REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SOBRE A VELHICE CONSTRUÍDAS POR ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS
SOCIAL REPRESENTATIONS ABOUT OLD AGE BUILT BY UNIVERSITY STUDENTS
REPRESENTACIONES SOCIALES SOBRE LA VEJEZ CONSTRUIDAS POR ESTUDIANTES UNIVERSITARIOS
1Arthur Alexandrino
2Patrício de Almeida Costa
3Caio Bismarck Silva de Oliveira
4Danielle Samara Tavares de Oliveira Figueiredo
5Heloisy Alves de Medeiros Leano
6Matheus Figueiredo Nogueira
1Enfermeiro, Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Cuité - PB. Doutorando em Saúde Coletiva pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Natal - RN. Especialista em Enfermagem Gerontológica e Geriátrica pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), São Paulo – SP. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-5817-4335
2Enfermeiro, Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Cuité – PB. Mestrando em Saúde Coletiva pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Santa Cruz – RN. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1111-7733
3Enfermeiro, Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Cuité - PB. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3033-6595
4Enfermeira. Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Professora Adjunta II do curso de Bacharelado em Enfermagem, Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Cuité – PB. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6513-6257
5Enfermeira. Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Professora Adjunta I do curso de Bacharelado em Enfermagem, Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Cuité – PB. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7337-4079
6Enfermeiro, Doutor em Saúde Coletiva pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Natal-RN. Professor Adjunto IV do curso de Bacharelado em Enfermagem, Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Cuité – PB. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-5787-7861
Autor correspondente
Arthur Alexandrino
Rua Izauro Alves do Amaral, nº 277, Bairro Altos do Indaiá, Dourados, Mato Grosso do Sul - Brasil. CEP: 79.823-530. Telefone: +55(83) 99613-8749. E-mail: alexandrinoarthurdm@gmail.com
Submissão: 28-12-2022
Aprovado: 06-10-2023
RESUMO
Objetivo: conhecer as representações sociais sobre a velhice construídas por estudantes universitários. Métodos: estudo descritivo com abordagem qualitativa, cujo o referencial teórico-metodológico foi a Teoria das Representações Sociais. Realizou-se a pesquisa com 277 estudantes universitários, por meio de um questionário sociodemográfico-acadêmico e um Teste de Associação Livre de Palavras, com o termo indutor “velhice”. Os dados foram organizados e processados no software IBM SPSS para análise estatística descritiva, e no software EVOC para estruturação do núcleo central e periférico das representações sociais. Resultados: o núcleo central evidenciou entre os achados identificados os elementos avós, cansaço, descanso, doença, experiência, fragilidade, saúde e terminalidade. No núcleo periférico, foram identificados os elementos constituídos pelos termos cabelo branco, esquecimento, limitações, estabilidade financeira, despreocupação, felicidade, tempo, satisfação, viagem e abandono. A velhice apresentou múltiplos significados para os estudantes universitários, exibindo evocações atreladas tanto a uma dimensão positiva, como na perspectiva negativa. Considerações finais: as evocações circunscritas no núcleo periférico das representações sociais suscitam reflexões, discussões e ressignificações dos universitários que ora representam a sociedade em geral. Sugere-se que novas pesquisas acerca das representações sociais sobre a velhice sejam desenvolvidas com outros segmentos da população, a fim de possibilitar uma pluralidade de visões de mundo sobre esse fenômeno e estimular a eficiência estratégica da atenção integral ao idoso.
Palavras-chave: Saúde do Idoso; Envelhecimento; Estudantes; Pesquisa Qualitativa.
ABSTRACT
Objective: to know the social representations of old age built by university students. Methods: descriptive study with a qualitative approach, whose theoretical-methodological framework was the Theory of Social Representations. The research was carried out with 277 university students, through a sociodemographic-academic questionnaire and a Free Word Association Test, with the inducing term “old age”. Data were organized and processed in IBM SPSS software for descriptive statistical analysis, and in EVOC software for structuring the central and peripheral core of social representations. Results: the central nucleus evidenced among the identified findings the elements grandparents, tiredness, rest, illness, experience, frailty, health and terminality. In the peripheral nucleus, the elements constituted by the terms white hair, forgetfulness, limitations, financial stability, carefree, happiness, time, satisfaction, travel and abandonment were identified. Old age presented multiple meanings for university students, displaying evocations linked to both a positive dimension and a negative perspective. Final considerations: the evocations circumscribed in the peripheral core of social representations provoke reflections, discussions and resignifications from university students who now represent society in general. It is suggested that further research on social representations of old age be developed with other segments of the population, in order to enable a plurality of worldviews on this phenomenon and to stimulate the strategic efficiency of comprehensive care for the elderly.
Keywords: Health of the Elderly; Aging; Students; Qualitative Research.
RESUMEN
Objetivo: conocer las representaciones sociales de la vejez construidas por estudiantes universitarios. Métodos: estudio descriptivo con abordaje cualitativo, cuyo marco teórico-metodológico fue la Teoría de las Representaciones Sociales. La investigación se realizó con 277 estudiantes universitarios, a través de un cuestionario sociodemográfico-académico y un Test de Asociación de Palabras Libres, con el término inductor “vejez”. Los datos fueron organizados y procesados en el software IBM SPSS para el análisis estadístico descriptivo y en el software EVOC para la estructuración del núcleo central y periférico de las representaciones sociales. Resultados: el núcleo central evidenció entre los hallazgos identificados los elementos abuelos, cansancio, descanso, enfermedad, experiencia, fragilidad, salud y terminalidad. En el núcleo periférico se identificaron los elementos constituidos por los términos canas, olvido, limitaciones, estabilidad financiera, despreocupación, felicidad, tiempo, satisfacción, viaje y abandono. La vejez presentó múltiples significados para los universitarios, desplegando evocaciones vinculadas tanto a una dimensión positiva como a una perspectiva negativa. Consideraciones finales: las evocaciones circunscritas en el núcleo periférico de las representaciones sociales suscitan reflexiones, discusiones y resignificaciones de los universitarios que ahora representan a la sociedad en general. Se sugiere que se desarrollen más investigaciones sobre las representaciones sociales de la vejez con otros segmentos de la población, con el fin de posibilitar una pluralidad de cosmovisiones sobre este fenómeno y estimular la eficiencia estratégica de la atención integral al anciano.
Palabras clave: Salud del Anciano; Envejecimiento; Estudiante; Investigatión Cualitativa.
INTRODUÇÃO
O envelhecimento populacional configura-se uma realidade global e vem ocorrendo de forma acelerada, principalmente nos países em desenvolvimento(1). Desde meados do século XX esse panorama tem promovido significativas mudanças na sociedade, dentre elas a transição demográfica, provocada pelo declínio das taxas de mortalidade e fertilidade e do aumento da expectativa de vida(2).
Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) preveem para o ano de 2025 uma população de aproximadamente 1,2 bilhões de idosos no mundo(1). No Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população de idosos já superou a marca dos 32 milhões em 2019, segundo o mesmo órgão, a projeção continua crescente com estimativa para 42 milhões até 2030(3). Diferentemente dos países desenvolvidos, no Brasil é intenso o processo de inversão da pirâmide etária. Essa velocidade da mudança na transição demográfica e epidemiológica, portanto, traz consigo questionamentos aos gestores e pesquisadores da saúde principalmente a respeito da desigualdade da caracterização socioeconômica que vem acompanhado esse processo(4).
O acelerado crescimento da população idosa assinala para uma maior demanda por serviços de saúde, e, consequentemente, maior dependência de investimentos e recursos. O idoso acaba consumindo mais serviços de saúde, principalmente por apresentar na maioria das vezes doenças crônicas e múltiplas, necessitando de cuidados mais amplos e especializados(4). Esse complexo e desafiador cenário têm provocado reflexões acerca das condições de vida e saúde da população envelhecente(5).
Essa diversidade de desfechos associados à velhice assinala para diferentes percepções da sociedade, que, ao considerá-la uma fase da vida marcada por ganhos ou perdas, pode encarar a velhice de forma preconceituosa e estereotipada ou como um momento de conquistas, maturidade e experiências(6).
As diferentes percepções sobre a velhice suscitam a necessidade de compreender de modo mais amplo quais representações os diferentes segmentos sociais a constroem. Um importante grupo a ser estudado são os estudantes universitários. Em estudo realizado no estado do Paraná com estudantes dos cursos de Enfermagem e Psicologia, a velhice foi representada como declínio físico, destituição do poder de decisão e dependência. Entretanto, os idosos também foram caracterizados como pessoas com experiência de vida(7).
Nessa lógica, o estudo das representações sociais sobre a velhice, ao extrapolar os limites das percepções individuais, permite a compreensão subjetiva do pensamento de estudantes universitários acerca das múltiplas faces da velhice, especialmente pela análise respaldada por meio da Teoria das Representações Sociais, ao procurar entender como esses conceitos são formados pelos sujeitos e compartilhados na sociedade a partir de explicações, ideias, crenças, valores e atitudes, na busca pela compreensão de interações consensuais dentro de uma determinada relação(7).
A Teoria permite entender o comportamento das pessoas dentro de seus contextos, o que possibilita avaliar as diversas percepções sobre a velhice construídas por estudantes universitários, segmento social predominantemente jovem, contrastando o objeto de interesse nesta investigação que é a velhice(8).
Diante do exposto, o seguinte questionamento fundamentou a motivação para a realização desta investigação: Quais são as representações sociais construídas sobre a velhice por estudantes universitários? Considerando esta indagação e os limitados estudos que abordam as representações sociais da velhice entre a comunidade acadêmica discente, o objetivo deste estudo foi conhecer as representações sociais sobre a velhice construídas por estudantes universitários. A investigação se propõe, desse modo, a identificar a heterogeneidade de percepções de estudantes universitários sobre a velhice, bem como levantar reflexões sobre possibilidades de envelhecimento ativo e bem-sucedido a partir das contribuições trazidas pelos achados da pesquisa.
MÉTODOS
Consta-se de um estudo descritivo com abordagem qualitativa, subsidiado pela Teoria das Representações Sociais de Serge Moscovici, que se revela como um sistema de interpretação da realidade a partir da organização das relações do indivíduo com o mundo, orientando dessa forma suas condutas e comportamentos frente ao meio social(9).
A pesquisa foi realizada no Centro de Educação e Saúde da Universidade Federal de Campina Grande (CES/UFCG), localizado na cidade de Cuité, interior do estado da Paraíba. O Campus conta com 07 (sete) cursos, quais sejam: Licenciaturas em Ciências Biológicas, Física, Matemática e Química, e Bacharelados em Enfermagem, Nutrição e Farmácia. A escolha do cenário justifica-se por se tratar de um Campus de expansão que atende uma população universitária miscigenada, com grande diversidade de pensamentos e características pessoais, permitindo a heterogeneidade ideológica para a construção de um pensamento social, favorecendo o estudo dos símbolos que retratam os saberes de interesse das Representações Sociais.
A população da pesquisa (N) foi constituída de 1.778 discentes de todos os cursos da grade de ensino do CES/UFCG. Para a realização do cálculo amostral foi utilizada a primícia da representatividade, considerando o nível de confiança de 95% e erro amostral de 5%, resultando em amostra equivalente a 316 participantes. No entanto, executando as recusas, perdas amostrais e a suspensão das aulas presenciais da UFCG em virtude da pandemia da COVID-19, que coincidiu com o cronograma da coleta desta pesquisa gerando um relativo comprometimento da obtenção dos dados, o “n” final foi composto de 277 estudantes universitários.
A seleção dos participantes ocorreu de maneira aleatória, segundo a amostragem probabilística e sistemática, cujo os estudantes foram organizados por curso em uma listagem única e posteriormente sorteados. A elegibilidade dos participantes considerou o número total de estudantes ativos no CES/UFCG, sendo calculado o intervalo de amostragem (k=5), por meio da fórmula “k=N/n”, em que foi selecionado o primeiro elemento da amostra e os demais sucessivamente de forma sistemática, garantindo a homogeneidade e a proporcionalidade do número de discentes entre os cursos de graduação. Para inclusão dos sujeitos foram respeitados os seguintes critérios: ter idade igual ou superior a 18 anos; e estar efetivamente matriculado no período em que ocorreu a coleta dos dados. Foram excluídos aqueles em condição de trancamento total do período; regime domiciliar; estágio supervisionado fora do município de Cuité; e em realização de atividades de residência pedagógica.
Para a operacionalização da coleta de dados foram utilizados dois instrumentos: I) Questionário sociodemográfico e acadêmico, incluindo as variáveis idade, sexo, cor/raça, estado civil, renda familiar, curso e número de períodos cursados; e II) Teste de Associação Livre de Palavras (TALP), com a palavra indutora “velhice”, para assim apreender as representações sociais dos estudantes participantes. Esta técnica permite evidenciar as diferentes percepções acerca de um determinado universo semântico por meio de palavras. Uma vez feita a evocação de palavras através de um estímulo previamente definido em função do que se quer investigar, deve-se também levar em consideração as características dos sujeitos participantes do estudo(10).
As atividades de coleta foram realizadas nos meses de dezembro de 2019 e março de 2020, em data e horário previamente agendados, respeitando a disponibilidade de cada participante. Na oportunidade da coleta de dados, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - TCLE foi lido, explicado e assinado em duas vias antes do preenchimento do questionário e do TALP. Participaram da coleta de dados o pesquisador responsável, o pesquisador participante e 06 (seis) alunos vinculados ao Núcleo de Estudos e Pesquisas em Envelhecimento e Qualidade de Vida devidamente treinados para a aplicação do instrumento de coleta.
Após o levantamento das informações, foi utilizado o software Excel 2010 para a construção do banco de dados. Os dados sociodemográficos e acadêmicos foram analisados descritivamente, utilizando medidas simples de frequência absoluta e relativa, além de medidas de tendência central como média e desvio-padrão por meio do software IBM SPSS versão 20. Em seguida utilizou-se o software EVOC a para calcular e informar a frequência intermediária e média ponderada de ocorrência de cada palavra evocada, realizando cálculos estatísticos e estruturando o núcleo central e periférico das representações sociais, cuja análise e discussão foram norteadas pela Teoria das Representações Sociais. Salienta-se que a frequência diz respeito ao número de vezes que a palavra foi evocada; e a média ponderada refere-se à ordem de evocação estabelecida pelos sujeitos no processo cognitivo de hierarquização.
Todos os procedimentos realizados nesta pesquisa foram norteados a partir da Resolução n° 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), que preconiza a regulamentação norteadora da ética em pesquisas envolvendo seres humanos no Brasil(11). Desta forma, a coleta de dados só teve início após a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Alcides Carneiro (HUAC) sob o Parecer n° 3.699.812.
RESULTADOS
Participaram do estudo 277 estudantes, com predominância de universitários do sexo feminino (56%), com faixa etária entre 20 e 29 anos (67,9%), autoreferidos pardos (61,4%), solteiros (93,5%), com renda familiar média de R$ 2.023,90. Houve uma maior representação dos alunos do curso de Bacharelado em Farmácia (21,7%), seguidos de Nutrição (19,1%) e Enfermagem (15,2%). No tocante ao tempo de curso, observou-se uma média de 4,66 períodos cursados.
No que concerne às representações sociais sobre a velhice, o Quadro 1 exibe o núcleo central e o sistema periférico, identificados a partir da frequência intermediária e da média ponderada da ocorrência dos termos produzidos. A frequência (F) e a ordem média de evocação (OME) consideradas pelo software EVOC foram, respectivamente, 25 e 2,8. Salienta-se que termo indutor velhice gerou 1.284 evocações, com 114 palavras diferentes, correspondendo uma média de 2,8 evocações por sujeito.
Quadro 1 - Identificação dos elementos do núcleo central e núcleo periférico das representações sociais sobre velhice de estudantes universitários. Cuité, Paraíba, 2020.
NÚCLEO CENTRAL |
|
||||
F ≥ 25 e OME < 2,8 |
F ≥ 25 e OME ≥ 2,8 |
||||
|
F |
OME |
|
F |
OME |
Avós |
26 |
2,538 |
Aposentadoria |
65 |
2,800 |
Cansaço |
31 |
2,000 |
Conhecimento |
41 |
2,927 |
Descanso |
75 |
2,480 |
Cuidado |
42 |
3,000 |
Doença |
114 |
2,614 |
Dependência |
25 |
2,920 |
Experiência |
97 |
2,412 |
Família |
57 |
3,404 |
Fragilidade |
49 |
2,714 |
Lazer |
32 |
3,344 |
Saúde |
37 |
2,676 |
Remédios |
27 |
3,185 |
Terminalidade |
33 |
2,667 |
Solidão |
38 |
3,053 |
|
NÚCLEO PERIFÉRICO |
||||
F < 25 e OME < 2,8 |
F < 25 e OME ≥ 2,8 |
||||
|
F |
OME |
|
F |
OME |
Idade |
14 |
1,857 |
Abandono |
20 |
2,800 |
Idoso |
22 |
1,545 |
Cabelo branco |
20 |
2,850 |
Rugas |
13 |
2,308 |
Despreocupação |
15 |
3,600 |
|
|
|
Esquecimento |
19 |
2,842 |
|
|
|
Estabilidade financeira |
16 |
3,125 |
|
|
|
Felicidade |
23 |
4,174 |
|
|
|
Limitações |
13 |
3,692 |
|
|
|
Satisfação |
13 |
3,538 |
|
|
|
Tempo |
14 |
3,286 |
|
|
|
Viagem |
23 |
3,130 |
Fonte: dados da pesquisa, 2020.
Os achados apresentados no Quadro 1 foram organizados de acordo com os dados obtidos, representando a realidade coletiva dos estudantes estudados. No Núcleo Central, evidenciado no quadrante superior esquerdo, situam-se os elementos com frequência (F) igual ou maior a 25 e ordem média de evocação (OME) abaixo da média, ou seja, menor que 2,8, pois são as evocações lembradas rapidamente. Com essas características foram identificados os elementos avós (F=26 e OME=2,538), cansaço (F=31 e OME=2,000), descanso (F=75 e OME=2,480), doença (F=114 e OME=2,614), experiência (F=97 e OME=2,412), fragilidade (F=49 e OME=2,714), saúde (F=37 e OME=2,676) e terminalidade (F=33 e OME=2,667).
Dessa forma, para o estímulo indutor velhice, as evocações agrupadas no núcleo central refletem em consenso uma representação social da experiência de vida adquirida ao longo dos anos; dos avós, pela lembrança e referência do contexto familiar; do merecido descanso após uma trajetória de vida permeada por dificuldades, conquistas, amores e dores, seja no âmbito pessoal-familiar ou profissional; de impressões negativas como doença, cansaço e fragilidade em virtude do declínio funcional relacionado ao avançar da idade e intrínseco ao processo de envelhecimento; da condição de manutenção da saúde como elemento essencial para a preservação da qualidade de vida nesta fase da vida; e de terminalidade, pela percepção da morte associada ao avançar da idade.
Ao considerar o núcleo periférico, as palavras evocadas são as representações de caracterização individualizada, e que de certa forma podem ser modificadas se houverem intervenções que desconstruam a maneira como estão sendo reveladas as representações sociais da velhice. Dentre os dados levantados e estudados, evocações como: cabelo branco (F=20 e OME=2,850), esquecimento (F=19 e OME=2,842) e limitações (F=13 e OME=3,692), estão diretamente ligadas ao processo de envelhecimento biológico. Representações como estabilidade financeira (F=16 e OME=3,125), despreocupação (F=15 e OME=3,600), felicidade (F=23 e OME=4,174), tempo (F=14 e OME=3,286), satisfação (F=13 e OME=3,538) e viagem (F=23 e OME=3,130) configuram-se conquistas alcançadas ao longo da vida inerentes ao envelhecimento social. A evocação abandono (F=20 e OME=2,800), por sua vez, retrata um tipo de violência contra o idoso comumente observado na sociedade.
DISCUSSÃO
As representações sociais identificadas acerca da velhice apontam que essa fase da vida é permeada por ganhos e perdas. Revisão da literatura realizada por Nascimento e Calsa(12), apontou que a população jovem percebe o envelhecimento como experiência e a velhice como uma virtude. A mesma revisão mostrou também que jovens e adultos veem a velhice como uma etapa da vida permeada por ganhos como a sabedoria e experiência, assim como relacionam essa fase da vida a um momento de perdas (incapacidade física, aparecimento de rugas, fim da vida e doença), demonstrando assim uma maior rejeição da velhice.
A experiência adquirida durante o processo do envelhecimento é algo único e diferente de um indivíduo para o outro. As experiências construídas ao longo da vida promovem a produção de sabedoria, melhoria nas relações familiares/sociais, trabalho e o sentimento de utilidade, o que contribui com a ideia de que a velhice é uma fase exitosa(13).
Assim como a experiência, os participantes da pesquisa relacionaram a velhice aos avós, sendo evocada também por meio da palavra “avó”. Além de expressarem carinho pelos seus descendentes, os avós lembram e referenciam ao contexto familiar no qual estão inseridos, uma vez que a família foi constituída a partir destes. Os avós têm um papel fundamental na construção do caráter dos jovens pelo simples fato dessa relação intergeracional envolver laços de afetividade, relações de cuidados e gratidão. Ademais, exercem a função de orientador e provedor familiar, bem como, transmitem experiência, o que muitas vezes é amplamente valorizado pela nova geração(14).
As avós, em especial, prestam cuidados diários aos seus netos, muitas vezes sem a presença dos pais. Segundo estudo de Garcia e Alves(6), para o público universitário, os predecessores são referidos como uma das pessoas mais importantes de sua vida. Portanto, a presença de avós no núcleo familiar parece ter grande impacto, que transcorre na construção da personalidade, na formação das crenças e nos saberes de estudantes universitários, com base no que é vivido, ouvido e sentido. Entretanto, uma revisão da literatura cujo público alvo foram crianças revelou que para elas a velhice é encarada como um aspecto negativo, uma vez que relacionaram a velhice a imagem de seus avós (doentes e ranzinzas)(12).
O cansaço, que também foi evocado por meio da palavra “fadiga”, é comumente referido pelos idosos e nada mais é do que um sinal intrínseco ao processo de envelhecimento, indicando que o indivíduo está envelhecendo(7). O cansaço se reflete em sinais que o corpo apresenta, diante do próprio envelhecimento, assim como, associado aos hábitos durante a vida dessas pessoas, que é percebido socialmente pelos indivíduos que a compõem, como apontam as evocações levantadas por estudantes universitários no estudo de Wachelke(15).
O descanso foi outra representação constatada no presente estudo, sendo evocada também como: dormir, descansar, repouso, sossego e cama. O descanso também foi evocado no estudo de Lira, Souza e Camêlo(16), que se apresenta como uma percepção positiva do envelhecimento pelos sujeitos estudados. Ele remete ao repouso merecido depois de um curso de vida permeado de dificuldades, em busca de dias melhores. O descanso durante a velhice proporciona lazer às pessoas e a possibilidade de dedicação aos aspectos familiares. Ademais, o descanso também pode estar relacionado a uma melhora no bem-estar e na saúde nessa fase, visto que esta é uma forma de aproveitar a vida(17).
A representação definida por saúde também foi evocada por outros termos como: bem estar, saúde em dia e boa saúde. A evocação da expressão saúde traz a conotação que a sua manutenção promove a preservação da qualidade de vida dos indivíduos. A qualidade de vida é ligada à percepção de saúde que a pessoa apresenta, levando em consideração a condição de bem-estar, o suporte social, a funcionalidade e a situação econômica em que se encontra, diferenciando de um indivíduo para o outro(18). Dessa forma, a manutenção da saúde permite que o idoso apresente uma melhor capacidade funcional e uma maior possibilidade de desempenhar sua autonomia e independência, tornando-se um indivíduo ativo na sociedade.
Em contraponto, a velhice é cercada de tabus e marcada por estereótipos que, em sua maioria são negativos, e é amplamente associada à doença e a fragilidade, assim como foram evocadas pelos estudantes universitários. Segundo Garcia e Alves(6), essas evocações é vista pelos universitários como modificações biológicas e fisiológicas, que são inerentes à vida, onde a aparência externa é marcada por alterações, como o aparecimento de rugas e a presença de doenças, com destaque para a presença de cabelos brancos, outro termo evocado pelos estudantes do presente estudo.
Essa percepção negativa da velhice é justificada pelo fato de alguns grupos de pessoas tenderem a representar socialmente outros grupos de maneira diferente, em especial aqueles compostos por indivíduos de outras gerações. As pessoas não idosas acabam enxergando a velhice de forma negativa e desvalorizada, e consequentemente, muitas pessoas chegam à velhice e acabam assumindo muitas dessas características(13).
Acompanhado do fenômeno da ampliação da expectativa de vida, o perfil de morbimortalidade dos idosos vem sofrendo mudanças, principalmente pelo aumento do número de doenças, resultando no aumento das incapacidades, o que leva a um maior grau de dependência e que acaba por promover uma maior incidência de doenças e aumento significativo dos níveis de fragilidade nesse grupo etário(19). A sexualidade também pode ser fragilizada na velhice, sendo comprometida principalmente pelo preconceito da sociedade e pela falta de informação, que, em decorrência das normas e regras sociais impostas pela sociedade, esse público é cada vez mais inferiorizado e excluída da sexualidade(20).
A velhice é interpretada de várias formas, entre elas como uma ameaça iminente, pois a mesma obriga o indivíduo ter contato ao que se refere à morte e à terminalidade(21). O termo terminalidade, também evocado por outras expressões (próximo da morte, fim de vida, fim de ciclo, morte próxima, morte, perto da morte, fim, partida, finitude, final da vida, encerramento, final do ciclo), foi elencado entre os universitários entrevistados.
Essa palavra remete à percepção da morte associada ao avançar da idade. A terminalidade da vida, também conhecida como finitude humana, é o processo no qual o corpo humano não consegue restaurar mais a saúde, resultando por sua vez na morte iminente do indivíduo(22). Os discentes entrevistados no estudo de Leite, Hildebrandt, Massariol e Machado(23) também evocaram a terminalidade como uma palavra que pode ser considerada sinônimo de velhice, apresentando uma visão negativa e degradante dessa fase da vida, assim como, a ideia de que a velhice os leva a um destino final.
Apesar da negatividade que o termo morte/terminalidade emite, ela pode ser associada ao fim do sofrimento, uma vez que muitos idosos se encontram acometidos por enfermidades(24). Além disso, um estudo sobre as RS do cuidado e da velhice realizado com idosos do Brasil e Itália, apontou que a morte/terminalidade é vista de maneira positiva por alguns dos entrevistados, uma vez que muitos dos idosos não se veem vivendo totalmente dependente de outras pessoas, que consequentemente trará sobrecargas a esses familiares/cuidadores(21).
Alguns estudantes percebem a velhice apenas como alterações biológicas do envelhecimento, especialmente as alterações físicas e mentais (cabelo branco, esquecimento e limitações). De acordo com Rodrigues e Costa(25), o processo do envelhecimento é progressivo e acarreta ao indivíduo alterações biológicas, psicológicas e funcionais, levando a diminuição de sua capacidade. A velhice traz consigo alterações físicas como o aparecimento de cabelo branco, rugas na pele e diminuição das atividades físicas, levando ao desgaste do organismo do indivíduo. Nessa perspectiva a velhice muitas vezes é compreendida de forma negativa, sendo associada a doenças, incapacidades e limitações.
Estudos na literatura científica apontam que muitas das representações sociais voltadas a velhice e a saúde do idoso fundamentam-se, claramente, no modelo tradicional biomédico, indicando uma visão fragmentada e tecnicista do cuidado, além da fragilização da condição clínica dessa população(7). Nesse sentido, a representação esquecimento foi um dos termos evocados pelos participantes do estudo. Acredita-se que os universitários possuam uma concepção patológica preconcebida sobre essa fase da vida, associada principalmente a quadros neurodegenerativos como demência ou Alzheimer, comumente presentes na faixa etária. Em consonância com a primícia, estudo realizado com população universitária em território nacional, destacou uma concepção negativa sobre a fase da velhice, entrelaçada principalmente a estigmas de incapacidade física, comprometimento cognitivo, esquecimento, perda dos entes queridos, Alzheimer e dependência familiar(26).
Para além das evocações atreladas as alterações biológicas, a visão negativa sob a velhice pode ser atribuir também o ageismo, preconceito e discriminação com base na idade, uma vez que os jovens atribuem fatores estereotipados para pessoas em idade avançada, como alterações físicas e mentais à velhice, condição que pode ser prejudicial para desempenho cognitivo, comportamental e social do idoso na comunidade(1). A imagem que o público jovem tem da população idosa muitas vezes é negativa e preconceituosa. Tal fato pode ser evidenciado neste estudo quando os discentes se imaginaram em sua própria velhice, remetendo a evocações que trazem uma imagem de um indivíduo doente, frágil, dependente, solitário e infeliz.
Quanto à estabilidade financeira, julga-se que os estudantes tenham evocado o termo com maior frequência associando-o a aposentadoria, tida como principal ocupação e fonte de renda entre a população idosa. Tal fato, diverge do estudo realizado com universitários do curso de psicologia, em que a velhice é compreendida como uma fase de dependência física e financeira, no qual os filhos têm a responsabilidade filial de prestar o apoio e o cuidado aos seus progenitores(6). Em consonância com o termo evocado, o Estatuto do idoso prevê a aposentadoria, em uma das suas atribuições, elevar a renda familiar e reduzir o nível de pobreza no país. Dessa forma, segundo Brito et al.(21), o dinheiro é uma condição desejável para que o indivíduo possa garantir sua qualidade de vida e cuidados, sobretudo na velhice.
Cabe salientar que a aposentadoria causa um impacto positivo na saúde e bem-estar da pessoa idosa, assim como proporciona uma maior disponibilidade de tempo para que esta cuide de si e dos que os cercam, promovendo tranquilidade e mais oportunidades de descanso e lazer(27). Contudo, segundo um estudo realizado com 120 estudantes universitários, mesmo o idoso recebendo a aposentadoria, a população idosa muitas vezes mantém-se no mercado de trabalho para suprir as necessidades financeiras, uma vez que a aposentadoria em determinadas ocasiões não é o suficiente para sustentá-lo(28).
Dentre as evocações que compõem o núcleo periférico da presente pesquisa, a palavra felicidade foi outra evocação mencionada pelos universitários participantes deste estudo. Sob esse aspecto, um estudo realizado com universitários dos cursos de Enfermagem, Direito e Pedagogia da Universidade Estadual de Santa Cruz, Ilhéus, Bahia, acerca da velhice, apontou que felicidade para esse público em sua futura velhice é ter uma família, viver a vida de forma ativa e exercer o lazer. Assim, essa felicidade relaciona-se à presença do núcleo familiar, a autonomia e a um envelhecimento ativo e participativo(29).
Segundo Nascimento e Calsa(12), essa felicidade reflete a alegria do indivíduo em conseguir alcançar a velhice e assim aproveitar a vida da melhor forma possível. A felicidade nessa fase da vida aumenta quando combinada a atividades físicas, cognitivas, sociais e repouso, uma vez que esse tipo de atividade tem relação com níveis mais altos de felicidade(30). Além disso, é vista como um aspecto do bem-estar subjetivo na velhice e tem relação com a capacidade do indivíduo em enfrentar certas situações. Entretanto, a felicidade é condicionada pela interação de alguns fatores como o estilo de vida, saúde, autoestima, apoio social, traços de personalidade e crenças religiosas.
A evocação limitações foi outro elemento frequentemente associado à velhice pelos participantes do estudo, desse modo pode-se inferir que os estudantes apresentam uma concepção revestida de estereótipos e condicionantes negativos sobre a faixa etária idosa, relacionadas principalmente a condições que comprometem a autonomia e independência do idoso, configurantes do binômio velhice-doença. Tal fato apresenta semelhança com estudo realizado com acadêmicos de enfermagem e fonoaudiologia de quatro instituições superiores da região sudeste do Brasil, no qual em suas representações, a velhice foi vista como um processo que torna o idoso incapaz, debilitado e desprovido de possibilidades de deliberar sobre situações que envolvam sua privacidade e rotina mediante as limitações do seu organismo(7).
O medo de envelhecer com algum tipo de dependência física ou limitação constitui uma barreira que acaba distanciando a velhice das demais fases da vida, sendo essa esquecida justamente pelas perdas que podem ocorrer nesse processo(7). Autores ressaltam, que jovens adultos apresentam uma concepção semelhante sobre a velhice, sendo está vinculada negativamente as transformações orgânicas e psicológicas ocasionadas durante o processo de envelhecimento, considerando-a como uma fase difícil do desenvolvimento(1).
Em contrapartida, a evocação satisfação, mencionada pelos universitários, pode ser compreendida como uma conquista a ser alcançada na velhice pode estar relacionada a vários condicionantes. A satisfação com a vida é um estado subjetivo em que o próprio indivíduo avalia de forma individual a sua vida como um todo, levando em consideração sua saúde, moradia, família, trabalho, relações sociais, etc(31). Levando em consideração a população idosa, a gerontologia tem a função de promover ao idoso um envelhecimento saudável considerando os fatores psicológicos, biológicos e sociais. Dessa forma, para que o indivíduo se sinta satisfeito com a vida na velhice é necessário levar em consideração a combinação desses três aspectos.
Pesquisa realizada com idosos do Paraná apontou uma ótima percepção de satisfação com a vida, por enxergarem que podem ser felizes, ativos e desfrutar da velhice. Este estudo revela que os idosos têm motivos para viverem a vida de forma positiva, tendo a saúde e a independência como principais responsáveis pela satisfação com a vida(31). Para Vieira, Coutinho e Saraiva(32), até a própria relação sexual nessa fase da vida é sinônimo de satisfação física e mental. A sexualidade antes relacionada apenas a função reprodutiva vai além, pois esta envolve sentimentos e emoções, tornando-se uma necessidade psicológica, e consequentemente uma satisfação para o idoso.
A palavra viagem evocada pelos estudantes reflete uma perspectiva futura de realização na velhice. Tal representação diverge de estudo realizado com acadêmicos de fisioterapia do Rio de Janeiro, em que os estudantes tinham a concepção, que a velhice, obrigatoriamente, deve estar associada a uma fase mórbida de solidão, em que o indivíduo se restringe a ficar somente dentro do lar e sem atividades de lazer, no intuito de zelar unicamente pelo seu descanso físico(19). Todavia, autores ressaltam que o ato de viajar evita que a pessoa se sinta velha, representando uma sensação de bem estar, autonomia e independência, melhorando assim a qualidade de vida do idoso(12,21). Além disso, a viagem também pode representar o envelhecimento ativo do indivíduo na promoção da manutenção das atividades sociais e prevenção do isolamento social(7).
O abandono também foi identificado como uma representação do núcleo periférico do presente estudo. Esse tipo de violência continua sendo claramente visto na sociedade contemporânea. As famílias costumeiramente abandonam os seus parentes mais velhos por inúmeros motivos: falta de estrutura familiar, inutilidade do idoso, adoecimento, recursos financeiros, etc.
A percepção de estudantes universitários sobre as coisas mais terríveis na velhice foi questionada no estudo de Zhou(33). O abandono por membros da família, estar sozinho, sentir-se solitário e não sentir orgulho da vida, foram relatados pelos estudantes. Na perspectiva dos jovens, pode-se dizer que o abandono está diretamente associado a violência familiar, uma vez que os idosos se encontram mais vulneráveis e até dependentes. No intuito de mudar essa realidade, uma vez que os idosos são comumente negligenciados, faz-se necessário a implementação de políticas públicas que visem atender à necessidade dessa parcela da população(34). Além disso, torna-se viável investir na capacitação de cuidadores e profissionais voltados aos cuidados de pessoas idosas (35), a fim de trazer dignidade, assistência e cuidado adequado a essa população(36).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A velhice apresentou múltiplos significados para os estudantes universitários, exibindo evocações atreladas tanto a uma dimensão positiva, como experiência, saúde, estabilidade financeira, felicidade e viagem; como na perspectiva negativa, quando os universitários demonstraram a relação da velhice com doença, fragilidade, terminalidade, esquecimento, limitações e abandono.
As evocações que compuseram o núcleo periférico das representações sociais suscitam reflexões, discussões e ressignificações dos universitários que representam a sociedade em geral, especialmente no que tange a percepção da velhice como abandono, de modo a minimizar a ocorrência desta prática e a consequente manutenção das relações de cuidado para com o idoso no contexto familiar; e na velhice como limitações, em que é preciso transcender esse olhar e passar a enxergar a velhice como uma oportunidade de manutenção do envelhecimento ativo e saudável, especialmente ao considerar que limitação não significa incapacidade.
A lógica histórico-social da impressão de conceitos negativos associados à velhice é um paradigma complexo a ser modificado e, para tanto, exige a desconstrução dos estigmas conferidos a esta identidade. A reconstrução dessas percepções deve ser social e culturalmente estimulada ainda na idade universitária ou mesmo antes. É fato que a composição biológica do envelhecimento possibilita déficits funcionais potencialmente irreversíveis, todavia, as condições globais impostas pela velhice podem ser revestidas também de saúde, bem-estar e participação social.
Os resultados identificados neste estudo sugerem que novas pesquisas acerca das representações sociais sobre a velhice sejam desenvolvidas com outros segmentos da população, a fim de possibilitar uma pluralidade de visões de mundo sobre esse fenômeno e, por consequência, estimular a eficiência estratégica da atenção integral ao idoso.
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Critérios de autoria (contribuições dos autores)
1. contribui substancialmente na concepção e/ou no planejamento do estudo;
2. na obtenção, na análise e/ou interpretação dos dados;
3. assim como na redação e/ou revisão crítica e aprovação final da versão publicada.
1,2,3 Arthur Alexandrino
1,3 Patrício de Almeida Costa
1,3 Caio Bismarck Silva de Oliveira
3 Danielle Samara Tavares de Oliveira Figueiredo
3 Heloisy Alves de Medeiros Leano
1,2,3 Matheus Figueiredo Nogueira
Declaração de conflito de interesses
Nada a declarar.
Fomento e Agradecimento
Os autores declaram que a pesquisa não recebeu financiamento.