PROPOSTAS AVALIATIVAS
DURANTE O ENSINO REMOTO EM ENFERMAGEM: FACILIDADES E APROVEITAMENTO NA
PERSPECTIVA DOS ACADÊMICOS
EVALUATION PROPOSALS DURING
REMOTE EDUCATION IN NURSING: FACILITIES AND USE FROM THE PERSPECTIVE OF
STUDENTS
PROPUESTAS DE EVALUACIÓN DURANTE
LA EDUCACIÓN A DISTANCIA EN ENFERMERÍA: FACILIDADES Y USO DESDE LA PERSPECTIVA
DE LOS ESTUDIANTES
1Ary Wittor Freire Miranda Angelim Agra
2Cristhiano
Charles de Castro Bezerra Filho
3João
Paulo Xavier Silva
4Maryldes
Lucena Bezerra de Oliveira
5Dallila
Freire da Costa Agra
6Gleice
de Sá Agra
7Yalle Ferreira
Angelim
1Centro
Universitário Doutor Leão Sampaio (UNILEÃO), Juazeiro do Norte-CE, Brasil.
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-0980-872X
2Universidade
Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF), Petrolina-PE, Brasil. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1214-4031
3Centro
Universitário Doutor Leão Sampaio (UNILEÃO), Juazeiro Do Norte-CE, Brasil. ORCID:
http://orcid.org/0000-0003-3082-9373
4Centro
Universitário Doutor Leão Sampaio (UNILEÃO), Juazeiro Do Norte-CE, Brasil. ORCID:
http://orcid.org/0000-0002-4084-094X
5Universidade
Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF), Petrolina-PE, Brasil. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8256-8470
6Faculdade
Soberana, Petrolina-PE, Brasil. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4865-0841
7Faculdade de Medicina de Juazeiro
(FMJ), Juazeiro do Norte-Ce, Brasil. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6384-011X
Autor correspondente
Ary Wittor
Freire Miranda Angelim Agra
Rua Galdino Gonçalves Lima, 160, Centro,
Parnamirim, Pernambuco – Brasil. 56.163-000. +55 (87)9 99629786,
agraary16@outlook.com
Submissão: 12-02-2023
Aprovado: 29-09-2023
RESUMO
Objetivo: Elucidar as
percepções dos discentes sobre os processos avaliativos no ensino remoto em
enfermagem. Metodologia: Pesquisa empírica, de abordagem qualitativa e
caráter descritivo-exploratório desenvolvida entre os meses de março e julho de
2022 com 13 acadêmicos de enfermagem de uma Instituição de Ensino Superior
privada no interior do estado do Ceará. Para a coleta, utilizou-se de uma
entrevista semiestruturada, e analisaram-se os dados por meio da análise categorial
temática. O Comitê de Ética e Pesquisa aprovou esse estudo sob número
5.256.874. Resultados: Salientou-se que, nesse ensino, as propostas
avaliativas desenvolvidas expressaram-se enquanto uma problemática para o
processo formativo profissional e dos estudantes, pois não suficientemente
engajaram ou cativaram os estudantes a se programarem para prováveis
avaliações. Assim, consideram-se ausência da estrutura de vigilância dos
ambientes de sala de aula, pleno acesso a fontes de consultas e grupos de respostas,
além de necessidade de autonomia estudantil como entraves para o método
avaliativo proposto. Considerações finais: Infere-se que os processos
avaliativos, no ensino remoto, foram contrastados pelo descomprometimento
educacional e a necessidade de autonomia por parte dos discentes. Destarte,
conquanto tenham apresentado problemáticas, os desdobramentos paradigmáticos e
atitudinais destacados podem instigar construção de um novo horizonte
educacional no futuro.
Palavras-chave: Pesquisa
em Educação de enfermagem; Educação à Distância; Enfermagem.
ABSTRACT
Objective: Elucidating students' perceptions about evaluation processes is not something
remote in the disease. Methodology:
Empirical research, with a qualitative approach and a
descriptive-exploratory nature, developed
between the months of March and July 2022 with 13
nursing students from a private
Higher Education Institution
in the interior of the state of Ceará. For collection, a semi-structured
interview was used, and the
data was analyzed using thematic categorical analysis.
The Ethics and Research Committee
approved this study under number 5,256,874. Results: It was
highlighted that, in this teaching,
the evaluative proposals developed expressed themselves as a problem for the
professional and student training process,
as they did not sufficiently
engage or captivate students to plan for probable evaluations. Thus, the absence of a surveillance structure in classroom environments, full
access to consultation sources
and response groups, as well as the need for student autonomy are considered as obstacles to the proposed evaluation method. Final
considerations: It is inferred
that the evaluation processes, in remote
teaching, were contrasted
by educational lack of commitment and the need for autonomy
on the part of students. Therefore, although they have presented problems, the highlighted paradigmatic and attitudinal developments can instigate the
construction of a new educational horizon
in the future.
Keywords: Nursing Education Research; Education, Distance; Nursing.
RESUMEN
Objetivo: Esclarecer las percepciones de los estudiantes sobre los
procesos de evaluación no es algo remoto en la enfermedad. Metodología: Investigación empírica, de enfoque cualitativo y de
carácter descriptivo-exploratorio, desarrollada entre los meses de marzo y
julio de 2022 con 13 estudiantes de enfermería de una Institución de Educación
Superior privada del interior del estado de Ceará. Para la recolección se
utilizó una entrevista semiestructurada y los datos fueron analizados mediante análisis
temático categórico. El Comité de Ética e Investigación aprobó este estudio con
el número 5.256.874. Resultados: Se destacó que, en esta enseñanza, las
propuestas evaluativas desarrolladas se expresaron como un problema para el
proceso de formación profesional y estudiantil, ya que no involucraron ni
cautivaron suficientemente a los estudiantes para planificar probables
evaluaciones. Así, la ausencia de una estructura de vigilancia en los ambientes
de aula, el pleno acceso a fuentes de consulta y grupos de respuesta, así como
la necesidad de autonomía de los estudiantes, se consideran obstáculos al
método de evaluación propuesto. Consideraciones finales: Se infiere que
los procesos de evaluación, en la enseñanza remota, estuvieron contrastados por
la falta de compromiso educativo y la necesidad de autonomía por parte de los
estudiantes. Por lo tanto, aunque hayan presentado problemas, los desarrollos
paradigmáticos y actitudinales destacados pueden instigar la construcción de un
nuevo horizonte educativo en el futuro.
Palabras clave: Investigación en Educación de Enfermería; Educación a distancia; Enfermería.
INTRODUÇÃO
Ao longo dos desenvolvimentos
epistemológicos da humanidade, tornava-se imperativo a disseminação desses
arcabouços de conhecimentos para as futuras gerações, por vezes, como
significante profissionalizante ou sociocultural. Dessa forma, especialmente
nesse primeiro exemplo, questionava-se até que nível essas epistemes foram
assimiladas, fundamentando, assim, a importância dos métodos avaliativos, os
quais contribuiriam para a quantificação dessa assimilação e, portanto,
elementar para o processo educativo(1).
Diante disso, a formação atual em
enfermagem ainda exprime vulnerabilidades, porquanto baseia-se em um modelo do
início do século XX, o Modelo Anna Nery, implementado em 1923, que, apesar de
ser basilar, não responde a atuais demandas de formação de organização do
trabalho. Nessa perspectiva, os métodos avaliativos, por vezes ainda datados
dessa implementação, também devem ser questionados, sobretudo até que nível
conseguem captar dimensões contemporâneas fundamentais dessa profissão: senso
de justiça, solidariedade e humanidade(1).
No Brasil, a formação em enfermagem é
normatizada pelas Diretrizes Curriculares Nacionais de 2001 – Resolução CNE/CES
Nº 3, de 7 de novembro de 2001 –, as quais preconizam uma formação generalista,
além de focalização em um profissional ético, empático, crítico, reflexivo e humano(2). Entretanto, conquanto
normatizada, essa formação é inviabilizada por problemáticas que obstaculizam a
implicação dessas subjetividades e, para além disso, as propostas avaliativas
não são suficientemente capazes de quantificar algo que abrange o campo
qualitativo, o que, novamente, significa mais uma fragilidade para essa formação
profissional(3).
Ademais, a partir da pandemia do vírus SARS-COV-2, COVID-19,
as maneiras de vivenciar e de se relacionar com a sociedade e com a malha
social precisaram ser modificadas para que houvesse uma redução do contato
físico, de aglomerações e de, em vista disso, contágio desse vírus. Assim, as
instituições educativas precisaram reformular e se adaptar a essa nova
conjuntura para que, desse modo, mantivessem o cronograma de assuntos. Todavia,
por vezes, essa reformulação representou uma intersecção de dimensões –
domésticas, psicossociais, educacionais, emocionais, etc. – que se conflitaram
ao perderem suas autonomias(4).
Dessa maneira, a Pandemia de COVID-19 trouxe, quase que
imperativamente, remodelações para o modelo tradicional de ensino, sobretudo na
educação em saúde, especificamente na enfermagem, uma vez que reconfigurações tornaram-se necessárias, fundamentando o modelo híbrido:
aulas síncronas e assíncronas, além de propostas avaliativas virtuais. Nessa
perspectiva, esse novo modelo expressou não somente um aprofundamento de
desigualdades, haja vista que obstáculos interpessoais e socioeconômicos
ressaltaram as diferentes realidades de privilégio e de marginalização, mas
também um modelo, teoricamente, mais flexível que, na realidade, pode ter
significado um potencial de desinteresse, uma vez que sem a estruturação
coercitiva do tradicional não engajou suficientemente os alunos a testarem seus
conhecimentos(5).
Portanto, torna-se imprescindível a compreensão dessa
conjuntura direcionada às propostas avaliativas. Assim, objetivando elucidar as perspectivas em enfermagem, no ensino
remoto, sob a ótica dos discentes, no que concerne aos processos avaliativos, esse trabalho debruça-se sobre essa temática. Destarte,
na contemporaneidade, partindo desses pressupostos, questiona-se: quais as
percepções dos discentes sobre os processos avaliativos no ensino remoto em
enfermagem?
MÉTODOS
A presente pesquisa é
fruto de um estudo produzido em ambiência virtual, apresenta abordagem
qualitativa e de caráter descritivo-exploratório. Desenvolvido, cronológica e
localmente, entre março e julho de 2022 e no interior do estado do Ceará, no
curso de enfermagem de uma Instituição de Ensino Superior (IES) privada.
Para o agrupamento dos dados, utilizou-se um roteiro de entrevista anteriormente elaborado, abordando questões temáticas e relevantes para objeto de apuração dessa pesquisa(6). Realizou-se por meio da aplicação do recurso de gravação de áudio, do aplicativo @whatsapp, com perguntas e respostas. No roteiro das entrevistas houve domínios sobre os dados sociodemográficos, além de domínios de questões norteadoras, vide “Me fale o que você pensa acerca do ensino remoto em enfermagem durante a pandemia” e “No que diz respeito às avaliações remotas, você acredita que foram proveitosas? Por quê?”
Os participantes dessa pesquisa foram 13
acadêmicos do curso de enfermagem da IES que atenderam aos critérios de
elegibilidade para participação na pesquisa, sendo os critérios de inclusão:
acadêmicos de enfermagem que tenham cursado disciplina no modelo remoto na IES e
realizado avaliações durante esse período, que estavam devidamente matriculados
e sendo alunos do sexto ao décimo semestre no período de 2022.1. Já os
critérios de exclusão foram: alunos afastados e os que não responderam à
terceira solicitação para a entrevista.
O recrutamento dos participantes se deu do seguinte modo: listagem dos grupos de sala no aplicativo @WhatsApp por intermédio do (a) líder da turma, @WhatsApp privado, contato telefônico e e-mail. Para o dimensionamento da quantidade de participantes foi utilizada a saturação teórica, ou seja, quando se chega a um determinado momento da coleta em que os dados não trazem mais esclarecimentos novos ao estudo, quando para o pesquisador começa a apresentar uma certa repetição ou redundância (7). Após a coleta não houve desistências.
Durante a análise de
dados, envolveram-se três fases fundamentais para que houvesse uma melhor
organização do material coletado, de forma operacional: Fase 1 – Pré-análise,
caracterizada por separar, organizar e escolher documentos e materiais, através
de leituras e retomada dos objetos e hipóteses, formando indicadores que
conduzam na compreensão dos elementos apanhados; Fase
2 – Exploração do material, baseia na classificação e, por conseguinte,
na redução do material analisado, visando a um entendimento textual ampliado, à
análise temática, à classificação e à agregação de dados; Fase 3 – Tratamento dos resultados, inferência e
interpretação, permite sua legitimação, porquanto, por meio da submissão
a porcentagens ou à análise fatorial, deve permitir a sintetização da
relevância das informações adquiridas, a partir do confronto com o arcabouço
teórico(6,8).
No decurso da análise de dados, a partir
das notas de campo, houve a emersão de dois eixos temáticos: “O Modus Operandi
avaliativo tradicional e remoto: percepção dos educandos”, explicitando as
percepções dos pesquisados acerca das diferenças funcionais e práticas do
processo avaliativo sob o contraste do ensino remoto e tradicional; e
“Habilidades socioemocionais para a práxis em constante atualização”,
ressaltando as habilidades socioemocionais desenvolvidas durante os processos
avaliativos no ensino remoto, a fim da manutenção adequada dos estudos para o
futuro profissional.
O estudo cumpriu e
respeitou os preceitos legais, científicos e éticos regulamentados na Resolução de N° 466/12, 510/16(9) e Ofício
Circular 02/2021(10), o que garantiu parecer favorável do Comitê de
Ética e Pesquisa sob nº 5.256.874.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O
Modus Operandi avaliativo tradicional e remoto: percepção dos educandos
A princípio, sob as perspectivas dos
discentes, o estudo mostra uma profunda transformação no modus operandi de
vivenciar um processo avaliativo e, sobretudo, de se avaliar. Nesse sentido,
tal mudança de paradigma representou, não raro, uma problemática para a
plenitude do processo educativo em enfermagem e, consequentemente, para o
processo formativo profissional e individual. Ou seja, de forma geral, pode
repercutir negativamente para a futura carreira profissional dos educandos,
seja em concurso, seja em residência, porquanto a comodidade relativa ao método
avaliativo não estimulou, tampouco engajou os estudantes a se prepararem e a se
sensibilizarem para os seus momentos de avaliarem os seus conhecimentos
adquiridos e, por conseguinte, de serem avaliados normativamente.
Outrossim, é fundamental destacar que esse
modus operandi também representou um símbolo de irrealidade. Isso porque a
possibilidade de ser avaliado sem a estrutura de vigilância e de pressão das
salas de aula – avaliadores e colegas –, em adição ao acesso ilimitado a fontes
de conhecimento e a grupos de respostas de provas representaram, no geral, uma
avaliação normativa equivocada, uma vez que os resultados apresentados pelos
alunos poderiam não representar as suas realidades epistêmicas.
Ademais, a quantificação do conhecimento
dos alunos tornou-se, de forma geral, irreal, já que tais instrumentos de
acesso à informação burlaram o processo avaliativo normatizado. Todavia, por
outro lado, aqueles alunos que não conseguiam fazer suas avaliações de forma
plena, por causa dessa estrutura de vigilância e de pressão encontraram, no
núcleo doméstico, um ambiente confortável para se avaliarem. Fundamentam-se tais
concepções a partir dos discursos a seguir:
[...] muitos alunos burlam, não é,
ou seja, um momento de avaliação, por exemplo, muitos alunos relaxam, não
estudam o conteúdo que é de extrema importância para a vida acadêmica dele,
profissional no futuro, e aí não aprende aquele conteúdo e fica com um déficit
no futuro. acd8Na.
[...] por mais que a gente
estudasse ali, tentasse fazer alguma coisa só você, sempre tinha os grupos,
tinham os comentários, então estava sempre os alunos um ajudando o outro, assim
não foi algo totalmente fidedigno a ponto de dizer: não, eu fiz só, e essa vai
ser a minha nota referente a isso. acd9Na.
[...] como a gente tinha acesso à
internet, a livros, ficava muito fácil de fazer consultas... acd6Na.
[...] de certa forma a gente tem um
apoio de slide, essas coisas, e querendo ou não quando a gente não sabia de
alguma questão, você acabava que optava por pesquisar nos materiais que você
tinha, então, você não tinha aquela necessidade real de estar estudando para
fazer uma prova e tudo mais. acd7Na.
[...] o aluno sempre acaba ficando
“meio acomodado” com a situação, e ao invés de se esforçar para estudar, para
fazer prova, avaliação, vai fazer naquele momento da prova, já, você só
pesquisa no Google alguma coisa relacionada ou até mesmo a própria questão e
pronto. acd7Nb.
[...] o aluno fica condicionado a
achar que vai ter uma fonte de pesquisa sempre disponível e acaba estudando
previamente para as provas de uma forma mais reduzida do que quando as provas
são presenciais, que é uma dedicação, vamos dizer que 100%, para se sair o
melhor possível na prova. acd9Ma.
A concentração, a atenção, a
vontade de estudar por saber que não seria avaliado com um fiscal, era
diferente. acd7Ma.
[...] não dá para trazer aquela
pressão que a prova tradicional traz, que a supervisão do professor traz, que
está em uma sala de aula, aquela ambientação de sala de aula te dá mais foco. acd8Nb.
A partir da mudança paradigmática da
educação, por meio do ensino remoto, a metodologia de avaliação teve que ser
adequada a esse novo cenário. Todavia, não raro, foi contrastado por sobrecarga
de conteúdo para as provas, por falta de flexibilidade dos docentes, por
descompromisso dos estudantes em se avaliarem normativamente, entre outros. De
outro modo, a responsabilidade social quanto a esse panorama transcende as
barreiras individuais dos discentes e dos docentes e abarca toda a comunidade (11-12).
A modificação do paradigma educacional
promovido pela pandemia transcendeu as barreiras físicas, uma vez que retomou
temáticas anteriormente debatidas, vide a responsabilidade e o compromisso do
discente para com seu processo educativo. Nessa perspectiva, a configuração
desse modelo remoto permitiu um processo avaliativo mais flexível do que o
anterior, de outro modo, anteriormente, o modelo tradicional desenvolvia, no
geral, provas presenciais e sem consultas que, em paralelo, impunham aos
discente um compromisso prévio de estudo para realizá-las (13).
A
partir dessa reconfiguração, as avaliações foram aplicadas nos meios virtuais e
cada estudante faria, teoricamente, em seus domicílios respeitando as
diretrizes anteriores. Todavia, a disponibilidade de acesso a fontes de
conhecimentos – materiais físicos e virtuais, a exemplo o Google – e,
consequentemente, o seu uso para fazer essas avaliações, isto é, a replicação
de respostas representaram não somente um processo de burlar o modus operandi
avaliativo anterior, mas, principalmente, um processo antiético de se avaliar
que não garante o aprendizado, bem como uma ausência de compromisso educacional
(14).
Outrossim, partindo de tais pressupostos,
essa modificação metodológica das avaliações possibilitou um descomprometimento
educativo dos discentes perante seus processos formativos. Isso porque,
justamente por compreenderem que a realização das provas seria em seus
domicílios, de forma virtual e com acesso ilimitado a consultas antiéticas, é
evidente que tal situação contribuiu para o baixo engajamento do protagonismo
dos alunos em não somente estudarem para as provas, mas, sobretudo, se
comprometerem a se avaliarem de forma consciente, isto é, respeitando os
limites dos seus conhecimentos, tampouco buscando formas de burlar sua
avaliação (13-14).
Destarte, tal temática de compromisso e
protagonismo que, anteriormente, já era uma problemática para o modelo
educacional tradicional, a partir do remoto essa questão foi, ainda mais,
potencializada e, em face disso, acentuada. Portanto, a quantificação de uma
nota para esses sujeitos que desrespeitaram o processo paradigmático das
avaliações representa, sobretudo, uma falsa avaliação do conhecimento
desenvolvido e adquirido, o que, por conseguinte, poderá repercutir,
negativamente, no futuro acadêmico e profissional desses estudantes (15).
Advindo das contribuições de Ausubel, Novak e Hanesian(16), antes de tudo, o processo
educativo deve possuir uma acepção compreensiva às grandezas que concebem os
sujeitos sociais. Uma vez que, segundo eles, a aprendizagem significativa é um
processo em que os educandos inter-relacionam novos conhecimentos, a partir de
uma forma não tirana/autoritária e substantiva com estruturas que entendam a
importância das dimensões socioeducacionais dos alunos para a formação de
cidadãos cognoscentes.
Infere-se que é essencial a aceitação
dessas conjunturas, que representa, antes de tudo, aceitar e correlacionar os
conhecimentos antes adquiridos pelos discentes para, desse modo, construir uma
teia de conhecimentos viva e associativa entre as realidades psicossociais e
educacionais dos estudantes (17-18).
Habilidades socioemocionais
para a práxis em constante atualização
Deve haver, para aprendizagem
significativa, o aperfeiçoamento e o desenvolvimento de competências e
habilidades – vide comunicação, empatia, sabedoria emocional e outras - por
parte dos educadores, antes terceirizada e tida como desimportante. Assim, os
docentes, como sujeitos, devem estar em formações permanentes, para conhecer as
potencialidades pedagógicas que as vivências oferecem e assim contribuírem para
as competências socioemocionais e educacionais dos seus discentes (17,19-20).
De modo igual, os educadores devem
conhecer os conteúdos, ter implicações e desenvolvimentos na área do
conhecimento, sempre atento as mudanças sociais; crescimento no aspecto afetivo
emocional; progressão de habilidades e engrandecimento de atitudes e valores, o
que exprime que a identidade e habilidade do educador do ensino acontecem pela
prática pedagógica, pela formação profissional, pelo processo evolutivo e
singular das experiências dinâmicas e culturais, assim auxiliando os educandos
no desenvolvimento autônomo, empoderado e de aprendizagem significativa(17-19).
Todavia, conquanto as narrativas
supracitadas subjetivem o caráter negativo do modelo remoto, surgiram discursos
na contramão, isto é, colocações que apresentaram pontos favoráveis às
avaliações nessa metodologia. Dessa forma, apontaram-se as dimensões do
processo educativo enquanto individual, de autonomia, emancipação,
corresponsabilidade e da atenuação da ansiedade relacionada à ambiência
avaliativa como principais cernes desse debate:
O processo avaliativo diante do
ensino remoto, aplicação remota desse processo, ele trouxe e evidenciou alguns
pontos de melhora dos próprios estudantes. Evidenciou ainda mais a questão da
necessidade de ser autodidata, de sempre buscar o conteúdo, de sempre saber a
mais do que o conteúdo dado em sala de aula, nesse caso, dado em sala remota. acd6Mb.
[...] existem algumas matérias na
faculdade que exigem mais de você ou até mesmo aquelas matérias que você não
gosta tanto, e da minha parte, se eu tivesse na presencial, ia sentir aquela
pressão, de estar dentro de uma sala de aula.
[...] às vezes eu ficava agoniada quando eu via o pessoal se levantando
das cadeiras para entregar a prova, e como eu sou bastante nervosa e ansiosa, eu
ficava pensando, minha cabeça começava a embaralhar e eu não conseguia pensar
direito nas respostas, e aí quando entrou esse ensino remoto de avaliação, eu
achei fantástico... acd8Na.
Autonomia, para Freire, compreende uma
condição socio-histórica de uma comunidade, a qual, a partir da tentativa de
libertação de algemas ideológicas, políticas e culturais que restringem a
liberdade, possui uma relação intrínseca e interdependente com a soberania
individual. Dessa forma, a superestrutura ideológica opressora que compõe as
sociedades neoliberais impõe aos oprimidos uma consciência social que, por
vezes, está entrelaçada aos interesses construídos sócio-historicamente
pelos opressores (17).
De outro modo, impõe situações de
heteronomia – antônimo de liberdade – aos oprimidos, a partir de espaços
sociais restritivos, alienáveis e autoritários que limitam suas ações
políticas, suas subjetividades e, em face disso, seus entendimentos enquanto
seres cognoscentes, críticos e, portanto, capazes de “serem mais”, atingindo a
autonomia de ser autodidata (17,20-21).
Dessa maneira, a partir de discursos e de
vivências dialéticas entre oprimidos e opressores, a consciência existencial
dos sujeitos em situação de opressão, irresistivelmente, “fetichizou”
as experiências dos opressores, de tal forma que almeja se subjetivar e, desse
modo, entender-se enquanto opressor. Nessa perspectiva, a superação dessa
dialética alienante de oprimidos-opressores representa uma forma de rompimento
de heteronomias – políticas, humanas, culturais, sociais e ideológicas – e,
portanto, de emancipação coletiva; umas das possibilidades dessa dinâmica de
rompimento é a educação, porquanto, ao criticar essas contradições sociais –
heteronomias –, permite-se o contexto de homens se libertando e, por
conseguinte, promovendo suas emancipações (17,21-23).
Dessa forma, é imprescindível que as
ambiências educativas não se expressem enquanto ambientes de heteronomias, mas,
sim, de autonomia. Nesse sentindo, tal compreensão deve partir do processo de
ter a possibilidade de ouvir e de ter voz, o que representa uma práxis
educativa que não se impõe enquanto verticalizada, isto é, de poder e de
submissão completa (21,23).
Alunos completamente submissos aos
professores – compreendidos como únicos detentores do conhecimento; professores
completamente submissos aos pacotes curriculares – limitadores e direcionadores
do conhecimento –, mas, sim, de respeito à dignidade, à ética, à alteridade e,
sobretudo, à autonomia de um aprendizado sem pressões (22).
Assim, a autonomia e, desse modo, a
emancipação partem de uma performance ideológica que almeja a participação
democrática, ou seja, participação interdependente entre alunos, professores,
familiares e comunidade local. Desse modo, a autonomia é um processo de construção
coletiva que, a partir do viés democrático, pressupõe poderes linguísticos,
arcabouço cultural e epistemológico local, além de, sobretudo, compreensão
política do educar enquanto emancipatória (17,23).
As práticas do ensino-aprendizagem devem
ser pautadas e caracterizadas pelo viés social, dialógico e de
corresponsabilidade entre os sujeitos envolvidos no processo educativo. Dessa
maneira, sob o entendimento sociocultural e político, é fundamental que as
práticas educacionais reflitam sobre as condições de vulnerabilidades,
iniquidades e, sobretudo, de inclusões sociais (24).
A partir de uma educação que
inter-relacione a corresponsabilidade da coletividade em construir ambiências
sociais e institucionais inclusivas, permite-se um processo equitativo em que
são respeitadas não somente as possibilidades de dialogar com as diferenças,
mas, sobretudo, as representatividades das existências, das vivências e dos
arcabouços epistemológicos dos envolvidos (22-23).
Ao se permitir construções de ambiências
que repartam os papéis dos sujeitos envolvidos – docente e discente –, no
processo educativo, sem uma estruturação coercitiva e verticalizada, bem como
que promovam a corresponsabilidade de tais indivíduos, são oportunizados
desenvolvimentos epistêmicos que permitam aos estudantes se assumirem enquanto
protagonistas dos seus aprendizados (17,25-26).
Isso porque, significa uma possibilidade
de respeito a seus interesses e a seus desenvolvimentos educacionais além de,
sobretudo, dialogar sobre as estruturações de poderes que permeiam o processo
educativo, fundamentando o aluno e o professor não como oprimido e opressor,
respectivamente, mas, sim, como agentes interdependentes do ensino-aprendizagem
e complementares. Dessa forma, é fundamental que haja a preocupação quanto à
responsabilidade social aos novos profissionais de saúde que foram formados e
estão sendo formados nesse período (17,25-27).
Infere-se, portanto, que é indispensável a
construção de uma educação que não se preocupe exclusivamente em difundir
conhecimento ou até avaliar numericamente um educando, mas especialmente que
compreenda a relevância da dimensão humana do ensinar para a existência social
do sujeito. Assim, é fundamental a complementaridade entre as dimensões humanas
e epistemológicas, ou seja, compreender que princípios sociais, estas como
resiliência, alteridade, solidariedade, respeito, empatia e outros, são
complementares para um processo educativo que se baseie em ensinar e aprender
para a reflexão, para a tecnologia, para a criticidade, para a evolução, para a
aceitação do próximo e, por conseguinte, para a coletividade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nessa perspectiva, evidencia-se que, ao
analisar as dimensões dos processos avaliativos, durante o ensino remoto, houve
contraste entre o descomprometimento educacional e a necessidade de autonomia
por parte dos discentes, à medida que, ao não se comprometer em estudar
previamente, a fim de fortalecer sua aprendizagem, sob a certeza do acesso à
informação durante as avaliações, há fragilização da responsabilidade dos
alunos em seu processo formativo.
Paralelamente, ressaltou-se, por parte dos
pesquisados, a necessidade de uma construção individual de autonomia e de
corresponsabilidade no ensino-aprendizagem, isto é, a compreensão não somente
de um estudo adequado para uma futura avaliação, mas, sim, do comprometimento
em transcender limitações e contextos educacionais, objetivando seu
fortalecimento epistêmico.
Além disso, o rompimento da ambiência
coercitiva, desenvolvida no modelo tradicional para os processos avaliativos,
destacou-se como mecanismo positivo de concentração, para parcela dos
entrevistados, durante a realização das provas, porquanto limitou fontes de
distrações e de tensões convencionais presentes no modelo tradicional.
Destarte, conquanto os processos
avaliativos, durante o ensino remoto, tenham apresentado problemáticas,
salientaram-se desdobramentos paradigmáticos e atitudinais para o
ensino-aprendizagem e para os sujeitos envolvidos, que, possivelmente, podem
instigar a construção de um novo horizonte educacional no futuro.
Infere-se, portanto, a orientação ao desenvolvimento
de novos estudos que, juntamente, permitam a contemplação e, dessa maneira, o
esclarecimento dos componentes ainda não completamente entendidos sobre o
assunto pesquisado para, em face disso, acarrear a readaptação e reorientação das
propostas avaliativas em enfermagem na hodiernidade.
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Fomento: Centro Universitário Doutor Leão
Sampaio (UNILEÃO).
Agradecimento: Sem agradecimento
Contribuição dos autores
Ary Wittor Freire Miranda Angelim Agra. 1. contribuiu
substancialmente na concepção e/ou no planejamento do estudo; 2. na obtenção,
na análise e/ou interpretação dos dados; 3. assim como na redação e/ou revisão
crítica e aprovação final da versão publicada
Cristhiano Charles de Castro Bezerra Filho. 1. contribuiu substancialmente
na concepção e/ou no planejamento do estudo; 2. na obtenção, na análise e/ou
interpretação dos dados; 3. assim como na redação e/ou revisão crítica e
aprovação final da versão publicada
João Paulo
Xavier Silva. 1. contribuiu substancialmente na concepção e/ou no planejamento
do estudo; 2. na obtenção, na análise e/ou interpretação dos dados; 3. assim
como na redação e/ou revisão crítica e aprovação final da versão publicada
Maryldes
Lucena Bezerra de Oliveira. Contribuiu
na redação e/ou revisão crítica e aprovação final da versão publicada.
Dallila Freire da Costa Agra. Contribuiu na redação e/ou revisão crítica
e aprovação final da versão publicada.
Gleice de
Sá Agra. Contribuiu na
redação e/ou revisão crítica e aprovação final da versão publicada.
Yalle Ferreira Angelim. Contribuiu na redação e/ou revisão
crítica e aprovação final da versão publicada.