil, https://orcid.org/0000-0001-8864-3921
4Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), Mossoró, Brasil, https://orcid.org/0000-0003-4014-6242
5Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), Mossoró, Brasil, https://orcid.org/0000-0003-2836-9080
Autor correspondente
Marcelino Maia Bessa
Rua
Miguel Antônio da Silva Neto, s/n, Aeroporto.
CEP: 59607-360 - Mossoró-RN. Brasil E-mail: marcelino.maia.18@outlook.com
Submissão: 20-08-2022
Aprovado: 07-10-2022
RESUMO
Objetivo: identificar na literatura cientifica as tecnologias do cuidado utilizadas pelo enfermeiro na assistência de enfermagem em saúde mental. Método: trata-se de uma revisão integrativa da literatura com busca sistemática, realizada nas bases EMBASE, BVS e MEDLINE. Utilizou-se os descritores: Cuidados de Enfermagem, Tecnologia, Tecnologia Biomédica e Saúde Mental. Resultados: foram identificados 2024 artigos potencialmente elegíveis. Após seleção dos estudos, a amostra totalizou 12 artigos. Os estudos são dos últimos 5 anos (83,3%), foram publicados em revistas de enfermagem (83,3%), são primários qualitativos (58,3%), possuem nível de evidência VI (67,7%) e utilizam predominantemente tecnologias leves (100%). Dentre as tecnologias utilizadas, as mais citadas foram acolhimento e musicoterapia. Reflete-se sobre as tecnologias disponíveis e que são utilizadas, bem como a criação de novas em concordância com as novas demandas e necessidades da área estudada. Considerações finais: Os enfermeiros devem atuar pautando-se em um conhecimento técnico, cientifico e humanístico, na qual os usos das tecnologias do cuidado podem ofertar uma maior qualidade na assistência quando utilizadas de forma adequada.
Palavras-chave: Tecnologia; Tecnologia Biomédica; Cuidados de Enfermagem; Saúde Mental.
ABSTRACT
Objective: to identify in the scientific literature how care technologies used by nurses in nursing care in mental health. Method: this is an integrative literature review with a search, carried out in the EMBASE, VHL and MEDLINE databases. The descriptors were used: Nursing Care, Technology, Biomedical Technology and Mental Health. After selecting the studies, a sample totaled 12 articles Results: the studies are from the last 5 years (83.3%), were published in nursing journals (83.3%), are qualitative primary (58.3%), have instance level VI (67.7%) and predominantly use lightweight technologies (100%). Among the technologies used, the most cited were reception and music. It reflects on the technologies available and used, as well as the creation of new ones in accordance with new needs and needs in the area of creation as new needs. Final considerations: Nurses must act to be guided by a technical, scientific and humanistic knowledge, in which they qualify the appropriate uses of care technologies that can offer a higher quality of care when used in the right way.
Keywords: Technology; Biomedical Technology; Nursing Care; Mental Health.
RESUMEN
Objetivo: identificar en la literatura científica las tecnologías de cuidado utilizadas por los enfermeros en el cuidado de enfermería en salud mental. Método: se trata de una revisión integrativa de la literatura con búsqueda sistemática, realizada en las bases de datos EMBASE, BVS y MEDLINE. Se utilizaron los descriptores: Cuidado de Enfermería, Tecnología, Tecnología Biomédica y Salud Mental. Resultados: se identificaron 2024 artículos potencialmente elegibles. Después de seleccionar los estudios, la muestra totalizó 12 artículos. Los estudios son de los últimos 5 años (83,3%), fueron publicados en revistas de enfermería (83,3%), son primarios cualitativos (58,3%), tienen nivel de evidencia VI (67,7%) y utilizan predominantemente tecnologías livianas (100%). Entre las tecnologías utilizadas, las más citadas fueron la recepción y la musicoterapia. Reflexiona sobre las tecnologías disponibles y que se utilizan, así como la creación de nuevas de acuerdo con las nuevas demandas y necesidades del área de estudio. Consideraciones finales: Los enfermeros deben actuar con base en conocimientos técnicos, científicos y humanísticos, en los que los usos de las tecnologías del cuidado pueden ofrecer una mayor calidad de atención cuando se utilizan adecuadamente.
Palabras clave: Tecnología; Tecnología Biomédica; Cuidado de Enfermera; Salud Mental.
INTRODUÇÃO
Dentre as transformações advindas da reforma psiquiátrica, com a desinstitucionalização e criação de novos serviços substitutivos, houve mudanças na forma de se conceber a "loucura" e no modelo assistencial. Isso ampliou a possibilidade de atuação do enfermeiro, que teve de incorporar novos saberes na sua prática, capazes de promover uma assistência em saúde mental de qualidade(1).
Concomitante a isso, o avanço tecnológico tem expandido a necessidade e viabilizado outras configurações de assistência, incluindo a saúde mental. Dessa forma, o enfermeiro, enquanto profissional comprometido com o cuidado, deve incorporar em suas práticas o uso dessas tecnologias em conformidade com as necessidades dos usuários e disponibilidade dos serviços de saúde, com vistas a melhorar suas condições de vida(2).
A literatura traz que tecnologias do cuidado são conceituadas como todas as técnicas, procedimentos, conhecimentos utilizados pelo enfermeiro no cuidado. Por isso as tecnologias envolvidas no trabalho em saúde, podem ser classificadas como: leves, que são as tecnologias de relações do tipo produção de vínculo, autonomização, acolhimento, gestão como uma forma de governar processos de trabalho; leve-duras, como no caso dos saberes bem estruturados que operam no trabalho em saúde, como a clínica médica, a psicanalítica, a epidemiológica, e as duras, como no caso de equipamentos tecnológicos do tipo máquinas, normas, estruturas organizacionais(3). Diante disso, o objeto de estudo desta pesquisa compreende o uso pelo enfermeiro das tecnologias do cuidado na assistência de enfermagem em saúde mental.
A pesquisa justifica-se pelo fato de estudos trazerem que o cuidado do enfermeiro na saúde mental possui limitação constatada através de ações reducionistas, a exemplo da medicamentalização do sujeito, onde há renovação ‘descriteriosa’ de receitas, e de encaminhamentos errôneos para os Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), bem como pelo campo da saúde mental não ser priorizada pelo enfermeiro, assim como pelas dificuldades de prestar assistência dentro da rede de atenção psicossocial. Além disso, estudos reconhecem que as práticas desenvolvidas através do uso de tecnologias leves, no âmbito da saúde mental, valorizam a dimensão da subjetividade, melhorando a qualidade da assistência(4-6). Dentro deste contexto, questiona-se: Quais tecnologias do cuidado são utilizadas pelo enfermeiro na assistência de enfermagem em saúde mental?
Dessa forma, a relevância do estudo está na proporcionalidade que a abordagem desta temática em conjunto com a utilização deste método de pesquisa proporcionará aos enfermeiros dados relevantes sobre as tecnologias de cuidado e seu uso na assistência de enfermagem em saúde mental, em diferentes lugares e contextos, mantendo-os atualizados, promovendo um impacto e facilitando as mudanças na prática clínica como consequência desta pesquisa com vistas à uma qualificação da assistência, pela possibilidade de implementação na assistência. Portanto, este estudo tem como objetivo identificar na literatura cientifica as tecnologias do cuidado utilizadas pelo enfermeiro na assistência de enfermagem em saúde mental no Brasil.
MÉTODOS
Trata-se de uma revisão integrativa da literatura (RIL) que buscou determinar o conhecimento atual sobre a temática em estudo, de modo a identificar, analisar e sintetizar resultados. Trilharam-se as seguintes etapas: identificação do tema e da questão norteadora; estabelecimento de critérios para inclusão e exclusão de estudos; extração dos dados dos estudos primários; avaliação dos estudos a serem incluídos na revisão; interpretação dos resultados; apresentação da revisão/síntese do conhecimento(7). Utilizou-se do PRISMA como guia de redação para revisões sistemáticas(8).
A elaboração da questão de pesquisa foi fundamentada na estratégia PICo, na qual “P” refere-se à população/problema do estudo (Assistência de enfermagem); “I” à fenômeno de interesse (Tecnologias do cuidado); “Co” ao contexto (Saúde mental)(9). Dessa forma, a pergunta norteadora para a condução da presente revisão integrativa foi: Quais tecnologias do cuidado são utilizadas pelo enfermeiro na assistência de enfermagem em saúde mental no Brasil?
Foram utilizados como critérios de inclusão: publicações científicas oriundas de estudos primários publicados em inglês, espanhol ou português; disponíveis na íntegra; artigos que tivessem correlação com a pergunta norteadora, sem delimitação temporal de publicação e que fossem realizadas no Brasil, visto que se quer identificar as tecnologias utilizadas pelos enfermeiros brasileiros. Como critérios de exclusão: duplicatas; estudos de revisão; editoriais; notas de editor; teses; dissertações; livros.
O levantamento dos artigos foi realizado de abril a maio de 2022. Para a seleção dos estudos, foram utilizadas bases de dados no contexto da saúde, acessadas pelo Portal Capes: Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Medical Literature Analysis and Retrieval System Online Complete (MEDLINE via PubMed) e Embase.
A busca ocorreu a partir do entrecruzamento de descritores controlados por meio de vocabulário constante dos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS), do Medical Subject Headings (MeSH) e do Emtree para apresentação de palavras-chave.
Utilizaram-se os descritores: cuidados de enfermagem (nursing care), Tecnologia (Technology), Tecnologia Biomédica (Biomedical Technology) e saúde mental (mental health). O entrecruzamento dos descritores foi mediado pelos operadores boleanos “and” e “or”. De modo que, nas bases selecionadas, a busca ocorreu pela chave de busca sistemática disponível na Tabela 1.
Tabela 1 - Chave de busca sistemática realizada nas bases de dados. Mossoró, RN, Brasil, 2022.
Base de Dados/ Portal de Dados |
Estratégia de busca |
Medline via Pubmed |
#1 "Technology"[Mesh] OR (Industrial Arts) OR (Arts, Industrial) OR "Biomedical Technology"[Mesh] OR (Biomedical Technologies) OR (Technology, Biomedical) OR (Technology, Health Care) OR (Technology, Health) OR (Health Technology) OR (Health Care Technology) #2 "Nursing Care"[Mesh] OR (Care, Nursing) OR (Management, Nursing Care) OR (Nursing Care Management) #3 "Mental Health"[Mesh] OR (Mental Healt) OR (Health, Mental) OR (Mental Hygiene) OR (Hygiene, Mental) |
Embase |
#1 'technology'/exp OR (high technology) OR (technician trainee) OR (technological society) OR (technologics) OR (technology transfer) OR 'medical technology'/exp OR (bio-medical technology) OR (biomedical technology) OR (medical lab science) OR (medical lab technology) OR (medical laboratory science) OR (medical laboratory technology) OR (medical research technology) OR (stains and staining) OR (technology, medical) OR (technology, medical laboratory) #2 'nursing care'/exp #3 'mental health'/exp OR (condition, mental) OR (health, mental) OR (mental care) OR (mental condition) OR (mental factor) OR (mental help) OR (mental service) OR (mental state) OR (mental status) OR (mental status schedule) OR (psychic health) |
BVS |
#1 MH: "Technology" OR (Tecnologia) OR (Technology) OR (Tecnología) OR (Desenho Industrial) OR (Sistema Tecnológico) OR (Sistemas Tecnológicos) OR (Tecnologia e Aplicativos de Software) OR (Tecnologias) OR (Tecnologias e Aplicativos de Software) OR MH: "Biomedical Technology" OR (Tecnologia Biomédica) OR (Biomedical Technology) OR (Tecnología Biomédica) OR (Tecnologia Aplicada aos Cuidados de Saúde) OR (Tecnologia Aplicada à Assistência à Saúde) OR (Tecnologia Médica) OR (Tecnologia em Saúde) OR (Tecnologias em Saúde) OR J01.897$ OR SP4.122.006.052.458$ OR J01.897.120.050$ #2 MH: "Nursing Care" OR (Cuidados de Enfermagem) OR (Nursing Care) OR (Atención de Enfermería) OR (Assistência de Enfermagem) OR (Atendimento de Enfermagem) OR (Cuidado de Enfermagem) OR (Gestão da Assistência de Enfermagem) (Sistematização da Assistência de Enfermagem) OR E02.760.611$ OR N02.421.533$ #3 MH: "Mental Health" OR (Saúde Mental) OR (Mental Health) OR (Salud Mental) OR (Higiene Mental) OR (Área de Saúde Mental) OR F02.418$ OR N01.400.500$ OR SP2.006.102$ |
Fonte: elaborado pelos autores, 2022.
As etapas de extração e análise dos resultados dos estudos primários e o processo de seleção seguiu a seguinte ordem: etapa de seleção pela leitura do título; etapa de seleção pela leitura dos resumos e etapa de seleção pela leitura na íntegra dos artigos. Destaca-se que foi usado o provedor “Rayyan Systems Inc.” para identificação e exclusão dos artigos duplicados, e seleção dos artigos, de acordo com os critérios de inclusão e exclusão pré-estabelecidos.
Para a análise dos artigos incluídos, foi utilizado, inicialmente, o instrumento de coleta de dados já validado(10) e, posteriormente, realizou-se uma síntese dos artigos que atenderam aos critérios de inclusão. Essa síntese contemplou os seguintes aspectos: número do artigo, título, ano de publicação, objetivo, delineamento, resultados/desfecho e nível de evidência. Assim, esta revisão integrativa, apresenta como desfecho, as tecnologias de cuidado utilizadas pelo enfermeiro na assistência de enfermagem em saúde mental.
Além disso, para análise dos níveis de evidência, adotou-se a classificação da qualidade recente, que estabelece: Nível I - Evidências provenientes de revisão sistemática ou metanálise de ensaios clínicos randomizados controlados ou oriundas de diretrizes clínicas baseadas em revisões sistemáticas de ensaios clínicos randomizados controlados; Nível II - Evidências derivadas de pelo menos um ensaio clínico randomizado controlado bem delineado; Nível III - Evidências obtidas de ensaios clínicos bem delineados sem randomização; Nível IV - Evidências provenientes de estudos de coorte e caso-controle bem delineados; Nível V - Evidências originárias de revisão sistemática de estudos descritivos e qualitativos; Nível VI - Evidências derivadas de um estudo descritivo ou qualitativo; Nível VII - Evidências oriundas de opinião de autoridades e/ou relatório de comitês de especialistas(11).
A apresentação dos resultados e a discussão dos dados obtidos foi feita de forma descritiva, possibilitando ao leitor a avaliação da aplicabilidade da revisão integrativa elaborada, de forma a atingir o objetivo desse método. Por fim, destaca-se que a pesquisa foi realizada seguindo os princípios éticos conforme a Resolução nº 466, de dezembro de 2012. Por se tratar de uma revisão, dispensa o envio para o Comitê de Ética em Pesquisa - CEP.
RESULTADOS
Após a consulta nas bases de dados, foram identificados 2024 artigos potencialmente elegíveis, deste total, foram excluídos 26 artigos, após a análise de duplicata. Na etapa de seleção pelo título e resumo foram removidos 1957 artigos, totalizando 41 artigos para a análise de leitura na íntegra. Após esta etapa, 29 artigos foram excluídos por não cumprirem os critérios de elegibilidade, totalizando um restante de 12 artigos para serem incluídos nesta revisão integrativa, conforme ilustrado na Figura 1.
Figura 1 - Fluxograma de seleção dos estudos. 2022.
Fonte: elaborado pelos autores, 2022.
A Tabela 2 sintetiza as informações em relação ao ano de publicação, temática, delineamento metodológico e tipo de tecnologia utilizada. Com relação à cronologia, estes variaram de 2016 a 2021, ao quais, são predominantemente 83,3% (n=10) dos últimos 5 anos. Esses estudos, em sua maioria 58,3% (n=7), são primários dos tipos qualitativos, e que visam trazer as tecnologias utilizadas pelos enfermeiros na assistência de enfermagem em saúde mental nos diversos contextos de atuação do enfermeiro.
Tabela 2 - Caracterização dos estudos quanto ao ano de publicação, temática principal da revista, delineamento metodológico e tipo de tecnologia. Mossoró, Rio Grande do Norte, Brasil, 2022.
Variáveis |
n (%) |
Ano de Publicação |
|
Estudos publicados há mais de 5 anos |
02 (16,7) |
Últimos 5 anos (2017-2021) |
10 (83,3) |
Temática principal da revista |
|
Enfermagem em saúde mental |
01 (8,3) |
Enfermagem (geral) |
10 (83,3) |
Ciências Biológicas e da Saúde |
01 (8,3) |
Delineamento metodológico |
|
Teórico/reflexivo |
01(8,3) |
Relatos de experiência |
03 (25) |
Estudos primários qualitativo |
07 (58,3) |
Estudos primários quantitativo |
01 (8,3) |
Tipo de tecnologia |
|
Tecnologia Leve |
12 (100) |
Fonte: elaborado pelos autores, 2022.
As caracterizações dos estudos selecionados podem ser visualizadas no Quadro 1, que apresenta a relação de artigos selecionados para análise segundo o número do artigo, título, ano, objetivo e delineamento.
Quadro 1 - Quadro-síntese dos artigos revisados quanto ao número do artigo, título, ano, objetivo e delineamento. Mossoró, Rio Grande do Norte, Brasil, 2022.
Nº |
Título |
Ano |
Objetivo |
Delineamento |
01 |
Acolhimento como tecnologia do cuidado emancipatório em Centros de Atenção Psicossocil(12) |
2021 |
Analisar os componentes que caracterizam o potencial emancipatório do acolhimento realizado em Centros de Atenção Psicossocial, destacados por cidadania, consciência crítica, liberdade e autonomia |
Estudo qualitativo/Convergente Assistencial |
02 |
Oficina musical participativa para o Bem-Estar Subjetivo e Psicológico de usuários em internação psiquiátrica(13) |
2021 |
Identificar as contribuições de uma intervenção musical participativa sobre o Bem-Estar Psicológico e Subjetivo na assistência da enfermagem de usuários com transtorno mental grave e persistente durante a internação |
Pesquisa Quantitativa/Quase-experimental, do tipo antes e depois |
03 |
Construção de cartilha virtual para o Cuidado em saúde mental em tempos da Covid-19(14) |
2020 |
Descrever a construção de uma cartilha virtual como tecnologia de cuidado em saúde mental, sendo aplicada ao contexto de distanciamento social em decorrência dos efeitos da pandemia COVID-19 |
Relato de Experiência |
04 |
O enfermeiro e a criança: a prática do brincar e do brinquedo terapêutico durante a hospitalização(15) |
2020 |
Identificar o conhecimento dos enfermeiros quanto à prática do brincar e do Brinquedo Terapêutico na hospitalização da criança |
Estudo qualitativo/descritivo |
05 |
Estratégia musical para cuidar de discentes de enfermagem: experiência no enfrentamento da covid-19(16) |
2020 |
Relatar a experiência do uso de estratégia musical para cuidar de discentes de Enfermagem no enfrentamento da Coronavirus disease 2019 (COVID-19). |
Relato de experiência |
06 |
Enfermagem e tecnologias leves para a cultura de paz na família(17) |
2018 |
Refletir sobre tecnologias para a cultura de paz que possam ser usadas pela enfermagem de família. |
Artigo Reflexivo/Teórico |
07 |
Tecnologias do cuidado em saúde mental: práticas e processos da Atenção Primária(04) |
2018 |
Analisar as tecnologias do cuidado em saúde mental utilizadas nas práticas e processos constituintes da Atenção Primária à Saúde a partir dos discursos de enfermeiros da Estratégia Saúde da Família. |
Estudo qualitativo/ crítico e reflexivo |
08 |
A clínica de enfermagem psiquiátrica e suas novas tecnologias de cuidado(18) |
2016 |
Apresentar as tecnologias que compõem a clínica de enfermagem psiquiátrica, descrever o que pensam as enfermeiras sobre as tecnologias da clínica de enfermagem psiquiátrica e analisar a possibilidade de aderência das tecnologias na prática assistencial. |
Artigo qualitativo |
09 |
Intervenção musical como estratégia de cuidado de enfermagem a crianças com transtorno do espectro do autismo em um centro de atenção psicossocial(19) |
2016 |
Relatar a experiência da aplicação da música como tecnologia de cuidado a estas crianças em um Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil. |
Relato de experiência |
10 |
Saúde mental na atenção básica: possibilidades e fragilidades do acolhimento(16) |
2019 |
Identificar – sob a ótica dos enfermeiros - as potencialidades e limitações da estratégia do acolhimento direcionada às demandas de saúde mental na AB de um município do Nordeste brasileiro. |
Estudo qualitativo/descritivo e analítico |
11 |
Cuidado de enfermagem às pessoas com transtorno de personalidade borderline na perspectiva freireana(20) |
2019 |
Compreender, sob a perspectiva ética de Freire, o cuidado de enfermagem às pessoas com transtorno de personalidade borderline. |
Estudo qualitativo/ descritivo e exploratório |
12 |
Acolhimento de usuários de substâncias psicoativas pela equipe multiprofissional do Centro de Atenção Psicossocial III(21) |
2018 |
Verificar como a equipe multiprofissional de um Centro de Atenção Psicossocial acolhe usuários de substâncias psicoativas |
Estudo qualitativo/ descritivo e exploratório |
Fonte: elaborado pelos autores, 2022.
Além disso, para apresentar os resultados interpretativos dos estudos selecionados, foi elaborado o Quadro 2, contendo os principais resultados/desfecho e nível de evidência para dar suporte para análise do uso das tecnologias de cuidado utilizadas pelo enfermeiro na assistência de enfermagem em saúde mental.
Quadro 2 - Quadro-síntese dos artigos revisados quanto aos principais resultados/desfecho e nível de evidência. Mossoró, Rio Grande do Norte, Brasil, 2022.
Nº |
Resultado/Desfecho |
Nível de Evidência |
01 |
O estudo possibilitou identificas as seguintes tecnologias: consulta de enfermagem, coordenação de grupos como os terapêuticos e de sala de espera; visita domiciliar e acolhimento, sendo a consulta e o acolhimento mais frequentes nos CAPS investigados. |
VI |
02 |
A utilização de intervenção musical participativa não evidenciou favorecer a percepção do Bem-Estar Psicológico entre os usuários com transtornos mentais graves e persistentes no contexto da internação psiquiátrica. Porém, no que diz respeito aos resultados dos afetos negativos e positivos, obtidos por meio da intervenção, os dados demonstraram que a música favorece o aumento da pontuação nos afetos positivos e diminuição dos afetos negativos.
|
VI |
03 |
O processo de construção da cartilha virtual seguiu três momentos: planejamento, levantamento de conteúdos e produção da cartilha. A tecnologia desenvolvida possibilita acessar os usuários e não somente as demandas. Assim, ter esse poder de ampliação das discussões em saúde mental através desse instrumento de fácil acesso e compreensão ajuda a ressignificar a prática de saúde psicossocial, transformando assim o fazer dos profissionais enquanto residentes comprometidos com o seu território. |
VII |
04 |
O estudo possibilitou reconhecer a importância do brincar como forma de vínculo da criança com os enfermeiros durante a hospitalização, bem como seus benefícios enquanto uma atividade recreativa para a diversão, distração e para tornar lúdico os procedimentos de enfermagem realizados na pediatria. O brinquedo terapêutico como uma tecnologia estruturada para o cuidado que deve constar no planejamento da assistência e na avaliação da criança hospitalizada não é reconhecido e aplicado na prática pelos enfermeiros deste estudo. |
VI |
05 |
O vídeo musical foi estruturado para que pudesse refletir a relevância dos discentes no cotidiano da Universidade. A música balizou os sentimentos que são necessários externalizar nesse período de pandemia, que ocasionalmente mostrou as mudanças abruptas relativas ao vivido. A estratégia mostrou-se promotora de saúde e articuladora entre os docentes e discentes, apontando novas perspectivas de cuidado que ultrapassam as barreiras da presencialidade, vislumbrando o uso das tecnologias em prol da ampliação dos horizontes para o cuidado, em tempos de distanciamento social e quarentena. |
VII |
06 |
Apontam-se quatro tecnologias leves para a cultura de paz nas famílias: comunicação não violenta, escuta qualificada, mediação de conflitos e círculos restaurativos.Estas tecnologias podem ser empregadas por enfermeiros para promover cuidados e políticas voltadas à cultura de paz e não violência nas famílias, com o objetivo de auxiliar na obtenção de bem-estar do sistema familiar e de sistemas correlatos. |
VII |
07 |
O estudo apontou o acolhimento e o matriciamento como as principais tecnologias de cuidado exercidas na interface da Atenção Primária à Saúde com a Saúde Mental, entretanto, precisam ser fortalecidas e ampliadas para que se almeje um cuidado integral. |
VI |
08 |
O estudo aponta a escuta qualificada, cuidado pós-demanda, prontidão para cuidar como tecnologias viáveis para serem adotadas na prática assistencial das enfermeiras psiquiatras. As enfermeiras discutiram a aplicabilidade dos conceitos teóricos nas ações de cuidado, associando-o aos fatores que interferiam diretamente em sua prática. |
VI |
09 |
A pesquisa traz que a experiência do uso da música como tecnologia de enfermagem no cuidado às crianças autistas no CAPSi Plano Piloto foi positiva, pois propiciou novos modos de fazer/brincar, de desenvolver habilidades e de se relacionar com os outros, ou seja, trata-se de uma intervenção de enfermagem que oportunizou a interação, novos comportamentos e a estimulação linguagem. |
VII |
10 |
Atributos como humanização, empatia, escuta ativa e a corresponsabilização dos sujeitos são condições para o êxito e operacionalização do acolhimento. Ademais, diante das falas constataram-se diversas potencialidades da AB para a efetivação do acolhimento, dentre elas a territorialização, a busca ativa, o apoio matricial do NASF-AB, o suporte da família no cuidado e o estabelecimento do vínculo entre os(as) profissionais e os(as) usuários(as). |
VI |
11 |
O estudo traz o colhimento e relacionamento terapêutico como tecnologias do cuidado para fortalecimento de vínculo e qualificação da assistência. |
VI |
12 |
A pesquisa enfatiza o acolhimento articulado à tecnologia relacional, pautada em princípios como empatia, atitude orientadora, genuinidade e congruência, potencializa a relação com a pessoa e minimiza a antirrelação da equipe com a droga. |
VI |
Fonte: elaborado pelos autores, 2022
Com relação à metodologia evidenciada, aplicando-se ao referencial que classifica a qualidade das evidências em sete níveis11, têm-se quatro artigos (33,3%) com nível de evidência VII e oito artigos (66,7%) com nível de evidência VI, o que aponta a necessidade de mais pesquisas com maiores níveis de evidência do uso dessas tecnologias na prática.
DISCUSSÃO
Quanto à utilização de tecnologias do cuidado de enfermagem e Saúde Mental, a RIL identificou os diversos espaços e locais em que o enfermeiro pode utilizar, seja na prática clínica em hospitais, na Atenção Primária à Saúde, bem como nos Centros de Atenção Psicossociais, mostrando-se assim possibilidades de implementação nos diversos espaços de atuação do enfermeiro brasileiro.
Dentro da literatura revisada, foram identificas as tecnologias citadas e utilizas na assistência, sendo-as: acolhimento, musicoterapia, escuta qualificada, relacionamento terapêutico, matriciamento em saúde, brinquedo terapêutico (BT), cartilha educativa, consulta de enfermagem, coordenação de grupos como os terapêuticos e de sala de espera, visita domiciliar, comunicação não violenta, mediação de conflitos, círculos restaurativos, prontidão para cuidar e cuidado pós demanda.
Quanto as tecnologias mais citadas e utilizadas, destaca-se o Acolhimento. Este é apontado em 41,6% (n=5) dos estudos(4,6,12,20,21). Nesse sentido, o processo de acolhimento encontrado, traz uma perspectiva de encontro e de possibilidades de construção que valoriza subjetividades por meio do cuidado de enfermagem, assim, apresentando um cuidado operado na busca da reciprocidade e no que diz respeito à sua ampliação ao binômio profissional-usuário, com possibilidades de alcance horizontal, da integralidade e da longitudinalidade (4,6).
Não obstante, para o desenvolvimento de um trabalho integral e humanizado se faz necessário contextualizar o acolhimento como dispositivo estratégico da saúde mental, dessa forma, com o propósito de obter a eficácia do acolhimento às demandas de saúde mental, torna-se relevante que os (as) enfermeiros (as) compreendam a potência do dispositivo “acolhimento”, uma vez que diante dos estudos analisados, estes afirmam as concepções que a classe incube acerca das potências que já emanaram na práxis para se trabalhar com essa tecnologia. Ademais, no que concerne ao acolhimento, atributos como humanização, empatia, escuta ativa e a corresponsabilização dos sujeitos são condições para o êxito e sua operacionalização(12,21).
Cabe destacar que o acolhimento pode ser realizado nos mais diversos espaços, o estudo 11(20), trata de sua utilização no âmbito hospitalar, os estudos 01 e 12 (12,21), tratam no que concerne ao acolhimento realizado nos CAPSs, enquanto que os estudos 07 e 10 (04,06), utilizam esta tecnologia na APS. Assim, o uso desta tecnologia vem possibilitar aos enfermeiros a apreensão do conceito do acolhimento enquanto uma tecnologia emancipatória como também de reflexão dos saberes e práticas a serem aprimoradas para a efetivação do cuidado intrínseco ao acolhimento, de forma disciplinar e interprofissional, na busca da construção da reabilitação psicossocial de usuários na relação com o seu itinerário terapêutico.
Apesar de todos os seus aspectos positivos e de efetividade, o acolhimento apresenta dificuldades, dentre ela pode-se citar: a busca dos usuários pelos serviços de saúde, o despreparo dos profissionais, bem como a integração entre eles, visto que na maioria das vezes o acolhimento não é realizado de forma individual. Os problemas sociais dos indivíduos, a relação conflitiva/ ambígua da família no cuidado, que, por vezes, pode ser prejudicial, resultando na ausência de grupos terapêuticos, ocasionando um prejuízo para a criação de vínculo, assistência centrada na medicalização das pessoas, por fim, outra limitação para a realização do acolhimento de forma eficaz é a dificuldade na referência e contrarreferência com os serviços referenciados para o atendimento desse público (06,12).
Outra tecnologia que se apresentou em frequência, em 25% (n=03) dos estudos, foi a musicoterapia (13,16,19), cabe destacar que esta é trazida sobre as vertentes de intervenção, oficina e estratégia musical. No estudo 09(19), enfatiza que uso da musicoterapia pode ser realizada sobre várias vertentes, desde a audição das músicas, danças de roda, até a (re)criação e composição musical. No estudo em questão, a partir da dinâmica de organização, a maioria das crianças atendidas no CAPSi respondeu positivamente à intervenção musical, pois muitas expressaram-se diante das músicas dirigidas pessoalmente a elas, seja por meio de olhares, expressões faciais, ou mesmo por meio da fala e emissão de sons. Além disso, a intervenção musical contribuiu para propiciar momentos de interação da criança com os profissionais por meio do uso criativo de rimas, gestos, ritmos e músicas relacionadas à ecolalia delas.
No estudo 05(16), a construção e divulgação de um vídeo musical mostrou-se promotor da saúde e articulador entre docentes e discentes, apontando novas perspectivas de cuidado que ultrapassam as barreiras da presencialidade. A música proporcionou integração entre os docentes, mesmo distantes, cada um em sua residência, e possibilitou o relaxamento e a distração para os envolvidos na proposta, mesmo diante do cenário imposto por notícias com projeções alarmantes e temerosas.
Outro estudo que traz grandes contribuições sobre o uso desta tecnologia é o 02(13), este trata da utilização da oficina musical participativa para o Bem-Estar Subjetivo (BES) e Psicológico (BEP) de usuários em internação psiquiátrica. Foi possível identificar as contribuições da intervenção musical participativa no campo do BES, mais precisamente nas dimensões dos afetos positivos e negativos, em usuários da unidade de internação psiquiátrica. O estudo ainda traz que a musicoterapia não deve ser uma intervenção imposta ao usuário com transtorno mental grave e persistente, mas ofertada respeitando o desejo e a predileção musical dos usuários(13).
Diante deste contexto, evidencia-se que a música como tecnologia leve pode ser facilmente utilizada pelos profissionais que estão na assistência, pois não demanda de todo um aparato de alta tecnologia e dificuldade, além do nítido custo-benefício para a instituição e/ou profissionais (13,16,19). Vale ressaltar ainda que esta, como tecnologia de cuidado na enfermagem, está presente na Classificação de Intervenções de Enfermagem (Nursing Intervention Classification - NIC), apresentada como uma intervenção a ser utilizada de maneira complementar, criteriosa, buscando a restauração do bem-estar, mudança específica no comportamento, sentimentos e engajando o sujeito na percepção de seu próprio processo saúde-doença(22).
O brinquedo terapêutico surge como uma tecnologia do cuidado utilizada pelo enfermeiro no estudo 04(15). Neste por sua vez, traz que, nove participantes do estudo expuseram utilizar da brincadeira em suas abordagens, objetivando explicar à criança sobre procedimentos que seriam realizados, mesmo desconhecendo a tecnologia do uso do BT. Quando questionados sobre a utilização da técnica do brinquedo/Brinquedo Terapêutico, os enfermeiros informaram não conhecer essa técnica, sendo que apenas uma enfermeira relatou imaginar que fosse algo que tinha visto em uma de suas experiências no ambiente hospitalar(15).
Nesse sentido, este estudo traz a reflexão sobre carência de conhecimento dos profissionais no uso do BT. Cabe destacar que esse desconhecimento perpassa também pelo desconhecimento de outras tecnologias, como por exemplo no estudo 08(18), neste, ao tratarem sobre as tecnologias prontidão para cuidar e cuidado pós demanda, os enfermeiros relatam conhecer e usar estas tecnologias, mas os dados coletados durante observação da prática assistencial demonstraram uma lacuna entre a capacidade de agir eficientemente em uma situação real apoiada em conhecimentos das tecnologias, havendo assim uma contradição entre o que se é adotado como discurso e o que fazem realmente na prática(18).
Dessa forma, é necessário frisar a importância que a formação tem para atuação dos profissionais, uma vez que esta trará contribuições para o desenvolvimento de habilidades para o uso destas tecnologias na assistência de enfermagem em saúde mental. Ademais, a busca pelo conhecimento e capacitação deve ser constante para os profissionais, uma vez que, a formação generalista do enfermeiro pode não ser suficiente para tal. Dessa forma, cursos de capacitação, especializações, educação permanente e continuada, podem ser alternativas para qualificar o cuidado, bem como serem contribuintes para a garantia de mais autonomia e liderança do enfermeiro no processo de cuidar em saúde mental.
Outra tecnologia utilizada é a cartilha virtual, que é apresentada no estudo 03(14). Esta tecnologia foi produto de uma construção articulada e compartilhada de saberes e técnicas por toda a equipe de residência em saúde mental coletiva em um munícipio do interior do Brasil, ao qual ativou os núcleos de conhecimento da enfermagem, serviço social, psicologia e terapia ocupacional. Isso mostra que a construção e uso de tecnologias nem sempre se dá de forma única e exclusiva pelo enfermeiro, mas de forma articulada com outras categorias profissionais, enfatizando assim a interdiciplinaridade e interprofissionalidade no cuidado à saúde mental(14).
Os autores do estudo acreditam, nesta perspectiva, que a tecnologia desenvolvida teve o potencial de contribuir como suporte na promoção de cuidado em saúde mental aplicada ao contexto da Covid-19, trazendo ainda a possibilidade de aproximar, apesar da distância física, profissionais e usuários, podendo amenizar efeitos negativos gerados em decorrência da situação de pandemia motivando uma saúde mental mais saudável(14).
Nesse sentido, enfatizamos uma vertente no uso das tecnologias no cuidado, a exemplo deste estudo e do estudo 05(16). Estes trazem a evidencialidade da necessidade de acesso a novas formas de cuidado exigidas para esse tempo visto como “novo”, neste caso, a pandemia da Covid-19, o período ao qual os estudos foram executados. Assim, apontando novas perspectivas de cuidado que ultrapassem as barreiras da presencialidade.
O estudo 06(17), traz a reflexão sobre tecnologias para a cultura de paz que possam ser usadas pela enfermagem de família, dentre elas, os autores apresentam, a saber: comunicação não violenta, escuta qualificada, mediação de conflitos e círculos restaurativo. Estas por sua vez, apresentam papel primordial no cuidado às famílias por buscarem facilitar o diálogo compreensível, firme e seguro, provocando o mínimo possível de sentimentos negativos em todos os envolvidos, deve valorizar os elementos da família de forma igualitária, simples e segura, a favor de metas coletivas; favorecer a comunicação com pessoas ditas “difíceis” ou “desafiadoras”; melhorar a compreensão do comportamento alheio; e evitar ataques pessoais.
Além disso, outra tecnologia utilizada neste estudo(17) e no estudo 08(18), é a escuta qualificada. Esta transcende o ato de ouvir, permitindo que se compreendam as dificuldades, sentimentos e sofrimentos do outro a partir da compreensão daquilo que se vive. Destaca-se ainda como uma facilitadora do desenvolvimento da autonomia do sujeito e da família e permite o acolhimento em um nível mais significativo. Neste contexto do uso de tecnologias de assistência à família, o enfermeiro, enquanto mediador de conflitos, deve levar em consideração características como a imparcialidade, a independência e a atuação participativa dos envolvidos.
Diante deste contexto, é necessário que o enfermeiro, para desempenhar com maior autonomia e empoderamento o cuidado à saúde mental, paute sua atuação no conhecimento técnico, científico e humanístico, fazendo o uso destas tecnologias existentes, assim como também possam produzir novas contribuindo para o avanço da ciência de enfermagem psiquiátrica e saúde mental.
Porquanto, enquanto limitações do estudo, apresenta-se: utilização de um baixo número de bases de dados e ser apenas da realidade brasileira. Assim, sugere-se utilização de outras bases para busca de artigos, bem como a inclusão de estudos de outros países para identificar as tecnologias utilizados pelos enfermeiros no cuidado em saúde mental em seus contextos. Mostram-se necessários novos estudos sobre a temática, que explorem com maior aprofundamento e níveis de evidências as possibilidades de uso das tecnologias do cuidado no contexto do trabalho assistencial do enfermeiro.
Os achados deste estudo contribuem com o avanço do conhecimento na área da saúde e enfermagem, uma vez que este estudo apresenta um mapeamento das tecnologias utilizadas pelos enfermeiros no cuidado de enfermagem em saúde mental. Assim, faz refletir sobre as tecnologias disponíveis e que são utilizadas em concordância com as novas demandas e necessidades da área estudada. Ademais, pode-se citar a necessidade de criação de novas tecnologias de cuidado, com vistas a possibilitar a construção de um cuidado longitudinal, multidimensional considerando a subjetividade do sujeito.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Frente ao exposto, foi possível identificar as tecnologias do cuidado utilizadas pelo enfermeiro na assistência de enfermagem em saúde mental. Estas são eminentemente do tipo leve, sendo as mais citadas e utilizadas o acolhimento e a musicoterapia.
Os enfermeiros, durante o cuidado de Enfermagem em saúde mental, devem buscar prestar um cuidado centrado nas necessidades e especificidades do sujeito, pautando-se em um conhecimento técnico, cientifico e humanístico, na qual os usos das tecnologias do cuidado podem ofertar uma maior qualidade na assistência quando utilizadas da forma adequada, dando voz aos sujeitos e reorientando o paradigma do cuidado em Saúde Mental. Assim, é de grande relevância que haja o estímulo aos enfermeiros para o uso destas tecnologias leves no cuidado, em especial na saúde mental, entre os dispositivos das redes de atenção à saúde.
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Contribuição dos autores
Marcelino Maia Bessa: Participou da concepção e do planejamento das atividades que levaram à construção do trabalho, construiu efetivamente, participou do processo de revisão e aprovou a versão final.
Rodrigo Jácob Moreira de Freitas: Participou do processo de revisão e aprovou a versão final
Álvaro Micael Duarte Fonseca: Participou do processo de revisão e aprovou a versão final
Ellany Gurgel Cosme do Nascimento: Participou do processo de revisão e aprovou a versão final
Micássio Fernandes de Andrade: Participou do processo de revisão e aprovou a versão final
Fomento e Agradecimento: Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN).
Editor Científico: Francisco Mayron Morais Soares. Orcid: https://orcid.org/0000-0001-7316-2519
Editor Associado: Edirlei Machado dos-Santos. Orcid: https://orcid.org/0000-0002-1221-0377