https://doi.org/10.31011/reaid-2021-v.95-n.34-art.1081 Rev Enferm Atual In Derme v. 95, n. 34, 2021 e-021061
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ARTIGO ORIGINAL
PERCEPÇÃO DE PUÉRPERAS SOBRE O TRABALHO DE PARTO CONDUZIDO POR
ENFERMEIRAS OBSTÉTRICAS
PERCEPTION OF PUERPERAL WOMEN ABOUT LABOR CONDUCTED BY OBSTETRIC
NURSES
Vallkrisnya Siqueira da Silva
1
* Igho Leonardo do Nascimento Carvalho
2
* Erisonval
Saraiva da Silva
3
* Luiza Eugênia Ferreira Mendes
4
* Ingrid Moura de Abreu
5
* Ellen
Karem Rodrigues da Silva
6
RESUMO
Objetivo: Analisar a percepção das puérperas internadas no Centro de Parto Normal sobre a assistência
prestada por enfermeiras obstétricas durante o trabalho de parto. Metodologia: Trata-se de um estudo
qualitativo, descritivo, realizado por meio de entrevista com 15 puérperas internadas no Centro de Parto
Normal. A coleta de dados aconteceu no período de janeiro a fevereiro de 2018, utilizando roteiro
semiestruturado, contendo questões sobre caracterização sociodemográficas, sentimentos das puérperas e
percepção sobre o acompanhamento das enfermeiras obstétricas durante o trabalho de parto. Resultados: As
puérperas internadas no Centro de Parto Normal apresentaram sentimentos de satisfação apesar do medo,
ansiedade e dor. A satisfação está relacionada ao atendimento recebido pela equipe de enfermagem, que tem
o papel de aproximar a realidade da assistência à humanidade e as necessidades da mulher. Conclusão: A
assistência dos profissionais de enfermagem pode auxiliar no enfrentamento de sentimentos e dúvidas,
evidenciando um processo de acolhimento e satisfação principalmente pela forma de recepção e tratamento.
Palavras-chaves: Parto Normal; Enfermeiras Obstétricas; Acolhimento.
ABSTRACT
Objective: To analyze the perception of puerperal women admitted to the Centro de Parto Normal about the
assistance provided by obstetric nurses during labor. Methodology: This is a qualitative, descriptive study,
carried out through an interview with 15 puerperal women admitted to the Centro de Parto Normal. Data
collection took place from January to February 2018, using a semi-structured script, containing questions
about sociodemographic characterization, feelings of the puerperal women, perception of the monitoring of
obstetric nurses during labor. Results: The puerperal women admitted to the Normal Childbirth Center
showed feelings of satisfaction despite fear, anxiety and pain. This feeling is related to the care received by
the nursing team, which has the role of approximating the reality of assistance to humanity and the needs of
women. Conclusion: The assistance of nursing professionals can assist in coping with feelings and doubts,
evidencing a process of reception and satisfaction, mainly due to the form of reception and treatment.
Keywords: Natural Childbirth; Nurse Midwives; User Embracement.
1
Enfermeira. Secretaria Municipal de Saúde de Arraial. Arraial, Piauí, Brasil. E-mail: vallkrisnya@hotmail.com ORCID:
https://orcid.org/0000-0002-1220-6693
2
Enfermeiro. Doutor em Saúde Coletiva. Docente do Curso de Enfermagem da Universidade Federal do Piauí, Campus Amílcar
Ferreira Sobral. Floriano, Piauí, Brasil. E-mail: ighocarvalho@gmail.com. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3165-9484
3
Enfermeiro. Mestre em Saúde e Comunidade. Docente do Curso de Enfermagem da Universidade Federal do Piauí, Campus
Amílcar Ferreira Sobral. Floriano, Piauí, Brasil. E-mail: erisonval@gmail.com. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-0286-9124
4
Enfermeira. Especialista em obstetrícia. Coordenadora de Enfermagem do Serviço de Obstetrícia do Hospital Regional Tibério
Nunes. Floriano, Piauí, Brasil. E-mail: enfalumendes@gmail.com ORCID: https://orcid.org/0000-0002-5228-3757
5
Enfermeira. Mestre e Doutoranda em Enfermagem. Docente do Curso de Enfermagem da Universidade Federal do Piauí, Campus
Amílcar Ferreira Sobral. Floriano, Piauí, Brasil. E-mail: ingridmabreu@outlook.com ORCID: https://orcid.org/000-0003-1785-606X
6
Graduanda do Curso de Enfermagem da Universidade Federal do Piauí, Campus Amílcar Ferreira Sobral. Floriano, Piauí, Brasil. E-
mail: hellen1973345@outlook.com ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4248-7788
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ARTIGO ORIGINAL
INTRODUÇÃO
Os Centros de Parto Normal (CPN) são unidades de atendimento destinados a receber a
parturiente e seu acompanhante para viabilizar um trabalho de parto ativo e participativo,
diferenciando-se, assim, dos serviços tradicionais de atenção obstétrica
(1)
.
Surgiu com o objetivo de
resgatar o direito a privacidade e a dignidade da mulher ao dar a luz em um local semelhante ao seu
ambiente familiar, oferecendo recursos tecnológicos apropriados em casos de eventual
necessidade
(2)
.
A enfermeira obstétrica surge nesse cenário como profissional capaz de prestar uma
assistência humanizada e de proporcionar às mulheres conforto e segurança
(3)
.
Dessa forma,
observa-se uma relação importante de vínculo entre as parturientes e as enfermeiras obstétricas,
que estas são responsáveis pela promoção do bem-estar no momento do parto
(4)
.
A humanização do parto é uma das ações que integram a Política Nacional de Humanização
(PNH), desenvolvida pela Organização Mundial de Saúde (OMS), cuja premissa é o atendimento
humanizado aos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS), tendo o protagonismo na assistência
ao parto exercido pelos profissionais de enfermagem obstétrica, o que reflete positivamente na
redução de intervenções desnecessárias, como a prática excessiva de cesarianas
(5)
.
A valorização do parto humanizado aumenta a autonomia e estabelece uma relação dialógica
entre o profissional de enfermagem obstétrica e a parturiente, contribuindo para uma boa evolução
de trabalho de parto. O programa de humanização do parto tem seu início no pré-natal, visto que a
equipe de saúde prepara a parturiente para o momento do parto, promovendo o envolvimento como
sujeita ativa, capaz e consciente do exercício dos seus direitos
(6)
.
Torna-se fundamental o incentivo ao parto normal, visto que promove diversos benefícios
tanto para saúde da parturiente quanto do bebê. Nesse contexto, existe o reconhecimento da
enfermagem obstétrica, como componente básico na assistência humanizada ao parto
(4)
.
Em 1993,
foi criada a Rede de Humanização do Parto e Nascimento (ReHuNa) com o intuito de divulgar
práticas humanizadas de assistência ao parto e nascimento, baseados em evidências científicas, e
incentivar através do conhecimento que as mulheres tenham mais autonomia sobre seus corpos e
partos
(7)
.
Destarte, foram necessários movimentos como esses para que pudessem ser garantidos
uma maior autonomia e direito das mulheres durante e depois do parto.
Visto isso, o presente estudo objetiva analisar a percepção das puérperas internadas no
Centro de Parto Normal sobre a assistência prestada por enfermeiras obstétricas durante o trabalho
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ARTIGO ORIGINAL
de parto. Dessa forma, adotou-se como questão norteadora: qual a percepção das puérperas sobre a
assistência prestada pelas enfermeiras obstétricas durante o trabalho de parto?
MÉTODO
Trata-se de um estudo descritivo, com abordagem qualitativa, realizado no município de
Floriano, Estado do Piauí, com 15 (quinze) puérperas submetidas ao trabalho de parto normal no
CPN.
O CPN, local onde foi realizado o estudo, foi inaugurado em 07 de julho de 2017 e possui
cinco quartos pré-parto, parto e pós-parto imediato (PPP) individuais, contando com uma equipe
composta por 11 (onze) profissionais de enfermagem, sendo 5 (cinco) enfermeiras obstetras e 6
(seis) técnicos de enfermagem. O CPN ainda se encontra anexo ao hospital público regional, de
médio porte, sendo que essa localização estratégica facilita o encaminhamento para o hospital, caso
haja complicações durante o trabalho de parto.
Foram utilizados como critérios de inclusão: ser puérpera que tenha realizado o trabalho de
parto normal no CPN, idade igual ou superior a 18 anos, estar em boas condições emocionais auto
referidas. Os critérios de exclusão foram: não ter realizado acompanhamento pré-natal, possuir
alguma doença de transmissão vertical auto referidas, tais como: HIV; sífilis; ocorrência do feto
morto ou deformidade física, devido influenciarem sobre a percepção da experiência do trabalho de
parto.
A coleta ocorreu no período de janeiro e fevereiro de 2018. As puérperas foram abordadas
no CPN, no período de 06 18:00 horas após o parto normal, sendo convidadas a participar do
estudo e esclarecidas quanto aos objetivos, riscos e benefícios de sua participação. Foram
entrevistadas individualmente pela pesquisadora assistente, por um período de 20 a 30 minutos,
evitando o horário da visita (16 - 17:00 h).
Optou-se pela utilização de um instrumento semiestruturado com questões sobre dados
socioeconômicos e de condições de saúde, conhecimento, autonomia, percepção e sentimento das
puérperas submetidas ao trabalho de parto normal conduzido por enfermeira obstétrica. Todas as
entrevistas tiveram áudios gravados em aparelho de celular, tipo smartphone, com intuito de
viabilizar a transcrição das respostas das questões subjetivas. Os dados socioeconômicos foram
compostos por idade, localização, profissão/ocupação, religião, estado civil, escolaridade e renda
familiar. Os dados das condições de saúde foram compostos por histórico gestacional, incluindo
tipo de parto, abortamento, acompanhamento pré-natal, ocorrência de complicação e tempo de
duração do trabalho de parto.
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Os dados de conhecimento e autonomia das parturientes foram compostos por momento de
admissão do parto, motivo da escolha do parto normal, escolha da posição de parir, direito a um
acompanhante, percepção sobre a estrutura física do CPN, se recebeu orientações sobre os
procedimentos realizados, se o profissional explicou sobre os procedimentos realizados, sobre a
experiência do parto normal realizado pela enfermeira obstétrica, o aspecto que mais a agradou
durante o trabalho de parto normal, classificação da atenção do profissional de enfermagem e
mensagem para outras gestantes.
As entrevistas foram identificadas em ordem numérica (Ex.: P1, P2, P3...) e realizadas até
que se atingiu a saturação teórica dos dados. As questões objetivas foram agrupadas por meio de
frequência absoluta, visando somente à caracterização das parturientes. Enquanto as questões
subjetivas foram transcritas e analisadas conforme técnica de análise de conteúdo de Bardin,
especificamente análise temática
(8)
.
Este estudo seguiu os preceitos éticos que regulamentam pesquisas que envolvem seres
humanos, foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com parecer 3.661.818.
Todas as participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram entrevistadas um total de 15 (quinze) puérperas internadas no CPN. Pôde-se
evidenciar que a maioria reside nas cidades circunvizinhas a Floriano-PI (08), com faixa etária de
20 anos (10), se declara estudante (05), religião católica (13), casada/união estável (11). Quanto ao
grau de escolaridade das puérperas, destaca-se a baixa escolaridade (1° Grau incompleto) (05),
renda familiar menos de 1 salário mínimo (09). As participantes relataram histórico de gravidez
anterior (10), sendo que a maioria foi de parto normal (09). Todas as puérperas realizaram consulta
de pré-natal com enfermeiro (15), tendo como tempo de duração do parto em média de 4 (quatro)
horas (04).
A realização do pré-natal com enfermeiros evidencia o incentivo ao parto normal na
assistência de enfermagem realizada no acompanhamento pré-natal, bem como suas práticas de
cuidado humanizado exercidos nesse processo
(9)
o que coincide com outro estudo que demonstra a
importância do acompanhamento da gestação, afim de obter cada vez mais adesão ao pré-natal,
garantindo mais qualidade e melhor resultado obstétrico e perinatal
(10)
.
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Diante do estudo, as puérperas descreveram sentimentos positivos e negativos na admissão
no CPN. Os sentimentos positivos foram a liberdade no trabalho de parto e o atendimento da
equipe, conforme relatos abaixo:
Me trataram muito bem, porque eu estava falando até para minha mãe, porque ela é
a terceira e foi o melhor parto que tive, porque a enfermeira não ficou mandando fazer
força, me deixou bem a vontade, eu fiquei caminhando no quarto, e quando fui para
cama, já desceu(P5)
Tensa né, um pouco nervosa, mas ai a equipe do CPN me recebeu muito bem, me
passou totalmente uma segurança me acalmou mais. Sei que a hora do parto é meio
difícil, dor muita, mas em ver o choro do meu filho pela primeira vez foi emoção muito
grande, até hoje feliz da vida por ele ter vindo ao mundo. Agradecer a equipe,
enfermeiras obstétricas, psicólogos, todo mundo pelo atendimento. Excelente(P13)
Quando bem acompanhada e esclarecida, a experiência do parto pode se tornar um momento
de reconhecimento da autonomia e da autoestima feminina, pois a enfermagem obstétrica tem papel
fundamental na significação do parto e do nascimento para a mulher
(11)
.
Dessa forma, OMS
recomenda que a parturiente seja acompanhada por pessoas em quem confia e se sinta à vontade,
especialmente por proporcionar confiança, segurança, apoio e força, capaz de reduzir a dor e a
sensação de solidão, gerar bem-estar emocional e físico
(12)
.
Os sentimentos negativos do CPN foram nervosismo, dor, ansiedade e medo, conforme os
relatos a seguir:
Me senti bem acolhida, nervosa, muito medo(P14)
Foi bom e ruim. A boa é ter o bebê, a ruim é a dor. Uma nota para a dor é 10, nunca
tinha sentido antes(P4)
Um pouco ansiosa, e também um pouco nervosa, mas graças a Deus estou bem (P6)
Alguns fatores podem aumentar a percepção da dor, tais como: medo, estresse, tensão,
fadiga, frio, fome, solidão, desamparo social e afetivo, falta de conhecimento sobre os
acontecimentos do parto e ambiente estranho
(11)
. Então, deve-se atender às necessidades da mulher
e do bebê, evitando intervenções desnecessárias e preservando a privacidade e autonomia das
parturientes
(13)
.
Uma assistência obstétrica de qualidade necessita de cuidado, acolhimento, qualidade e
resolutividade, evidenciando também a importância de um serviço de saúde que possua espaço
para interações, com escuta sensível e ativa, com uma interação voltada para integralidade do
cuidado, potencializando a sensibilidade humana, pois o parto é um vigoroso processo que envolve
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sensações físicas, emocionais e psíquicas, em que a mulher observa o ambiente, as pessoas e suas
atitudes, além de estar voltada para si e para seu corpo
(14)
.
Além disso, as puérperas do CPN também apresentaram diferentes motivos para escolha do
parto normal, tais como: recuperação e própria escolha, conforme relatos abaixo:
A dieta e a dor que também é só na hora, depois fica boa (P4)
Eu queria cesária para ligar, mas normal é muito melhor, porque depois pode sentar
logo, ai eu achei até melhor (P5)
Só não queria ter cesário (P10)
Ainda houveram relatos de puérperas que não tiveram escolhas quanto ao parto normal,
devido a decisão médica ou a condição clínica, conforme relatos abaixo:
Foi o médico que escolheu(P2)
Rapaz na verdade eu não tinha escolhido, ela se antecipou, mas não era para ser
agora. Tive que ter normal, porque minha bebê estava sem líquido e estava laçada
(P12)
A inserção das boas práticas no parto normal iniciou esse processo de desconstrução do
modelo tecnológico, em prol da humanização da assistência, com base na classificação de condutas
obstétricas no parto normal
(15)
.
Logo, é necessário que essa conduta, promova cada vez mais espaço
para discussão e desconstrução de mitos, que, as mulheres são erroneamente influenciadas por
estes, sobre dor exacerbada durante o parto natural, medo de mudanças com o corpo, comodidade e
sobre a segurança de seu filho
(13)
.
As puérperas do CPN também comentaram sobre a satisfação da estrutura física do local de
parto humanizado, tais como: organização e admiração.
Ah, eu achei muito melhor do que a que tinha antigamente, em questão do apartamento,
com questão da limpeza, a organização, da nova equipe que tem, super educada(P6)
A proposta da humanização inclui aspectos físicos, estruturais, recursos materiais, relações
humanas, políticas organizacionais das instituições, aspectos culturais inerentes aos indivíduos,
condições de trabalho, implementações das leis direcionadas ao público, capacidade do serviço de
atender a demanda, entre outros
(16)
.
Então, é possível concluir que a estrutura física de um CPN
contribui de forma significativa para a satisfação das puérperas, haja vista que, faz parte do
processo de humanização.
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As puérperas do CPN ainda relataram seus sentimentos na experiência do parto normal
realizado pela enfermeira obstétrica, tais como: satisfação pelo atendimento e rápida recuperação, e
nervosismo, pois envolve dor, como observa-se nos depoimentos abaixo:
Melhor do que foi feito pelo médico, mais atenciosa, bem mais humanizado o parto,
como eles chamam realmente(P8)
Foi uma experiência assim digamos que um pouco nervosa, por ser uma enfermeira e
não um médico profissional, fiquei assustada, ansiosa, mas graças a Deus deu tudo
certo, apesar de ter ficado nervosa(P6)
Aconselho o parto humanizado, normal, é muito melhor, apesar da dor muito grande é,
mas no momento que ver seu filho nascendo, chorando, você colocar no peito para
mamar, não tem coisa melhor que isso, e também a recuperação é bem melhor, e
sempre manter a calma, não ficar tensa, porque tem profissionais capacitados para
passar total segurança para o paciente (P13)
A humanização da assistência é importante para garantir que um momento único, como o
parto, seja vivenciado de forma positiva e enriquecedora. Resgatar o contato humano, ouvir,
acolher, explicar, criar vínculo são quesitos indispensáveis no cuidado
(17)
.
Então, é imprescindível
que a parturiente esteja sempre disposta a participar de forma ativa no parto, o envolvimento efetivo
da parturiente como sujeito ativo capaz de escolhas, contribui para que ela tenha consciência dos
seus direitos e da sua autonomia
(13)
.
Destarte, as puérperas do CPN relataram aspectos que mais as agradaram no parto normal
conduzido por enfermeira obstétrica, focando no processo de trabalho humanizado, conforme os
relatos:
A forma que eles estavam lidando comigo aqui, as orientações, medicação, tudo (P6)
A atenção dela, os métodos que ela usou, que vai ajudando, explicando, vai falando
alguns exercícios para fazer que ajuda também, como a respiração(P8)
Nunca fui tratada assim em nenhum hospital (P5)
Logo, percebe-se a eficiência do uso de técnicas e métodos não farmacológicos, pois
contribuem no alívio da dor, minimizam o nível de estresse e de ansiedade, promovendo satisfação,
além de trazer benefícios que podem auxiliar na utilização de estratégias de cuidados que possam
atender as necessidades específicas das parturientes
(18)
.
Boas práticas obstétricas envolvem a
comunicação entre os profissionais e a mulher
(19)
.
A humanização no processo de parir pressupõe atenção centrada na mulher, incentivando e
encorajando durante todo processo, além disso, substituindo práticas intervencionistas por práticas
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menos invasivos e direcionando os cuidados a partir de condutas mais humanizadas
(20-21)
.
Nesse
contexto, estudo
(22)
valida a ideia de que a assistência humanizada respeita o protagonismo da
mulher, sua história, sua identidade e sua família.
Um fator relevante a ser citado é a representação que a parturiente sente ao ser acompanhada
por pessoas em quem confia, pois se torna um alicerce de apoio emocional, e, uma vez que traz
confiança e segurança, pode facilitar no processo de parturição. Diante disso, essa presença
significa conforto, segurança e satisfação, produzidos pelo vínculo com o acompanhante e
sentimento de respeito
(23)
.
Para as puérperas, o bom atendimento resulta do interesse demonstrado no exame físico,
perguntas feitas e orientações dadas, resolutividade das condutas adotadas e relações
interpessoais
(24)
. No CPN, o processo de trabalho desenvolvido pelos profissinais da enfermagem
obstétrica representa um diferencial, pois se baseia em relação dialógica num momento singular, no
qual o respeito, os direitos e as necessidades de saúde são amplamente reconhecidas.
A atenção humanizada ao parto refere-se à necessidade de um novo olhar, compreendendo-o
como uma experiência verdadeiramente humana. Acolher, ouvir, orientar e criar vínculo são
aspectos fundamentais no cuidado às mulheres
(25)
.
Considerando a percepção das puérperas sobre o trabalho de parto normal conduzido por
enfermeiras obstétricas, observa-se que o estudo promove contribuições a cerca do CPN, pois
permite que sejam dsseminados os benefícios dessa estratégia de humanização ao parto, auxiliando
também a enfermagem e os profissionais envolvidos a desenvolver ações humanizadas e de acordo
com as políticas de saúde, pois a valorização do parto humanizado promove uma maior autonomia e
influencia diretamente na vida da mulher.
O estudo apresenta como principal limitação o fato de que muitas puérperas optam por
fazerem o parto normal em rede privada, provavelmente por insegurança de fazer o parto no CPN
da rede pública e principalmente por ser um espaço comandado por enfermeiros, assim como não
possuir cadastro na Atenção Primária à Saúde, o que é de certa forma um dado desproporcional,
que a maior parte das participantes da pesquisa são de baixa renda.
CONCLUSÃO
As puérperas que vivenciaram o parto no CPN apresentaram satisfação apesar do
nervosismo e dor no momento do parto. Os fatores que contribuíram para essa satisfação foram:
forma de recepção, tratamento, atenção e carinho recebido pela esquipe de enfermagem. Destarte,
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as participantes descreveram que a principal sensação no trabalho de parto é a dor. Entretanto, após
o parto surge uma satisfação pelo alívio, contato com o filho, a rápida recuperação e ainda relataram
surpresa com o conforto da estrutura física do CPN.
O estudo indicou a necessidade de matriciamento com os serviços de saúde da atenção
básica, especialmente as equipes da Estratégia de Saúde da Família, o que iria potencializar o
incentivo ao parto normal durante o acompanhamento pré-natal realizado por enfermeiros. Nesse
contexto, as gestantes ainda seriam estimuladas a realizarem visita ao CPN para conhecerem
estrutura física e atribuição do enfermeiro obstetra no trabalho de parto normal.
O trabalho de parto realizado pelo profissional de enfermagem obstétrica, no ambiente do
CPN, representa uma experiência única para a mulher e seus familiares, devido a sua rápida
recuperação e o fortalecimento do vínculo mãe e filho. Tal condição descreve a importância de
especialização de profissionais de enfermagem e da estrutura na produção de saúde materna infantil,
a partir do trabalho de parto seguro e humanizado.
É indispensável o acesso a informação para que as mulheres possam compreender sobre os
benefícios do parto normal e a diminuição de riscos quando decidirem optar por ele, logo, é
essencial ser estimulada a ser protagonista deste momento ímpar e sublime, favorecendo então
uma parturição mais leve e prazerosa, haja vista que, o momento do parto marca efetivamente suas
histórias.
Esta pesquisa contribuirá para ampliação do conhecimento sobre a compreensão das
mulheres sobre o trabalho de parto humanizado realizado por profissionais da enfermagem
obstétrica e cuidados prestados no CPN, ainda pode subsidiar a educação em saúde, estimulando a
participação ativa das gestantes no trabalho de parto normal, instigando os profissionais a
proporcionarem um ambiente acolhedor para estas parturientes. Espera-se que esse estudo ofereça
subsídios da qualificação dos profissionais de enfermagem com o intuito de incentivar o parto
normal realizado por enfermeiros obstetras.
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Submissão: 2021-04-15
Aprovado: 2021-04-25