INTRODUÇÃO

O cenário acadêmico é formado pelo tripé entre o ensino, a pesquisa e a extensão, que, apesar de possuírem definições próprias, devem estar correlacionadas para o desenvolvimento de competências, e servirão de base para construção do profissional. A formação superior objetiva fomentar indivíduos preparados, capazes de modificar a si e o ambiente em que se encontram⁽¹⁾.

Ao ingressar no ensino superior, o discente passa por um processo transformador, novo e desafiador. Nesse sentido, acredita-se que as atividades extracurriculares, que fazem parte do currículo informal, podem auxiliar na permanência e no engajamento do estudante, contribuindo para aquisição de conhecimentos, aproximação com o mundo real de atuação e aperfeiçoamento de habilidades profissionais, sociais, culturais e políticas necessárias à sua atuação na sociedade⁽²⁾.

A atividade extracurricular, denominada também como complementar, está presente no ambiente acadêmico e abrange diferentes tipos de práticas que serão desenvolvidas pelos estudantes, com o intuito de enriquecer seu currículo e aprimorar seus conhecimentos⁽¹⁾. Trata-se, dentre outros, da participação estudantil em projetos de monitoria, iniciação científica, extensão, grupos de estudos e pesquisa, eventos científicos, congressos e estágios, podendo estes serem remunerados ou não⁽³⁾.

A monitoria, uma dessas atividades extracurriculares, constitui-se numa prática importante no ensino universitário, pois oferece a oportunidade de ampliar conhecimentos, através das experiências, como também proporcionará ao monitor uma preparação para uma futura carreira na área da docência⁽⁴⁾.

Define-se monitoria como sendo uma prática de apoio pedagógico em que um estudante auxiliará outros discentes no processo de ensino e aprendizado. É um instrumento de melhoria do ensino no período da graduação, em que o monitor atua como elo entre docente e discentes, com o intuito de amenizar possíveis dúvidas, uma vez que os estudantes se sentem mais confortáveis para perguntar ao monitor, estando este no mesmo nível acadêmico, tendo, assim, um melhor rendimento⁽⁵⁾.

A monitoria acadêmica foi implantada no Brasil na década de 1960 e encontra-se prevista na lei 9.394 de 20 de dezembro de 1996, que determina as diretrizes e bases da educação nacional e dispõe no Art. 84 que os discentes podem participar de atividades em ensino e pesquisa, desenvolver funções de monitores, conforme seu plano de estudos e rendimento escolar⁽⁶⁾.

A prática de monitoria é conduzida por um discente, que já concluiu a disciplina e que foi capacitado para isso, com o intuito de atuar de maneira ativa no processo de aprimoramento de saberes, contribuindo assim para um melhor aproveitamento dos discentes no curso. Esse exercício traz benefícios não só aos acadêmicos, como também ao próprio monitor e ao docente responsável, que receberá suporte durante seu trabalho⁽⁷⁾.

Considerando o exposto, este estudo tem como objetivo conhecer a percepção de discentes e docentes sobre a monitoria acadêmica na formação em Enfermagem. Assim, a relevância fundamenta-se em suscitar reflexões que permitem conhecer uma dada realidade e direcionam novos horizontes na busca de aprimoramento do processo de ensino-aprendizagem entre discente e monitor.

MÉTODOS

Trata-se de estudo descritivo com abordagem qualitativa, realizado em uma instituição de ensino superior pública localizada na cidade de Iguatu, Ceará. A escolha da referida universidade como lócus do estudo justifica-se pelo seu impacto social, científico e cultural na região do Centro Sul cearense, que, pelo seu caráter público, atende de forma igualitária estudantes vindos de diversas cidades e estados circunvizinhos. Esta escolha ancora-se, ainda, na existência de um programa institucional de monitoria, com seleção anual de monitores remunerados e voluntários para apoiarem o processo ensino-aprendizagem nos cursos de graduação ofertados.

Definiu-se como população do estudo monitores e docentes responsáveis pelas disciplinas que ofertam monitoria. Durante o período da coleta de dados, o curso de Enfermagem da instituição possuía 32 monitores vinculados a 14 disciplinas. No entanto, a amostra do estudo foi composta a partir dos critérios de inclusão e exclusão delimitados no estudo.

Para inclusão dos monitores, foram considerados acadêmicos regularmente matriculados entre o 2º e o 9º semestre da graduação, que estavam a participar ou que participaram dos projetos de monitoria vinculados às disciplinas do curso de graduação em Enfermagem por um período mínimo de seis meses e que estivessem disponíveis no período de coleta de dados. O recorte temporal de seis meses na participação da pesquisa se deu por compreender ser esse período suficiente para que os monitores tenham vivenciado e incorporado às suas práticas acadêmicas o planejamento e a implementação das atividades de monitoria. Como critérios de exclusão foram considerados acadêmicos que estivessem inaptos a participar por quaisquer motivos, como licença maternidade, atestado médico ou que estivessem afastados de suas atividades acadêmicas.

O convite para participação nesta pesquisa foi enviado à totalidade dos discentes que estavam alocados como monitores nas disciplinas do curso durante a coleta de dados, através da rede social Whatsapp®. Desses, oito recusaram a participação e sete demonstraram indisponibilidades em participar da coleta de dados, totalizando uma amostra final de 17 monitores participantes.

Quanto aos docentes, foram estabelecidos os critérios de inclusão ofertar disciplina com monitoria ativa por um período mínimo de seis meses e estar disponível no período de coleta de dados. Todos os nove docentes com disciplinas que ofertavam monitoria foram convidados a participar. Esse quantitativo se justifica pelo fato de alguns docentes ministrarem mais de uma disciplina na instituição. Embora algumas disciplinas sejam compartilhadas por dois ou mais docentes, apenas o coordenador desta assume a responsabilidade sobre o monitor. Houve recusa de três participantes, finalizando uma amostra de seis docentes.

Os dados foram coletados nos meses de dezembro de 2020 e janeiro de 2021, a partir de duas técnicas de coleta dos dados: a realização de um grupo focal com os discentes e a entrevista semiestruturada com os docentes, que em detrimento da pandemia ocasionada pela covid-19, aconteceram na modalidade virtual.

O grupo focal on-line possui o mesmo objetivo do grupo focal presencial, porém é realizado em ambiente virtual e não necessita da presença física dos integrantes para que haja comunicação e integração entre eles⁽⁸⁾.

Assim, o grupo focal ocorreu de modo síncrono, foi gravado mediante autorização dos participantes e teve duração de 90 minutos. A escolha pelo Google Meet^® para a realização da coleta de dados deu-se pelo fato de ser uma plataforma gratuita bastante utilizada atualmente, que permite realizar reuniões com um número maior de participantes, trocas de mensagens e gravação, característica que contribuiu para a transcrição das falas dos participantes⁽⁹⁾.

Para a condução do grupo focal, foi utilizado um roteiro semiestruturado com questões que indagavam sobre as concepções e práticas da monitoria acadêmica vivida pelos discentes, as estratégias utilizadas e a contribuição na formação, tais como: “O que você entende por monitoria acadêmica?”, “Você faz uso de metodologias ativas durante as aulas de monitoria? Quais?”, “Quais as principais contribuições que a monitoria acadêmica lhe proporcionou enquanto discente?”.

Com os docentes, a coleta dos dados ocorreu por meio de uma entrevista realizada também via Google Meet^®, que teve duração média de 15 minutos e foi norteada por um roteiro semiestruturado, contemplando questões sobre o processo de seleção, acompanhamento, integração das aulas, competências adquiridas pelos monitores e desafios enfrentados, como: “Houve um processo de seleção do aluno monitor? Se sim, como ela ocorreu?”, “Na sua disciplina é desenvolvida alguma estratégia para integração entre as aulas de monitoria com as suas? Se sim, quais estratégias são implementadas?”, “Quais as principais contribuições que a monitoria acadêmica lhe proporciona enquanto docente?”, “Quais os principais desafios enfrentados nesse processo?”.

Para a organização dos dados, utilizou-se a técnica de análise de conteúdo⁽¹⁰⁾, sequenciada em três fases. Na primeira fase, denominada de pré-análise, ocorreu uma aproximação com o material obtido, através da transcrição das falas e leitura dos dados. A segunda fase se deu através da organização das possíveis unidades que auxiliassem a interpretação, sumarizando os dados coletados a partir dos seus pontos de convergência e/ou divergências, e assim originando às categorias temáticas. Na terceira e última fase do processo, foi realizada a interpretação desses dados, que foram discutidos à luz da literatura pertinente.

A pesquisa foi desenvolvida em conformidade com as Resoluções nº 466/2012 e n° 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde (CNS)^(11,12), com projeto aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Regional do Cariri (URCA), sob protocolo de número 4.270.204. Os participantes foram identificados com código alfanumérico, utilizando as letras PF, de professor, para os docentes e D para os discentes, seguida do número de ordem das entrevistas. Ressalta-se que foi enviado aos participantes do estudo o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) antes de iniciar a coleta de dados, bem como ofertado acesso ao material transcrito para averiguação de conformidade.

RESULTADOS

Dentre os 17 monitores que participaram da pesquisa, a faixa etária variou de 20 a 25 anos, média de 22,23 anos (desvio padrão ± 1,13) sendo a maioria do sexo feminino (n=12, 70,58%) e vinculada ao 9° semestre do curso de graduação em Enfermagem (n=10, 58,82%).

No período que foi realizado o estudo, as disciplinas de Farmacologia, Anatomia Humana, Antropologia cultural, Fisiologia, Metodologia da pesquisa, Semiologia e Semiotécnica de Enfermagem, Exercício da Enfermagem, Parasitologia Humana, Patologia Geral, Saúde Coletiva I, Primeiros Socorros, Bioestatística, Saúde Mental, Imunologia, Práticas Integrativas e Complementares e Processo do Cuidar em Saúde do Adulto dispunham de monitores na instituição.

As disciplinas de Anatomia Humana (n=3, 17,64%) e Semiologia e Semiotécnica de Enfermagem (n=3, 17,64%) foram as mais escolhidas pelos monitores para exercer a monitoria. No que diz respeito ao semestre em que essas práticas de monitoria foram realizadas, prevaleceu o 1° semestre (n=7, 41,17%).

Dentre os seis docentes que participaram da pesquisa, a faixa etária variou de 27 a 35 anos, média de 30,5 anos (desvio padrão ± 7,91) e houve uma quantidade igualitária em relação ao sexo dos participantes. No que se refere ao semestre que lecionam, predominaram o 1°, 2°, 4° e 6° semestres. Em relação ao tempo que são responsáveis pela prática de monitoria, vinculada à sua disciplina, a maioria está há um período maior ou igual a 12 meses.

Monitoria acadêmica na perspectiva discente

Nesta categoria foram abordadas as percepções dos acadêmicos quanto às atividades desenvolvidas enquanto monitor, as estratégias utilizadas durante o processo de ensino e contribuições da monitoria acadêmica na formação em Enfermagem.

Acerca das atividades desenvolvidas pelo monitor, os participantes afirmaram que consistem em revisões dos conteúdos para os demais estudantes, o envio de frequências e relatórios ao final do mês que são solicitados pela universidade, além de reuniões com os docentes para acompanhamento da monitoria, expressas nas falas a seguir:

A questão das revisões, da gente chegar, marcar um dia com os alunos e parar para estudar aquele conteúdo. D11

...também a questão de relatórios, então a gente tem que ter aquela questão mensal tanto das frequências, como também a questão de relatórios, todo mês a gente tem que estar enviando os relatórios. D14

A gente tinha alguns momentos com o professor da disciplina, em que ele assistia às aulas como se fosse uma monitoria supervisionada e depois ele dava sugestões de como a gente poderia melhorar. D10

Quando indagados a respeito das principais estratégias utilizadas durante o processo de ensino, os participantes informaram que, na maioria das vezes, faziam uso de metodologias ativas, como a construção de mapas mentais, fluxogramas, quiz com perguntas relacionadas ao conteúdo e jogos que permitissem a aquisição de conhecimentos, como a integração dos estudantes.

Em relação às metodologias ativas, quando era em patologia a gente já utilizou as vezes, fazia as perguntas, tipo um jogo e levava alguma premiação, coisa simples só pra dar aquele incentivo e uma forma de revisar também, a gente fazia as vezes antes de provas. D9

Na disciplina de primeiros socorros eu utilizei muito metodologias ativas, praticamente quase todas as minhas monitorias eram utilizando metodologias ativas... uma delas seria quiz, interativo com todos os participantes da sala. D12

Em relação aos benefícios que a prática de monitoria traz para a formação em Enfermagem, os participantes responderam que dentre as principais contribuições no âmbito profissional, destacaram-se o incentivo à docência, aquisição de conhecimentos, desenvolvimento da comunicação, criatividade e postura.

Reforça tudo aquilo que já aprendeu e em relação a questão de afinidade com os alunos, a melhorar a postura diante dos colegas. Quem tem dificuldade, melhora em relação a essa questão da vergonha. D1

No sentido de preparação, principalmente para quem quer atuar na área da docência, prepara você para inúmeras situações da própria vida. D17

No meu caso, não sei as outras pessoas, mas ajuda muito na questão de planejamento, de organização, de questão de tempo, ajuda muito. D14

No que concerne ao âmbito pessoal, destacaram-se o desenvolvimento de relações interpessoais, interação e responsabilidade.

As principais contribuições foram no campo de relações interpessoais, você aprende muito mais a se relacionar com todo tipo de público e em relação a gerência desse público, em saber lidar com todas as pessoas de forma respeitosa, e atendendo às solicitações. D3

Os benefícios foram vários, no desenvolvimento da comunicação, na postura, na responsabilidade, na interação, a questão de lidar com diferentes pessoas, com personalidades diferentes, a diversidade mesmo que surgia, liderança, de se organizar, mas acho que o ponto principal foi a questão de interação, como também na comunicação, você saber se comunicar, repassar conhecimentos. D9

Monitoria acadêmica na perspectiva docente

Nesta categoria foram abordadas as percepções dos docentes quanto à integração da monitoria acadêmica, bem como as competências dos monitores identificadas pelo docente e desafios no desenvolvimento da monitoria.

Em relação ao processo de integração das aulas de monitoria com as disciplinas, os docentes afirmaram que ocorria através da participação do monitor em alguns momentos das aulas e da solicitação aos demais estudantes de resolução de exercícios e trabalhos com a ajuda do monitor.

[...] nesse momento prático, sempre que os monitores podem estar presentes, têm disponibilidade naquele horário, eles estão com a gente em laboratório e em seguida esse mesmo bloco prático ele é executado pelos monitores com um subgrupo de alunos. PF3

Nas minhas aulas até para estimular os alunos a participarem das monitorias, para não deixar os monitores sozinhos eu sempre deixava, por exemplo, na própria sala de aula, um exercício para que eles fossem responder apenas com os monitores. PF2

Dentre as principais competências dos monitores identificadas pelos docentes, sobressaíram-se o incentivo à docência, desenvolvimento da comunicação, liderança, criatividade, postura e resolução de problemas.

A capacidade criativa melhora muito dos alunos, a capacidade de interagir com outros alunos também melhora muito e também a capacidade de conseguir resolver os próprios problemas. PF2

Eu percebo que os meninos acabam tendo mais uma tendência a querer à docência, isso é muito bom, a gente fica muito feliz. PF1

Na questão de liderança porque eles acabam assumindo a frente do grupo e se responsabilizando por ele. Então reivindicam junto a essas pessoas as questões que são necessárias para a formação deles. PF3

No processo de monitoria recebe a responsabilidade de condução desses momentos e aí começa a desenvolver inclusive a eloquência, a postura e as questões relacionadas à responsabilidade e compromisso. Isso inclusive tem um impacto direto nas próprias perspectivas digamos assim que esses estudantes têm para a sua vida futura. PF6

No que diz respeito aos desafios enfrentados no processo de monitoria, segundo os docentes, a falta de adesão dos acadêmicos dos semestres finais da graduação à prática de monitoria, de recursos físicos e materiais e a não remuneração para todos os monitores foram os principais achados.

Eu acho que muitas vezes é a aceitação dos próprios estudantes. Os meninos do primeiro semestre eram ótimos, porque estão chegando, estão ansiosos, querem aula, então monitoria de anatomia era sempre muito movimentada. Mas assim, quando o tempo vai passando eu percebo uma certa resistência. PF1

A gente tem uma dificuldade em relação a recursos físicos como laboratório por que a gente só tem um pra dividir para todas as disciplinas [...] A questão de recursos materiais para a execução das práticas. Porque a gente não tem. A gente usa muito da imaginação para ilustrar o como ocorreria uma prática, então isso acaba limitando o potencial do aluno que está aprendendo, do monitor que está praticando e da gente que está tentando mediar esse processo de ensino-aprendizagem. PF3

Seria bom se a gente tivesse mais bolsas para monitoria. Eu acredito que é um ganho para o percurso e para a disciplina. PF3

DISCUSSÃO

A predominância do sexo feminino⁽¹³⁾ e da significativa participação dos discentes, especialmente dos formandos, em atividades extracurriculares como estágios, monitorias, bolsas de iniciação científica e/ou outras, corroboram com os achados desse estudo⁽³⁾.

No tocante às disciplinas, houve destaque para as dos semestres inicias. Essas ofertam um grande número de vagas por isso requerem dos discentes um reforço maior. Essas disciplinas são mais densas por aglutinarem componentes teóricos e práticos e, deste modo, causam dificuldade ao acadêmico em acompanhar o seu ritmo, estudando sozinho. As falas docentes corroboram com a ideia de que nos semestres iniciais do curso, as disciplinas são mais extensas, o que, muitas vezes, reivindicam o apoio do monitor.

Tal aspecto se deve ao fato de que no início do curso, principalmente, no primeiro semestre da graduação, o discente ainda está se adaptando à sua nova rotina. Por ser diversificado, o contexto acadêmico, requer do graduando mais protagonismo e autonomia no processo ensino-aprendizagem, e muitas vezes os alunos não estão preparados para essas exigências. Sendo assim, veem nas atividades de monitoria, uma oportunidade para reforçarem a aprendizagem, sanando dúvidas, desenvolvendo e aprimorando as habilidades essenciais para a prática de Enfermagem^(14,15).

Nesse sentido, vislumbra-se que a atuação do monitor contribui muito nesse processo de adaptação do acadêmico, em especial, nessas disciplinas responsáveis pelas habilidades técnicas de enfermagem, pois o discente terá a oportunidade de revisar os procedimentos com o monitor.

A monitoria acadêmica é uma ferramenta de apoio pedagógico que permite aos discentes monitorados a aquisição de conhecimentos, habilidades teórico-práticas e o esclarecimento de dúvidas⁽⁷⁾.

Para além da ação prática de ministrar o conteúdo, dando apoio pedagógico ao professor/disciplina, os monitores relataram outras demandas relacionadas ao envio de frequências das atividades, relatórios mensais exigidos pela instituição, bem como reuniões com os docentes para planejamento das atividades, conforme prerrogativas institucionais.

Conforme os autores ⁽¹⁶⁾, as atividades mais prevalentes, de acordo com uma pesquisa realizada com monitores, foram a organização de encontros para o estudo coletivo e a participação em reuniões para discussão e planejamento da monitoria⁽¹⁶⁾.

A monitoria acadêmica é vista como uma alternativa estimuladora de aprendizado, capaz de agregar conhecimentos e competências profissionais aos monitores. Durante esse processo de monitoria, torna-se necessário o acompanhamento do professor responsável, pois oportuniza melhores condições para o exercício da monitoria⁽¹⁷⁾. Além disso, é importante que o docente impulsione o monitor a utilizar metodologias ativas que permitam a reflexão e o pensamento crítico⁽¹⁸⁾.

É hodierna a incorporação de algumas estratégias ao ensino superior com o intuito de envolver o estudante no seu processo de ensino-aprendizagem de forma crítica/reflexiva. Verificou-se que as metodologias ativas foram as mais utilizadas, pois possuem um caráter dinâmico, autônomo e permite ao sujeito uma aproximação com a realidade, através de situações que necessitará de soluções⁽¹⁹⁾.

Os participantes relataram fazer o uso desse tipo de estratégia durante a monitoria, sendo a construção de mapas mentais, fluxogramas, quiz com perguntas relacionadas ao conteúdo e jogos que permitissem a aquisição de conhecimentos, as mais citadas. Essas metodologias foram escolhidas pelos discentes a partir de experiências exitosas enquanto aluno, pois a maioria dos docentes utilizam dessa prática de ensino para facilitar a formação e capacitação do estudante.

As metodologias ativas favorecem aos discentes o desenvolvimento de habilidades críticas e reflexivas, como o autoaprendizado e o desenvolvimento de competências necessárias para a atuação profissional⁽²⁰⁾.

A proposição de estratégias de ensino com o intuito de tornar os momentos de ensino-aprendizagem na monitoria mais dinâmicos, atraentes e efetivos, ao passo que temas complexos e de difícil apreensão são abordados, contribui para a formação por competências tal requerido pela formação de enfermeiros⁽²¹⁾.

Dentre as estratégias apontadas e reconhecido seu potencial, cabe destacar o uso de podcasts educativos no ensino em saúde, recurso usual comum na formação em Medicina, mas ainda pouco documentada em outras áreas da saúde⁽²²⁾. Esta estratégia consiste na utilização de um recurso de áudio disponível on-line que reúne informações distintas, como entrevistas, aulas, reflexões, entre outros. Trata-se de uma tecnologia educacional de fácil uso, prática e com possibilidade de repetibilidade quando comparada aos métodos didáticos tradicionais⁽²³⁾.

Nesse sentido, recomenda-se a utilização das metodologias ativas na monitoria, bem como o estímulo e capacitação por parte dos docentes de novas estratégias, fomentando a continuidade do ensino desenvolvido pelos monitores.

É válido afirmar que a monitoria acadêmica traz contribuições a todos os envolvidos no processo, sejam os monitores, discentes ou professores. Nessa perspectiva, os monitores relataram a aquisição de competências no âmbito pessoal e profissional. Quando indagados a respeito da aquisição de competências dos monitores, os docentes concordaram com os discentes, sendo o incentivo à docência e desenvolvimento da comunicação, as mais citadas por eles.

Estudo realizado em Mossoró – RN, aponta que a monitoria contribui no desenvolvimento de competências, principalmente relacionada à iniciação à docência. Outras habilidades foram mencionadas no estudo, como autonomia, disciplina, flexibilidade e trabalho em equipe⁽²⁴⁾.

É mister ressaltar que os docentes relataram ser beneficiados nesse processo da monitoria acadêmica. Os benefícios são a aproximação com os demais estudantes, através do intermédio do monitor, a divisão da carga de trabalho e a troca de experiências.

Reconhece-se que a aquisição de competências técnicas e outras habilidades nos discentes por meio da monitoria, como a qualidade de trabalhar em equipe, de produzir sob pressão, de ter senso crítico, coletivo e interdisciplinar e ser capaz de resolver problemas, auxilia na preparação desses para o mercado de trabalho⁽²⁰⁾.

Durante a monitoria, o discente desenvolve a comunicação, liderança, planejamento pessoal e profissional, responsabilidade, formação de vínculo e empatia, características que o tornam um profissional autônomo e crítico e colaboram para a prática profissional enquanto enfermeiro⁽²⁵⁾.

No entanto, o principal desafio identificado para uma melhor efetivação do programa, foi a falta de adesão dos discentes dos semestres finais da graduação, fazendo com que os monitores sentissem desanimados em continuar com as atividades. A maior parte das monitorias estão ofertadas na primeira metade do curso. Essa falta de adesão pode ter relação com a falta de oferta de monitoria em disciplinas que os estudantes concludentes considerem essenciais e/ou mais necessárias.

É imprescindível a participação dos alunos nas monitorias, afinal, o monitor disponibiliza seu tempo, para que o conteúdo visto em sala de aula possa ser revisado, a fim de sanar todas as dúvidas dos alunos, fazendo com que a turma possa ter um bom rendimento, e assim conseguir aprovação na disciplina⁽²⁶⁾.

Além do incentivo, é necessário que as instituições invistam em espaços para realização das aulas, com materiais para a visualização adequada dos procedimentos técnicos e que sejam acessíveis a todos os acadêmicos.

Outros fatores que interferem no desempenho da monitoria nas instituições de ensino superior são a inexistência de salas específicas para execução das aulas, falta de remuneração aos monitores voluntários, não valorização dos monitores e o desconhecimento de seu papel, visto que a maioria dos discentes solicitam o atendimento com o monitor apenas para saber possíveis questões que podem ser cobradas na avaliação⁽²⁷⁾.

As instituições de ensino devem incentivar a participação dos discentes nas aulas de monitoria, principalmente os professores das disciplinas que ofertam essa prática. Faz-se necessário a comunicação efetiva entre os envolvidos para um melhor rendimento na graduação, como também a valorização do monitor.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Desvela-se que a monitoria acadêmica contribui com o desenvolvimento de competências, como a comunicação, liderança, postura e o incentivo à docência, bem como a troca mútua de conhecimentos, resolução de problemas, desenvolvimento de relações interpessoais e aquisição de conhecimentos.

Por seu potencial de contribuição na formação de enfermagem, é relevante apoiar, expandir e fomentar a monitoria acadêmica como atividade extracurricular, exercendo melhores conexões entre a tríade monitor-discentes-docentes.

Considerando o caráter qualitativo deste estudo, seus resultados não são passíveis de generalizações, contudo, contribuirá para reflexões acerca da monitoria acadêmica no contexto de outras universidades e na formação em enfermagem. Como limitação do estudo aponta-se a realização do grupo focal online em que não foi possível observar a comunicação não verbal.

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Critérios de autoria (contribuições dos autores)

1. Contribuiu substancialmente na concepção e/ou no planejamento do estudo: Silva AKA, Xavier SPL

2. Na obtenção, na análise e/ou interpretação dos dados: Silva AKA, Xavier SPL

3. Assim como na redação e/ou revisão crítica e aprovação final da versão publicada: Silva AKA, Oliveira CJ, Gomes EB, Machado LDS, Lavor SF, Xavier SPL, Soares PCF, Alencar AMPG

Declaração de conflito de interesses

Nada a declarar.

Fomento e Agradecimento:

Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FUNCAP)

Palavras-chave: Monitoria Acadêmica; Processo Ensino-Aprendizagem; Enfermagem.

Nesta categoria foram abordadas as percepções dos acadêmicos quanto às atividades desenvolvidas enquanto monitor, as estratégias utilizadas durante o processo de ensino e contribuições da monitoria acadêmica na formação em Enfermagem.

Monitoria acadêmica na perspectiva docente

Nesta categoria foram abordadas as percepções dos docentes quanto à integração da monitoria acadêmica, bem como as competências dos monitores identificadas pelo docente e desafios no desenvolvimento da monitoria.

Em relação ao processo de integração das aulas de monitoria com as disciplinas, os docentes afirmaram que ocorria através da participação do monitor em alguns momentos das aulas e da solicitação aos demais estudantes de resolução de exercícios e trabalhos com a ajuda do monitor.

Por seu potencial de contribuição na formação de enfermagem, é relevante apoiar, expandir e fomentar a monitoria acadêmica como atividade extracurricular, exercendo melhores conexões entre a tríade monitor-discentes-docentes.