ARTIGO ORIGINAL
PREVALÊNCIA DE ESTRESSE OCUPACIONAL EM ENFERMEIROS QUE ATUAM NA URGÊNCIA E EMERGÊNCIA DA CIDADE DE BOA VISTA – RR
PREVALENCE OF OCCUPATIONAL STRESS IN NURSES WHO WORK IN URGENCY AND EMERGENCY IN THE CITY OF BOA VISTA – RR
PREVALENCIA DE ESTRÉS OCUPACIONAL EN ENFERMEROS QUE ACTÚAN EN URGENCIA Y EMERGENCIA EN LA CIUDAD DE BOA VISTA – RR
1Helenira Macêdo Barros Machado
2Ana Paula Tavares Souza
3Levina Ozória Pereira
4Flávia Amaro Gonçalves Tavares
5Daniele Alves Damaceno Gondim
1 Enfermeira. Mestre em Ensino em Ciências da Saúde. Centro Universitário Estácio da Amazônia. Boa Vista, RR, Brasil. E-mail: heleniramacedo@hotmail.com Orcid: https://orcid.org/0000-0003-1452-1256
2Enfermeira. Especialista em Obstetrícia e UTI Neonatal. Centro Universitário Estácio da Amazônia. Boa Vista, RR, Brasil. E-mail: anatavaressouza@gmail.com Orcid: https://orcid.org/0000-0003-1148-0348
3Enfermeira. Centro Universitário Estácio da Amazônia. Boa Vista, RR, Brasil. E-mail: levina.ozoria@gmai.com Orcid: https://orcid.org/0000-0002-3747-4635
4Nutricionista. Doutora em Biotecnologia. Centro Universitário Estácio da Amazônia. Boa Vista, RR, Brasil. E-mail: flavia.gontavares@gmail.com Orcid: https://orcid.org/0000-0002-7774-5081
5Enfermeira. Doutoranda em Saúde Pública. Boa Vista, RR, Brasil. Orcid: https://orcid.org/0000-0001-9087-9562
Autor correspondente
Helenira Macêdo Barros Machado
Centro Universitário Estácio da Amazônia. Rua Jornalista Humberto Silva, nº 308. Bairro União-Boa Vista-RR. Brasil. CEP: 69313-792.
E-mail: heleniramacedo@hotmail.com
Submissão: 28-05-2023
Aprovado: 24-07-2023
Resumo: O stress exerce uma influência direta com a vida pessoal de todos os indivíduos. O estresse ocupacional passou a ser um dos grandes vilões causadores de adoecimento e esgotamento físico e mental tornando-se um grande risco para o bem-estar do trabalhador. Objetivo: O estudo tem como objetivo avaliar a prevalência de estresse ocupacional em enfermeiros que atuam na urgência e emergência. Método: Trata-se de um estudo observacional, transversal e quantitativo que foi realizado com 20 enfermeiros de ambos os gêneros, residentes na Cidade de Boa Vista-RR, por meio de um questionário auto administrável na Plataforma Google Forms. O questionário foi enviado pelo aplicativo WhatsApp® por meio de mensagem. Os participantes tiveram acesso ao questionário somente após aceitar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Para avaliação do estresse ocupacional foi utilizada a versão resumida da Job Stress Scale(JSS). Resultados: Esta pesquisa buscou chamar atenção para o estresse que o profissional vem enfrentando por ter uma ocupação ativa, de alta demanda psicológica, tendo em vista que 100% (n 20) dos voluntários declaram passar por tal situação em seu ambiente de trabalho. Conclusão: Espera-se que este estudo possa contribuir com melhorias aos enfermeiros da urgência e emergência, visando uma maior valorização, chamando atenção para importância da saúde mental daqueles que atuam em um setor estressante.
Palavra chave: Estresse; Enfermagem; Emergência; Urgência.
Abstract: Stress has a direct influence on the personal life of all individuals. Occupational stress became one of the main villains that cause illness and physical and mental exhaustion, becoming a major risk for the worker's well-being. Goal: The study aims to assess the prevalence of occupational stress on nurses working in urgency and emergency department. Method: This is an observational, cross-sectional and quantitative study that was carried out with 20 nurses of both genders, residing in the city of Boa Vista-RR, through a self-administered questionnaire on the Google Forms Platform. The questionnaire was sent via the WhatsApp® application via message. Participants had access to the questionnaire only after accepting the Informed Consent Form. To assess occupational stress, a summarized version of the Job Stress Scale (JSS) was used. Results: This research sought to draw attention to the stress that professionals have been facing for having an active occupation, with high psychological demand, considering that 100% (n 20) of the volunteers declare to experience such situation in their workplace. Conclusion: It is expected that this study can contribute to improvements for nurses in urgency and emergency, aiming at greater appreciation, drawing attention to the importance of mental health of those who work in a stressful department.
Keywords: Stress; Nursing; Emergency; Urgenc.
Resumen: El estrés ejerce una influencia directa en la vida personal de todos los individuos. El estrés laboral se ha convertido en uno de los grandes villanos que provocan enfermedades y agotamiento físico y psíquico, convirtiéndose en un importante riesgo para el bienestar de los trabajadores. Objetivo: El estudio tiene como objetivo evaluar la prevalencia de estrés laboral en enfermeras que trabajan en urgencias y emergencias. Método: Se trata de un estudio observacional, transversal y cuantitativo que fue realizado con 20 enfermeros de ambos sexos, residentes en el Municipio de Boa Vista-RR, a través de cuestionario autoadministrado en la Plataforma Google Forms. El cuestionario fue enviado a través de la aplicación WhatsApp® vía mensaje. Los participantes tuvieron acceso al cuestionario sólo después de aceptar el Formulario de Consentimiento Libre e Informado. Para evaluar el estrés laboral se utilizó la versión corta de la Job Stress Scale (JSS). Resultados: Esta investigación buscó llamar la atención sobre el estrés que viene enfrentando el profesional por tener una ocupación activa, con altas exigencias psicológicas, considerando que el 100% (n 20) de los voluntarios declararon pasar por tal situación en su ambiente de trabajo . Conclusión: Se espera que este estudio pueda contribuir a mejoras para los enfermeros de urgencia y emergencia, visando una mayor apreciación, llamando la atención sobre la importancia de la salud mental de quien actúa en un sector estresante.
Palabra clave: Estrés; Enfermería; Emergencia; Urgencia.
INTRODUÇÃO
O serviço de urgência e emergência é o setor hospitalar classificado como um ambiente de trabalho potencialmente estressante, devido ao excesso de atividades físicas e mentais que os profissionais exercem, causando patogenias a saúde desses trabalhadores(1). O estresse tem provocado consequências negativas a vida de muitos profissionais, sendo caracterizado como o mal do século, inserindo-se a um problema de saúde pública(2) .
O estresse pode ser compreendido como o psicológico e emocional em que um indivíduo reage mediante os problemas internos ou sociais, agravando suas emoções, como o medo, a raiva, ambição, a culpa, entre outras, causando uma ação no sistema nervoso glandular, gerando danos, especificamente ao nível físico, restringindo a quantidade de energia adaptativa de cada indivíduo(3).
Os fatores que geram desgastes físicos e mentais nos profissionais, desencadeando o estresse ocupacional, têm diminuído a qualidade de vida e provocado danos à saúde do trabalhador. São considerados geradores de estresse: as condições de trabalho precárias, as altas jornadas e sobrecarga de trabalho, a baixa remuneração, a exposição ao risco, à dupla jornada de serviços, entre outras(4) .
Sendo considerado como uma razão fundamental de prejuízo a saúde e qualidade de vida do trabalhador, o estresse ocupacional é um agente que agrava o psicossocial do indivíduo, resultando no baixo desempenho, no absenteísmo, na alta rotatividade e na violência no local de trabalho, afetando de forma negativa a assistência prestada ao paciente(5) .
Em virtude disto, é essencial que os enfermeiros percebam as causas do estresse do seu local de trabalho e seus efeitos no processo saúde-doença, para mais, buscar solucionar, diminuir ou excluir esses fatores estressores, impedindo prejuízos à saúde do trabalhador e permitindo uma assistência de qualidade a saúde dos usuários(6). Portanto, o objetivo deste estudo é avaliar a prevalência de estresse ocupacional em enfermeiros que atuam na urgência e emergência da Cidade de Boa Vista- RR.
O estresse é um dos problemas que mais afetam as pessoas neste século, provocando desgastes físicos e mentais, reduzindo a qualidade de vida pessoal e profissional do indivíduo. O trabalho tem sido considerado nestes dias como um influente agente estressor, principalmente para os profissionais que atuam na urgência e emergência, por este ser classificado como um ambiente de sobrecarga física e mental, causando patogenias na saúde do trabalhador (1).
Alguns fatores como as condições de trabalho precárias, as altas jornadas e sobrecarga de trabalho, o contato direto com a dor e o sofrimento do paciente, a baixa remuneração, a exposição ao risco, a dupla jornada de serviços, entre outros, têm causado danos aos profissionais da enfermagem e diminuído a qualidade dos serviços prestados aos clientes.
O setor de urgência e emergência de uma unidade hospitalar, é o local em que o paciente ingressa com a saúde debilitada, com sofrimento ou com risco iminente de morte, no qual requer um atendimento imediato e de máxima qualidade. Portanto é essencial identificar os fatores geradores do estresse ocupacional, para realizar estratégias que minimizem ou excluam essa problemática, garantindo a saúde do trabalhador e o atendimento de excelência aos pacientes.
MÉTODO
Trata-se de um estudo transversal, descritivo e quantitativo, que foi realizado do mês de setembro de 2021 até outubro de 2021, com enfermeiros atuantes na urgência e emergência, de ambos os gêneros, residentes na Cidade de Boa Vista-RR, por meio de um questionário auto administrável na Plataforma Google Forms. A amostra do estudo foi escolhida por conveniência, utilizando-se das redes sociais o convite para participação da pesquisa. De forma que se manteve o sigilo, em momento algum foi solicitado a identificação dos participantes, tão pouco foi possível a visualização dos seus dados de contato por terceiros. O projeto foi aprovado através do Parecer Consubstanciado pelo Comitê de Ética e Pesquisa -CEP da Faculdade Estácio de Macapá com o número 4.956.160.
Para participar da pesquisa os enfermeiros leram o conteúdo do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido- TCLE que estava na primeira página do questionário e finalizava com a pergunta se concorda em participar da pesquisa. No caso de concordância, o participante tinha acesso às perguntas do questionário; já a negativa fechava o questionário.
Aceitando em participar da pesquisa, foi apresentado um questionário para avaliação do estresse ocupacional, utilizando-se a versão resumida da Job Stress Scale (JSS), adaptada e validada para o português do Brasil, que tem sido utilizada em outros estudos com enfermeiros(7). A JSS contou com 17 questões, organizadas em 3 dimensões, sendo elas: Demandas psicológicas do trabalho (questões 1 a 5), Controle sobre o trabalho (questões 6 a 11) e Suporte e apoio social (questões 12 a 17). O escore de cada dimensão é obtido por meio da soma dos pontos atribuídos a cada uma das questões(7).
Foi calculado os escores da JSS, as dimensões e foram divididas em baixa e alta. Na dimensão Demandas psicológicas do trabalho, foi definida em baixa demanda (≤ 8), alta demanda (≥9). Para Controle sobre o trabalho, ficou definido em baixo controle (≤10) e alto controle (≥11). Os escores da dimensão Suporte e apoio social foram definidos pela mediana e dicotomizados em baixo apoio (M≤12) ou alto apoio (M≥13)(8).
Ultilizou-se para o critério de inclusão e exclusão, os seguintes itens: ter nacionalidade brasileira; aceitar o TCLE; estar atuando como enfermeiro na urgência e emergência e residir em Boa Vista-RR. Como critério de exclusão, ficou estabelecido a recusa do candidato para o aceite do TCLE.
O presente estudo esperava contar com a participação de 100 enfermeiros, entretanto, na finalização da divulgação do link, somente 20 enfermeiros foram contabilizados para esta pesquisa. Tal fato, porém, não trouxe dano algum ao estudo, pois a essência do mesmo foi alcançada, possibilitando uma amostra satisfatória.
A amostra deste estudo foi finalizada, alcançando 20 enfermeiros atuantes na urgência e emergência da Cidade de Boa Vista RR, sendo 70% (n 14) do gênero feminino e 30% (n 6) masculino. Referente aos aspectos sociodemográficos, 70% (n 14) dos participantes foram mulheres, sendo 78,5 % (n 11) com média de idade de 31-45 anos e 21,5% (n 3) > 45 anos. Concernente às características laborais, 21,4% (n 3) dos profissionais mulheres têm em média de 5-10 anos de atuação nesta profissão e os homens 50% (n 3), 64, 3% (n 9) mulheres e 33,3 (n 2) homens tem o tempo de trabalho > 10 anos. Os demais profissionais, tanto feminino quanto masculinos, atuam na profissisão há < 5anos (Tabela1).
Pode-se observar na Tabela 1 abaixo, que 71,4% (n 10) do gênero feminino e 50% (n 3) do gênero masculino, mostra que possuem outro vínculo empregatício e revela uma quantitativo maior sobre aqueles que relataram não ter dupla jornada de trabalho. Tendo em vista que esses enfermeiros se submetem a duplas ou triplas jornadas de trabalho, por conta dos seus respectivos salários baixos e infames, conflitante com a realidade de seus serviços prestados à assistência. O enfermeiro acaba desenvolvendo uma piora na qualidade de vida, que o leva a assumir mais de um emprego para poder suprir as necessidades da família, o que os leva a uma alta demanda de trabalho, estresse e sem tempo para seus prazeres pessoais(9).
Quanto à saúde do trabalhador, 42,8% (n 6) das mulheres afirmam possuir algum problema de saúde e 50% (n 3) dos homens possuem problema de saúde, sendo que 21,4% (n 3) das mulheres estão fazendo uso continuo de algum tipo de medicamento e 66,6% (n 4) dos homens também fazem, e 35,7% (n 5) das mulheres e 33,3% (n 2) dos homens admitem já ter realizado algum tratamento relacionado a estresse, depressão e/ou ansiedade. Sendo considerados dados desfavoráveis na qualidade de vida e na prestação de serviço do profissional enfermeiro ao paciente de urgência e emergência (Tabela 1).
O profissional que possui alguma patologia e/ou toma alguma medicação continuamente, tem a sua saúde e qualidade de vida comprometida, decorrendo que o nível elevado deste comprometimento gera sofrimento ao trabalhador, e traz resultados prejudiciais ao próprio individuo e ao seu rendimento como profissional(10).
O estresse, depressão e/ou ansiedade são sentimentos que geram medo, ameaça, tensão, incapacidade, sendo de origem interna ou externa, considerado algo prejudicial ao individuo, em seu desenvolvimento integral. A pessoa que adquiriu essa patologia em alguma fase de sua vida, é mais propicia a contraí-la novamente(11).
A profissão de enfermagem é tida como uma das mais estressantes de todo o mundo, um estudo feito com 1.800 enfermeiros constatou que 93% declararam ter estresse no trabalho, levando assim a uma atenção especial para o estresse neste ambiente, pois estes profissionais são responsáveis pelo cuidado e a assistência de pacientes muitas das vezes críticos e em estado de grande dor(12) .
Portanto, é extremamente importante ter um cuidado especial com a saúde desses profissionais enfermeiros, pois o estresse ocupacional traz incapacidade com pressões e situações embaraçadas no trabalho, promovendo assim, problemas de saúde mental e física desses, implicando na insatisfação no trabalho, comprometendo o profissional e o público utilizador de seus serviços(13) .
Tabela 1 - Características sociodemográficas dos participantes do estudo.
Variáveis |
Feminino |
Masculino |
||
n |
% |
n |
% |
|
|
14 |
70 |
6 |
30 |
Idade (anos) |
|
|
|
|
18 - 30 |
0 |
0 |
0 |
|
31 - 45 |
11 |
78,5 |
5 |
83,3 |
>45 |
3 |
21,5 |
1 |
16,6 |
|
|
|
|
|
Tempo de profissão |
|
|
|
|
<5 anos |
2 |
14,3 |
1 |
16,6 |
5 – 10 |
3 |
21,4 |
3 |
50 |
>10 |
9 |
64,3 |
2 |
33,3 |
|
|
|
|
|
Outro vinculo empregaticio |
|
|
|
|
Sim |
10 |
71,4 |
3 |
50 |
Não |
4 |
28,6 |
3 |
50 |
|
|
|
|
|
Problema de saude |
|
|
|
|
Sim |
6 |
42,8 |
3 |
50 |
Não |
8 |
57,1 |
3 |
50 |
|
|
|
|
|
Uso contínuo de medicamento |
|
|
|
|
Sim |
3 |
21,4 |
4 |
66,6 |
Não |
11 |
78,6 |
2 |
33,3 |
|
|
|
|
|
Tratamento (estresse, depressão, ansiedade) |
|
|
|
|
Sim |
5 |
35,7 |
2 |
33,3 |
Não |
9 |
64,3 |
4 |
66,6 |
|
|
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|
|
Fonte: Própria dos autores, 2021.
Referente às dimensões avaliadas pela JSS, 100% (n 20) dos enfermeiros afirmaram ter alta demanda psicológica e alto controle no ambiente de trabalho. Nos Quadrantes demanda-controle, foi observado que 100% (n 20) enfermeiros apresentaram perfil ativo. Do total analisado, 70% (n 14) enfermeiros informaram ter baixa percepção de suporte e apoio social (Tabela 2).
A relação entre alta demanda psicológica e alto controle configura o trabalho ativo, o qual é considerado de risco intermediário para o estresse, de forma que, mesmo existindo alta demanda, existe aprendizagem constante e uso de habilidades intelectuais, o que leva a motivação do trabalhador.
Tabela 2 - Dimensões da Job Stress Scale dos Enfermeiros de Urgência e Emergência.
Variáveis |
Voluntários |
|
n |
% |
|
|
|
|
Demanda psicológica |
|
|
Baixa demanda <8 |
0 |
0 |
Alta demanda >9 |
20 |
100 |
|
|
|
Controle sobre o trabalho |
|
|
Baixo controle <10 |
0 |
0 |
Alto controle >11 |
20 |
100 |
|
|
|
Quadrantes demanda-controle |
|
|
Baixo desgaste ↓D ↑C |
0 |
0 |
Ativo ↑D ↑C |
20 |
100 |
Passivo ↓D ↓C |
0 |
0 |
Alto desgaste ↑D ↓C |
0 |
0 |
|
|
|
Suporte e apoio social |
|
|
Baixo apoio M < 12 |
14 |
70 |
Alto apoio M > 13 |
6 |
30 |
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Fonte: Própria dos autores, 2021.
O profissional de enfermagem, em geral, precisa realizar suas atividades com muita rapidez, trabalha intensamente, necessitando produzir muito em pouco tempo. Estes, trabalham sob grande pressão, muitas vezes não conseguem realizar todas as suas atividades no tempo em que lhe é atribuído. A demanda psicológica descreve as exigências psicológicas que o trabalhador encara na atuação de suas atribuições, incluindo pressão do tempo (proporção do tempo de trabalho realizado sob grande pressão), nível de concentração requisitada, pausando as suas tarefas(14) .
A pesquisa aponta um alto controle por parte dos enfermeiros atuantes no setor de urgência e emergência. Tal dado difere dos resultados obtidos em outros estudos que abordam a mesma problemática(14-15), nos quais ocorre um percentual maior no grupo baixo controle. Enquanto em outros artigos dentre os voluntários incluiu-se técnicos de enfermagem e enfermeiros atuantes em diversos setores, o presente estudo limitou-se somente aos profissionais enfermeiros do setor de urgência e emergência da cidade de Boa Vista-RR, o que reduziu o quantitativo analisado, podendo explicar a divergência dos dados.
O estresse ocupacional tem sido uma preocupação global, por propiciar o adoecimento do trabalhador, comprometendo sua saúde e qualidade de vida, além de diminuir a eficiência do serviço prestado e intensificar as taxas de ausência do profissional no trabalho. Por este motivo, o estresse laboral é classificado como prejudicial ao empregador, ao profissional e ao cliente(16).
Os sinais e sintomas do estresse laboral causam prejuízos considerados ao trabalhador. Normalmente não são constatados na sua fase inicial, pois surgem de maneira disfarçada, dificultando o diagnostico e provocando danos à saúde física e mental do indivíduo, em razão do tratamento ser retardado(17).
Os médicos e enfermeiros que atuam na urgência e emergência desempenham funções decisivas, pois este é um local de trabalho intenso e agitado, sendo necessário que a equipe de saúde tenha a capacidade operacional de retorno(18). As atividades da urgência e emergência são consideradas como porta aberta no Sistema Único de Saúde (SUS) e são essenciais para a assistência em saúde(19).
O controle sobre o trabalho expõe que o trabalhador se sinta desafiado e estimulado na elaboração do seu trabalho(14). Neste presente estudo 100% (n 20) dos enfermeiros relatam possuir este estímulo de autonomia sobre o trabalho, o que o leva a ter mais responsabilidade para atender a demanda de trabalho exigida (Tabela 2).
Levando em consideração que 70% (n 14) de enfermeiros possuem um baixo apoio social no seu ambiente de trabalho e 30% (n 6) possuem esse apoio (Tabela 2), tendo em vista a existência de estudos que ressalta que a falha no apoio social, esses trabalhadores poderão desenvolver doenças cardiovasculares, estresse, exaustão física e emocional(14).
Pesquisas constatam que os profissionais da enfermagem têm que superar mais sofrimento psicológico do que as demais pessoas(20), devido aos fatores de desgastes físicos e mentais vivenciado cotidianamente em seus locais de trabalho. A urgência e emergência é um setor em que o profissional precisa fazer tudo o que está ao seu alcance para remover o risco iminente de morte do paciente, e neste processo, a enfermagem sofre com sobrecarga referente a vivencia com a dor do paciente, sofrimento, morte, as inúmeras tarefas, o trabalho demasiado, gerando desgastes mentais a esses trabalhadores(21).
Fato que chamou atenção diz respeito a amostra coletada, que tinha como perspectiva estimada 100 enfermeiros atuante no setor de Urgência e Emergência de Boa Vista – RR. Porém, o presente estudo contou com a participação de somente 20 profissionais. Pode-se atribuir que ocorreu o receio de participar da pesquisa embora tivesse a orientação no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, o que levou a um baixo quantitativo de voluntários, porém não trouxe dano algum a pesquisa, pois a mesma alcançou a essência do seu objetivo.
CONCLUSÕES
Diante dos resultados encontrados neste estudo, mesmo com um número de voluntários menor que o esperado, esta pesquisa alcançou seu objetivo, pois com os 20 enfermeiros voluntários nesse estudo puderam ser visto que 100% (n 20) dos voluntários envolvidos relataram ter uma alta demanda de trabalho. Sendo também possível identificar alguns fatores estressores que causam o stress ocupacional nos enfermeiros de urgência de emergência da Cidade de Boa Vista-RR.
Em outros artigos que se reportam ao estresse ocupacional dos profissionais de enfermagem em geral, é observado um resultado diferente concernente ao controle sobre o trabalho, a atuação dos enfermeiros, técnicos e auxiliares em outros setores tem um baixo controle sobre o trabalho, enquanto que os enfermeiros que atuam no setor de urgência e emergência de Boa Vista-RR possuem um alto controle, ficando evidente que esses profissionais têm autonomia e responsabilidades notáveis em seu local de atuação.
Os enfermeiros atuantes na urgência e emergência são imbuídos de funções fundamentais na assistência e no cuidado de pacientes que muitas vezes se encontram em estado de saúde grave e de grande dor, tornando a atuação deste trabalhador indispensável para salvar vidas. Devido à tarefa essencial na assistência e ao alto controle sobre o trabalho desses enfermeiros, é de suma importância que estes profissionais tenham saúde mental e física garantida, acrescentando assim a relevância de novos estudos com esta temática junto à esta classe de profissionais atuantes na urgência e emergência.
Enriquecendo assim, o entendimento de programar ações e estratégias para minimizar e prevenir o estresse ocupacional no ambiente de trabalho desses enfermeiros, reorganizando o seu ambiente de trabalho, distribuindo tarefas, valorizando como profissionais, apoiados pelos seus superiores, adotando medidas que melhorem a qualidade de vida deste profissional no seu local laboral. Assim, proporcionar aos trabalhadores mais saúde e qualidade de vida, bem como aos pacientes um atendimento mais eficiente e humanizado.
Espera-se que este estudo traga contribuições favoráveis para a área de estudo, visando melhorias para os enfermeiros que atuam no setor de urgência e emergência, chamando a atenção para o estresse que esses trabalhadores enfrentam em seu ambiente de trabalho. É necessário que outras pesquisas deem continuidade ao tema em questão, possivelmente utilizando-se de outros parâmetros para avaliar outros prováveis agentes estressores dentro do ambiente de trabalho e também, externo a ele.
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Contribuições dos autores
Todos os autores contribuíram substancialmente na concepção, no planejamento do estudo, na obtenção, na análise, na interpretação dos dados, bem como na redação, revisão crítica e aprovação final da versão publicada.
Fomento: não há instituição de fomento
Editor Científico: Francisco Mayron Morais Soares. Orcid: https://orcid.org/0000-0001-7316-2519