SÍNDROME DE BURNOUT EM PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM DURANTE A PANDEMIA DA COVID-19

 

BURNOUT SYNDROME IN NURSING PROFESSIONALS FACING THE COVID-19 PANDEMIC

 

SÍNDROME DE BURNOUT EN PROFESIONALES DE ENFERMERÍA FRENTE A LA PANDEMIA DE COVID-19

 


1Gabriela Belo Rocha

2Fernanda Sinfronio da Costa

3Cíntia Valéria Galdino

4Eric Gustavo Ramos Almeida

5Sirlene da Silva

6Cinthya Ramires Ferraz

 

1UNIFAA - Centro Universitário de Valença: Valença, Rio de Janeiro, Brasil.  E-mail: gabrielabelorocha@gmail.com Orcid: https://orcid.org/0000-0002-4846-2453

 

2Centro Universitário de Valença: Valença, Rio de Janeiro, Brasil. E-mail: nandsinf1.8@gmail.com Orcid: https://orcid.org/0000-0001-9622-986X

 

3Centro Universitário de Valença: Valença, Rio de Janeiro, Brasil. E-mail: cintia.galdino@faa.edu.br Orcid: https://orcid.org/0000-0002-4882-4952

 

4Universidade do Estado do Rio de Janeiro / Previse Consultoria e Serviços, Rio de Janeiro, Brasil. E-mail: gustavoalmeida2005@yahoo.com.br. Orcid: https://orcid.org/0000-0001-9455-7739

 

5Universidade do Estado do Rio de Janeiro / Previse Consultoria e Serviços, Rio de Janeiro, Brasil. E-mail: sirlenesylva@gmail.com Orcid: https://orcid.org/0000-0002-2939-9911

 

6Universidade Católica de Brasília, UCB; / Previse Consultoria e Serviços, DF, Brasil. E-mail: cinthya_ferraz@yahoo.com.br Orcid: https://orcid.org/0000-0002-2163-8674

 

Autor correspondente

Eric Gustavo Ramos Almeida

Endereço: Boulevard 28 de Setembro, 62 - Sala 417 – Vila Isabel, Rio de Janeiro - RJ, Brasil. CEP: 20551-031.

E-mail: gustavoalmeida2005@yahoo.com.br.

Contato: +5521-99981085

 

 

RESUMO

Objetivo: Analisar os impactos da pandemia no desenvolvimento da Síndrome de Burnout e identificar a incidência de Síndrome de Burnout em profissionais de enfermagem que atuam no enfrentamento da covid-19. Metodologia: Estudo transversal do tipo descritivo, exploratório, com abordagem quantitativo, em um hospital público e uma maternidade de Valença/RJ com 23 técnicos de enfermagem e 07 enfermeiros que atuavam em unidades destinadas ao atendimento dos pacientes com covid-19, no período de agosto a setembro de 2021. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) onde o estudo foi realizado (CAAE:  49926821.5.0000.5246, com parecer de aprovação nº 4.878.420). Resultados: A prevalência de idade dos participantes é de 30 a 34 anos (33%); o maior percentual da população investigada é do sexo feminino (80%); e a maioria (64%) tem um período 4 anos de atuação na enfermagem. A presença da exaustão emocional foi uma característica em comum entre técnicos de enfermagem e enfermeiros (35% e 43%, respectivamente). Já a despersonalização obteve resultados médio em ambas as categorias com (57%). No caso de despersonalização houve uma divergência, onde técnicos de enfermagem apresentaram alta realização profissional com (74%), e enfermeiros uma significativa baixa realização profissional com (43%). Conclusão: O estudo demonstrou uma incidência de exaustão emocional e despersonalização significativa. Neste contexto faz-se necessário a adoção de medidas para prevenir o adoecimento emocional dos profissionais da enfermagem que atuam na linha de frente da covid-19.

Palavras-chave: Síndrome de Burnout; Enfermagem; Covid-19.

 

ABSTRACT

Objective: To analyze the impacts of the pandemic on the development of Burnout Syndrome and to identify the incidence of the syndrome in nursing professionals who work with the covid-19. Methodology: cross-sectional study of descriptive, exploratory type, with quantitative approach, in a public hospital and a maternity hospital in Valença/RJ with 23 nursing technicians and 07 nurses who worked in units intended for the care of patients with covid-19, in the period from August to September 2021. The research was approved by the Ethics and Research Committee (CEP) where the study was conducted (CAAE: 49926821.5.0000.5246, with approval opinion no. 4,878,420). Results: The prevalence of age of the participants is 30 to 34 years (33%); the highest percentage of the investigated population is female (80%); and the majority (64%) has a period 4 years of working in nursing. The presence of emotional exhaustion was a common characteristic among nursing technicians and nurses (35% and 43%, respectively). Depersonalization obtained average results in both categories (57%). In the case of depersonalization there was a divergence, where nursing technicians showed high professional achievement with (74%), and nurses a significant low professional achievement with (43%). Conclusion: The study showed a significant incidence of emotional exhaustion and depersonalization. In this context, it is necessary to adopt measures to prevent the emotional illness of nursing professionals who work in the front line of covid-19.

Keywords: Burnout Syndrome; Nursing; Covid-19.

 

RESUMEN

Objetivo: Analizar los impactos de la pandemia en el desarrollo del Síndrome de Burnout e identificar la incidencia del síndrome en los profesionales de enfermería que actúan frente al covid-19. Metodología: estudio transversal de tipo descriptivo, exploratorio, con abordaje cuantitativo, en un hospital público y una maternidad de Valença/RJ con 23 técnicos de enfermería y 07 enfermeros que actuaron en unidades destinadas a la atención de pacientes con covid-19, en el período de agosto a septiembre de 2021. La investigación fue aprobada por el Comité de Ética e Investigación (CEP) donde se realizó el estudio (CAAE: 49926821.5.0000.5246, con el dictamen de aprobación nº 4.878.420). Resultados: La prevalencia de la edad de los participantes es de 30 a 34 años (33%); el mayor porcentaje de la población investigada es femenina (80%); y la mayoría (64%) tiene un periodo 4 años de desempeño en enfermería. La presencia de agotamiento emocional fue una característica común entre los técnicos de enfermería y las enfermeras (35% y 43%, respectivamente). La despersonalización obtuvo resultados medios en ambas categorías con (57%). En el caso de la despersonalización hay una divergencia, ya que los técnicos de enfermería presentan una alta realización profesional con (74%), y los enfermeros una significativa baja realización profesional con (43%). Conclusión: El estudio mostró una incidencia significativa de agotamiento emocional y despersonalización. En este contexto, es necesario adoptar medidas para prevenir la enfermedad emocional de los profesionales de enfermería que trabajan en primera línea de covid-19.

Palabras clave: Síndrome de Burnout; Enfermería; Covid-19.


 

INTRODUÇÃO

A Síndrome de Burnout (SB) também conhecida como síndrome do esgotamento profissional e psíquico, aparece como resposta aos estressores interpessoais de natureza crônica que estão relacionados ao meio laboral, representando o maior índice de problema psicossocial e de estresse laboral1,2.

   É caracterizada por exaustão emocional, despersonalização e diminuição da realização pessoal, em resposta às fontes crônicas de estresse e identificada como um fenômeno comum entre muitos profissionais, com maior incidência em trabalhadores que têm contato direto com pessoas3.

Com o surgimento da pandemia da covid-19 em 2020, trouxe um grande foco para os profissionais de saúde, entre eles, os enfermeiros que atuam na linha de frente do combate ao surto pandêmico do Coronavírus4.

A pandemia pelo coronavírus criou desafios únicos para os trabalhadores em todo o mundo.  Enquanto a maioria da força de trabalho foi orientada trabalhar em casa para auxiliar “achatar a curva", os profissionais de saúde foram requisitados a permanecer na linha de frente, trabalhando longas jornadas para combater essa ameaça mortal, mesmo não dispondo de condições adequadas em termos de estrutura, equipamentos de proteção individual e treinamento5,6.

Ao fazer isso, esses profissionais não apenas se arriscam a ficar expostos ao vírus, mas também enfrentam o risco da Síndrome de Burnout (SB), um transtorno relacionado ao estresse no trabalho no qual os funcionários se sentem emocionalmente “exauridos” e desinteressados em relação a seu trabalho7.

A exposição a fatores de stress resulta também em outras consequências para os profissionais enfrentarem, tais como depressão, ansiedade, angústia e estresse. Nesse contexto, a SB se intensifica, uma vez que a jornada excessiva de trabalho causada pelo novo coronavírus cresce de maneira desorganizada3.

Logo, a atuação de forma direta frente a contenção da pandemia da covid-19, pode trazer consequências prejudiciais nos processos e condições de trabalho no decorrer da pandemia e no pós-pandemia. Por isso, são necessárias reflexões, intervenções efetivas e acompanhamento de agravos desenvolvidos por esses profissionais atuantes a fim de promover assistência à saúde física e psicológica desses profissionais8.

Nesse sentido, este estudo tem como objetivo analisar os impactos da pandemia no desenvolvimento de Síndrome de Burnout e identificar a incidência da síndrome em profissionais de enfermagem que atuam no enfrentamento da covid-19.

 

MÉTODOS

Estudo transversal do tipo descritivo, exploratório, com abordagem quantitativo. Os estudos descritivos têm como objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre as variáveis9. Já os estudos exploratórios são aqueles que buscam descobrir ideias e intuições, na tentativa de adquirir maior familiaridade com o fenômeno pesquisado. Nem sempre há a necessidade de formulação de hipóteses nesses estudos10.

O estudo foi realizado em um hospital público e em uma maternidade de Valença/RJ. Os enfermeiros e técnicos de enfermagem elegíveis foram profissionais que estavam atuando nas unidades destinadas ao atendimento dos pacientes com covid-19.

A coleta de dados ocorreu no período de agosto a setembro de 2021. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) onde o estudo foi realizado (CAAE:  49926821.5.0000.5246, com parecer de aprovação nº 4.878.420).

Foram incluídos no estudo enfermeiros e técnicos de enfermagem atuantes na linha de frente ao combate à pandemia da covid-19.

Foram excluídos do estudo profissionais que se encontravam de licença médica, férias ou por ventura afastados por serem do grupo de risco da covid-19.

A amostra final contou com 30 profissionais que atuavam diretamente no combate a covid-19, nas unidades de terapia intensiva, enfermarias e pronto socorro Adulto (PSA) do hospital, pediatria e Pronto Socorro Infantil (PSI) da maternidade. Entre estes 30 profissionais elegíveis, 07 eram enfermeiros e 23 técnicos de enfermagem. 

A coleta de dados foi realizada de maneira presencial pelas pesquisadoras do estudo por meio de formulário sociodemográficos e ocupacional, além de questionário Maslach Burnout inventory.

O formulário sociodemográfico e ocupacional é composto por perguntas de múltipla escolha abrangendo: sexo, idade, categoria profissional e tempo de atuação na enfermagem.

O Maslach Burnout Inventory (MBI) é um instrumento usado para diagnosticar e/ou avaliar a predisposição dos indivíduos à Síndrome de Burnout por meio da avaliação das três dimensões da SB (exaustão emocional, despersonalização e realização profissional)15.

 É um questionário autoaplicável, com 22 questões, sendo: nove questões de exaustão emocional (EE), cinco para despersonalização (DE) e oito para realização pessoal reduzida (RP), as respostas para cada questão são classificadas em sete pontuações 15.

 Para a Síndrome de Burnout se manifestar, suas três dimensões devem estar presentes, ou seja, indivíduos que manifestam altas classificações para exaustão emocional e despersonalização e baixa classificação para realização profissional (esta pontuação é reversa).

Foram utilizados os seguintes pontos de corte: exaustão emocional (baixo: zero a 15; médio: 16 a 25; e alto: 26 a 54), despersonalização (baixo: zero a 2; médio: 3 a 8 e alto: 9 a 30) e realização profissional (baixo: zero a 33; médio: 34 a 42 e alto: 43 a 48). Estes pontos de corte são de acordo com parâmetros já definidos na Maslach Burnout Inventory (MBI).

Para análise de dados, foi utilizado o Microsoft Office Excel, além das técnicas básicas de análise. Para estudar os fatores relacionados aos três aspectos do MBI (EE, DE e RP), foram feitos cálculos separadamente para cada categoria. Os dados foram tratados estatisticamente por testes paramétricos e não paramétricos com distribuição de frequência simples, medidas de dispersão (média e desvio – padrão), considerando-se o p valor ≤ 0,05.

 

RESULTADOS

Participaram do estudo 30 profissionais de enfermagem que trabalhavam na linha de frente da covid-19. Entre os profissionais participantes 07 (23%) são enfermeiros e 23 (77%) são técnicos de enfermagem. A prevalência de idade dos participantes é de 30 a 34 anos (33%); o maior percentual da população investigada é do sexo feminino (80%); e a maioria (64%) tem um período 4 anos de atuação na enfermagem (Tabela 1).


Tabela 1: Características sociodemográficas e ocupacionais:

Tabela

Descrição gerada automaticamente

Fonte: Elaboração dos autores


As características relacionadas à SB, segundo os níveis das dimensões, estão apresentadas

no gráfico abaixo (Gráfico 1) .


 

Gráfico 1: Gráfico de apresentação das três dimensões da SB do estudo realizado com enfermeiros e técnicos de enfermagem do HEV e MEV atuantes na linha de frente ao combate a pandemia do covid-19.

Gráfico, Gráfico de pizza

Descrição gerada automaticamente

 

 

 

 

 

 

 

Fonte: Elaboração dos autores

 


A distribuição das dimensões e seus respectivos percentuais estão descritos na Tabela 2. Uma característica comum entre técnicos de enfermagem e enfermeiros foi a presença da exaustão emocional (35% e 43%, respectivamente). Já a despersonalização obteve resultados médio em ambas as categorias com (57%). No caso de despersonalização houve uma divergência, onde técnicos de enfermagem apresentaram alta realização profissional com (74%), e enfermeiros uma significativa baixa realização profissional com (43%). 


 

Tabela 2 - Dimensões da SB entre técnicos de enfermagem e enfermeiros do HEV e MEV.

Fonte: Elaboração dos autores


 

Por meio da análise comparando os dados do formulário sociodemográfico, ocupacional e o MBI, verificou -se que nos resultados que existe uma associação do tempo de atuação na enfermagem de até 4 anos com a dimensão de exaustão emocional, dimensão esta que se encontra mais presente também no sexo feminino, ou seja, quanto menor o tempo de atuação, maior a exaustão emocional.  Analisando a dimensão de despersonalização (DE) associado a idade entre 30 e 34 anos, vemos que quanto maior a idade maior a tendência de um contato frio e impessoal em relação às pessoas do ambiente de trabalho. Já a dimensão de baixa realização profissional observamos maior percentual (43%) ao cargo de enfermeiro.

 

DISCUSSÃO

Conforme os critérios adotados para a análise das três dimensões do MBI e considerando os profissionais atuantes no combate à covid-19 das categorias relevantes para o estudo (enfermeiros e técnicos de enfermagem), as respostas obtidas neste levantamento mostraram uma alta incidência de exaustão emocional (37%) e uma média incidência de despersonalização (57%).

A alta incidência de EE está diretamente ligada aos profissionais do sexo feminino. As mulheres têm maior vulnerabilidade ao Burnout, uma vez que são mais propensas a se envolver com os problemas das pessoas a quem prestam serviço. Essa exaustão também pode estar relacionada ao fato de que as mulheres possuem duplas responsabilidades (profissional e pessoal), o que gera uma sobrecarga de responsabilidades, já que precisam executar e gerenciar tarefas do meio laboral e de seus lares11.

Reportagens da mídia e pesquisas empíricas têm destacado que os profissionais de saúde estão sendo expostos a níveis sem precedentes de Burnout durante a luta contra à covid-1912,13. Eles têm de lidar não apenas com os riscos de exposição ao vírus, mas também com condições adversas de trabalho, como aumento de responsabilidades, falta de recursos, sobrecarga de trabalho e altos índices de mortes e traumas no ambiente de trabalho14.

A exaustão emocional é considerada um fator central da SB. Caracteriza-se pelo emocional e pelo senso de falta de energia, mostrando associação inversa com o desempenho do trabalho. A EE está frequentemente relacionada a demandas excessivas e conflitos pessoais, predominantemente em pessoas com caracterização de escolaridade de ensino superior15

Neste estudo essa exaustão está presente nos profissionais que possuem apenas 4 anos de atuação na área. No estudo realizado por Abdo et al (2016) afirma que em virtude da inexperiência e da não adaptação às condições de trabalho e das organizações, profissionais com pouco tempo de atuação tendem a sofrer maior desgaste emocional16.

A despersonalização refere-se à perda de motivação, à ansiedade, à irritabilidade e ao idealismo reduzido. A área da saúde é considerada uma atividade que exige estabilidade emocional e capacidade de expressar emoções. Essa falta de motivação pode ter sido influenciada principalmente pelo grande número de perdas de pacientes infectados pela covid-19, a falta de tratamento específico e ao sentimento de incapacidade de controle da doença17.

Dentre os aspectos que modificaram o ambiente laboral estão a falta de Equipamentos de Proteção Individual (EPI); o número restrito de leitos e ventiladores mecânicos; falta de conhecimento e de treinamento para o atendimento a esta população específica; nível de complexidade e gravidade dos pacientes, além da inexistência de um tratamento específico e eficaz para a doença; desgaste gerado pela impossibilidade de acolher a demanda de pacientes em busca de atendimento; necessidade em lidar com o volume aumentado de óbitos, inclusive de familiares e colegas de trabalho18.

A SB é um processo que decorre da interação entre o ambiente de trabalho e a realização pessoal. As atividades assistenciais de saúde podem gerar altas demandas emocionais no profissional. Sobrecarga de trabalho em técnicos e enfermeiros aumenta o turnover de profissionais, o que impacta a qualidade do atendimento assistencial19. Apesar de o propósito de ajudar outras pessoas ser reconhecido como um objetivo nobre, a relação entre um profissional e os pacientes e a fina distinção entre envolvimento profissional e pessoal são permeadas pela ambiguidade20.

A pandemia de covid-19 colocou desafios aos serviços de saúde e forçou mudanças de rotinas e da atuação de profissionais. A literatura mundial apresenta níveis mais elevados de SB em unidades de saúde mesmo sem a presença da covid-1921,22

Estudos chineses iniciais sobre saúde mental de profissionais de saúde assistenciais da linha de frente do enfrentamento à covid-19 mostraram que a prevalência aumenta conforme cresce a demanda de pacientes aos serviços de saúde23,24.  Com o avanço da pandemia, estudos em outros países também apontaram uma maior frequência de sinais de exaustão e SB em profissionais da linha de frente 25,26,27,28,29,30.

A enfermagem é uma área profissional voltada ao cuidado humano e holístico, além do enfermeiro necessitar de várias habilidades: cognitivas, interpessoais e psicomotoras aliadas ao embasamento teórico31.

Cada vez mais tem sido exigido a capacidade técnico-científica dos profissionais de enfermagem. No entanto, é oferecida uma baixa remuneração e sobrecarga de trabalho para esses trabalhadores. Assim, é possível ser observado no ambiente de trabalho, alterações psíquicas que levam a um estado de exaustão emocional, perda de interesse pelas pessoas que teriam de ajudar e, finalmente, baixo rendimento profissional e pessoal32.

É possível perceber que os profissionais de enfermagem apresentaram maior predisposição para o sofrimento mental e isso se deve não só à natureza da atividade que desenvolvem; que está diretamente relacionada a sofrimentos físicos e emocionais daqueles a quem estes prestam seus serviços, mas também as condições de trabalho e falta de reconhecimento profissional32.

Os altos índices para EE e DE devem servir de alerta para os gestores do cenário de estudo, já que o esgotamento emocional e físico pode gerar comprometimento comportamental desses profissionais, afetando diretamente a vida pessoal e profissional.

Além disso, esses fatores são potenciais de impactos negativos psicossociais e psicossomáticos, gerando a diminuição da produtividade e o aumento do índice de acidentes de trabalho e uma assistência de enfermagem ineficaz33.

Neste estudo, ocorreram algumas limitações, destacando-se alguns itens das perguntas que constituíram o instrumento de coleta de dados, que podem ter sido mal compreendidas ou respondidas distorcidamente, uma vez que a coleta foi baseada em questionários autoaplicáveis. Como não há estudo anterior na instituição sobre a incidência de SB, não é possível fazer uma análise comparativa da incidência antes da covid-19.

Outra limitação é tamanho da amostra (não muito representativo de uma forma generalizada), assim, a amostra é apenas representativa da presença de SB nos profissionais durante o período da pandemia.

Contudo, trata-se de um estudo relevante que contribui para identificar possíveis comportamentos e fatores associados à SB em profissionais enfermeiros e técnicos de enfermagem que atuaram nos setores COVID durante a pandemia, já que fazem parte do grupo de risco. Como também a contribuição para que novos estudos sejam desenvolvidos em relação a esse tema.

 

CONCLUSÕES

Foi possível observar que os profissionais que participaram no presente estudo não apresentaram uma classificação (de acordo com a Escala de Maslach) para a caracterização da Síndrome de Burnout, entretanto, possuem médios e altos riscos para manifestação da síndrome.

Apesar da baixa taxa para baixa Realização Profissional (RP) é necessário ter uma atenção especial com esses profissionais, já que altos índices de EE e DE podem desencadear uma baixa realização profissional futuramente.

Medidas de intervenção psicológica durante a vigência da pandemia para promover o bem-estar mental dos profissionais de saúde expostos à covid-19 devem ser implementadas, por exemplo, reorganização da jornada de trabalho que permita horário de descanso necessário ao trabalhador no enfrentamento da pandemia de coronavírus, benefícios financeiros para a valorização do profissional da saúde, reconhecimento pelo seu esforço contra a covid-19, Plano de  Cargos e Salários para enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem devido à relevância de sua atuação para sociedade, equipamentos de proteção individual e tecnológicos (para que se sejam protegidos, contexto do trabalho),  favorável para o bom desempenho do profissional e auxílio psicológico.

Espera-se que este estudo contribua como base para a elaboração de estratégias de intervenção por parte dos gestores das instituições de saúde para minimizarem os altos índices de EE e DE dos seus profissionais de enfermagem que estão atuando no combate à pandemia do COVID 19, ofertando assistência necessária a esses profissionais tanto no meio laboral quanto psicologicamente.

 

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Submissão: 26-03-2022

Aprovado: 06-10-2022