A transição demográfica e epidemiológica no Brasil tem demonstrado uma redução no quantitativo
de condições agudas de saúde e elevação nas condições crônicas. Essas, em sua maioria, são imprevisíveis,
apresentam progressão lenta, multicausalidade e potencial para perda funcional com o decorrer do tempo
(1)
.
Nossas vivências e experiências, enquanto enfermeiras, docentes e pesquisadoras, corroboram para o
entendimento de que as condições crônicas de saúde têm repercussões na família. Essa perspectiva vai ao
encontro da compreensão de família como um sistema
(2)
, formado por subsistemas individuais,
correspondentes aos seus membros e, por um suprassistema, representado pelas relações de amizade, de
trabalho e demais componentes da sociedade com os quais interagem.
Por ser um sistema interligado, quando um componente do núcleo familiar é acometido por uma
condição crônica, há repercussões no restante da família. A intensidade desse evento para cada um irá
depender das relações, papéis e funções estabelecidas dentro da família
(2)
, além do significado atribuído a
essa realidade. Mediante essa situação, que desestabiliza a rotina e a dinâmica, a família busca, de algum
modo, uma mobilização para atender às demandas frente ao adoecimento crônico para evitar o
desenvolvimento de novos desfechos inoportunos. Para isso, muitas vezes, ocorre a inversão de papéis,
modificações nas relações e planos familiares, privações sociais, mudanças estruturais no domicílio, dentre
inúmeras outras possibilidades que as famílias identificam como significativas para atender suas
necessidades diante do contexto de instabilidade.
A focalização na família, diante do adoecimento crônico, propõe considerá-la como sujeito do
cuidado, dentro das múltiplas terapêuticas, exigindo uma interação da equipe de saúde com essa unidade
social e o conhecimento integral de seus problemas de saúde e das suas singularidades para uma adequada
intervenção familiar
(1)
. É preciso ultrapassar a condição hierarquizada de saberes e evoluir para o cuidado
compartilhado, de comunicação clara, objetiva e esclarecedora, capaz de envolver as diferentes perspectivas
das famílias e dos profissionais, com objetivo de fortalecer a família como unidade cuidadora.
No entanto, apesar da produção do conhecimento acerca dessas questões estar consolidada no
ambiente científico, por que ainda identificamos um cuidado inadequado com as pessoas acometidas por
condições crônicas e suas famílias nos serviços de saúde? Esse questionamento, em parte, é respondido com
base em um sistema de atenção à saúde focado em atender eventos agudos, de forma “fragmentada,
episódica e reativa”
(1)
. Também, como complemento à resposta do questionamento, destacamos o processo
formativo em saúde: Apesar de constantes avanços, novos direcionamentos e discussões para atualização das