¹Anny Suelen dos Santos Andrade

²Valéria Gomes Fernandes da Silva

³Luciane Paula Batista Araújo de Oliveira

⁴Lahelya Carla de Andrade Oliveira

⁵Natally Pereira dos Santos

⁶Nilba Lima de Souza

¹Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Natal, RN, Brasil. ORCID: 0000-0001-7460-5625.

²Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Natal, RN, Brasil. ORCID: 0000-0003-1381-8664.

³Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Natal, RN, Brasil. ORCID: 0000-0003-1629-8991.

⁴Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Natal, RN, Brasil. ORCID: 0000-0003-0056-1046.

⁵Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Natal, RN, Brasil. ORCID: 0000-0002-3334-565X.

⁶Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Natal, RN, Brasil. ORCID: 0000-0002-3748-370X.

Autor correspondente

Valéria Gomes Fernandes da Silva

Endereço: Campus Universitário - Lagoa Nova, Natal - RN, Brasil CEP: 59078-970

Contato: +55 (84) 3215-3883

E-mail: valeriafernandes7@hotmail.com

Fomento e Agradecimento: Sem fomento e agradecimento.

RESUMO

Objetivo: refletir sobre o cuidado de enfermagem aos recém-nascidos sob fototerapia, à luz da Teoria da Complexidade de Edgar Morin. Método: trata-se de um estudo teórico reflexivo fundamentado na Teoria da Complexidade de Edgar Morin, realizado no mês de janeiro e fevereiro de 2022. Foram utilizados artigos, livros e documentos das bases de dados Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde, Medline e Banco de Dados em Enfermagem, bem como as obras de referência do autor Edgar Morin e sua teoria. Resultados: a reflexão dos achados relacionados ao cuidado de enfermagem ao recém sob fototerapia pensados à luz da teoria da complexidade originaram três categorias temáticas - cuidado de enfermagem e elementos envolvidos na fototerapia, o cuidado fragmentado e os desafios para a equipe de enfermagem. Considerações finais: A partir da compreensão da complexidade, torna-se possível ter uma visão ampla das necessidades individuais de cada neonato e família, tornando-os sujeitos protagonistas de direitos. A enfermagem se destaca visto que, pode possibilitar a formação de profissionais reflexivos e capazes de trabalhar em cooperação com os demais membros da equipe, na construção de novos saberes, possibilidades e práticas de modo a garantir a integralidade na assistência ao recém-nascido sob fototerapia.

Palavras-chave: Cuidados de Enfermagem; Fototerapia; Humanização da Assistência; Icterícia Neonatal; Recém-Nascidos.

ABSTRACT

Objective: to reflect on nursing care for newborns under phototherapy, in the light of Edgar Morin's Complexity Theory. Method: this is a reflective theoretical study based on the Complexity Theory of Edgar Morin, carried out in January and February 2022. Articles, books and documents from the Latin American and Caribbean Literature in Health Sciences, Medline and Database in Nursing, as well as the reference works of the author Edgar Morin and his theory. Results: the reflection of the findings related to nursing care for the newborn under phototherapy, thought in the light of the complexity theory, gave rise to three thematic categories - nursing care and elements involved in phototherapy, fragmented care and the challenges for the nursing team. Final considerations: From the understanding of complexity, it becomes possible to have a broad view of the individual needs of each newborn and family, making them protagonists of rights. Nursing stands out as it can enable the training of reflective professionals capable of working in cooperation with other team members, in the construction of new knowledge, possibilities and practices in order to guarantee comprehensive care for the newborn under phototherapy.

Keywords: Nursing Care; Phototherapy; Humanization of Assistance; Neonatal Jaundice; Newborns.

RESUMEN

Objetivo: reflexionar sobre el cuidado de enfermería al recién nacido bajo fototerapia, a la luz de la Teoría de la Complejidad de Edgar Morin. Método: se trata de un estudio teórico reflexivo basado en la Teoría de la Complejidad de Edgar Morin, realizado en enero y febrero de 2022. Se utilizaron artículos, libros y documentos de las bases de datos Literatura Latinoamericana y del Caribe en Ciencias de la Salud, Medline y Base de Datos en Enfermería, así como las obras de referencia del autor Edgar Morin y su teoría.. Resultados: la reflexión de los hallazgos relacionados al cuidado de enfermería al recién nacido bajo fototerapia, pensado a la luz de la teoría de la complejidad, dio lugar a tres categorías temáticas - cuidado de enfermería y elementos involucrados en la fototerapia, cuidado fragmentado y desafíos para el equipo de enfermería. Consideraciones finales: A partir de la comprensión de la complejidad, se hace posible tener una visión amplia de las necesidades individuales de cada recién nacido y familia, haciéndolos protagonistas de derechos. La enfermería se destaca porque puede posibilitar la formación de profesionales reflexivos capaces de trabajar en cooperación con otros miembros del equipo, en la construcción de nuevos conocimientos, posibilidades y prácticas para garantizar la atención integral al recién nacido en fototerapia.

Palabras clave: Cuidado de Enfermera; Fototerapia; Humanización de la Asistencia; Ictericia Neonatal; Recién Nacidos.

INTRODUÇÃO

A hiperbilirrubinemia neonatal apresenta uma alta prevalência e afeta 84% dos recém-nascidos (RN) saudáveis na primeira semana de vida. Para 60% dos RN, trata-se de um fenômeno fisiológico, que geralmente surge no segundo ou terceiro dia após o nascimento, em que não acarreta em danos e desaparece em aproximadamente quinze dias sem que haja necessidade de tratamento⁽¹⁾.

Entretanto, apesar da alta incidência e de ser frequentemente fisiológica, é evidenciado na literatura que a hiperbilirrubinemia grave atinge, anualmente, 1,1 milhões de neonatos, com possibilidades de desencadear a morte ou sequelas neurológicas crônicas⁽²⁾. Dessa forma, é imprescindível que sejam identificadas precocemente as possíveis complicações provocadas pela toxicidade bilirrubínica⁽³⁾.

A fototerapia com luz azul é a terapia de escolha para a icterícia neonatal que apresenta menores riscos e maior eficácia⁽²⁾. As abordagens terapêuticas adotadas geralmente não são específicas, necessitando de uma avaliação individualizada, considerando a idade gestacional, peso, entre outras características presentes no RN, não havendo consenso na literatura quanto à padronização dos valores de referência para a indicação dessa terapia⁽³⁾. Contudo, em países de baixa e média renda, o acesso ao diagnóstico precoce, monitoramento e tratamento da icterícia neonatal é limitado, onde cerca de 6 milhões de neonatos que necessitam da fototerapia, não a realizam⁽⁴⁾.

Apesar de eficaz, a fototerapia não está isenta de desencadear problemas ao RN. Quando os níveis séricos de bilirrubina atingem valores acima da normalidade, se faz necessária a internação do neonato em ambiente hospitalar para realização do procedimento, expondo-o a vulnerabilidade dos efeitos adversos do tratamento, como, alterações oculares desencadeadas por lesões de retina, queimaduras, perda insensível de água, interrupção do contato pele a pele entre mãe e filho, e consequentemente, problemas com a amamentação⁽⁵⁾.

O neonato em uso de fototerapia exige cuidados de enfermagem de alta dependência, de acordo com o Sistema de Classificação de Pacientes de Fugulin⁽⁶⁾,necessitando assim de profissionais capacitados para reconhecer e corrigir possíveis intercorrências. A equipe de enfermagem ocupa uma posição estratégica na assistência ao RN em uso de fototerapia, assistindo-o em sua totalidade, por estar presente durante todo o período de internação, sendo a sua atuação de fundamental importância para que o tratamento seja realizado da maneira eficaz, bem como para identificar possíveis efeitos colaterais ou intercorrências, por meio de uma conduta apropriada⁽²⁾.

Diante das peculiaridades envolvidas no tratamento ao RN sob fototerapia, considerando o contexto em que ocorre e a importância da inseparabilidade entre o binômio mãe e filho, percebe-se a necessidade de refletir sobre o papel da enfermagem na prestação desses cuidados à luz de um referencial teórico que possa nortear tais ações na atualidade.

Frente ao exposto, o presente estudo tem como objetivo refletir sobre o cuidado de enfermagem aos recém-nascidos sob fototerapia à luz da Teoria da Complexidade de Edgar Morin. Para Morin, a complexidade é vista como um tipo de pensamento que não separa, mas une e busca as relações necessárias e interdependentes de todos os aspectos da vida humana⁽¹²⁾. Assim, pensar os cuidados de enfermagem ao RN sob fototerapia na perspectiva da teoria da complexidade, pode trazer uma reflexão necessária quanto a sinalização de aspectos que não devem ser dissociados da prática profissional da enfermagem.

MÉTODO

Trata-se de um estudo teórico reflexivo fundamentado na Teoria da Complexidade de Edgar Morin. Para o filósofo, o pensamento complexo abrange a forma de compreender o mundo, buscando integrar o real, as relações que sustentam a coexistência entre os seres no universo, possibilitando o reconhecimento da ordem e da desordem, do uno e do diverso, da estabilidade e da mudança. Assim, a complexidade comporta as ações, as interações e as determinações que constituem o mundo dos fenômenos e a noção de incerteza⁽¹³⁾.

A complexidade busca interligar os modos de pensar, combinar a simplicidade com a complexidade, exercitando a contextualização, contrapondo os mecanismos reducionistas simplificadores, disjuntivos e totalizantes da era moderna, num esforço do pensamento para promover a união, operando com diversidades de pensamentos, o simples e o complexo¹².

É nessa relação de alteridade que ele encontra a autotranscedência, superando-se, interferindo e modificando o seu meio em uma auto e coorganização a partir de sua dimensão ética, que não é imposta cultural ou universalmente a cada indivíduo, mas reflete suas escolhas, suas percepções, seus valores e seus ideais^(14,12).

Para fundamentar a presente reflexão, realizou-se uma pesquisa bibliográfica para identificar livros, normatizações, documentos e artigos que versam sobre a temática abordada, a fim de discuti-las sob o ponto de vista teórico e contextual, de modo a intermediar a articulação entre as ações de enfermagem no cuidado ao RN sob fototerapia e o referencial teórico da Teoria da Complexidade de Edgar Morin.

Para tanto, realizou-se uma busca nos meses de janeiro e fevereiro de 2022, nas seguintes bases de dados: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), MEDLINE, Banco de Dados em Enfermagem (BDENF), utilizando os seguintes descritores: fototerapia, recém-nascido e cuidados de enfermagem, com o uso do operador boleando “AND” entre eles. A partir da busca, foi possível identificar 234 documentos nos idiomas português e inglês, dos quais 20 abordavam sobre a atuação do enfermeiro no cuidado ao recém-nascido sob fototerapia e 03 documentos, sobre políticas de saúde.

Após leitura e análise do material à luz da Teoria da Complexidade, emergiram as seguintes categorias reflexivas: Cuidados de enfermagem e elementos envolvidos na fototerapia; Cuidado Fragmentado; Dificuldades da Equipe de enfermagem.

CUIDADOS DE ENFERMAGEM E ELEMENTOS ENVOLVIDOS NA FOTOTERAPIA

O cuidado é propriedade humana desde a sua criação, emergindo como forma de viver e interagir com o mundo, onde engloba o senso comum, o cultural e o profissional. Destaca-se o cuidado enquanto tecnologia específica da enfermagem, que abrange a promoção e manutenção da vida, oriundo de constructos teóricos, modelos e planejamentos de ações. Portanto, o cuidado de enfermagem é técnico, científico, ético, estético e tem como referências as ciências da vida e humanas, num contexto da saúde que ainda é fragmentado ⁽⁷⁾.

A assistência de enfermagem ao RN sob fototerapia está prioritariamente direcionada aos cuidados com o uso apropriado dos equipamentos, cuidados com a pele e proteção ocular ^(8,9,10). Nesse contexto, a enfermagem possui relevante papel no fortalecimento das ações de saúde, buscando tornar seu trabalho eficaz, propondo um ambiente harmonioso, favorecendo a satisfação entre a tríade RN, mãe e profissional de enfermagem.

Entretanto, estudos evidenciam que o conhecimento da enfermagem se limita quanto a significante interferência negativa que pode acontecer ao relacionamento entre RN e mãe durante o tratamento⁽¹⁵⁾, além da não realização adequada dos cuidados, especialmente no setor público⁽¹⁶⁾. Ademais, percebe-se que a forma de prestar esses cuidados é fragmentada e não padronizada, havendo discrepâncias nas condutas entre os profissionais ⁽¹⁰⁾.

Ao pensar à luz da complexidade quanto ao cuidado de enfermagem ao RN hospitalizando para o tratamento da icterícia neonatal, em uso da fototerapia, é necessário considerar elementos envolvidos no fenômeno. Dentre os quais, destaca-se: hospitalização do neonato, a interrupção do contato pele a pele com a mãe, a suscetibilidade a problemas na amamentação, iatrogenias relacionadas ao procedimento ⁽¹⁶⁾ e a estruturação e a desestruturação familiar ocasionada pelo tratamento ⁽¹¹⁾. Dessa forma, compreende-se o fenômeno dentro de seu contexto e não somente a doença, buscando articular o trabalho multi, inter e transdisciplinar, a fim de partilhar responsabilidades⁽¹⁷⁾.

Sendo assim, a complexidade é um tipo de pensamento que considera todas as influências recebidas, internas e externas, e ainda enfrenta a incerteza e a contradição, sem deixar de conviver com a solidariedade dos fenômenos existentes, tendo como propósito sensibilizar para as carências do modelo fragmentado e compreender que um pensamento mutilador conduz necessariamente a ações mutilantes⁽¹¹⁾.

O CUIDADO FRAGMENTADO

A institucionalização e a hegemonia do modelo cartesiano e tecnocrático levaram a segmentação do ser humano e dos saberes, a diluição da subjetividade e a valorização do patológico em detrimento do humano ⁽¹²⁾. Considerando o modelo de saúde predominante no período da implementação do uso da fototerapia, nota-se que ainda hoje no cuidado ao neonato sob fototerapia, predomina o Paradigma da Simplificação, sobretudo, quando se percebe que os cuidados de enfermagem são prioritariamente destinados ao manuseio e controle dos equipamentos.

Tal paradigma tem como base a generalização, redução e separação dos fenômenos, impedindo a percepção do sujeito em toda sua complexidade, favorecendo o olhar da equipe ao paciente como um objeto, se assemelhando a máquinas e não a organismos ⁽¹¹⁾.

Para Merhy ⁽¹⁸⁾, o cuidado passa a ser fragmentado quando a percepção do indivíduo passa a ser de um corpo com problemas orgânicos e também “sem subjetividade, sem intenções, sem vontades, sem desejos”. Diante disso, esses aspectos não são considerados para cuidar integralmente da família e do recém-nascido buscando o cumprimento dos princípios das políticas de saúde, “consagrando a construção de modos de cuidar centrado em procedimentos”.

Sabe-se que, por muito tempo, o paradigma dominante na ciência preocupou-se em compartimentar e dividir o conhecimento em disciplinas, desencadeando a hiperespecialização, fazendo com que muitos profissionais se fechassem sobre seus objetos de trabalho, impedindo o diálogo com outras áreas, dificultando ainda mais as condutas adotadas na assistência à saúde ⁽¹¹⁾.

Pesquisas mostram que a especialização em enfermagem neonatal otimiza os conhecimentos e condutas dos enfermeiros frente aos profissionais de nível médio, em relação aos cuidados ao RN sob fototerapia ^(18,19), sendo assim, é válido destacar que a presente discussão não busca invalidar a importância do paradigma cartesiano na construção do conhecimento da enfermagem. Porém, é necessário considerar que a especialização dos profissionais de saúde gera um melhor preparo e aptidão para cuidar do paciente visando à cura, mas, como consequência, a singularidade e subjetividade do paciente têm sido deixadas sem atenção, como crenças, cultura, sentimentos, em detrimento das manifestações patológicas, fazendo com que o atendimento qualificado e humanizado perca espaço ⁽²⁰⁾.

DESAFIOS PARA A EQUIPE DE ENFERMAGEM

Movimentos intelectuais e socioculturais surgem em busca da conexão de saberes e práticas, como o pensamento complexo, que se configura como um referencial teórico e filosófico que pode contribuir para compreensão, reflexão e ações em diversos campos da enfermagem⁽²¹⁾. Morin, traz a necessidade de um saber que contemple um olhar ampliado sobre as distintas dimensões presentes em um fenômeno, considerando todas as influências recebidas, internas e externas, e ainda enfrenta a incerteza e a contradição, sem deixar de conviver com a solidariedade dos fenômenos existentes⁽²²⁾.

Dessa forma, a adoção do pensamento complexo no cuidado em enfermagem, motiva a buscar por uma assistência integrada ao contexto do paciente, gerando conexões de saberes e práticas⁽²²⁾. Ao considerarmos o ser humano como um ser complexo, o cuidado se transforma em uma ação complexa, interdisciplinar, direcionando-se à transdisciplinaridade. Esta maneira de pensar torna possível que a questão da complexidade dos problemas de saúde dos seres humanos seja mais bem trabalhada, recorrendo-se ao auxílio da união dos saberes para o desenvolvimento das ações⁽²³⁾.

Considerando que o pensamento complexo valoriza o trabalho transdisciplinar, é preciso que haja a complementariedade de saberes no que tange o cuidado ao RN sob fototerapia. Todavia, um estudo mostra que apesar da equipe de enfermagem demonstrar ter conhecimento acerca dos cuidados ao RN sob fototerapia, a mesma aponta o médico como o único profissional responsável pela avaliação dos possíveis efeitos colaterais e complicações, ficando a assistência de enfermagem restrita a prescrição médica⁽²⁴⁾.

É importante ressaltar que a atuação do profissional de forma individualizada o torna menos apto a ampliar os conhecimentos e agregá-los ao seu trabalho. O diálogo entre os diversos saberes e a sedimentação de um trabalho interdisciplinar favorece a atenção integral⁽²⁵⁾. Conforme Morin⁽¹²⁾, a separação das disciplinas impossibilita compreender o complexo, ou seja, aquilo que está organizado em rede, já que a falta da não percepção do global conduz ao enfraquecimento da responsabilidade e da solidariedade entre os seres humanos, sendo a concepção da simplificação insuficiente para responder à complexidade da auto-organização e, uma estrutura que apresenta vantagens, mas comporta também riscos e fragilidades.

Sendo assim, trazer o pensamento complexo para o cuidado implica na construção de princípios teóricos articulados com os avanços da enfermagem na qualidade de ciência, arte e profissão, considerando, a pessoa humana, à ética, o ambiente sujeito às variações entre a ordem, a desordem e a reorganização. Essa abordagem aponta a interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade como um caminho para a reconstrução de conhecimento no contexto contemporâneo⁽²⁶⁾.

No que se refere às dificuldades encontradas pela equipe de enfermagem na superação do paradigma cartesiano, com ações fragmentadas e intervencionistas, ainda muito presente na maioria nas instituições de saúde, destacam-se a valorização do cuidado hospitalar e a formação acadêmica pautada no modelo biomédico, hospitalocêntrico⁽²⁷⁾.

Igualmente, a forma pelo qual o trabalho do enfermeiro acontece no cotidiano, desencadeia a falta de estímulo para o pensamento crítico sobre a realidade, que possibilitaria produzir novas perspectivas acerca dos fenômenos em saúde, pois as estruturas curriculares nos cursos de graduação são organizadas de maneira que pouco auxilia na resolução dessas questões, o que resulta também, em uma desconsideração do aprendizado decorrente da sua própria vivência no serviço⁽²⁸⁾.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base na reflexão proposta, é possível perceber o recém-nascido na condição de ser humano multidimensional com singularidades, que não podem ser desconsideradas na assistência de enfermagem prestada durante a fototerapia, tendo em vista que o cuidado não deve ser executado de forma reducionista, frente à hegemonia de um modelo assistencial.

A fim de transformar o cuidado, buscando a humanização na assistência à saúde do RN, foram instituídas políticas públicas no Brasil. Entretanto, existem entraves na execução de seus princípios nos serviços de saúde, percebidos pela organização e estruturação fragmentada da assistência oferecida nas unidades neonatais. Em decorrência disso, os neonatos e seus familiares recebem cuidados centrados em procedimentos técnicos, manutenção de aparelhos de fototerapia e na doença, não sendo assistidos integralmente, pois muitas vezes as suas reais necessidades não recebem atenção.

Isto posto, se faz necessária a reestruturação na formação dos profissionais de enfermagem, aliada ao compromisso de toda equipe de saúde em romper com o modelo hegemônico pautada na hiperespecialização, buscando a adoção do paradigma da complexidade com vistas às transformações necessárias no âmbito do cuidado ao neonato, fundamentados na política de humanização, através de atitudes éticas nas relações intersubjetivas.

Repensar o manejo ao neonato sob fototerapia, frente à complexidade, é entender o cuidado de enfermagem como algo que ultrapassa a visão biologicista e mecanicista, devendo ser oferecido de forma integral, envolto de conhecimentos científicos e influenciado pela história de vida, suas peculiaridades e das relações incluídas nesse processo. A partir da compreensão da complexidade, torna-se possível ter uma visão ampla e solidária das necessidades individuais de cada neonato e família, tornando-os sujeitos protagonistas de direitos.

Nessa perspectiva, a enfermagem ganha destaque, visto que pode possibilitar a formação de profissionais reflexivos e capazes de trabalhar em cooperação com os demais membros da equipe, na construção de novos saberes, possibilidades e práticas de modo a garantir a integralidade na assistência ao recém-nascido sob fototerapia.

Dessa forma, indica-se a necessidade de novas investigações que abordem o tratamento da icterícia neonatal com fototerapia e o papel da equipe de enfermagem no cuidado ao recém-nascido no contexto hospitalar, além da necessidade da padronização do cuidado, considerando o neonato enquanto ser complexo.

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Submissão: 18-04-2022

Aprovado: 06-10-2022