ENTRE CRISES HUMANITÁRIAS: AS CRIANÇAS ESTÃO VIVENDO OU SOBREVIVENDO?
AMID HUMANITARIAN CRISES: ARE CHILDREN LIVING OR SURVIVING?
EN MEDIO DE LAS CRISIS HUMANITARIAS: ¿LOS NIÑOS VIVEN O SOBREVIVEN?
Bianca Machado Cruz Shibukawa1
Camila Moraes Garollo Piran2
1Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Orcid: https://orcid.org/0000-0002-7739-7881. E-mail: bianca.shibukawa@ufms.br
2Universidade Estadual de Maringá. Orcid: https://orcid.org/0000-0002-9111-9992. E-mail: camilagarollo@gmail.com
As crianças não são responsáveis pelas crises humanitárias, as quais afetam um grupo de pessoas ou uma comunidade inteira de um local específico. E essas emergências generalizadas, podem ser relacionadas aos conflitos armados, catástrofes climáticas, fome e desnutrição, extrema pobreza, deslocamentos e questões graves de saúde, como a pandemia de covid-19; no entanto, são as crianças que mais sofrem. O reflexo se torna cada vez pior na vida dessas crianças e vão se intensificando conforme a frequência, duração e intensidade das emergências (1).
Embora se discute muito sobre os direitos das crianças, existem evidências sobre a violação dos mesmos em relatórios globais, sobre as consequências devastadoras do garimpo ilegal (como exemplo, Terra Indígena Yanomami, Brasil), das alterações climáticas, dos conflitos armados (como exemplo, Ucrânia-Russia, Israel-Hamas), rapto, separação familiar, negligência, pobreza, perda de escolaridade, violência e morte, gerando implicações físicas, sociais, emocionais e psicológicas podendo variar entre curto e longo prazo. E assim inevitavelmente, as desigualdades em todo mundo se tornam ainda mais devassadora (2).
Posto isto, tem-se estimado que entre 2020 e 2030, mais de 48 milhões de óbitos de crianças menores de cinco anos por causas evitáveis, sendo em sua maioria nos países de baixa e média renda(3). A mortalidade de crianças menores de cinco de anos é uma temática comum nas discussões de órgãos mundiais de saúde, e apesar desta taxa estar em plena redução em alguns países, ainda temos àqueles que possuem alto índice, ou que estão estagnados em níveis insatisfatórios(4).
Assim como no Brasil, em outros países também há reflexos históricos na conjuntura das diversas forças (políticas, sociais e econômicas) que refletiram e ainda refletem na saúde. O contexto histórico em que cada país implementou políticas de saúde reproduz as suas prioridades, de maneira que atualmente tem-se um retrato daquilo que foi priorizado pelas gerações anteriores, em períodos passados. Em contraposição à tal realidade, pode-se observar que países desenvolvidos tem melhores taxas de mortalidade na infância, em sua grande maioria, quando comparados a países em desenvolvimento, o que se deve, em grande parte, à melhor distribuição de investimentos nos diferentes setores da sociedade(5).
No mundo, estima-se que milhões de crianças enfrentam situações terríveis e não tem seus direitos a saúde protegidos. E aproximadamente 945 milhões de crianças vivem em países que “estão sendo deixadas para trás” e esses países não alcançarão as metas dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS)(2).
Portanto, torna-se essencial consolidar o acesso à educação e às políticas públicas de saúde mais justas, e cientificamente fundamentadas, para que a população, profissionais e governantes possam se unir em prol de busca de soluções para tais enfrentamentos. Salienta-se ainda que a Organização das Nações Unidas vem trabalhando com diversos países em prol da redução da mortalidade na infância, um cenário atual desta batalha contra a morte é a meta 3.2 dos ODS, a qual prevê eliminar as mortes evitáveis em menores de cinco anos até 2030(1).
Mediante a meta estabelecida, cabe destacar que o componente com o maior número de mortes em crianças menores de cinco é o neonatal precoce, além de ser o componente com redução de mortalidade mais lenta. E isto se deve a uma série de fatores preveníveis com ações de educação em saúde no período gravídico e puerperal. Tais mortes são frutos das discrepâncias de acesso aos serviços de saúde, falta de profissionais treinados e qualificados que garantam a execução dos procedimentos necessários em tempo oportuno(3).
À face do exposto, devem ser priorizadas igualdade na saúde, mediante políticas sociais e de saúde tanto entre países quanto dentro de seus territórios. Os governos devem garantir os direitos das crianças e fortalecer os sistemas de saúde para prevenir a mortalidade infantil oferecendo ajuda para mães e crianças vulneráveis, ainda mais diante as crises humanitárias (1,3).
REFERÊNCIAS
1. World Health Organization. Ação humanitária para as crianças [Internet]. Geneva: WHO/UNICEF; 2023. [cited 2023 Oct 25]. Available from: https://www.unicef.pt/acao-humanitaria-2023/
2. Levy SR, Migacheva K, Ramírez L, Okorodudu C, Cook H, Araujo SV, et al. A human rights based approach to the global children's rights crisis: A call to action. J Soc Issues [Internet]. 2022 [cited 2023 Out 25];78(4), 1085-1097. Available from: https://doi.org/10.1111/josi.12563
3. Sharrow D, Hug MAL, You D, Alkema L, Black R, DipMathStat SC, et al. Global, regional, and national trends in under-5 mortality between 1990 and 2019 with scenario-based projections until 2030: a systematic analysis by the UN Inter-agency Group for Child Mortality Estimation. Lancet Glob [Internet]. 2022 [cited 2023 Out 25];10(2):195-206. Available from: https://doi.org/10.1016/S2214-109X(21)00515-5
4. The Lancet Child & Adolescent Health. Child survival: down to quality of care. Lancet Child Adolesc Health [Internet]. 2023 [cited 2023 Out 25];7:145. Available from: https://doi.org/10.1016/S2352-4642(23)00028-7
5. Gadelha, CAG. Complexo Econômico-Industrial da Saúde: a base econômica e material do Sistema Único de Saúde. Cad Saúde Pública [Internet]. 2022 [citado 2023 Out 25];38(2):e00263321. Disponível em: https://doi.org/10.1590/0102-311X00263321