DETERMINANTES MATERNOS E DE RECÉM-NASCIDOS ASSOCIADOS AO ALEITAMENTO MATERNO EXCLUSIVO EM MATERNIDADES DO ESPIRITO SANTO
MATERNAL AND NEWBORN DETERMINANTS ASSOCIATED WITH EXCLUSIVE BREASTFEEDING IN MATERNITIES IN ESPIRITO SANTO
DETERMINANTES MATERNOS Y RECIÉN NACIDOS ASOCIADOS A LA LACTANCIA MATERNA EXCLUSIVA EN MATERNIDADES EN ESPÍRITO SANTO
1Ananda Larisse Bezerra da Silva
2Elizabete Regina Araújo Oliveira
3Wanessa Lacerda Poton
4Andreia Soprani dos Santos
5Susana Bubach
6Maria Helena Monteiro de Barros Miotto
1Universidade Federal do Espirito Santo, Vitória, Brasil. Orcid: https://orcid.org/0000-0003-0061-1103
2Universidade Federal do Espirito Santo, Vitória, Brasil. Orcid: https://orcid.org/0000-0002-6616-4273
3Universidade Vila Velha, Vila Velha, Brasil. Orcid: https://orcid.org/0000-0001-5849-0653
4Universidade Federal do Espirito Santo, Vitória, Brasil. Orcid: https://orcid.org/0000-0002-4377-6517
5Universidade Federal do Espirito Santo, São Mateus, Brasil. Orcid: https://orcid.org/0000-0002-7190-5275
6Universidade Federal do Espirito Santo, Vitória, Brasil. Orcid: https://orcid.org/0000-0002-3227-7608
Autor correspondente
Ananda Larisse Bezerra da Silva
Endereço: Av. França, 267, Macapá-AP, Brasil, CEP: 68.906-172. Contato: +55(96)98135-9784. E-mail: anandalarisse@hotmail.com
Submissão: 14-08-2023
Aprovado: 11-09-2023
RESUMO
Objetivo: Analisar os determinantes em saúde maternos e de recém-nascidos associados ao aleitamento materno exclusivo em três maternidades do Espirito Santo. Metódo: Estudo do tipo transversal, multicêntrico, com dados do estudo Projeto Viver. Amostra foi composta por 3.438 díades mãe-bebê. A relação entre o aleitamento materno exclusivo praticado nas maternidades, os dados relacionados à mãe, o recém-nascido e o pré-natal foi realizada por meio do teste qui-quadrado. Regressão logística foi utilizada para avaliar as variáveis que mais influenciam as mulheres na amamentação exclusiva. O nível de significância adotado foi de 5%. Resultados: O aleitamento materno exclusivo antes da alta hospitalar foi de 85,2%. O aleitamento materno na primeira hora de vida não foi praticado por 91,2% e 75,4% das mulheres não participaram de atividade educativa durante o pré-natal. À regressão logística, mulheres menores de 19 anos e bebês nascidos com peso normal e a termo apresentam maiores chances de praticar a amamentação exclusiva ainda na maternidade. Conclusões: O cumprimento das políticas públicas em prol da amamentação deve ser espelhado na necessidade de garantir o suporte econômico e social para que a amamentação exclusiva alcance as metas estabelecidas pela OMS.
Palavras-chave: Aleitamento Materno; Recém-Nascido; Determinantes Sociais da Saúde.
ABSTRACT
Objective: To analyze the determinants of maternal and newborn health associated with exclusive breastfeeding in three maternity hospitals in Espírito Santo. Method: Cross-sectional, multicenter study, with data from a larger study called Projeto Viver. The sample consisted of 3,438 mother-infant dyads. The relationship between exclusive breastfeeding practiced in maternity hospitals, data related to the mother, newborn and prenatal care was performed using the chi-square test. Logistic regression was used to assess the variables that most influence women in exclusive breastfeeding. The significance level adopted was 5%. Results: Exclusive breastfeeding before hospital discharge was 85.2%. Breastfeeding in the first hour of life was not practiced by 91.2% and 75.4% of women did not participate in educational activities during prenatal care. In logistic regression, women under 19 years of age and babies born with normal weight and at term are more likely to practice exclusive breastfeeding while still in the maternity ward. Conclusion: Compliance with public policies in favor of breastfeeding must be mirrored in the need to guarantee economic and social support for exclusive breastfeeding to reach the goals established by the WHO.
Keywords: Breast Feeding; Infant; Social Determinants of Health.
RESUMEN
Objetivo: Analizar los determinantes de la salud materna y neonatal asociados a la lactancia materna exclusiva en tres maternidades de Espírito Santo. Método: Estudio transversal, multicéntrico, con datos de un estudio mayor denominado Projeto Viver. La muestra estuvo compuesta por 3.438 díadas madre-hijo. La relación entre la lactancia materna exclusiva practicada en las maternidades, los datos relacionados a la madre, al recién nacido y al cuidado prenatal se realizó mediante la prueba de chi-cuadrado. Se utilizó regresión logística para evaluar las variables que más influyen en las mujeres en la lactancia materna exclusiva. El nivel de significación adoptado fue del 5%. Resultados: La lactancia materna exclusiva antes del alta hospitalaria fue del 85,2%. La lactancia materna en la primera hora de vida no fue practicada por el 91,2% y el 75,4% de las mujeres no participó de actividades educativas durante el prenatal. En la regresión logística, las mujeres menores de 19 años y los bebés nacidos con peso normal ya término tienen más probabilidades de practicar la lactancia materna exclusiva mientras aún están en la sala de maternidad. Conclusiones: El cumplimiento de las políticas públicas a favor de la lactancia materna debe reflejarse en la necesidad de garantizar apoyo económico y social a la lactancia materna exclusiva para alcanzar las metas establecidas por la OMS.
Palabras clave: Lactancia Materna; Recién Nacido; Los Determinantes Sociales de la Salud.
INTRODUÇÃO
As políticas em saúde concernentes à saúde materno infantil evidenciam o Aleitamento Materno Exclusivo (AME) como fundamental para saúde biopsicossocial da criança fortalecendo vínculo e repercutindo consequentemente na saúde da mulher. AME é o ato de amamentar exclusivamente com leite materno até os seis meses da criança, sem oferta de nenhum outro líquido ou alimento, e ainda que se apresente seus benefícios, vários são os determinantes que afetam a sua adesão1.
Os ganhos com o AME são claros, tanto para mães como para bebês, a citar o menor risco de câncer de mama e de ovário, diabetes mellitus tipo 2, além de prolongar a amenorreia lactacional. O impacto da amamentação exclusiva também, são importantes na diminuição do risco de mortalidade infantil2.
A fase neonatal é considerada um período delicado na vida do recém-nascido e das mães, no qual as mulheres estão mais suscetíveis às dificuldades na amamentação3. Estudo recente mostrou que diferentes fatores podem levar ao desmame precoce, como fatores psicológicos, dificuldades em amamentar, fissura mamilar, mastite, introdução precoce de leite industrializado, o uso de chupeta e mamadeira, entre outros3.
As taxas de AME no mundo são baixas e impactam na economia global com prejuízos a longo prazo a saúde da criança. A Organização Mundial em Saúde (OMS), no intuito de fortalecer e incentivar a AME estabelece iniciativas prioritárias para aumentar as taxas existentes em 50% para os próximos dois anos, até 2025, na tentativa de melhores indicadores na saúde materno-infantil4.
No cenário nacional, no Acre na Amazônia, um estudo aponta que o estado apresenta um risco de diminuição nas taxas de AME pelas puérperas, uma vez que a presença de 95% de AME na alta, pode se reduzir para até 16% em seis meses a adesão dessas mesmas mulheres5. Na Bahia um estudo com 381 crianças pós alta hospitalar, aponta fatores culturais como uso de chupeta e mamadeira como risco para AME6. Ainda que existentes, há necessidade de estudos que caracterizem os determinantes nas diversas regiões do país por sua dimensão e particularidades regionais.
Esses determinantes são multifatoriais e podem facilitar ou dificultar a decisão da mulher se amamenta ou não amamenta e/ou por quanto tempo essa amamentação perdurará, envolvendo macro aspectos como cultura e economia, ou individuais como a presença de rede de apoio, justificando assim a necessidade de se investigar os vários cenários e realidades que circundo a pratica do AME7.
Assim, o objetivo deste estudo foi analisar os determinantes em saúde maternos e dos recém-nascidos associados ao aleitamento materno exclusivo em três maternidades do Espirito Santo.
MÉTODOS
Estudo transversal, multicêntrico, que utilizou dados do “Projeto viver”, o qual teve início em 2018 na cidade de Vitória/Espirito Santo, região sudeste do Brasil8. A população envolve puérperas recrutadas em três maternidades da cidade no período de agosto de 2019 a março de 2020, a escolha do local de pesquisa ocorreu considerando alguns aspectos: apresentar maior número de partos, estar localizada em uma região que oferte serviços de saúde e possuir uma cobertura pelo Sistema Único de Saúde (SUS) maior que 80% e/ou ser 100% particular ou conveniada à saúde suplementar.
Como critério de inclusão: ser puérpera, sem especificação de idade, e exclusão, óbitos fetais e maternos, ou que apresentasse alguma dificuldade de comunicação que dificultasse a coleta. A amostra censitária consistiu em 3.438 duplas mãe-bebê.
Para coleta de dados foi elaborado um manual de orientação sobre o preenchimento dos instrumentos de coleta de dados e durante reuniões semanais, toda a equipe foi previamente treinada. Os hospitais foram visitados diariamente para atualização dos nascimentos. Os dados coletados na maternidade, foram realizados por meio de entrevistas, registros em prontuário materno e cartão de acompanhamento do pré-natal.
As variáveis independentes investigadas neste estudo foram:
Características sociodemográficas e maternas: faixa etária, situação conjugal, raça, escolaridade, trabalho materno, renda familiar, condição socioeconômica segundo os critérios sugeridos pela Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP), que se refere à um critério de classificação referente ao poder aquisitivo das famílias e a quantidade de moradores no domicilio.
Características pré e pós-natal: realização de 6 ou mais consulta de pré-natal, tipo de financiamento do serviço de saúde, número de gestações, número de partos, participação em atividade educativa, orientação sobre amamentação na maternidade e experiência prévia de amamentação.
Características do recém-nascido: sexo do bebê, peso ao nascer, idade gestacional, contato pele a pele na sala de parto, acompanhante durante internação e tipo de financiamento do serviço do local de parto.
Características da prática do aleitamento materno: aleitamento materno na primeira hora de vida, aleitamento materno exclusivo e alimentação complementar.
Para a variável AME antes da alta hospitalar, considerou-se o conceito da OMS1, quando o recém-nascido recebe somente leite, direto da mama ou ordenhado, ou leite humano de outra fonte, sem introdução de outros líquidos ou sólidos.
Foi realizada análise descritiva, por meio de tabelas de frequência com número e percentual. A relação entre amamentação exclusiva, dados relacionados à mãe, recém-nascido e pré-natal foi realizada por meio do teste qui-quadrado. Regressão logística foi útil para avaliar as variáveis que mais influenciam as mulheres na amamentação exclusiva. O nível de significância adotado foi de 5%.
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade de Vila Velha (CAAE 02503018.0.0000.5064) e pelos Comitês de Ética em Pesquisa com Seres Humanos das maternidades envolvidas (CAAE 02503018.0.3001.5065 e 02503018.0.3002.5061).
RESULTADOS
Este estudo foi constituído por uma amostra de 3.438 duplas mãe-bebê antes da alta hospitalar. Das características maternas, 70,1% estavam na faixa etária de 20 a 34 anos, vivendo com o companheiro (81,6%), pertencentes a condição socioeconômica B (37,1%) e C (39,8%) conforme a classificação ABEP (Tabela 1).
Tabela 1. Características sociodemográficas maternas, Vitória, ES, 2023
Característica |
Número |
Percentual |
Faixa etária |
|
|
Até 19 anos |
428 |
12,4 |
20 a 34 anos |
2410 |
70,1 |
35 anos ou mais |
600 |
17,5 |
Situação conjugal |
|
|
Vive com companheiro |
2806 |
81,6 |
Não vive com companheiro |
423 |
12,3 |
Não declarado |
209 |
6,1 |
Raça/cor |
|
|
Branca |
926 |
26,9 |
Parda |
1692 |
49,3 |
Preta |
645 |
18,8 |
Amarela |
29 |
0,8 |
Indígena |
4 |
0,1 |
Não declarado |
142 |
4,1 |
Anos de estudo |
|
|
Até 4 anos |
33 |
1,0 |
5 – 8 anos |
377 |
11,0 |
9 – 11 anos |
795 |
23,1 |
12 anos ou mais |
1824 |
53,1 |
Não declarado |
409 |
11,8 |
Trabalha |
|
|
Sim |
1780 |
51,8 |
Não |
1627 |
47,3 |
Não declarado |
31 |
0,9 |
Renda familiar |
|
|
Até 1 Salário mínimo |
797 |
23,2 |
Entre 1 e 2 Salário mínimo |
843 |
24,5 |
Entre 2 – 3 Salários mínimo |
595 |
17,3 |
Entre 3 – 4 Salários mínimo |
239 |
7,0 |
Entre 4 – 5 Salários mínimo |
271 |
7,9 |
Mais 5 Salários mínimo |
345 |
10,0 |
Não declarado |
348 |
10,1 |
Condição Socioeconômica |
|
|
Classe A |
531 |
15,4 |
Classe B |
1277 |
37,1 |
Classe C |
1367 |
39,8 |
Classe D |
212 |
6,2 |
Classe E |
9 |
0,3 |
Não declarado |
42 |
1,2 |
Pessoas morando no domicílio |
|
|
0 a 3 |
1437 |
41,8 |
4 a 6 |
1781 |
51,8 |
7 ou mais |
128 |
3,7 |
Não declarado |
92 |
2,7 |
Total |
3438 |
100,0 |
Fonte: Dados do estudo,2023.
Aos hábitos maternos, em relação à variável “familiar que mora com você fuma” 82,1% (2,822) responderam que não, “fumou durante a gestação” 93,7% (3,222) declaram que não. Quanto ao “uso de bebida alcoólica durante a gestação”, 89,9% (3,058) não fizeram uso, assim como em relação a “usou drogas ilícitas durante a gestação”, em sua maioria não consumiram 94,6% (3,251), e quanto a se “sofreu violência durante gestação” 97,5% (3,351) informou que não.
Quanto as características dos recém-nascidos, 52% nasceram do sexo feminino, com peso normal (95,5%), a termo (92,0%), contato pele a pele com as mães após o nascimento ainda na sala de parto (55,6%) (Tabela 2).
Tabela 2 - Características relacionadas aos recém-nascidos, Vitória, ES, 2023
Característica |
Número |
Percentual |
Sexo |
|
|
Masculino |
1649 |
48,0 |
Feminino |
1789 |
52,0 |
Peso ao nascer |
|
|
Normal |
3283 |
95,5 |
Baixo peso |
155 |
4,5 |
Idade gestacional |
|
|
Prematuro |
140 |
4,2 |
A termo |
3194 |
92,9 |
Pós Termo |
12 |
0,3 |
Não declarado |
92 |
2,6 |
Contato pele a pele na sala de parto |
|
|
Sim |
1913 |
55,6 |
Não |
1316 |
38,3 |
Não declarado |
209 |
6,1 |
Durante internação mãe ou familiar ficou 24h com bebê |
|
|
Sim |
2260 |
65,7 |
Não |
86 |
2,5 |
Não declarado |
1092 |
31,8 |
Tipo de serviço no acompanhamento do bebê |
|
|
Particular/Plano |
1259 |
36,7 |
Sistema Único de Saúde |
2112 |
61,4 |
Não declarado |
67 |
1,9 |
Fonte: Dados do estudo,2023.
As variáveis relacionadas a assistência pré e pós-natal (Tabela 3), 87,7% realizaram de seis ou mais consultas pré-natal e mais da metade não participou de atividade educativa (75,4%).
Tabela 3 - Características relacionadas à assistência pré e pós-natal, Vitória, ES, 2023
Características |
Número |
Percentual |
Realização de pré-natal com 6 consultas |
|
|
Sim |
3015 |
87,7 |
Não |
423 |
12,3 |
Serviço utilizado |
|
|
Particular/Plano |
1345 |
39,1 |
Sistema Único de Saúde |
2050 |
59,6 |
Não declarado |
43 |
1,3 |
Número de gestações |
|
|
Nenhuma |
1159 |
33,7 |
Uma |
1113 |
32,4 |
Duas a quatro |
664 |
19,3 |
Cinco ou mais |
52 |
1,2 |
Não declarado |
460 |
13,4 |
Número de partos |
|
|
Nenhum |
1161 |
33,8 |
Um |
1112 |
32,3 |
Dois a quatro |
663 |
19,3 |
Cinco ou mais |
42 |
1,2 |
Não declarado |
460 |
13,4 |
Participou de atividade educativa |
|
|
Sim |
783 |
22,8 |
Não |
2593 |
75,4 |
Não declarado |
62 |
1,8 |
Recebeu orientação sobre amamentação na maternidade |
|
|
Sim |
2998 |
87,2 |
Não |
389 |
11,3 |
Não declarado |
51 |
1,5 |
Experiência de amamentação anterior |
|
|
Sim |
1612 |
46,9 |
Não |
1173 |
34,1 |
Não declarado |
653 |
19,0 |
Fonte: Dados do estudo,2023.
Em relação às características relacionadas ao AME, a taxa ainda na maternidade foi de 85,2%. Sobre o aleitamento materno na 1º hora de vida, este foi realizado por 8,8% (229) das mães e não realizado em 91,2% (2,366) e tem-se um n=844 de não declarados. Quanto aos bebês que tiveram que realizar alimentação complementar, a maioria foi por uso de fórmula industrializada 45,5% (178), seguido por leite humano mais fórmula industrializada 43,2% (169) e 11,3% (44) com leite humano, tendo um n=81 não declarado.
A análise de regressão logística simples foi usada para determinar a prática do AME e as variáveis maternas, identificando oito variáveis com p < 0,25. Essas variáveis foram incluídas na análise de regressão logística múltipla, onde a variável faixa etária apresentou significância estatística, evidenciando que mulheres com até 19 anos (OR ajustado=1,683; IC95%: 1,08-2,62) apresentam maiores chances de praticar o AME na maternidade, quando comparadas com mulheres de 20 anos ou mais (Tabela 4).
Tabela 4 - Regressão logística entre aleitamento materno exclusivo na maternidade e dados maternos
Características |
Sem AME |
Com AME |
p |
OR |
OR ajustado |
||
N |
% |
N |
% |
||||
Faixa etária |
|||||||
Até 19 anos |
50 |
12,8 |
340 |
87,2 |
0,021 |
1,209 |
1,683 1,082 – 2,620 |
20 anos ou mais |
422 |
15,1 |
2373 |
84,9 |
|||
Situação conjugal |
|||||||
Com companheiro |
376 |
14,4 |
2232 |
85,6 |
0,749 |
1,139 |
1,061 0,739 – 1,523 |
Sem companheiro |
62 |
16,1 |
323 |
83,9 |
|||
Raça |
|||||||
Branca |
113 |
13,3 |
739 |
86,7 |
0,401 |
1,200 |
1,127 0,853 – 1,489 |
Não branca |
341 |
15,5 |
1858 |
84,5 |
|||
Anos de estudo |
|||||||
Até 11 anos |
173 |
15,3 |
956 |
84,7 |
0,496 |
1,117 |
1,097 0,840 – 1,433 |
12 anos ou mais |
233 |
13,9 |
1439 |
86,1 |
|||
Trabalha |
|||||||
Sim |
227 |
13,8 |
1413 |
86,2 |
0,330 |
2,789 |
1,141 0,875 – 1,489 |
Não |
243 |
16,0 |
1280 |
84,0 |
|||
Renda familiar |
|||||||
Até 2 SM |
259 |
16,8 |
1281 |
83,2 |
0,246 |
1,300 |
1,197 0,884 – 1,622 |
Mais 2 SM |
180 |
13,5 |
1157 |
86,5 |
|||
Condição Socioeconômica |
|||||||
AB |
229 |
13,8 |
1435 |
86,2 |
0,288 |
1,211 |
1,167 0,878 – 1,550 |
CDE |
241 |
16,2 |
1247 |
83,8 |
|||
Uso de drogas |
|||||||
Sim |
81 |
17,0 |
395 |
83,0 |
0,510 |
1,215 |
1,117 0,803 – 1,553 |
Não |
391 |
14,4 |
2318 |
85,6 |
AME – Aleitamento Materno Exclusivo; p – p valor; OR - odds ratio; SM – Salários Mínimos.
Fonte: Dados do estudo, 2023.
A Tabela 5 revela que os recém-nascidos com peso normal tem 3,492 mais chances de praticar o AME na maternidade dos que os recém-nascidos de baixo peso (OR ajustado=3,492; IC 95%: 2,228–5,472) e os recém-nascidos à termo apresentam 2,391 mais chances de AME dos que os prematuros (OR ajustado=2,391; IC 95%: 1,502–3,805).
Tabela 5 - Regressão logística entre aleitamento materno exclusivo na maternidade e dados relacionados ao recém-nascido e assistência pré-natal das mães participantes da pesquisa
Características |
Sem AME |
Com AME |
p-valor |
OR |
OR ajustado |
||
N |
% |
N |
% |
||||
Sexo RN |
|||||||
Feminino |
224 |
14,7 |
1300 |
85,3 |
0,338 |
1,019 |
1,119 0,889 – 1,408 |
Masculino |
248 |
14,9 |
1413 |
85,1 |
|||
Peso RN |
|
|
|
|
|
|
|
Baixo peso |
53 |
38,4 |
85 |
61,6 |
0,000 |
3,911 |
3,492 2,228 – 5,472 |
Peso normal |
419 |
13,8 |
2628 |
86,2 |
|||
Idade gestacional |
|
|
|
|
|
|
|
Prematuro |
44 |
33,8 |
86 |
66,2 |
0,000 |
3,185 |
2,391 1,502 – 3,805 |
À termo |
413 |
13,8 |
2570 |
86,2 |
|||
Primípara |
|
|
|
|
|
|
|
Sim |
158 |
14,9 |
904 |
85,1 |
0,600 |
1,036 |
1,734 0,221 – 13,59 |
Não |
246 |
14,4 |
1459 |
85,6 |
|||
Atividade educativa |
|||||||
Sim |
97 |
13,6 |
618 |
86,4 |
0,113 |
1,153 |
1,264 0,946 – 1,690 |
Não |
371 |
15,3 |
2050 |
84,7 |
|||
Orientação AME |
|||||||
Sim |
410 |
14,7 |
2379 |
85,3 |
0,565 |
1,053 |
1,106 0,784 – 1,560 |
Não |
55 |
15,4 |
303 |
84,6 |
|||
Experiência anterior de AME |
|||||||
Sim |
216 |
14,2 |
1300 |
85,8 |
0,628 |
1,046 |
1,662 0,213 – 12,99 |
Não |
159 |
14,8 |
915 |
85,2 |
AME – Aleitamento Materno Exclusivo; OR - odds ratio; RN – Recém-Nascido.
Fonte: Dados do estudo, 2023.
DISCUSSÃO
A prática de AME na maternidade foi predominante na amostra (85,2%), uma tendência ascendente da amamentação exclusiva no Brasil, como aponta o Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil- ENANI9. A melhora nas taxas de AME resultam na intensificação das políticas públicas em prol da amamentação, com ênfase para o Brasil, principalmente através da Política Nacional de Promoção, Proteção e Apoio ao Aleitamento Materno10. Além do crescente número de bancos de leite humano (BLH) nas maternidades públicas brasileiras, com 228 BLH, 93 bancos estão localizados na região sudeste11. Nestes locais, tal qual presente no estado do Espirito Santo, além do objetivo de doação e coleta de leite humano, as mães também recebem orientações e assistência profissional qualificada no manejo adequado da amamentação10.
Os principais determinantes que compuseram este estudo, refletem que a maioria das mães pesquisadas vivem com companheiro, dado este consoante com o encontrado na literatura5,12,13. Ser casada ou ter o apoio matrimonial aumenta as chances de iniciar e manter o AME por mais tempo12. A presença do companheiro, muitas vezes é a única forma de rede de apoio de muitas mulheres, sendo este responsável por incentivar e apoiar a mulher à prática de amamentar13.
Em relação a raça/cor, quase metade se autodeclararam pardas, e ainda que predomine o AME para essas mulheres, neste estudo não foi associado estatisticamente as duas variáveis, outrossim, a literatura também se mostra inconclusiva na investigação dessa causalidade. Há estudo que identifica mães de cor parda com chances de praticar a amamentação exclusiva5, como também de não praticar14, assim é identificado uma lacuna importante que embasa a necessidade de estudos mais robustos, para subsidiar uma discussão concisa da temática, compreendendo como ela se relaciona no contexto do AME.
Metade das mães do estudo apresentam maiores níveis de escolaridade, semelhante ao encontrado em outro estudo14. Mulheres com maiores níveis de instrução, podem além de receber as orientações pertinentes ao pré-natal, procurar mais fontes sobre a temática, além de também apresentarem melhores índices de assiduidade nas consultas do pré-natal14.
Neste estudo, 51,8% são mulheres que trabalham. Porém, não foi investigado se estas mulheres estavam em licença-maternidade de forma remunerada, este seria um importante ponto a ser discutido neste contexto, sendo considerado uma limitação do estudo. Trabalho materno e amamentação constituem fatores importantes para as políticas públicas em prol do aleitamento materno, uma revisão de escopo que mapeou estratégias de promoção, proteção e apoio voltadas para mães lactantes que trabalham e o seu possível impacto para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), mostrou que estas estratégias têm potencial para a atingir diretamente os ODS voltados para a igualdade de gênero e o empoderamento feminino, bem como para o trabalho decente e crescimento da economia15.
A baixa renda familiar menor que dois salários mínimos foi predominante e assemelhou-se a outro estudo, que aponta renda inferior a este valor em 43% da sua amotra16, resultando em menor adesão ao AME nessa população17. Comparativamente, uma maior renda pode estar relacionada com um maior tempo de AME, mas esse mesmo poder aquisitivo aumenta o acesso ao uso de fórmulas infantis17. Neste estudo, esta variável não foi um determinante associado ao AME praticado na maternidade.
A investigação voltada para os hábitos maternos, mostrou que quase em sua totalidade, as mães pesquisadas não fumam, não ingeriam bebidas alcóolicas, não faziam uso de drogas ilícitas e não sofreram nenhum tipo de violência, aspectos considerados positivos neste estudo. Neste contexto, um estudo identificou o risco de 1,66 vezes de interrupção de AME antes dos seis meses em mães que fumam18. Além do prejuízo a saúde da mãe e do bebê, o fumo durante a gestação, aumenta o risco da não amamentação, além de que mães que param o fumo nesse período, tem o risco de voltar a fumar antes dos seis meses da criança, interrompendo a amamentação19. Assim, é importante ressaltar em momentos de educação em saúde, os malefícios desses hábitos na vida das mães e dos bebês, bem como no manejo da amamentação.
Quanto a realização de pré-natal e número de consultas, 87,7% das mulheres deste estudo compareceram em seis ou mais consultas, um importante determinante para o sucesso do AME, seguindo o recomendado pelo Ministério da Saúde brasileiro, quanto a periodicidade de consultas no pré-natal20. Outro estudo também revelou um percentual elevado de realização de pré-natal, com mais de 95% das usuárias, onde dessas 56,7% realizaram sete ou mais consultas21. A realização do pré-natal é um momento importante no período gestacional, uma vez que neste momento é oportunizado diferentes ações, como a realização de exames no tempo oportuno, imunização, atividades educativas, orientações sobre a importância da amamentação, entre outros20. Portanto, ainda existe a necessidade de mais estudos que englobem a temática, assim sugere-se a realização de estudos com abordagem qualitativa, para que se consiga capturar a percepção das mães acerca da qualidade da atenção ao pré-natal na rede básica de saúde.
Quanto ao tipo de financiamento da assistência ao pré-natal, a maioria das mães recorreram ao SUS para realizar seu acompanhamento. Estudo no Brasil, teve como objetivo analisar os números de AME em hospitais públicos, mostrou uma prevalência ascendente da adesão ao AME, respectivamente nos anos de 2001 a 2015 (47% a 73%) e apontou as politicas públicas elaboradas pelo SUS, que antecederam esse período, como um importante fator para este aumento, somado a mudanças reais nos serviços de saúde, desde a atenção primária até o serviço hospitalar público22.
A participação em atividade educativa durante o pré-natal, não fez parte da realidade deste estudo, caracterizando 75,4% da amostra, dado semelhante encontrado em estudo no Maranhão13. Este ponto é discutível, principalmente em relação a assistência prestada, uma vez que a adesão ao pré-natal foi alta, devendo-se ter uma reflexão sobre a qualidade ou realização de educação em saúde nos locais estudados.
A experiência anterior de amamentação foi presente em 46,9% das mulheres pesquisadas. Ter mais de um filho pode ser considerado um fator protetor da amamentação, pela experiência prévia vivenciada e a segurança quanto a como realizar a amamentação e com menos dúvidas que possam interferir nesse processo23. Este dado fornece elementos para a promoção da saúde que compreendam que as necessidades educativas devem considerar as características específicas das mães, e não generalizar suas demandas de informação.
Quanto as características dos recém-nascidos deste estudo, a maioria nasceu do sexo feminino, com peso normal, à termo e tiveram contato pele a pele com a mãe na sala de parto. Estudo realizado em uma coorte de nascimento em Rio Branco-AC, também identificou dados semelhantes, como bebês nascidos do sexo feminino, que não nasceram prematuramente e com peso normal5. O sexo do bebê é uma variável que apresenta influência na amamentação, e o sexo feminino pode estar associado a maior prevalência de amamentação exclusiva24. Uma possível explicação para este achado pode estar relacionada a percepção de que os bebês do sexo masculino não são saciados somente com o leite materno e/ou de que mamam mais que as meninas, assim levando as mães a introduzirem outros alimentos precocemente25. Portanto, as equipes de saúde precisam cada vez mais elucidarem este tópico, de que o leite materno é a principal fonte de alimento para o bebê até os seis meses, independentemente de ser menina ou menino.
A prática do contato pele a pele entre bebê e mãe na sala de parto esteve presente em mais da metade da amostra. Dado semelhante encontrado em estudo realizado na Bahia, onde identificou uma maior prevalência de aleitamento materno na primeira hora de vida, naqueles bebês que foram levados a mãe logo após o parto26. Estudo de revisão de literatura concluiu que a equipe de enfermagem tem um papel fundamental para que esta prática ocorra26.
Em relação a amamentação dos recém-nascidos, uma grande maioria não foram amamentados na primeira hora de vida e os que não estavam em amamentação exclusiva, 45,5% receberam fórmula industrializada como alimentação na maternidade.
O percentual de aleitamento materno na primeira hora de vida no Brasil é de 62,4%9. A amamentação na primeira hora de vida, pode relacionar-se a alta escolaridade materna, ação educativa durante o pré-natal, contato pele a pele logo após o parto, ficar em alojamento conjunto e nascimento em Hospital Amigo da Criança26. Portanto, torna-se primordial identificar a não ocorrência dessa prática, oportunizando ambientes favoráveis para que esta amamentação precoce aconteça e ambos estejam aptos para esta prática. Ressalta-se, que mesmo diante da não amamentação na primeira hora de vida, a prática do AME antes da alta hospitalar apresentou um resultado satisfatório, enfatizando a importância do suporte multiprofissional, com ênfase no profissional de enfermagem e as boas práticas da amamentação dentro das maternidades, uma vez que estes profissionais atuam diretamente na promoção da amamentação, compartilhando conhecimentos e práticas às mulheres e seus familiares, contribuindo diretamente para a promoção da saúde e qualidade de vida de puérperas e recém-nascidos28. Outro ponto importante a ser citato, são as atividades exercidas pelos BLH dentro das maternidades, pois a presença deste, repercute de forma positiva na saúde materno infantil, pois caracteriza uma forte estratégia na promoção da amamentação e do apoio ao aleitamento de recém-nascidos que não podem receber o leite direto da mama da mãe29.
Dos recém-nascidos que não estavam em AME, 45,5% receberam fórmula industrializada e 43,5% receberam leite materno e fórmula infantil. A questão da introdução precoce de outros alimentos, pode acontecer por crenças culturais como “ter leite fraco” e também devido à demora na “descida do leite”7. A oferta da fórmula infantil pode ser considerada como um fator de risco para o AME30.
A regressão logística revelou que neste estudo, as mães de até 19 anos apresentaram mais chances de praticar o AME na maternidade. A alta adesão ao pré-natal neste estudo, pode justificar este achado, uma vez que esta relação vai de encontro com o encontrado na literatuta25. A considerar que uma gravidez nessa faixa etária é descrita como gravidez na adolescência, um estudo que investigou a adesão ao AME por mães adolescentes, mostrou que o aconselhamento, o apoio a estas adolescentes e o acompanhamento profissional fazem a diferença no sucesso da amamentação31. A faixa etária da mãe no contexto da AME é de suma importância, uma vez que alguns extremos, como mães adolescentes, que é o caso do estudo em questão, podem ser responsáveis pela adesão ou não do AME.
Já a relação entre a amamentação exclusiva na maternidade e as variáveis dos recém-nascidos e voltadas para o pré-natal, revelou que os bebês de peso normal e nascidos a termo foram associados ao AME após o nascimento. No Paraná, as principais características que tiveram associadas a maior prevalência de AME foram de bebês nascidos com o peso adequado12. Outro estudo, na Etiópia, identificou relação entre o peso e AME, a maioria da amostra do estudo que estava em AME eram de bebês nascidos com peso normal25. Um estudo observacional detectou que os bebês nascidos com baixo peso ao nascer e prematuros são os que mostram mais dificuldades e sinais indicativos de problemas durante a amamentação, quando comparado aos bebês nascidos a termo, mesmo após a saída da maternidade, reiterando a importância da consulta puerperal no tempo adequado, a fim de prestar diferentes orientações e condutas voltadas ao AME32.
Em controvérsia, estudo que avaliou o desmame precoce em uma área rural não encontrou relação entre bebês nascidos a termo e o desfecho principal33. Já em outro estudo, os recém-nascidos a termo, tiveram maiores chances de praticar a amamentação exclusiva do que as suas contrapartes12. Complementando, a importância de nascer a termo e com peso adequado, um estudo realizado com bebês nascidos prematuros e em unidades de terapia intensiva, revelou que a maioria dos bebês que estavam em aleitamento materno misto, ou seja, recebendo leite materno e fórmula industrializada, devido principalmente a produção de leite insuficiente, sendo esta não uma condição aceitável para introdução de outros alimentos, que não o leite materno34.
Neste tocante, vem ser primordial o empoderamento das mães em relação as indicações clínicas aceitáveis para introdução de fórmulas infantis, bem como o incentivo a prática do AME pelos profissionais de saúde que assistem estas mulheres. Para tanto, essa expectativa da mulher ser protagonista no amamentar, requer que os determinantes evidenciados sejam abordados em políticas públicas eficientes, que tenham perspectivas que determinantes intrínsecos e extrínsecos à mulher, são existentes.
CONCLUSÕES
A prevalência de AME nas maternidades investigadas foi satisfatória. Os determinantes em saúde associados ao AME antes da alta hospitalar foram a idade materna até 19 anos e bebês nascidos com peso normal e a termo. A adesão ao AME por mães de até 19 anos, foi um determinante contrário ao encontrado na literatura, entretanto, ter peso normal e a termo estão presentes em outras realidades nacionais e internacionais, principalmente em cidades com melhores estruturas e implantação das políticas públicas já existentes. Esses determinantes evidenciados e o percentual de AME identificado, podem subsidiar outras realidades do país sejam, espelhando a necessidade de garantir através de políticas públicas o suporte econômico e social para que a amamentação exclusiva alcance as metas estabelecidas pela OMS.
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Contribuição de autoria
1. Contribuição substancialmente na concepção e/ou no planejamento do estudo: Silva ALB, Miotto MHMB, Oliveira ERA.
2. Obtenção, análise e/ou interpretação dos dados: Silva ALB, Miotto MHMB, Oliveira ERA.
3. Redação e/ou revisão crítica e aprovação final: Silva ALB, Miotto MHMB, Oliveira ERA, Poton WL, Santos AS, Bubach S.
Fomento:
O presente trabalho foi realizado com apoio do DECIT/SCTIE/MS/SESA-PPSUS e CNPq/FAPES, Edital Nº 25/2018, código EFP-00018377.
Declaração de conflito de interesses
Nada a declarar.
Editor Científico: Francisco Mayron Morais Soares. Orcid: https://orcid.org/0000-0001-7316-2519