ARTIGO DE REFLEXÃO

 

A SAÚDE DO ENFERMEIRO NA PANDEMIA: ESTUDO REFLEXIVO A LUZ DA TEORIA DE PEPLAU

 

NURSES' HEALTH IN THE PANDEMIC: A REFLECTIVE STUDY IN THE LIGHT OF PEPLAU'S THEORY

 

 LA SALUD DEL ENFERMERO EN LA PANDEMIA: UN ESTUDIO REFLEXIVO A LA LUZ DE LA TEORÍA DE PEPLAU

 


https://doi.org/10.31011/reaid-2023-v.97-n.4-art.1592 

Thayanne Coelho Moura Machado1

Claudia Martins Barbosa dos Santos2

Fernando Rocha dos Santos 3

Isaura Danielli Borges de Sousa4

Iellen Dantas Campos Verdes Rodrigues5

 

Universidade Federal do Piauí- Campus Amílcar Ferreira Sobral, Acadêmica de Enfermagem. Floriano, Piauí, Brasil. E-mail- thayannecoelhomoura@gmail.com. Orcid: https://orcid.org/0000-0001-5609-4956

2 Universidade Federal do Piauí- Campus Amílcar Ferreira Sobral, Acadêmica de Enfermagem. Floriano, Piauí, Brasil. E-mail- Kaumarts_soares@hotmail.com. Orcid: https://orcid.org/0000-0002-8221-5261

3 Universidade Federal do Piauí- Campus Amílcar Ferreira Sobral, Acadêmico de Enfermagem. Floriano, Piauí, Brasil. E-mail-fernandorocha@ufpi.edu.br. Orcid: https://orcid.org/0000-0002-3497-9275

4 Universidade Federal do Piauí- Campus Amílcar Ferreira Sobral, Docente do Curso de Enfermagem, Floriano, Piauí, Brasil. E-mail- isauradanielli@ufpi.edu.br.  Orcid: https://orcid.org/0000-0001-7240-5072

5 Universidade Federal do Piauí- Campus Amílcar Ferreira Sobral, Docente do Curso de Enfermagem, Floriano, Piauí, Brasil. E-mail: iellendantas@hotmail.com Orcid: https://orcid.org/0000-0002-5593-4172

 

Autor correspondente

Thayanne Coelho Moura Machado

Rua projetada N 10, Bairro Taboca, Floriano-PI, CEP 64801370, telefone: (89) 994354260, e-mail: thayannecoelhomoura@gmail.com.

 

RESUMO

Objetivo: Refletir sobre a saúde do enfermeiro no contexto da pandemia da Covid-19 com base na Teoria das Relações Interpessoais de Peplau. Método: Trata-se de um estudo teórico-reflexivo, construído entre os meses de janeiro à maio de 2022. Resultados: Diante das mudanças advindas com a pandemia da Covid-19 os enfermeiros vivenciaram à exaustão da intensa carga horária de trabalho e da demanda de atendimento, o isolamento, o medo e o sentimento de incapacidade diante da morte e do sofrimento. O cuidado que é relacionado ao trabalho de enfermagem, nesse contexto, trouxe consequências negativas à saúde dessa categoria. Mediante ao adoecimento o enfermeiro dificilmente se vê como paciente, fazendo-se necessário se desvincular do papel de cuidador e assumir o de ser cuidado, para ao fim do processo terapêutico retornar à função inicial. Considerações finais: A Teoria das Relações Interpessoais de Peplau é o subsídio necessário para fomentar uma assistência individualizada e de qualidade, pautada no cuidado integral e holístico dos sujeitos envolvidos no processo de cuidar.

Palavras-chave: Enfermagem; Pandemias; Saúde.

 

ABSTRACT

Objective: To reflect on the health of nurses in the context of the Covid-19 pandemic based on Peplau's Theory of Interpersonal Relations. Method: This is a theoretical-reflective study, built between the months of January to May 2022. Results: Faced with the changes brought about by the Covid-19 pandemic, nurses experienced the intense workload and demand care, isolation, fear and the feeling of incapacity in the face of death and suffering. The care that is related to nursing work, in this context, brought negative consequences to the health of this category. Through illness, the nurse hardly sees himself as a patient, making it necessary to disengage from the role of caregiver and assume that of being cared for, so that at the end of the therapeutic process he can return to his initial role. Final considerations: Peplau's Theory of Interpersonal Relations is the necessary subsidy to promote individualized and quality care, based on comprehensive and holistic care for the subjects involved in the care process.

Keywords: Nursing; Pandemics; Health.

 

RESUMEN

Objetivo: Reflexionar sobre la salud de los enfermeros en el contexto de la pandemia de la Covid-19 a partir de la Teoría de las Relaciones Interpersonales de Peplau. Método: Se trata de un estudio teórico-reflexivo, construido entre los meses de enero a mayo de 2022. Resultados: Ante los cambios provocados por la pandemia de la Covid-19, los enfermeros vivieron la intensa carga de trabajo y demandan cuidados, aislamiento, miedo y sentimiento de incapacidad ante la muerte y el sufrimiento. El cuidado que se relaciona con el trabajo de enfermería, en ese contexto, trajo consecuencias negativas para la salud de esta categoría. A través de la enfermedad, el enfermero apenas se ve a sí mismo como paciente, por lo que es necesario desvincularse del rol de cuidador y asumir el de ser cuidado, para que al final del proceso terapéutico pueda volver a su rol inicial. Consideraciones finales: La Teoría de las Relaciones Interpersonales de Peplau es el subsidio necesario para promover una atención individualizada y de calidad, basada en una atención integral y holística a los sujetos involucrados en el proceso de atención.

Palabras clave: Enfermería; Pandemias; Salud.

                          

Submissão: 30-11-2022

Aprovado: 23-07-2023

 

 

INTRODUÇÃO

A pandemia da covid-19 acarretou uma revolução na sociedade a nível global, dentre os mais afetados estão saúde, economia e educação. Após o surgimento do primeiro caso em Wuhan, na China, em dezembro de 2019, a infecção logo se disseminou, com o primeiro registro em território brasileiro, datado em fevereiro de 2020(¹­­­-²).

Dentre as profissões que atuam no enfrentamento à pandemia, destaca-se a enfermagem, com ações de cuidado integral às pessoas infectadas, medidas de prevenção e práticas de educação em saúde que envolvem aspectos técnico-científicos e de humanização(3).

Os profissionais de saúde que atuam na linha de frente da assistência aos infectados, com destaque aos profissionais de enfermagem, na figura do enfermeiro, que em decorrência de sua função acumulam maior tempo de exposição junto aos pacientes da Covid-19, sofreram inúmeros impactos e mudanças no seu exercício, dentre esses a infecção pelo vírus. Em janeiro de 2021, o Conselho Federal de Enfermagem divulgou que o Brasil representa um terço das mortes de profissionais de enfermagem por Covid-19 no mundo, chegando ao quantitativo de 200 mil mortos(4).

Com os elevados índices de infectividade do vírus os profissionais que prestavam assistência direta aos pacientes infectados passaram a se isolar dos seus familiares e amigos, no intuito de não contribuir com a cadeia de transmissão. O estabelecimento do isolamento social e a dedicação exclusiva ao ambiente de trabalho intensificaram o adoecimento mental dos enfermeiros(5).

Diante desse cenário, o medo da morte e do adoecimento, a ansiedade, e o estresse predominaram. O sofrimento deixou de ser apenas físico pelo cansaço e pela elevada carga horária de trabalho e passou a ter como vertente o desgaste e a exaustão mental e emocional. Os caracterizados como prestadores de cuidado passam, nesse contexto, a necessitar de cuidados, contudo, as condições e o ambiente de trabalho muitas vezes não possibilitaram a extensão desse cuidado(6).

O enfermeiro carrega consigo o estigma de ser aquela pessoa que se doa aos outros, pessoa que "vive" para cuidar dos outros. Realmente a função primordial da profissão é cuidar, e o fazem muito bem. No entanto, com frequência, é esquecido, de cuidar dele mesmo(7). Nesse contexto, pode-se identificar diversos papeis assumidos pelo enfermeiro em seu processo de cuidar, tais como: estranho, professor, provedor de recursos, líder, especialista técnico, substituto, assessor e conselheiro.

Diante da magnitude do exposto, o cuidado ao indivíduo em adoecimento/sofrimento requer uma abordagem voltada aos aspectos emocionais decorrentes da pandemia. Nesse ínterim, o enfermeiro dispõe para o exercício do cuidado de bases teóricas alicerçadas no campo da saúde mental. Assim, a Teoria das Relações Interpessoais de Hildegard Peplau aparece como possibilidade de suporte terapêutico, por estar fundamentada na interação enfermeiro-cliente, orientando-se na perspectiva psicodinâmica com intuito de prover o desenvolvimento da personalidade, conduzindo o indivíduo à uma vida criativa, construtiva, produtiva, pessoal e independente.

  

OBJETIVO

Refletir sobre a saúde do enfermeiro no contexto da pandemia da Covid-19 com base na Teoria das Relações Interpessoais de Peplau.

 

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo reflexivo a luz da Teoria das Relações Interpessoais de Hildegard Peplau. A análise foi apresentada na seguinte categoria temática: Covid-19 e a inversão de papéis do enfermeiro, de cuidador a ser cuidado. A qual foi seccionada em quatro subcategorias, comtemplando as quatro fases descritas na teoria: orientação, identificação, exploração e resolução.

 

DESENVOLVIMENTO

Covid-19 e a inversão de papéis do enfermeiro, de cuidador a ser cuidado

A busca pelo desenvolvimento interior passa pelo desejo de evoluir e aprimorar-se como ser humano. Ao cuidar do fortalecimento interior é possível conseguir a realização pessoal, profissional social e econômica a partir da capacidade de diálogo conosco mesmos, uma sensibilidade pela escuta do outro. Com isso, é possível obter um equilíbrio de paz e amor pelo cuidado como atitude, constituído por pessoas que cuidam de si e cuidam daqueles que as cercam(8).

O cotidiano da enfermagem na pandemia é marcado pelas condições precárias de trabalho, como a falta de EPI’s, ausência de um conforto mínimo para descanso, violência e desacato dos clientes que buscam atendimento. Destaca-se ainda a exaustão das prolongadas horas de trabalho e demanda de atendimento, o isolamento social, a frustação e o sentimento de incapacidade diante da morte e do sofrimento(9). Nesse contexto o adoecimento físico e mental dos profissionais é uma realidade em momento de crise mundial.

            A realidade do enfermeiro que está na linha de frente no combate à pandemia da Covid-19 se reflete em profissionais exaustos, com problemas de ordem psíquica e desordens nos mais diversos sistemas. A imagem criada à priori de um enfermeiro altivo e resiliente passa a refletir o humano por trás do jaleco, que é vulnerável ao adoecimento. Assim, a abordagem psicodinâmica no cuidado ao profissional adoecido favorece a compreensão da dialética presente na atual condição de cuidador a ser cuidado(10).

O cuidado é o instrumento de trabalho de enfermagem, e ao mesmo tempo é causador de danos à saúde do cuidador. Por esse motivo, o enfermeiro precisa aprender a cuidar de si mesmo, evitar ou reduzir os danos desta ocupação, para assim poder prestar um cuidado mais adequado(7).

Hildegard Peplau, em sua obra, define inicialmente que a enfermagem consiste em compreender o comportamento dos seres humanos para que uns possam ajudar outros a identificar as dificuldades percebidas, e a aplicar os princípios de relação interpessoal aos problemas identificados em todos os níveis de experiência(11).

Enquanto teórica Peplau constrói bases para um cuidado centrado no contexto de interdependência entre enfermeiro e paciente. O relacionamento interpessoal, foco de sua teoria, é centrado no reconhecimento e resposta à necessidade de ajuda por parte do enfermeiro cuidador e do ser cuidado. Seu modelo teórico está descrito em quatro fases a saber: orientação, identificação, exploração e resolução(12).

 

FASE DE ORIENTAÇÃO: RECONHECIMENTO DA NECESSIDADE DE SER CUIDADO

A fase de orientação inicia-se com a busca do paciente pelo profissional, a partir de uma “necessidade percebida”, que deve ser esclarecida e definida conjuntamente nesta etapa. São realizadas orientações sobre o que está acontecendo e estabelecendo vínculo, o que favorece a assistência de enfermagem de forma adequada. A fase de orientação se inicia com o encontro entre os desconhecidos, paciente e enfermeiro, e finaliza-se com a identificação/definição do problema(11).

De acordo com Peplau, o sucesso do cuidar em enfermagem está entrelaçado diretamente ao que é proporcionado ao paciente, tão como, ao que o paciente proporciona ao cuidador(12). É preciso que o binômio enfermeiro-cliente se aproprie de seus papéis para a efetivação do cuidado.

A maioria das pessoas não reserva um tempo do seu dia para pensar em si, para fazer uma análise interior, para fazer uma auto-avaliação do seu Ser. Sendo assim, não se conhecem o suficiente para saber o que os alegra ou o que os deixa tristes, o que os estimula ou os desestimula, o que os faz bem ou os faz mal. Para que cuidar é necessário saber o que é melhor para cada um, ou pelo menos saber como abrandar aquilo que prejudica(7).

No que tange a cuidar de outro enfermeiro é possível vislumbrar a complexidade envolta no processo. O enfermeiro em sua atuação profissional é capaz de assumir uma variedade de papéis, mas dificilmente se vê como paciente.

Não obstante, em decorrência da pandemia que se instaurara, grandes números de profissionais enfermeiros acabaram sendo vítimas da doença, tendo assim que ficar na outra ponta do cuidado: ser o cliente que necessita de cuidados. Com isso, enfermeiros passam a prestar assistência a colegas profissionais, que no momento estão como pacientes. Além disso, esse cuidado de enfermeiro para com enfermeiro se estende bem mais que isso. O simples fato de um fornecer apoio psicológico para outros, já se configura como uma forma de cuidar(13).

Então, o que fazer quando o ser que cuida requer cuidados? O paciente agora é o enfermeiro, que deve se despir de seus preceitos teórico-práticos e receber o cuidado prestado pelo outro, pois o colega de profissão será o cuidador. Diante dessa realidade, a aplicação de uma teoria centrada nas relações permite a construção de um vínculo entre o profissional e o cliente, o que possibilita ao indivíduo se tornar apto para compreender e lidar com o dualismo interno emergido pela necessidade de adaptação às mudanças nos papéis de vida, precipitadas pela Covid-19.

Não é fácil assumir um novo papel, o relacionamento terapêutico precisa ser construído, mas antes é preciso desconstruir o papel de cuidador. O enfermeiro assumirá o papel de paciente, é ele quem requer cuidados e para tal é preciso se entregar e confiar na figura do profissional ali disposto a cuidá-lo(14). O primeiro contato entre o indivíduo doente e o cuidador é descrito como um encontro entre estranhos, no qual ambos os sujeitos precisam se despir de todo e qualquer julgamento de valor para que se possa estabelecer uma nova relação. Esse processo é permeado pela bagagem de pré-concepções presentes em ambas as partes validadas por fatores externos tais como cultura, religião, etnia, educação, experiências, dentre outros(12).

Nesse contexto, a comunicação é um elemento forte para o desenrolar dessa etapa e o estabelecimento de um relacionamento terapêutico. A comunicação amplia seu grau de complexidade com o desenvolvimento do ser humano, o qual a utiliza para interagir, compreender fatores psicológicos e sociais que acontecem entre os indivíduos e consigo mesmo no âmbito interpessoal, grupal, organizacional e de massa(15). É necessário permitir contato com nosso interior para sentir o outro, como um conjunto de corpo-mente-espírito associada à dimensão da natureza e no universo, os quais se complementam(8).

O cuidado de enfermagem ao enfermeiro acometido pela Covid-19 ou em sofrimento ocasionado pelas mudanças provenientes do cenário pandêmico se realizado sob a ótica da Teoria das relações interpessoais não se limita ao espaço físico do hospital, mas pode ser executado em qualquer contexto de cuidado. Assim, a medida em que o enfermeiro ressignifica seu papel no contexto de cuidados ele abre espaço para o reconhecimento acerca da necessidade de ajuda, bem como permite a quem está prestando-lhe o cuidado atuar de forma assertiva. Dessa forma, é possível que com o entendimento mútuo acerca das necessidades de saúde presentes, enfermeiro e cliente possam definir em conjunto a melhor estratégia de cuidados.

 

FASE DE IDENTIFICAÇÃO: REAÇÃO SELETIVA AOS CUIDADOS

Acometido pelo adoecimento, o enfermeiro, que se despe do jaleco e assume agora tão somente o papel de paciente, se vê vulnerável diante da sua incapacidade de cuidar sozinho de si, requerendo ajuda e cuidados de sua equipe e do enfermeiro. Assim, ao reconhecer tal necessidade o enfermeiro se liberta das experiências como profissional e pode se deixar cuidar pelo outro, imergindo no que Peplau descreve como a segunda fase de sua teoria, a fase de identificação(12).

Após compreender a sua necessidade de cuidados e estabelecer um vínculo com quem se dispôs a ajudá-lo, o paciente passa a demonstrar interesse no cuidado e a responder de forma seletiva ao enfermeiro. Nesse momento, o profissional busca encorajar o indivíduo para o enfrentamento do problema, por meio da definição de metas para o cuidado, o que se pode ocorrer como um processo interdependente, no qual há a cooperação do cliente, ou dependente, onde o cliente não mantém um posicionamento frente ao cuidado prestado(12).

Para tal, o enfermeiro deve orientar o indivíduo em um processo de autoconhecimento capaz de fazer emergir fatos relacionados a situações de dependência e independência referentes ao adoecimento, isso permite elucidar a preconcepção de ambos e tornar a relação construtiva.  Ao considerar que a relação terapêutica é permeada por fases de início, amadurecimento e fim, e que a ansiedade é intrínseca aos processos interpessoais, a teórica enfatiza a necessidade do enfermeiro de reconhecer e gerenciar tal processo(16).

No que cerne à Covid, essa fase pode demandar mais tempo e cuidado por parte do enfermeiro, visto que as medidas de precaução acabam por restringir o contato interpessoal e dificultar a formação do vínculo, indispensável para que ocorra o processo de identificação. Em contrapartida, a realidade tem mostrado que os enfermeiros atuantes na linha de frente no combate à pandemia estão sensíveis aos aspectos emocionais acarretados pela doença, demonstrando uma maior valorização pelo outro e pelas relações dentro de um contexto de cuidado(3).

 

FASE DE EXPLORAÇÃO: RECURSOS DISPONÍVEIS PARA A RESOLUTIVA

Aqui o “novo paciente” após assumir sua nova identidade, reconhece que necessita de cuidados e vai em busca de obtê-los. Extraindo ao máximo tudo o que o serviço pode oferecer-lhe, vale destacar que por fazer parte do universo do cuidado, o enfermeiro quando paciente se apresenta mais exigente e atento às peculiaridades do tratamento recebido e dos cuidados prestados, o que pode trazer benefícios à sua recuperação, mas pode se tornar um fator de desgaste para a equipe à frente dos cuidados, uma vez que o excesso de demandas pode sobrecarregar os profissionais envolvidos nessa assistência(17).

Nessa fase é necessário que ocorra a entrega dos recursos adequados às demandas fisiológicas e interpessoais do cliente, de modo que as necessidades identificadas na fase anterior possam ser supridas de modo efetivo para ambos os envolvidos. É importante que o enfermeiro aproveite da expertise de ter sob seus cuidados outro enfermeiro para envolvê-lo de modo ativo na resolução das questões de saúde, favorecendo, assim, o avanço do processo de cuidar e a mais breve recuperação do seu cliente(18).

Deste modo, é essencial que durante a vivência da fase de exploração o cuidador analise o grau de dependência do paciente. Fomentando o processo de autonomia, o exercício de um papel ativo dentro do planejamento e execução das atividades propostas. Gerando o crescimento pessoal e o preparo para a desvinculação advinda pela etapa resolutiva(12).

 

FASE DE RESOLUÇÃO: A DESVINCULAÇÃO E AUTONOMIA

A última fase proposta por Peplau em seu arcabouço teórico, de dimensionamento prático, é a de resolução. Em contraponto a definição da nomenclatura que intitula essa etapa nem sempre ao fim do processo existe resolução do caso. Nela, os laços com cuidador são rompidos e o paciente obtém a capacidade de atuar sozinho, com autonomia adquirida pelo distanciamento gradual do profissional que ofertou o cuidado a partir do sucesso das fases antecedentes(18).

Como fatores limitantes para o cuidado efetivo de si entre enfermeiros foram encontrados: a demanda de trabalho, o dimensionamento inadequado de pessoal, as jornadas de trabalho exaustivas, condições insalubres, burocracia, falta de autonomia e incompatibilidade entre afazeres, família e lazer(19).

Para então conseguir se desvincular do papel de ser cuidado e assumir o de cuidador os profissionais da enfermagem devem fazer uso dos recursos encontrados na etapa exploratória, como atendimento psicológico, estabelecimento de rede de apoio, uso de práticas complementares de saúde, hábitos que produzam relaxamento. Acrescenta-se estudo e a busca de atualizações sobre a doença para que haja uma maior segurança durante atuação profissional(20).

Contudo, é necessário que seja modificado o olhar do profissional outrora cuidado para compreender os determinantes que levam ao adoecimento, e procurar os meios para manter a saúde. Assim, atentar-se aos mínimos detalhes para que seja gerado bons sentimentos, como exemplo, o sentimento de gratidão expresso pelos pacientes e familiares pela assistência prestada, ou gerados pela identificação que os procedimentos realizados amenizam o sofrimento, e até a recuperação e a cura dos enfermos, resultando em uma visão mais positiva diante das situações(7).

Frente a análise de todos os aspectos que geram sofrimento ao enfermeiro na sua prática assistencial e que foram intensificados pela Covid-19, uma das principais vertentes a ser abordada durante a exploração é a capacitação profissional e a ressignificação das situações vivenciadas por esse profissional. A partir desse processo e do direcionamento da assistência de enfermagem a todas as demandas surgidas durante a aplicação da teoria das relações interpessoais o enfermeiro cuidador consegue auxiliar o paciente enfermeiro a retornar ao lugar outrora ocupado, mesmo não havendo a mudança do cenário pandêmico, mas sendo possível sua atuação pela aprendizagem em lidar com os fatores do seu adoecimento.

É necessário a formulação de políticas sensíveis aos trabalhos de cuidado, realizados principalmente por mulheres, reconhecendo suas especificidades e condições de desigualdades na sociedade. Os impactos da pandemia expõem a desvalorização do trabalho da enfermagem, evidenciada pela invisibilidade social da categoria e pela precarização da vida a quem a exerce(3).

É notável que o profissional enfermeiro passou e está passando por um grandioso processo de readaptação na assistência. Tudo isso em decorrência da pandemia de Covid-19 e suas várias nuances. Esse processo é mostrado por meio de sofrimento e dificuldades na atuação profissional(9). Cabe assim, uma atenção de maior enfoque voltadas às políticas de trabalho e valorização da saúde do próprio profissional, para que esse se mantenha incentivado no serviço que presta à saúde.

O presente trabalho contribui para uma melhor visão a respeito da saúde de profissionais que de certa forma, tiveram sua saúde mental prejudicada, enquanto se dispunha a cuidar de outras pessoas, no advento da pandemia. Serve ainda como incentivo para possíveis estudos e/ou projetos que visem o cuidar do cuidador.

Não obstante, se limita no que diz respeito a dados coletados em primeira intenção, por tratar-se de um estudo teórico-reflexivo.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Constata-se que o cuidado requer embasamento científico para ser efetivado, assim ao considerar as nuances da Covid-19 e as repercussões físicas e mentais do adoecimento para o enfermeiro, bem como a alteração no relacionamento interpessoal entre enfermeiro, colegas de profissão e equipe, a Teoria das Relações Interpessoais de Peplau é o subsídio necessário para fomentar uma assistência individualizada e de qualidade, pautada no cuidado integral e holístico e na relação entre os sujeitos envolvidos no processo de cuidar.

 Desse modo, a reflexão aqui apresentada poderá servir como alicerce às instituições e profissionais para orientar um cuidado pautado nas necessidades do indivíduo, sendo este profissional de saúde. Denotando a importância do vínculo terapêutico e do próprio reconhecimento da necessidade de cuidados para que seja estimulado o desejo de permanecer saudável.

Direcionar o cuidado à luz dessa teoria viabiliza uma maior dinâmica terapêutica e uma abordagem ampla sobre o conceito saúde, implementando ao processo de avaliação do bem-estar do paciente aspectos de natureza sociais e psíquicas além das questões físicas. A interpessoalidade proposta por Peplau em um contexto da pandemia da Covid-19 tem suas limitações pautadas nas poucas ferramentas sociais para exploração devido à prevenção de contágio, ainda pela carga horária de trabalho dos profissionais que dificultam o tempo de execução das propostas assim como o encontro entre os enfermeiros.

Contudo, as discussões expostas por esse estudo possibilitarão aos enfermeiros a compreensão, o planejamento e a implementação da Teoria das Relações Interpessoais de Peplau para o restabelecimento e conservação da saúde mental dos profissionais de enfermagem durante o enfrentamento à pandemia da Covid-19.

 

REFERÊNCIAS

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Contribuição de autoria

Concepção ou desenho do estudo: Machado TCM, Rodrigues IDCV, Sousa IDB.

Coleta de dados: Machado TCM, Santos CMB, Santos FR.

Análise e interpretação dos dados: Machado TCM, Santos CMB, Santos FR.

Redação do artigo ou revisão crítica: Machado TCM, Rodrigues IDCV, Santos CMB, Santos FR, Sousa IDB.

Aprovação final da versão a ser publicada: Rodrigues IDCV, Sousa IDB.

 

Fomento: não há instituição de fomento

 

Editor Científico: Francisco Mayron Morais Soares. Orcid: https://orcid.org/0000-0001-7316-2519

 

 

 

Rev Enferm Atual In Derme 2023; 97(4): e023186                                 

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