SAÚDE MENTAL DOS PACIENTES RENAIS CRÔNICOS FRENTE A PANDEMIA COVID-19

 

MENTAL HEALTH OF CHRONIC KIDNEY PATIENTS FACING THE COVID-19 PANDEMIC

 

SALUD MENTAL DE LOS PACIENTES RENALES CRONICOS ANTE LA PANDEMIA DE COVID-19

 


 

1Kathleen Oliveira Castro

2Pedro Venicius de Sousa Batista

3Daiana da Silva Oliveira dos Santos

4Rita de Cássia Monteiro Silva

5Francisca Cecília Viana Rocha

6Claúdia Maria Sousa de Carvalho

7Saraí de Brito Cardoso

 

1Centro Universitário UNINOVAFAPI. Teresina, Piauí, Brasil. ORCID: https://orcid.org/0009-0004-7190-4119

2Centro Universitário UNINOVAFAPI. Teresina, Piauí, Brasil. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-9441-0996

3Centro Universitário UNINOVAFAPI. Teresina, Piauí, Brasil. ORCID: https://orcid.org/0009-0008-2177-2030

4Centro Universitário UNINOVAFAPI. Teresina, Piauí, Brasil. ORCID: https://orcid.org/0009-0003-8096-4538

5Centro Universitário UNINOVAFAPI. Teresina, Piauí, Brasil. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-0837-6032

6Centro Universitário UNINOVAFAPI. Teresina, Piauí, Brasil. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-8901-3390

7Centro Universitário UNINOVAFAPI. Teresina, Piauí, Brasil. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8941-1038

 

Autor correspondente

Kathleen Oliveira Castro

Rua São Leonardo, 2270, Uruguai, Teresina – PI – Brasil. 64073-063. +55 (89)98137-5540. E-mail: kathleeno.castro765@gmail.com

 

Fomento e Agradecimento: Não há

 

 

 

 

Submissão: 25-06-2023

Aprovado: 21-08-2023

 

 

RESUMO

Objetivos: analisar na literatura científica a saúde mental dos pacientes renais crônicos no contexto da pandemia do COVID-19 e descrever de que forma essa realidade afetou a saúde mental dos pacientes renais crônicos de acordo com as publicações científicas. Método: Refere-se à uma revisão bibliográfica, do tipo pesquisa integrativa conduzida nas bases de dados: Medical Literature Analysis and Retrieval System Online, Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde, Base de Dados em Enfermagem e na Biblioteca Virtual Scientific Electronic Library Online. Resultados: Foram encontrados quatorze artigos, sendo doze de estudos transversais observacionais, um estudo coorte prospectivo e um ensaio clínico randomizado, tendo como níveis de evidência respectivamente nível VI, IV, II. Além disso, foi evidenciado pelos autores o predomínio de ansiedade e depressão em níveis elevados nos pacientes renais crônicos na pandemia conforme os estudos encontrados. Conclusão: Em suma, observa-se que é uma temática ainda recente, porém com significativa importância para saúde mental dos pacientes renais crônicos, o que põe em evidência a vulnerabilidade dos pacientes portadores de doença renal crônica, em virtude da pandemia COVID-19, e enfatiza os danos na saúde mental dos pacientes em virtude do isolamento social, da família e o medo em ser infectado pela doença.

Palavras-chave: Insuficiência Renal Crônica; Doença Renal Crônica; Saúde Mental; COVID-19.

 

ABSTRACT

Objectives: to analyze in the scientific literature the mental health of chronic kidney patients in the context of the COVID-19 pandemic and describe how this reality affected the mental health of chronic kidney patients according to scientific publications. Method: Refers to a bibliographic review, of the integrative research type, conducted in the databases: Medical Literature Analysis and Retrieval System Online, Latin American and Caribbean Literature in Health Sciences, Database in Nursing and in the Virtual Scientific Library Electronic Library Online. Results: Fourteen articles were found, twelve of which were observational cross-sectional studies, one prospective cohort study and one randomized clinical trial, with levels of evidence respectively levels VI, IV, II. In addition, the authors evidenced the predominance of anxiety and depression at high levels in chronic kidney disease patients in the pandemic, according to the studies found. Conclusion: In short, it is observed that it is still a recent topic, but with significant importance for the mental health of chronic kidney patients, which highlights the vulnerability of patients with chronic kidney disease, due to the COVID-19 pandemic, and emphasizes the damage to the mental health of patients due to social and family isolation and the fear of being infected by the disease.

Keywords: Chronic Renal Failure; Chronic Kidney Disease; Mental Health; COVID-19.

 

RESUMEN

Objetivos: analizar en la literatura científica la salud mental de los pacientes renales crónicos en el contexto de la pandemia por COVID-19 y describir cómo esta realidad afectó la salud mental de los pacientes renales crónicos según las publicaciones científicas. Método: Se refiere a una revisión bibliográfica, de tipo investigación integradora, realizada en las bases de datos: Medical Literature Analysis and Retrieval System Online, Latin American and Caribbean Literature in Health Sciences, Database in Nursing y en la Biblioteca Científica Virtual Electronic Library Online. Resultados: Se encontraron catorce artículos, de los cuales doce fueron estudios transversales observacionales, un estudio de cohorte prospectivo y un ensayo clínico aleatorizado, con niveles de evidencia respectivamente niveles VI, IV, II. Además, los autores evidenciaron el predominio de la ansiedad y la depresión en niveles elevados en pacientes con enfermedad renal crónica en la pandemia, según los estudios encontrados. Conclusión: En síntesis, se observa que es un tema aún reciente, pero de significativa importancia para la salud mental de los pacientes renales crónicos, lo que resalta la vulnerabilidad de los pacientes con enfermedad renal crónica, debido a la pandemia de COVID-19, y enfatiza el daño a la salud mental de los pacientes por el aislamiento social y familiar y el miedo a ser contagiados por la enfermedad.

Palabras clave: Insuficiencia Renal Crónica; Enfermedad Renal Crónica; Salud Mental; COVID-19.

 


INTRODUÇÃO

Em 31 de dezembro de 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS), alertou para casos suspeitos de pneumonia nas unidades hospitalares de Wuhan, na China, que evidenciaram posteriormente, no dia 07 janeiro de 2020, resultados de exame bronco alveolar e sequenciamento de alto rendimento para um novo vírus, da família coronaviridae, denominado coronavírus da síndrome respiratória aguda grave (SARS-Cov-2), no qual se tornou agente etiológico da Coronavirus Disease 2019 (COVID-19), que tomou proporções mundiais devido à alta transmissibilidade comunitária e oficializada em 11 de março de 2020, como pandemia (1,2).

A média de incubação do Coronavírus gira em torno de 5 dias e agrega uma sintomatologia que vai desde sintomas leves a graves. Por vezes, a maioria dos pacientes são intubados, esse fato se deve, principalmente, aos alcances do vírus em atacar os outros sistemas do corpo como: renal, neurológico, gastrointestinal e cardiovascular (3).

Em vista disso, observa-se que o Coronavírus pode evoluir em pacientes com doenças crônicas, como por exemplo: hipertensão arterial, doença renal crônica e diabetes mellitus, que são as principais doenças de incidência na população. Nesse sentido, por apresentar sistema imunológico comprometido, tais consequências podem progredir a sintomatologia mais grave, e, consequentemente, proporcionar um maior risco de desenvolver sequelas e até mesmo chegar ao óbito (4).

No que concerne os pacientes portadores de doenças renais crônicas (DRC), estima-se, aproximadamente, 850 milhões de óbitos anualmente e um aumento de 8% de novos casos. Em vista disso, é demonstrado a necessidade de abordar sobre tal grupo. A DRC se trata de uma perda da função renal definitiva, que acarreta necessidades pelo resto da vida de tratamentos como: diálise renal peritoneal, hemodiálise para manutenção da qualidade de vida, que submete o paciente à uma máquina filtradora de impurezas contidas no sangue, que façam mal ao organismo, ou seja, substituem a função renal (5).

Além disso, para a DRC não existe expectativa de cura, logo, o enfrentamento do paciente com a doença já se inicia, imediatamente após o diagnóstico, o que proporciona uma aflição não só do paciente, mas dos familiares também. Por esse motivo, entende-se que o tratamento abre espaço para transtornos emocionais, visto que é um processo pelo resto da vida do paciente, bem como cansativo e rotineiro. Além de diversas restrições alimentícias e hídricas que o paciente necessita adquirir, o que reduz sua qualidade de vida e sua saúde mental (4).

Os autores (6) corroboram com o estudo anterior e acrescentam que pessoas com DRC estão suscetíveis a apresentarem alterações em sua saúde mental, como ansiedade e depressão. Nesse meio, essas alterações, assim como outros sintomas emocionais, influenciam tanto a qualidade de vida relacionada à saúde (QVRS), como também aos problemas clínicos e avanço de mortalidade.

Somado a isso, o paciente portador de DRC avançada possui maior fator de risco para evoluir para formas mais graves de COVID-19, visto que esse grupo possui diversas alterações endócrinas, em comparação aos que apresentam função renal sem alterações (7) .

Por esse motivo, é expresso a necessidade de falar sobre o assunto, em virtude da qualidade de vida limitada dos pacientes renais crônicos. Logo, tendo em consideração a pandemia COVID-19 e o seu impacto na população como um todo, percebe-se uma vulnerabilidade maior desses pacientes, em razão do isolamento restrito apenas à clínica hemodialítica e sua residência, o que limita mais ainda a vida desses pacientes e ocasiona estresse, tristeza e sentimento de impotência (6).

Assim, tem-se como objeto de estudo a saúde mental dos pacientes renais crônicos frente a pandemia COVID-19. Tem como objetivos: analisar na literatura científica a saúde mental dos pacientes renais crônicos no contexto da pandemia do COVID-19 e descrever de que forma essa realidade afetou a saúde mental dos pacientes renais crônicos de acordo com as publicações científicas. Destarte, o presente trabalho tem o intuito de indagar sobre a saúde mental dos pacientes portadores de doença renal crônica frente a pandemia COVID-19, de modo que possa haver uma contribuição significativa para pesquisas relacionadas a esse grupo.

 

MÉTODO

Trata-se de uma pesquisa bibliográfica do tipo revisão integrativa da literatura, que consiste em um método de pesquisa que visa a abordagem de uma síntese do conhecimento já publicado e a inclusão da aplicabilidade dos estudos com base na prática (8).

O estudo tem uma abordagem qualitativa, na qual se baseia em estudos secundários e engloba uma metodologia não mensurável, previsível ou informativa, de modo que analisa dados descritivos do pesquisador, onde se enfatiza o processo e não o produtor, com a finalidade de expor a perspectiva dos participantes do estudo (9).

Para realização desta pesquisa, foram seguidas as etapas caracterizadas por (10) a saber: formulação da questão de pesquisa, busca na literatura de pesquisa primária, busca ou apresentação na literatura de pesquisa primária, extração dos dados da pesquisa original, avaliar a pesquisa primária incluída na literatura, análise e síntese dos resultados da validação e apresentação da avaliação abrangente.

Na elaboração da questão da pesquisa, utilizou-se a estratégia PICo (P: População; I: Interesse; Co: Contexto) (Tabela 1). Exposto na tabela 1. Geralmente utilizada para criação de estudos não clínicos. De acordo com os autores (11) o acrônimo é utilizado para abordar questões, levantar definições adequadas e significativas para explanar questões da pesquisa, referindo-se ao propósito da pesquisa e esquivar-se de buscas desnecessárias.

O que resultou na seguinte questão norteadora: “Qual o impacto que a pandemia da COVID-19 proporcionou na saúde mental dos pacientes renais crônicos?”

A busca na literatura foi realizada nas seguintes bases de dados: Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE) via portal PUBMED e via Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Base de Dados em Enfermagem (BDENF) através da BVS e na Biblioteca Virtual Scientific Electronic Library Online (SciELO).

Para a coleta de dados foi utilizado um formulário com informações relevantes para o estudo e esta aconteceu no mês de agosto de 2022,  quando se realizou  novo levantamento das produções científicas sobre o tema proposto, através dos descritores instituídos pelos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) da Biblioteca Regional de Medicina (Bireme) e seus equivalentes no idioma inglês no Medical Subject Headings (MeSH): Insuficiência Renal Crônica (Renal Insufficiency, Chronic); Saúde Mental (Mental Health); COVID-19 (COVID-19), assim como descritor não controlado: Doença Renal Crônica (Chronic Kidney Disease), com auxílio dos operadores booleano “AND” e “OR”.

Como critérios de inclusão foram utilizados artigos originais, com idioma em português, inglês e espanhol, publicados no período de 01/2020 a 08/2022, disponíveis em texto completo e que tivessem relação com o tema e objetivos propostos. Foram excluídos os artigos de revisão, teses, dissertações, jornal, editorial, relato de caso e os que fugiram do tema proposto.

A organização dos dados para análise seguiu as etapas de: seleção das questões de pesquisa, definição dos critérios de inclusão e exclusão para busca na literatura, seleção do estudo e da amostra e análise crítica dos achados. Inicialmente, foram realizadas leituras analíticas com o objetivo de estruturar e sintetizar os dados contidos nas fontes de pesquisa para obter resposta à questão norteadora (12). Os resultados dos dados obtidos foram apresentados por meio de um quadro (Quadro 1), onde a discussão foi descritiva, com base nos artigos do trabalho deste estudo.

Ressalta-se ainda, que os artigos foram também analisados conforme o nível de evidência, baseado no estudo (13). Tais autores classificam a evidência científica em sete níveis. Sendo o Nível I caracterizado por produções científicas de revisão sistemática ou meta-análise de estudos clínicos randomizamos controlados; Nível II estudos com pelo menos um ensaio clínico controlado randomizado; Nível III ensaios clínicos sem randomização; Nível IV estudos de coorte e de caso-controle; Nível V estudos de revisão sistemática, descritivo ou qualitativo; Nível VI estudo descritivo ou qualitativo; VII baseados em opiniões de autoridades.

A partir das buscas realizadas nas bases de dados, 156 artigos foram encontrados. Do total, 54 encontrados na MEDLINE via portal PUBMED, 26 artigos na MEDLINE via BVS, 50 na LILACS, 2 na BDENF e 24 na SciELO.  Desses, foram excluídos 12 artigos duplicados, selecionando os demais para a leitura do título e resumo, excluindo-se após a etapa de triagem, por não se enquadrarem nos critérios do estudo. A etapa de elegibilidade resultou em 31 artigos, após isto, incluíram-se 14 artigos no estudo, conforme o Fluxograma da Figura 1.

RESULTADOS

Destaca-se que para seleção das publicações, seguiram-se as recomendações do Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses - PRISMA(14), conforme apresentado na Figura 1, a seguir.


 

 
Figura 1 – Fluxograma de seleção dos estudos primários, elaborado a partir da recomendação PRISMA*. Teresina, PI, Brasil, 2022.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Sendo assim, neste estudo foram selecionados 14 artigos, dos quais em relação à autoria, um estudo foi escrito por dois autores e os outros nove foram realizados por quatro ou mais autores. Os manuscritos foram publicados entre 01/2020 a 08/2022, destacando-se o ano de 2021, com sete publicações. Em seguida, sobressaiu o ano de 2022 com seis estudos, e o ano de 2020 com apenas uma produção científica. No que diz respeito a base de dados, doze estudos foram identificados na MEDLINE via BVS, e dois na MEDLINE via PUBMED, conforme apresentado no Quadro 3, adiante.

Os estudos tiveram uma prevalência quanto aos estudos observacionais transversais, totalizando doze dos quatorze artigos selecionados, além de um estudo de coorte prospectivo no ano de 2021 e um ensaio clínico controlado randomizado no ano de 2020


 

Quadro 1 - Síntese dos estudos incluídos na revisão, segundo autores, ano de publicação, título, base de dados, tipo de estudo, país, nível de evidências e principais resultados. Teresina, PI, Brasil, 2022.

Autor(es)/Ano

Título do estudo

Base de dados

Tipo de estudo

Nível de evidência

Principais resultados

1

Balson L, Baharani J, 2021

Peritoneal dialysis patients - the forgotten group in the coronavirus pandemic

 

MEDLINE via BVS

Estudo qualitativo

VI

Foram analisadas dificuldades dos pacientes, principalmente, aqueles que faziam uso de dialise peritoneal quando doentes, tiveram dificuldade em acesso à assistência médica

2

Voorend CGN, Oevelen M, Nieberg M, Meuleman Y, Franssen CFM, Joosten H, Berkhout-Byrne NC et al, 2021

Impact of the COVID-19 pandemic on symptoms of anxiety and depression and health-related quality of life in older patients with chronic kidney disease.

 

MEDLINE via BVS

Estudo de coorte prospectivo multicêntrico

IV

O estudo mostrou um aumento na presença de sintomas depressivos e um declínio modesto na qualidade de vida relacionada à saúde (QVRS) física, durante a pandemia de COVID-19 em comparação com antes. A QVRS mental e os sintomas emocionais não mudaram significativamente ao longo do tempo.

3

Chen Y, Li M, Zhou L, Chen C, Li N, Meng J et al, 2022

Association among sleep, depression, and health-related quality of life in patients with non-dialisys chronic kidney disease during the coronavirus disease 2019 pandemic

MEDLINE via BVS

Estudo observacional transversal

VI

O presente estudo sugeriu a alta incidência de distúrbios do sono em pacientes com DRC não dialítica durante a pandemia de COVID-19, bem como as associações estreitas entre sono, depressão e QVRS.

4

Sousa H, Ribeiro O, Costa E, Frontini R, Paúl C, Amado L et al, 2021

 

Being on hemodialysis during the COVID-19 outbreak: A mixed-methods' study exploring the impacts on dialysis adequacy, analytical data, and patients' experiences.

 

MEDLINE via BVS

 

Estudo qualitativo e quantitativo

 

VI

 

Os resultados da análise temática sugeriram vários impactos negativos psicossociais sobre doenças e comportamentos de saúde relacionados ao tratamento (por exemplo, dificuldades em gerenciar restrições alimentares durante o isolamento e diminuição da atividade física), o que pode explicar parcialmente esses resultados quantitativos.

 

5

Al Naamani Z, Gormley K, Noble H, Santin H, Al maqbali M, 2021

Fatigue, anxiety, depression and sleep quality in patients undergoing haemodialysis

 

MEDLINE via BVS

Estudo observacional transversal

VI

A prevalência de fadiga, ansiedade, depressão e sono ruim foram significativas nos pacientes conforme os resultados do estudo. Além disso, pacientes do sexo feminino tiveram uma proporção maior de fadiga, depressão, ansiedade e sono ruim comparado ao sexo masculino. Ademais, pacientes desempregados relataram sono ruim mais vezes comparado aos demais.

6

Beaini C, Aoun M, El Hajj C, Sleilaty G, Haber N, Maalouf G et al, 2021

The impact of the SARS-CoV-2 pandemic on the mental health of hemodialysis patients in Lebanon

MEDLINE via PUBMED

Estudo observacional transversal

VI

Foi observado conforme o estudo durante o período pandêmico, maior preocupação com a saúde, além de se sentirem com raiva, tristes e deprimidos, sentiram também fadiga, insônia, anorexia e dificuldade para trabalhar. Além disso, pacientes da zona rural mostraram-se mais ansiosos comparados aos da zona urbana.

7

Chen Y, Wu Y, Hu P, Fu X, Liu S, Song L et al, 2022

Psychological impact and implementation of preventive measures in hemodialysis centers during the COVID-19 pandemic: a provincial questionnaire survey in China

MEDLINE VIA BVS

Estudo obseracional transversal

VI

O COVID-19 não teve um impacto significativo no estado psicológico da maioria dos pacientes e dos profissionais, devido à implementação de medidas preventivas abrangentes.

8

Hao W, Tang Q, Huang X, Ao L, Wang L, Xie D 2021

Analysis of the prevalence and influencing factors of depression and anxiety among maintenance dialysis patients during the COVID-19 pandemic.

 

MEDLINE via BVS

Estudo observacional transversal

VI

Foi evidenciado pelo estudo que o tempo de diálise, acesso vascular, convênio médico, renda mensal e complicações foram fatores primordiais para aumento de ansiedade e depressão, principalmente, naqueles que tinham renda mensal inferior 5.000.

9

Yu JY, Kim JS, Hong CM, Lee KY, Cho NJ, Park S et al, 2021

Psychological distress of patients with end-stage kidney disease undergoing dialysis during the 2019 coronavirus disease pandemic: A cross-sectional study in a University Hospital.

 

MEDLINE via BVS

Estudo observacional transversal

VI

O estudo mostrou sofrimento psicológico incluído significativo em pacientes que faziam uso de hemodiálise, demonstrando que estresse, ansiedade, depressão e insônia foram maiores em pacientes que fazem uso de hemodiálise do que os de dialise peritoneal.

Houve depressão leve e moderada entre os pacientes de hemodiálise e dialise peritoneal.

10

Xia X, Wu Z, Zhou X, Zang Z, Pu L, Li Z, 2021

Comparison of Psychological Distress and Demand Induced by COVID-19 during the Lockdown Period in Patients Undergoing Peritoneal Dialysis and Hemodialysis: A Cross-Section Study in a Tertiary Hospital.

 

MEDLINE via BVS

Estudo observacional transversal

VI

Os pacientes não relataram mudanças muito óbvias durante a pandemia correlacionadas à sua doença. Foi observado que os pacientes que faziam uso do tratamento de hemodiálise tiveram maior apoio da equipe médica por estarem mais tempo na unidade em comparação com os de diálise peritoneal. No entanto, os pacientes em diálise estavam sempre mais propensos a querer apoio psicológico.

 

11

Sharma R, Jafra BS, Tiewsoh K, Kumar K, Kaur N, Sharawat IK et al, 2022

Distress, anxiety, and its correlates among caregivers of children with kidney diseases during COVID-19 pandemic lockdown

MEDLINE via PUBMED

Estudo observacional transversal

VI

Os pacientes apresentaram angústia máxima quanto à ameaça a vida, sensação de desamparo, sem experiências positivas durante a covid-19. Além disso, houve sofrimento significativo quanto à insônia e problemas para iniciar o sono e incidência de estresse, ansiedade, depressão leve, moderada e grave.

12

Lee J, Steel J, Roumeliot ME, Erickson S, Myaskkovsky L, Yabes JG et al, 2020

Psychosocial Impact of COVID-19 Pandemic on Patients with End-Stage Kidney Disease on Hemodialysis.

 

MEDLINE via BVS

Ensaio clinico controlado randomizado

II

Foi observado em nível moderado a preocupação por parte dos pacientes em ser infectado pelo vírus ou seus familiares e nível grave de preocupação com a saúde física, que poderia ser afetada pela doença. Houve ainda preocupações significativas com relação a insegurança habitacional. Ademais, correu relato em nível moderado dos pacientes se sentirem ansiosos, distraídos e incapazes de se concentrar.

13

Bonenkamp AA, Druiventak TA, Slujis AE, Ittersum FJ, Jaarsveld BC, Abrahams AC et al, 2022

The Impact of COVID-19 on the mental health of dialysis patients.

 

MEDLINE via BVS

Estudo observacional transversal

VI

Os pacientes relataram ansiedade, tristeza, dificuldade em adormecer e insônia. No entanto, não houve parâmetros significativos de diferença com relação aos sintomas comparação com antes do covid-19 e durante o covid-19. Ademais, pacientes relataram necessitar de mais ajuda dos cuidadores informais no período pandêmico.

14

Davis MJ, Alqarni KA, McGrath-Chong ME, Bargman JM, Chan CT, 2022

Anxiety and psychosocial impact during coronavirus disease 2019 in home dialysis patients.

 

MEDLINE via BVS

Estudo observacional transversal

VI

Entre os dados obtidos no estudo, foram observados pontos positivos ou neutros, no qual os níveis de ansiedade e depressão foram experimentados “alguns dias” ou “nunca” pelos pacientes. Não houve preocupações significativas com a covid-19 e nem índice de dificuldades para dormir significativas.

Fonte: Os autores, 2022.

 


DISCUSSÃO

De acordo com as informações do estudo (15), os pacientes que possuem DRC são classificados como um grupo de alta vulnerabilidade e risco, portanto devem receber mais atenção da equipe multiprofissional, responsável também por fornecer orientações adequadas para que esses pacientes consigam se proteger da COVID-19 e das demais consequências da doença da maneira mais efetiva possível. 

Diante dessa perspectiva do cuidado multiprofissional aos pacientes com DRC, é importante ressaltar que no período correspondente à pandemia, a proporção referente aos adoecimentos mentais, com destaque para a ansiedade, teve um aumento significativo nesses pacientes, assim como destaca o estudo (16), em que se constatou dentre as doenças de caráter psicológico, que a ansiedade foi a mais relatada pelos pacientes no contexto pandêmico. Além desse crescimento, a ansiedade também se relaciona com outros aspectos que comprometem a qualidade de vida, a exemplo das restrições das interações sociais, que deixam os pacientes mais “deprimidos”.

O estudo proposto (17), reforça ainda mais a hipótese estabelecida na pesquisa citada no parágrafo anterior, visto que através dos seus dados foi possível constatar que no início da pandemia de COVID-19, houve uma elevada prevalência de alterações referentes ao sono em pacientes com DRC não dialítica, bem como as demais modificações advindas das combinações entre má qualidade do sono, depressão e QVRS (Qualidade de vida relacionada a saúde).

Conforme o estudo analisado (18) durante o período de pandemia da COVID-19 foi possível verificar a existência da necessidade de voltar a atenção aos cuidados psicológicos, visto que se constatou o prejuízo causado pelo afastamento social, em destaque para os dentre os próprios familiares do paciente, em razão do receio de contaminá-los, o que ocasionou ainda maior isolamento social e também emocional a esses pacientes. O estudo relata que muitos pacientes pararam de praticar atividades físicas, desequilibraram a alimentação e apresentaram medos excessivos, bem como a ansiedade, o que foi responsável pela somatização na mente deixando-os sempre alerta sobre não se contaminar com a doença.

Nesse contexto, os escritos do estudo (19) corroboram com o que foi exposto anteriormente, visto que este estudo apresenta dados relacionados à prevalência de fadiga, depressão, ansiedade e sono irregular na maioria dos pacientes envolvidos na pesquisa. Além disso, foi relatado que os indivíduos que apresentam fadiga, tem maior propensão em desenvolver depressão e que o sono não regular, se apresenta como um fator capaz de desencadear ansiedade. Ademais, os achados do autor também destacam o predomínio do sexo feminino no que diz respeito aos maiores dados correspondentes à fadiga e depressão, quando comparadas aos homens. Sendo assim, fica evidente que as mulheres necessitam de maior atenção diante desses fatores que foram apresentados.

Nesse sentido, os dois estudos citados anteriormente se relacionam, visto que (20) também constatou altos índices referentes à ansiedade em mulheres, o que evidencia ainda mais a necessidade de voltar o cuidado para esse público em específico, visto que além das preocupações relacionadas ao próprio sofrimento com as doenças, ainda se ocupam de outras inúmeras tarefas ligadas à família e emprego, por exemplo.

De acordo com a pesquisa (21) poucos são os pacientes não afetados pela pandemia da COVID-19 no âmbito psicológico, alguns deles já apresentavam sofrimentos mesmo antes do início do aumento do contágio, que foram apenas se tornando mais intensos diante do alastramento do vírus. Desse modo, sentimentos negativos como a raiva e tristeza foram identificados com maior intensidade nesses pacientes após a pandemia e refletiram-se em transtornos psicossomáticos e de humor. Além disso, sintomas referentes ao transtorno de ansiedade, a exemplo da insônia e fadiga, também foram apresentados. Portanto, o estudo relatou que o transtorno de ansiedade está diretamente associado à má qualidade de vida dos pacientes com doença renal em estágio terminal, especificamente.

No estudo transversal (22)observou-se uma enorme demanda associada aos índices de ansiedade grave vinda de pacientes moradores da zona rural, cujo a maioria se declararam como agricultores e relataram ainda o grande medo em se contaminar com o vírus durante a realização da hemodiálise, o que por si só já demonstra e explica parte da pressão psicológica sofrida por esse grupo de pacientes.

No que tange a esse aspecto geográfico, o estudo (21)corrobora a ideia trazida pelo autor citado anteriormente, visto que a população urbana analisada apresentou significativamente mais estresse, porém constatou-se menos ansiedade nesse grupo, a isso os autores sugeriram que o fato de morar na cidade, ao redor de hospitais equipados para receber e tratar pacientes com COVID-19, pode diminuir o nível de ansiedade, o que explicaria também os achados do autor (19) a considerar a distância que os pacientes dos ambientes rurais precisam percorrer para acessar os centros de tratamento.

Ainda nesse estudo, foi possível verificar as aflições decorrentes de problemas financeiros, agravando mais a ansiedade dos portadores de DRC. Desse modo, a saber que grande parte dos pacientes com DRC utiliza de hemodiálise como um dos seus tratamentos, é válido mencionar que ainda existe uma sobrecarga maior para esse grupo do que aos pacientes que utilizam de diálise peritoneal como tratamento (21).

Portanto o estudo (22) elencou-se o acesso vascular, as questões financeiras, o seguro médico, bem como a duração da diálise como aspectos capazes de impulsionar, de maneira significativa a ansiedade nos pacientes e demonstra por meio de sua pesquisa que os pacientes com reduzidas condições socioeconômicas desenvolveram um grau de ansiedade maior quando comparado aos de maior poder econômico. Dessa forma, como já evidenciado pelo estudo (21) é de extrema relevância reconhecer o impacto ocasionado através da pandemia na economia mundial e consequentemente na vida dos indivíduos.

Ainda diante da evidência trazida através do estudo (21), a respeito da hemodiálise, a pesquisa (23) confirma que os pacientes que se encontram em tratamento por meio da hemodiálise, sofrem maiores danos relacionados à angústia psicológica, que são responsáveis por desencadear a ansiedade, estresse, depressão e problemas referentes ao sono, do que os pacientes que fazem o tratamento através da diálise peritoneal. Essa constatação ocorre devido à alta exposição dos pacientes ao vírus durante o procedimento. Diante disso, os pacientes que realizam a diálise peritoneal, tiveram um menor sofrimento psicológico, visto que a técnica é executada na própria residência, o que permite ao paciente estar em seu ambiente familiar e dessa forma, o mesmo pode se sentir em maior segurança do que realizar o procedimento em uma nefroclínica.

Em relação a esse cenário a pesquisa (25) constatou, em seu conhecimento prévio, a importância do apoio psicológico que uma equipe multiprofissional exerce no tratamento desses pacientes, visto que quem passa pelo tratamento em hemodiálise é mais predisposto a necessitar de diálogos de apoio, do que os pacientes em diálise peritoneal. Ademais, o mesmo estudo demonstrou a seriedade do acompanhamento psicológico, como uma opção indispensável para fornecer forças aos pacientes também no contexto da pandemia.

Diante desse contexto da necessidade de apoio multiprofissional, com destaque para o amparo psicológico, dados interessantes do estudo (26) verificaram também a existência de uma demanda acerca dos cuidadores dos pacientes com doenças renais durante a pandemia da COVID-19. Dessa forma, os achados apontaram que esse grupo teve experiência com mais estresse, humor deprimido, sentimentos de ameaça à vida e descontrole das próprias emoções. Além disso, problemáticas relacionadas à insônia, ansiedade, sentimentos de raiva, culpa e vergonha também estiveram presentes. Nesse sentido, a ajuda multiprofissional também seria útil para os cuidadores desses pacientes, visto que foi identificado uma sobrecarga psicológica nestes, diante do contexto pandêmico.

Em concordância com os dados apresentados anteriormente, o estudo (26) investigou que a grande maioria dos pacientes que participaram da pesquisa em questão e estavam em tratamento de hemodiálise, demonstravam enorme preocupação devido ao alto risco de infecção, pela proximidade dos contatos sociais exigidos para a realização do procedimento, bem como durante o translado para o local do tratamento. Apesar disso, quase nenhum dos pacientes participantes relatou a ausência de tratamentos por essas razões.

A informação de que emoções ruins são prejudiciais ao corpo humano é conhecida, isso porque os sentimentos são responsáveis pela emissão de substâncias prejudiciais ao organismo. Dessa maneira, a pesquisa (27) constatou que pacientes com DRC realmente se sentem mais tristes, preocupados e com dificuldades para dormir. Contudo, no seu estudo não houveram evidências de que a pandemia causou diferenças significativas quanto aos prejuízos relacionados à saúde mental. Apesar disso, não deve haver uma generalização do estudo, em virtude dos fatores que podem ser considerados para a equidade da obtenção dos resultados.

Em contradição aos estudos trazidos nesse tópico, a pesquisa (18) realizou uma análise e verificou os impactos positivos proporcionados pela pandemia. O autor traz na sua pesquisa, dados referentes ao crescimento pessoal, que permitiu aos pacientes desenvolver a valorização e apreço pelos momentos em família, o que fez com que uma nova perspectiva sobre a vida após a pandemia fosse construída. Além disso, pôde-se observar também, que alguns dos pacientes puderam lidar melhor com o isolamento, realizando tarefas em casa, como jogos, pintura, assistir TV, a busca pelo apoio religioso, bem como tomando as medidas preventivas tanto nas unidades de diálise, como em casa, para impedir a contaminação do vírus. 

Ainda em discordância aos demais estudos trazidos na discussão deste trabalho, os achados do estudo(28) não foi encontrado indicações consideráveis a respeito do impacto psicossocial negativo advindo da pandemia de COVID-19 aos pacientes em hemodiálise domiciliar ou diálise peritoneal. O próprio estudo traz o conforto da exposição ao vírus reduzida, manutenção do bem-estar por meio do apoio do núcleo familiar e o controle da autonomia como explicações para os resultados encontrados. Contudo, o próprio estudo também afirma que tais resultados não eram esperados, visto que nos demais estudos analisados pelo autor, houve a identificação do aumento de distúrbios relacionados à saúde mental para os pacientes em tratamento.

À vista da discussão acerca dos escritos das pesquisas abordadas, muitos são os impactos psicológicos encontrados em pacientes renais crônico advindos da pandemia da COVID-19. E diante disso, análises mais profundas a respeito da temática devem ser consideradas, para tratar das dissonâncias encontradas nos estudos, visto que ainda são muito recentes. Dessa maneira, a temática ainda precisa de mais abordagens para que a atuação multiprofissional diante desses pacientes possa ser realizada de maneira efetiva no enfrentamento do sofrimento psíquico causado pela pandemia.

 

CONCLUSÃO

Foi possível, nesta revisão integrativa, evidenciar a vulnerabilidade dos pacientes portadores de doença renal crônica, em virtude da pandemia COVID-19 e os inúmeros danos mentais devido às necessidades de tratamento da DRC, demonstrando o aumento e agravamento relevante de doenças mentais, como a ansiedade, que se delineou, principalmente, pelo afastamento social do paciente da família e o medo excessivo em contrair o vírus Sars-Cov-2 no momento do tratamento.

Além disso, vale ressaltar que pacientes que faziam tratamento de hemodiálise tiveram uma maior carga de ansiedade e depressão devido a necessidade de deslocamento do domicílio e se expor em clínicas, para o tratamento. Em contrapartida com os que realizavam diálise peritoneal no âmbito domiciliar, que se sentiam mais seguros e confortáveis. 

Destarte, entre as limitações encontradas no presente estudo, pode-se salientar a carência na literatura atual a respeito da temática abordada. Por esse motivo, é notório a necessidade da elaboração de futuras pesquisas para que haja um delineamento mais detalhado do tema e parâmetros científicos com maior embasamento teórico sobre a temática.

 

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Contribuição dos autores

 

Todos os autores participaram na coleta de Dados, Conceitualização, Gerenciamento do projeto, Investigação. Metodologia, Redação e preparo do original.