https://doi.org/10.31011/reaid-2023-v.97-n.1-art.1562

¹Italo Everton Bezerra Barbosa

²Breno de Souza Mota

¹Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), São Paulo, Brasil.

ORCID: https://orcid.org/0000-0002-0225-7569

²Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, Brasil.

ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1340-2204

Autor correspondente

Italo Everton Bezerra Barbosa

Rua Guarajá, Vila Mazeei – 397, Ap 01, Cep: 02310-010. Contato: +55(11) 98983-4671

E-mail: italoeverton1998@gmail.com

Submissão: 05-11-2022

Aprovado: 23-01-2023

RESUMO

A qualidade de vida dos cuidadores de idosos portadores de demência de Alzheimer sofre influência de diversos fatores, corroborando para a sobrecarga de trabalho, tornando-os mais favoráveis a complicações físicas e mentais decorrentes do processo de cuidar. Objetivo: Identificar como o cuidar de idoso com a Doença de Alzheimer impactou na qualidade de vida de seus cuidadores. Métodos: Revisão Integrativa da Literatura, conduzida em seis etapas. Seguiu-se as instruções do protocolo PRISMA para a seleção dos artigos e a estratégia PICo para construção da pergunta norteadora. Utilizou-se o DeCS e o MeSH para a seleção dos descritores, cruzados com os operadores booleanos AND e OR, sendo: Idoso, qualidade de vida, cuidadores, doença de Alzheimer/Aged, quality of life, caregivers, Alzheimer disease. A busca foi realizada entre os meses de setembro a novembro de 2022, com estudos no período de 2016 a 2022, nas bases de dados: LILACS, BDENF, MEDLINE e SciELO. A amostra final foi composta de 12 artigos. Resultados: A escolaridade do cuidador influencia no planejamento de ações destinadas ao cuidado da pessoa idosa, com maior prevalência nas mulheres. Foi observado que conforme o avanço da doença, maior é a sobrecarga do cuidador, corroborando para o aumento do nível de ansiedade, favorecendo o aumento do desgaste físico e emocional. Considerações finais: Espera-se que esta pesquisa possa favorecer o planejamento de ações em saúde, diminuindo a sobrecarga do cuidador, reduzindo o nível de ansiedade desenvolvido durante a realização de suas atividades laborais e contribuindo para melhora da sua qualidade de vida.

Palavras-chave: Idoso; qualidade de vida; cuidadores; doença de Alzheimer.

ABSTRACT

The quality of life of caregivers of elderly people with Alzheimer's dementia is influenced by several factors, corroborating to work overload, making them more prone to physical and mental complications arising from the care process. Objective: To identify how caring for elderly people with Alzheimer's disease impacted the quality of life of their caregivers. Methods: Integrative Literature Review, conducted in six steps. We followed the PRISMA protocol instructions to select the articles and the PICo strategy to construct the guiding question. DeCS and MeSH were used to select the descriptors, crossed with the Boolean operators AND and OR, as follows: Elderly, quality of life, caregivers, Alzheimer's disease/Aged, quality of life, caregivers, Alzheimer disease. The search was conducted between the months of September to November 2022, with studies in the period from 2016 to 2022, in the databases: LILACS, BDENF, MEDLINE and SciELO. The final sample was composed of 12 articles. Results: The caregiver's education influences the planning of actions aimed at the care of the elderly person, with a higher prevalence in women. It was observed that as the disease progresses, the caregiver's overload is greater, corroborating to the increase of anxiety level, favoring the increase of physical and emotional wear. Final considerations: It is expected that this research may favor the planning of health actions, decreasing the caregiver's burden, reducing the level of anxiety developed during the performance of their work activities and contributing to improve their quality of life.

Keywords: Aged; Quality of Life; Caregivers; Alzheimer’s Disease.

RESUMEN

La calidad de vida de los cuidadores de pacientes ancianos con demencia tipo Alzheimer está influenciada por varios factores, que corroboran la sobrecarga de trabajo, haciéndolos propensos a complicaciones físicas y mentales derivadas del cuidado. Objetivo: Identificar cómo el cuidado de los enfermos de Alzheimer afecta la calidad de vida de sus cuidadores. Métodos: Revisión bibliográfica integradora, realizada en seis pasos. Se siguieron las instrucciones del protocolo PRISMA para la selección de artículos y la estrategia PICo para construir la pregunta guía. Se utilizaron DeCS y MeSH para seleccionar los descriptores, cruzados con los operadores booleanos AND y OR, de la siguiente manera: Ancianos, calidad de vida, cuidadores, enfermedad de Alzheimer/Ancianos, calidad de vida, cuidadores, enfermedad de Alzheimer. La búsqueda se realizó entre los meses de septiembre a noviembre de 2022, con estudios de 2016 a 2022, en las bases de datos: LILACS, BDENF, MEDLINE y SciELO. La muestra final estaba compuesta por 12 artículos. Resultados: La educación del cuidador influye en la planificación de las acciones dirigidas al cuidado de la persona mayor, con mayor prevalencia en las mujeres. Se observó que a medida que avanza la enfermedad, aumenta la sobrecarga del cuidador, corroborando al aumento de los niveles de ansiedad, favoreciendo aumento del desgaste físico y emocional. Consideraciones finales: Se espera que esta investigación pueda favorecer la planificación de acciones de salud, reduciendo la carga del cuidador, disminuyendo el nivel de ansiedad desarrollado durante el desempeño de sus actividades laborales y contribuyendo a mejorar su calidad de vida.

Palabras clave: Anciano; Calidad de Vida; Cuidadores; Enfermedad de Alzheimer.

INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas o envelhecimento populacional tem apresentado um aumento progressivo. Esse processo corresponde as alterações de natureza fisiológica (senescência) ou patológicas (senilidade) que ocorrem ao longo do tempo no organismo. Entre 1950 e 2025, a Organização Mundial da Saúde (OMS) salienta que o número de idosos no Brasil deverá crescer 15 vezes, ocupando a sexta posição entre os países em contingente de idosos, correspondendo a cerca de aproximadamente 32 milhões de pessoas com mais de 60 anos⁽¹⁾.

Com o crescimento da população idosa, ocorrem diversas alterações fisiológicas que corroboram para a vulnerabilidade do indivíduo idoso, podendo ocasionar perdas funcionais, elevando as taxas de doenças crônico-degenerativas. Essas limitações demandam mais recursos de reabilitação, financeiros, assistência domiciliar e institucionalização prolongada, tornando esses idosos fragilizados. Reconhece-se por idosos fragilizados aqueles com idade maior de 75 anos ou mais de 65 anos com algum comprometimento funcional⁽²⁾.

Neste contexto, conceitos como independência, dependência e autonomia são amplamente discutidos na área da saúde, especialmente no que se relaciona aos idosos fragilizados. O declínio funcional ocorre particularmente após os 30 a 40 anos, sofrendo influência de fatores físicos e/ou orgânicos, constituição genética individual, meio ambiente, hábitos de vida, condições familiares, socioeconômicas e educacionais⁽³⁾.

Dentre as doenças crônico-degenerativas que afetam a população idosa, destacam-se os quadros demenciais. A demência é uma afecção neurodegenerativa conhecida pela deterioração progressiva das funções cognitivas, como a perda de memória, interferindo significativamente nas atividades de vida normais do paciente. À vista disso, a Doença de Alzheimer (DA) é a causa mais comum de demência nos idosos, sendo responsável por 50 a 60% dos casos⁽⁴⁾.

A DA é uma demência que compromete a integridade física, mental e social da pessoa idosa, levando-a a dependência total quando manifestada na fase avançada, exigindo cada vez mais cuidados complexos. Essa situação demanda cuidados específicos, influenciando no cotidiano do cuidador, produzindo desgastes emocional, psicológico e financeiro, pois o paciente perde gradualmente suas funções cognitivas e evolui para quadros de total dependência⁽⁵⁾.

O cuidador de idosos com DA é a pessoa diretamente responsável pelo indivíduo, é geralmente a esposa, filhos, parentes ou, ainda, uma pessoa contratada para exercer essa função. Adicionalmente, a rotina vivida pelo cuidador interfere significativamente na sua Qualidade de Vida (QV), o tornando mais favorável a diversas complicações físicas e mentais decorrentes da sobrecarga de trabalho⁽⁶⁾.

Segundo a OMS, define-se QV como a autopercepção que o indivíduo possui sobre a sua vida em diversos contextos, objetivos, expectativas, padrões, preocupações e valores nos quais ele vive. Esse conceito interage com a complexidade do ambiente, aspectos físicos, psicológicos, relações sociais, nível de independência e as crenças pessoais⁽⁷⁾.

Na saúde, o uso de medidas de QV é relevante, tanto no aspecto individual quanto no social, especialmente nos quadros das doenças degenerativas, pois a mensuração em relação a eficácia do tratamento é um fator essencial⁽⁸⁾. Neste contexto, conhecer a QV do cuidador de idoso portador de DA é algo imprescindível, uma vez que coadjuvará no planejamento de ações integrais em saúde, visando minimizar os fatores associados à carga de trabalho ocasionadas pelo cuidado.

Diante disso, considerando a importância de conhecer as características que influenciam na QV dos cuidadores de idosos com DA, este trabalho tem como objetivo identificar como o cuidar de idoso com a Doença de Alzheimer impactou na qualidade de vida de seus cuidadores.

MÉTODOS

Trata-se de uma Revisão Integrativa da Literatura (RIL), que contribui para o aperfeiçoamento da Prática Baseada em Evidência (PBE) e desempenha um papel fundamental no desenvolvimento do conhecimento científico. Foi conduzida em seis etapas interligadas: identificação da temática e seleção da pergunta norteadora; critérios de inclusão e exclusão de estudos; categorização das pesquisas; avaliação dos estudos selecionados; análise dos resultados e síntese completa do conhecimento.

O percurso utilizado na busca, triagem e análise dos artigos para definição dos procedimentos seguiu as instruções do protocolo Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA).

O período decorrido do planejamento do estudo até sua finalização foi de setembro a novembro de 2022, a partir da questão norteadora “Como o cuidar de idoso com a Doença de Alzheimer impactou na qualidade de vida do cuidador?”. Para a construção, utilizou-se a estratégia de PICo, de forma que P corresponde à população (cuidador), I de interesse (Impacto na qualidade de vida) e o Co de contexto (Cuidar de idoso com a Doença de Alzheimer).

Para busca dos artigos, foram selecionadas as seguintes bases de dados: Literatura Latino-Americana e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde (LILACS), Base de dados em Enfermagem (BDENF), Medical Literature Online (MEDLINE) e a biblioteca eletrônica Scientific Electronic Library Online (SciELO).

Para a seleção dos descritores utilizaram-se: o Medical Subject Headings (MeSH) e Descritores em Ciências da Saúde (DeCS), cruzados com os operadores booleanos AND e OR, conforme estratégia de busca demostrada no Quadro 1.

Quadro 2 - Caracterização dos estudos analisados na revisão. São Paulo - SP, Brasil, 2022

N°	Autores Anos/Idioma	Título	Estudo	Resultados	Periódico	Nível de Evidência
A1	Garzón et al. (2017)⁽⁹⁾ Espanhol	Calidad de vida relacionada con la salud en cuidadores de pacientes con enfermedad de Alzheimer.	Longitudinal analítico	A idade média dos pacientes foi de 78,84 anos, sendo que, 64,9% eram mulheres e 77,3% não tinham concluído o ensino fundamental. O Short Form (SF-36) apresentou scores baixos em relação a qualidade de vida dos cuidadores	Revista de Neurologia	VI
A2	Baldin et al. (2016)⁽¹⁰⁾ Português	Sintomas neuropsiquiátricos do idoso com doença de Alzheimer e o desgaste do cuidador familiar	Descritivo transversal	A idade dos participantes variou entre 66 e 96 anos, sendo que, 68,7% eram do sexo feminino. Quanto aos aspectos do cuidado, 70% dos cuidadores referiram cuidar de seu(a) pai/mãe. Sendo a ansiedade o Sintoma neuropsiquiátrico com maior índice	Revista Latino Americana -Enfermagem	VI
A3	Queiroz et al. (2020)⁽¹¹⁾ Português	Alfabetização em saúde de cuidadores informais do idoso com doença de Alzheimer	Descritivo quanti-qualitativa	Os cuidadores apresentaram limitações na alfabetização em saúde, comprometendo a qualidade de vida e a assistência prestada à pessoa idosa. Esse processo corrobora para a sobrecarga do cuidador mediante o desconhecimento da Doença de Alzheimer	Revista Brasileira de Enfermagem	VI
A4	Silva et al. (2017)⁽¹²⁾ Português	Doença de Alzheimer: a vivência da doença na perspectiva dos cuidadores familiares	Descritivo qualitativo	O grau de demência de Alzheimer era grave, favorecendo para manifestações emocionais e físicas. Na maioria das vezes, os cuidadores se dedicavam tanto ao cuidado que como consequência resultava em perdas de emprego e de qualidade de vida	Revista Psicologia em Estudo	VI
A5	Rebêlo et al. (2021)⁽¹³⁾ Português	Fatores associados à sobrecarga e qualidade de vida de cuidadores de idosos com demência	Transversal descritivo	Percebe-se que quanto maior a grau de dependência da pessoa idosa, mais complexas são as demandas do cuidador. Esse processo contribui para o desgaste físico e mental, acarretando mudanças significativas no estilo de vida e tempo pessoal	Estudos Interdisciplinar sobre o Envelhecimento	VI
A6	Damásio et al. (2019)⁽¹⁴⁾ Inglês	Factors associated with quality of life in the perspective of the elderly caregiver with Alzheimer's disease	Descritivo qualitativo	Os cuidadores eram informais ou familiares, com média de 51 anos, cuidadores do pai/mãe. As manifestações dos cuidados mais comuns foram o estresse e a diminuição da rede de apoio social em cuidadores	Revista de Biociências	VI
A7	Manzini et al. (2020)⁽¹⁵⁾ Inglês	Emotional disorders evidenced by family caregivers of older people with Alzheimer’s disease	Transversal descritivo	A maioria dos cuidadores era do sexo feminino, casado, com idade média de 56 anos. Em relação ao tempo gasto no cuidado, no grave a média de horas/dia de cuidado (11,5 h), ou seja, quanto mais avançado o estágio de demência, maior a sobrecarga do cuidador	Dement Neuropsychol	VI
A8	Marins et al. (2016)⁽¹⁶⁾ Português	Mudanças de comportamento em idosos com Doença de Alzheimer e sobrecarga para o cuidador	Descritivo qualitativo	Os cuidadores eram em sua maioria mulheres 76%, na faixa etária entre 50 e 60 anos de idade, com ocupação profissional com média de 8 horas de trabalho diário 52%. Os cuidadores enfrentam demandas extensas, comprometendo a sua própria saúde física e mental	Revista Anna Nery	VI
A9	Cesário et al. (2017)⁽¹⁷⁾ Português	Estresse e qualidade de vida do cuidador familiar de idoso portador da doença de Alzheimer	Descritivo qualitativo	Os cuidadores apresentaram média de idade de 56 anos, exercendo a função de cuidador há mais de 3 anos. Em virtude da carga de trabalho os cuidadores apresentavam alto nível de ansiedade	Revista saúde em debate	VI
A10	Mattos et al. (2020)⁽¹⁸⁾ Português	Doença de Alzheimer: a experiência única de cuidadores familiares	Descritivo qualitativo	A sobrecarga do cuidador na fase avançada da doença de Alzheimer desencadeia o acúmulo de tarefas, corroborando para o desgaste físico, emocional e o maior comprometimento de recursos financeiros	Revista de Psicologia USP	VI
A11	Rodriguez et al. (2018)⁽¹⁹⁾ Espanhol	Alzheimer's disease and the quality of life of the informal caregiver	Transversal descritivo	A média de idade dos cuidadores dos cuidadores eram mulheres com média de 58 anos (70,8%). Em relação ao estágio demência de Alzheimer, 27% correspondem ao estágio grave, gerando dor/desconforto e ansiedade/depressão nos cuidadores	Revista Espanhola de Geriatria e Gerontologia	VI
A12	Queiroz et al. (2018)⁽²⁰⁾ Português	Perfil sociodemográfico e qualidade de vida de cuidadores de idosos com demência	Transversal descritivo	Houve o predomínio de cuidadores do sexo feminino com média de idade de 57,51, com ensino médio completo. cuidados. Os cuidadores tendem a passar mais tempo prestando alguma tarefa de cuidar do idoso ocasionando a diminuição de tempo para si próprio, pelas demandas do cuidado	Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia	VI

Fonte: os autores

Os estudos foram publicados em 2016, 2017, 2018, 2019, 2020 e 2021. Quanto ao país de origem, foi evidenciado que 66,6% dos estudos são provenientes do Brasil, 16,7% dos Estados Unidos da América (EUA) e 16,7% da Espanha. Em relação ao delineamento metodológico, 41,6% dos estudos são de abordagem descritiva qualitativa, 41,6% são transversal descritivo, 8,4% longitudinal analítico e 8,4% descritivo quanti-qualitativa.

DISCUSSÃO

A QV dos cuidadores de idosos portadores de DA sofre influência de diversos fatores associados a condições físicas, emocionais e financeiras. Diante disso, são diversas as manifestações apresentadas pelos cuidadores, interferindo significativamente nas ações assistenciais realizadas durante o cuidado^(9,13).

Impacto na qualidade de vida do cuidador de idoso com DA

A escolaridade do cuidador é um fator que facilita o acesso à informação e à compreensão da doença, tal fato pode promover a QV e a promoção à saúde⁽¹⁰⁾. A alfabetização em saúde dos cuidadores quando inadequada influência na prestação dos cuidados e, em consequência, nos resultados de saúde da pessoa idosa. A prevalência de inadequada formação em saúde de cuidadores corresponde a 52,2%⁽¹¹⁾.

Neste contexto, elevar o nível de alfabetização dos cuidadores na saúde concebe um recurso necessário para manutenção do cuidado terapêutico em domicílio. O cuidado direcionado a pessoa idosa exige suporte estratégico, institucional e emocional adequado; dessa maneira, o cuidador terá melhor preparação física e mental para seguir suas ações no cotidiano⁽²¹⁾.

Percebe-se na análise que a maioria dos cuidadores possuem predominância da baixa escolaridade em aproximadamente 35%⁽¹²⁾. Adicionalmente, foi captado que em média nenhum cuidador possuía curso superior, estudando menos de 4 anos. Em alguns casos, os cuidadores relatam que é necessário abandonar o estudo e a família, visando maior dedicação no trabalho, corroborando para o agravamento da QV mediante à carga de trabalho exercida⁽¹⁴⁾.

O nível de escolaridade dos cuidadores de idosos com DA contribui diretamente para a compreensão de noções básicas da doença, favorecendo a promoção da saúde. O desconhecimento da DA pelo cuidador reflete diretamente na dificuldade em traçar metas e estratégias eficientes de cuidado desde o início da doença. O conhecimento da DA limitado potencializa a sobrecarga de trabalho, tendendo a ser exaustivo, uma vez que são cuidados exclusivos e diários, necessitando de muita dedicação⁽²²⁾.

Os cuidadores em sua maioria são os seus familiares, com maior prevalência o sexo feminino, com média de idade de 56 anos^(10,13). Historicamente, a literatura aborda que o cuidado é uma questão enraizada de atribuição feminina, cabendo às mulheres ações domésticas em conjunto com os cuidados com os filhos. Esse processo acentua a sobrecarga em relação as características do cuidador⁽¹⁷⁾.

Corroborando com o estudo anterior, outro fator que compromete a QV do cuidador e pode tornar as ações assistenciais mais dificultosas, é quando o cuidador é uma pessoa idosa do sexo feminino. Esse processo apresenta inúmeras limitações próprias do processo natural de envelhecimento, comprometendo o bem-estar físico e metal do cuidador⁽²¹⁾.

Acrescido a isso, quando o cuidado é compartilhado entre os cônjuges, torna-se necessário realizar outras tarefas além do cuidar, como tomar de conta dos filhos e atribuições domésticas, como o preparo de refeições, que podem favorecer para a sobrecarga de trabalho, interferindo na sua saúde, uma vez que a pessoa não tem disponibilidade de tempo para cuidar de si^(18,19).

Neste contexto, em relação ao grau de parentesco, em torno de 68% dos cuidadores são pais ou mães. Diante disso, exercer o papel de cuidador está relacionado ao cumprimento de normas sociais aos deveres de obrigação filial, em conjunto com o vínculo afetivo entre o cuidador e o idoso. Alguns cuidadores se entregam completamente ao cuidado, resultando em perdas de emprego e de QV⁽²²⁾.

A presença de sintomas neuropsiquiátricos em idosos portadores de DA relaciona-se ao maior grau de comprometimento cognitivo, ou seja, ao avanço da demência, elevando o estresse do cuidador e reduzindo a QV do idoso. O comportamento noturno foi abordado com frequência, favorecendo para um maior desgaste físico e emocional do cuidador mediante a supervisão constante do idoso^(10,16).

Quando um idoso apresenta mais de um sintoma neuropsiquiátrico, o cuidador apresentará maior desgaste funcional, gerando maior sobrecarga de forma linear, ou seja, aumentando à medida que a demência evolui. Quanto maiores os níveis de sobrecarga, menores são os índices de QV. Adicionalmente, o tempo dedicado ao cuidado aumenta com o agravamento da demência, exigindo quase uma dedicação exclusiva, deixando de lado suas tarefas para realizar o cuidado, renunciando a própria vida para cuidar da pessoa idosa⁽²³⁾.

Manifestações psicológicas e físicas apresentadas pelos cuidadores de idosos portadores de doença de Alzheimer

Os cuidadores de idosos portadores de DA estão mais favoráveis a desenvolverem sintomas psicológicos, como depressão e ansiedade, em conjunto com diversos problemas de saúde física, afetando negativamente a sua QV. Quando o idoso possui maior grau de dependência, o desgaste físico ligado ao cuidado torna-se maior, atribuindo-se o aumento da carga física a idade do idoso⁽¹³⁾.

Mediante o crescimento da carga de trabalho pela gravidade da DA, torna-se comum que os cuidadores apresentem queixas de dor, perda da sensação de liberdade, estresse, isolamento e diminuição da rede de apoio social, havendo muitas queixas de dores crônicas, insônia, falta de recursos financeiros e outros fatores relacionados ao comportamento do idoso⁽²⁴⁾.

O desgaste do cuidador também possui relação com a apatia, indiferença e inatividade devido ao seu sentimento de frustação perante as limitações que o idoso pode apresentar. Em relação aos delírios de roubo e de identificação ocasionados pela gravidade da demência, o cuidador pode apresentar maior estresse psicológico, devido à dificuldade de ser reconhecido pelo idoso⁽¹⁸⁾.

Com essas afirmações, a sobrecarga emocional não pode ser excluída na fase grave, uma vez que, a tristeza gerada pela gravidade da demência é algo observado com frequência. Conforme a progressão da DA, os pacientes tornam-se fisicamente mais frágeis, ocorrendo também o agravamento dos sinais e sintomas psicológicos e comportamentais apresentados pelo cuidador⁽²⁵⁾.

Quando o cuidador é capaz de reconhecer as alterações e as manifestações da DA apresentadas nos seus estágios, muitos problemas podem ser evitados e a sobrecarga minimizada^(12,15). A sobrecarga do cuidador na fase avançada, desencadeia o desgaste físico, emocional, acúmulo de tarefas e o maior comprometimento de recursos financeiros, passando do auxílio a algumas tarefas de dependência total^(18,19).

A sobrecarga gerada pelo cuidado frequentemente na fase avançada da demência leva a quadros de isolamento social, gerando dificuldades na manutenção das relações sociais e a realização de atividades de lazer com os amigos e familiares. Essa sobrecarga amplifica o nível de estresse e ansiedade, comprometendo a QV e a deficiência no autocuidado dos próprios cuidadores⁽²³⁾.

O estresse é bastante apresentado nas pesquisas com esta temática, pois o papel de cuidar possui relação concreta a ações estressantes, promovendo impactos na saúde e no equilíbrio da QV dos cuidadores e familiares. O estresse possui reação direta com o organismo, podendo gerar comprometimentos físicos e psicológicos, afetando em especial os cuidadores que se encontram em situação de constante tensão^(17,20).

O impacto gerado durante os anos de cuidador produz efeitos relacionados a dor e desconforto, principalmente em relação aos cuidadores informais, os quais problemas de saúde mental, medo, preocupações com o futuro e as tarefas voltadas para o ato de cuidar são apresentados com maior frequência. Com o passar do tempo, à medida que aumenta a dependência do idoso e as dificuldades do ato de cuidar, podem surgir síndromes psicossociais como a Síndrome de Burnout, que surge como consequência do alto nível de estresse e do esforço elevado nas ações de trabalho⁽²⁵⁾.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante das informações expostas, constatou-se que diversos fatores potencializam o crescimento da carga de trabalho exercida pelos cuidadores de idosos portadores de DA, favorecendo para predisposição aumentada a inúmeros problemas de saúde. Observou-se que quanto mais avançado o grau da demência, maior é a sobrecarga do cuidador, apresentando diversas manifestações físicas e emocionais que interferem na sua QV.

Embora a maioria dos cuidadores tenham apresentado vários problemas decorrentes do trabalho em relação ao organismo, a ansiedade por sua vez, foi o principal impacto relatado nos estudos, corroborando para o desgaste físico e mental dos cuidadores. Neste contexto, algumas ações em saúde são fundamentais para minimizar os danos apresentados pela sobrecarga, com destaque para o letramento em saúde sobre a DA, possibilitando suporte estratégico e emocional adequado, preparando o cuidador para as ações desenvolvidas no cotidiano.

Em vista disso, este trabalho identificou o impacto que o cuidar de idoso com DA causa na QV do cuidador, alcançando o objetivo proposto. Logo, espera-se que esta pesquisa possa contribuir para o planejamento de ações em saúde, visando diminuir a sobrecarga do cuidador, com enfoque no manejo das alterações comportamentais, possibilitando a melhoria da QV do cuidador.

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Fomento: não há instituição de fomento

Editor Científico: Francisco Mayron Morais Soares. Orcid: https://orcid.org/0000-0001-7316-2519

Rev Enferm Atual In Derme 2023;97(1):e023020

Busca	Estratégia
LILACS	Idoso AND (Qualidade de vida OR Cuidadores) AND Doença de Alzheimer
BDENF	Cuidadores AND Doença de Alzheimer AND Qualidade de vida AND idoso
MEDLINE	Caregivers AND Alzheimer Disease AND Quality of Life AND Aged
SciELO	Caregivers AND (Alzheimer Disease OR Aged)

Bases de dados	Totalidade Após critérios N° final %
LILACS	105	63	4	33,3
BDENF	35	48	3	24,9
MEDLINE	1.494	34	3	24,9
SciELO	107	53	2	16,9
Total	1.667	198	12	100%