PERCEPÇÃO DE ESTUDANTES DE ENFERMAGEM SOBRE ENSINO-APRENDIZAGEM DE PERÍODOS CLÍNICOS E MECANISMOS DE PARTO

 

NURSING STUDENTS' PERCEPTION ABOUT TEACHING AND LEARNING OF CLINICAL PERIODS AND BIRTH MECHANISMS

 

PERCEPCIÓN DE LOS ESTUDIANTES DE ENFERMERÍA SOBRE LA ENSEÑANZA Y EL APRENDIZAJE DE LOS PERÍODOS CLÍNICOS Y MECANISMOS DE NACIMIENTO


 

1Beatriz Gonzaga Lima

2Francisco Werbeson Alves Pereira

3Jameson Moreira Belém

4Ana Virgínia de Melo Fialho

5Maria Rocineide Ferreira da Silva

6Emanuelly Vieira Pereira

 

1Universidade Regional do Cariri (URCA), Iguatu, Ceará, Brasil. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7770-1516

2Universidade Regional do Cariri (URCA), Iguatu, Ceará, Brasil. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3371-7238

3Universidade Regional do Cariri (URCA), Crato, Ceará, Brasil. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1903-3446

4Universidade Estadual do Ceará (UECE), Fortaleza, Ceará, Brasil. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4471-1758

5Universidade Estadual do Ceará (UECE), Fortaleza, Ceará, Brasil. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6086-6901

6Universidade Regional do Cariri (URCA), Crato, Ceará, Brasil. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1457-6281

 

Autor correspondente

Emanuelly Vieira Pereira 

Endereço: Rua Cel. Antônio Luiz, 1161 - Pimenta- Crato, Ce – Brasil - CEP: 63105-000

Telefone: +55 (88) 99980-9919

E-mail: emanuelly.v.p@gmail.com

 

 

RESUMO

Objetivo: Descrever a percepção de acadêmicos de Enfermagem sobre o processo ensino-aprendizagem de períodos clínicos e mecanismos de parto. Método: Pesquisa descritiva com abordagem qualitativa realizada com 12 acadêmicas de enfermagem recrutadas mediante a utilização da técnica snowboll no período de março a junho de 2020 via Skype® utilizando entrevista semiestruturada. Os dados foram organizados em três categorias e realizou-se a análise categorial temática. Resultados: Evidenciaram três categorias temáticas: Categoria 1- O processo de ensino aprendizagem sobre períodos clínicos e mecanismos de parto na graduação de enfermagem; Categoria 2- Facilidades e dificuldades no processo ensino-aprendizagem sobre períodos clínicos e mecanismos de parto na graduação de enfermagem; Categoria 3: Necessidades para serem discutidas no processo ensino aprendizagem sobre períodos clínicos e mecanismos de parto na graduação de enfermagem. Os achados evidenciaram que os discentes reconheceram suas próprias dificuldades relacionadas ao comprometimento, organização e corresponsabilidade em desenvolver estudos sobre a temática. Apontaram como principal limitação à desarticulação entre teoria e prática e como potencialidade a utilização de metodologias ativas. Enfatizaram a necessidade de articulação teórico-prática e ampliação de assuntos sobre a temática, mudanças nos recursos e estratégias pedagógicas, com vistas a favorecer a aprendizagem significativa e contribuir para a oferta de cuidados obstétricos. Considerações finais: Conclui-se que o processo de ensino-aprendizagem sobre períodos clínicos e mecanismos de parto revela fragilidades relativas a forma de abordagem didática e dificuldades de assimilação dos conteúdos, dissociação teórico-prática, dificuldades de organização da rotina de estudos pelos discentes.

Palavras-chave: Educação Superior; Bacharelado em Enfermagem; Educação em Enfermagem; Saúde da Mulher; Parto.

 

ABSTRACT

Objective: To describe the perception of Nursing students about the teaching-learning process of clinical periods and delivery mechanisms. Method: Descriptive research with a qualitative approach carried out with 12 nursing students recruited using the snowboll technique from March to June 2020 via Skype® using a semi-structured interview. Data were organized into three categories and thematic categorical analysis was performed. Results: Three thematic categories were evidenced: Category 1- The teaching-learning process about clinical periods and childbirth mechanisms in nursing graduation; Category 2- Facilities and difficulties in the teaching-learning process about clinical periods and delivery mechanisms in nursing graduation; Category 3: Needs to be discussed in the teaching-learning process about clinical periods and childbirth mechanisms in nursing graduation. The findings showed that the students recognized their own difficulties related to commitment, organization and co-responsibility in developing studies on the subject. They pointed out as the main limitation the disarticulation between theory and practice and as a potentiality the use of active methodologies. They emphasized the need for theoretical-practical articulation and expansion of subjects on the subject, changes in resources and pedagogical strategies, with a view to favoring meaningful learning and contributing to the provision of obstetric care. Final considerations: It is concluded that the teaching-learning process on clinical periods and delivery mechanisms reveals weaknesses related to the didactic approach and difficulties in assimilating the contents, theoretical-practical dissociation, difficulties in organizing the study routine by the students.

Keywords: Eeducation, Higher; Education, Nursing, Baccalaureate; Education, Nursing; Women's Health; Parturition.

 

RESUMEN

Objetivo: Describir la percepción de los estudiantes de Enfermería sobre el proceso de enseñanza-aprendizaje de los períodos clínicos y los mecanismos de entrega. Método: Investigación descriptiva con enfoque cualitativo realizada con 12 estudiantes de enfermería reclutados mediante la técnica de bola de nieve de marzo a junio de 2020 a través de Skype® mediante entrevista semiestructurada. Los datos se organizaron en tres categorías y se realizó un análisis categórico temático. Resultados: Se evidenciaron tres categorías temáticas: Categoría 1- El proceso de enseñanza-aprendizaje sobre los períodos clínicos y los mecanismos del parto en la graduación de enfermería; Categoría 2- Facilidades y dificultades en el proceso de enseñanza-aprendizaje sobre períodos clínicos y mecanismos de entrega en la graduación de enfermería; Categoría 3: Necesita ser discutido en el proceso de enseñanza-aprendizaje sobre los períodos clínicos y los mecanismos del parto en la graduación de enfermería. Los hallazgos mostraron que los estudiantes reconocieron sus propias dificultades relacionadas con el compromiso, la organización y la corresponsabilidad en el desarrollo de estudios sobre el tema. Señalaron como principal limitación la desarticulación entre teoría y práctica y como potencialidad el uso de metodologías activas. Enfatizaron la necesidad de articulación teórico-práctica y ampliación de asignaturas sobre el tema, cambios en los recursos y estrategias pedagógicas, con miras a favorecer el aprendizaje significativo y contribuir a la prestación de la atención obstétrica. Consideraciones finales: Se concluye que el proceso de enseñanza-aprendizaje sobre períodos clínicos y mecanismos de impartición revela debilidades relacionadas con el enfoque didáctico y dificultades en la asimilación de los contenidos, disociación teórico-práctica, dificultades en la organización de la rutina de estudio por parte de los estudiantes.

Palabras clave: Educación Superior; Bachillerato en Enfermería; Educación en Enfermería; Salud de la Mujer; Parto.


 

INTRODUÇÃO

A assistência à parturição requer abordagem realizada por equipe multiprofissional embasada em conhecimentos científicos e que utilize técnicas e procedimentos conforme as fases do trabalho de parto1.

Considerando esse modelo colaborativo de assistência ao parto a participação do enfermeiro contribui para respeito à fisiologia do parto e resgate ao protagonismo da mulher, redução de intervenções desnecessárias, implementação de boas práticas assistenciais potencializadoras de desfechos obstétricos e neonatais favoráveis e humanização do cuidado2.

Fisiologicamente, o trabalho de parto eutócico caracteriza-se por alterações relacionadas à presença de contrações dolorosas, rítmicas e contínuas, apagamento e dilatação cervical variáveis conforme a fase (ativa e latente) e que culminam com a dilatação total, expulsão do feto e seus anexos3.

Desse modo, o parto caracteriza-se por uma série de eventos/fases distintas que, a título compreensão, podem ser divididas em quatro períodos clínicos: dilatação, expulsão, dequitação e primeira hora pós-parto ou período de Greenberg3-4. Durante o período expulsivo ocorre uma série de mecanismos de parto (insinuação, descida, rotação interna, desprendimento cefálico, rotação externa e desprendimento do ovóide córmico) caracterizados por um conjunto de movimentos ativos e passivos realizados pelo feto durante a passagem pelo canal de parto4.

A compreensão desses aspectos fisiológicos relacionados aos períodos clínicos e mecanismos do parto constitui uma dimensão importante a ser abordada durante a formação em saúde/enfermagem com vistas a favorecer a avaliação da progressão do trabalho de parto, desenvolvimentos de cuidados e identificação precoce de intercorrências1,5, mas não deve se limitar aos aspectos físicos à medida que deve considerar os significados, aspectos sociais, subjetivos e a humanização na assistência à parturição6.

Entretanto, durante a formação os discentes sentem dificuldade em compreender determinados conteúdos teóricos e aplicá-los nas práticas de estágio de modo a articular teoria e prática, o que requer incorporação de metodologias ativas no processo de ensino-aprendizagem e revisão curricular7.  No contexto de ensino sobre períodos clínicos e mecanismos de parto estudos sugerem ainda a incorporação de jogos educativos5 e práticas simuladas8-9 durante a formação em enfermagem.

Neste sentido, o processo de formação desses profissionais deve ser capaz de favorecer a aquisição de conhecimentos, habilidades e atitudes para o desenvolvimento de um perfil acadêmico e profissional que atue como agente de mudança na (re)organização das práticas de saúde de forma crítica-reflexiva e humanista10.  Logo, para o desenvolvimento dessas competências deve-se considerar os processos formativos em saúde vivenciados por acadêmicos de enfermagem.

Diante do exposto e considerando o processo de ensino-aprendizagem como mecanismo para a formação profissional objetivou-se descrever a percepção de acadêmicos de Enfermagem sobre o processo ensino-aprendizagem de períodos clínicos e mecanismos de parto.

 

MÉTODOS

Trata-se de pesquisa descritiva com abordagem qualitativa. A população do estudo foi constituída por 133 acadêmicos do curso de Enfermagem da Universidade Regional do Cariri- Campus Avançado de Iguatu, localizada na zona urbana do município de Iguatu, Ceará, Brasil.

Foram incluídos discentes do oitavo ao décimo semestre regularmente matriculados no curso de graduação em enfermagem e que haviam concluído a disciplina de Enfermagem no processo de cuidar em saúde da mulher, sendo abordados 16 acadêmicos e excluídos quatro por não disponibilidade para coleta após duas tentativas de agendamento. Assim participaram do estudo 12 acadêmicas de enfermagem.

Utilizou-se a técnica snowball de modo a selecionar os discentes que corresponderam aos participantes da pesquisa, no período de disponibilidade para a coleta. A técnica de snowball também conhecida como snowball sampling (“Bola de neve”) se caracteriza pela escolha inicial de um participante (sorteou-se um dos três representantes das turmas que já haviam cursado a disciplina). Esse em seguida indica um novo participante, que indica novamente e assim por diante até atingir o objetivo da pesquisa11. Após a identificação e abordagem do participante informando os objetivos da pesquisa e procedimentos para coleta de dados aguardou-se até 48 horas para o agendamento das entrevistas em horário favorável ao discente.

A coleta de dados ocorreu de março a junho de 2020. Considerando as recomendações de isolamento social decorrentes da pandemia relacionada Coronavírus Disease 2019 (COVID-19) vigentes à época da coleta de dados foi operacionalizada por meio do aplicativo Skype®.

Utilizou-se para coleta de dados uma entrevista semiestruturada, contendo dados de caracterização dos participantes (estado civil, cor/etnia, sexo, orientação sexual, escolaridade, situação profissional, profissão, domicílio e renda mensal familiar), seguido por um roteiro de perguntas previamente estruturado referentes ao processo ensino-aprendizagem sobre períodos clínicos e mecanismos do parto: 1. O que você entende por trabalho de parto e parto? 2. O que você entende por períodos clínicos do parto? Quais são eles? 3. Qual o conceito de mecanismos de parto? Quais são eles? 4. Qual a diferença entre períodos clínicos e mecanismos de parto? 5. Contem-me sobre como foram abordadas as temáticas de períodos clínicos e mecanismos de parto na graduação de enfermagem? 6. Conte-me sobre como você considera seu aprendizado em relação às temáticas de períodos clínicos e mecanismos de parto. 7. Conte-me sobre fatores intervenientes (positivos e negativos) no processo de ensino aprendizagem em relação às temáticos períodos clínicos e mecanismos de parto.8. Quais sugestões para melhorar a assimilação do conteúdo?

A entrevista foi gravada através de aparelho smartphone da marca SAMSUNG modelo A10 e através da tecnologia do aplicativo Skype® que permite realizar ligações para os participantes com o uso de outro smartphone. Posteriormente, as falas foram transcritas na íntegra, sendo transpostas para o Microsoft Office Word® versão 2010. Foi providenciada uma conversa prévia sobre a situação atual para realizar a entrevista. Os participantes assinaram eletronicamente o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e o Termo de Consentimento Pós- Esclarecido, bem como o termo de autorização do uso de voz e imagem.

Para encerramento da coleta de dados utilizou-se o critério de saturação teórica.

Os dados obtidos foram analisados conforme a técnica de análise categorial temática12. Mediante a análise do conteúdo das falas, reuniu-se e agruparam-se os elementos em razão das suas características comuns procedeu-se a interpretação e descrição dos dados coletados, neste processo a partir dos padrões de recorrência das informações emergiram empiricamente as três categorias temáticas apresentadas nos resultados nas quais foram apresentados trechos de falas das participantes. Para conferir o anonimato das participantes essas foram identificadas pela letra A referente à palavra Acadêmica seguido de número correspondente à ordem de realização da entrevista.

A pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) e atendeu aos princípios éticos da resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde, respeitando todas as recomendações concernentes a pesquisa envolvendo seres humanos, sendo aprovada com o parecer nº 3.895.905 e CAAE:28640420.5.0000.5055.

 

RESULTADOS

Entre os 12 participantes há totalidade do sexo feminino. A idade variou de 20 a 25 anos de idade, com média de 22,2 anos. A maioria autodeclarou-se de cor parda (n=09), solteira (n=10) e heterossexual (n=10). Predominaram acadêmicas matriculadas no 9º semestre (n= 07), nenhuma das participantes trabalhava e apenas três participantes recebiam bolsa e/ou auxílio financeiro institucional.

Categoria 1- O processo de ensino aprendizagem sobre períodos clínicos e mecanismos de parto na graduação de enfermagem

O processo ensino-aprendizagem sobre períodos clínicos e mecanismos de parto na perspectiva das acadêmicas de enfermagem foi realizado por meio de aulas expositivas e estratégias interativas com articulação teórico-prática, conforme mencionaram as participantes: 

Foi por meio de aula expositiva onde a professora tinha imagens e vídeos, onde tivemos contato nos estágios. (A3)

Essa temática foi abordada através de aula teórica mesmo, através da didática de slides de oratória e somente. (A4)

Foram abordadas de maneira explicativa por meio dos slides, alguns vídeos e [...] teve uma demonstração com os bonecos anatômicos da faculdade. (A8)

[...] (os professores) levam vídeos e slides, textos, vamos para o laboratório, tem toda aquela parte anatômica [...]. (A5)

O ensino embora considerado bem elaborado por utilizar abordagens dinâmicas com inclusão de metodologias ativas, caracterizava-se pelo conteúdo extenso ministrado em curto período de tempo, resultando em dificuldades de aprendizado.

Além disso, com o passar do tempo às acadêmicas relataram dificuldades de resgatar os conhecimentos adquiridos por serem específicos:

Foi de forma clara e completa, a gente acaba por não lembrar após a cadeira (disciplina) e, infelizmente, os professores têm pouco tempo para falar sobre tudo. (A1)

[...] foram abordados de uma maneira muito boa, porém eu acho que como são muitos assuntos [...] em um período curto de tempo [...] ficava muita coisa para estudar [...].” (A10)

Foi abordado de forma bem dinâmica porque as professoras da disciplina gostavam de metodologias ativas, então ficou de uma forma bem dinâmica e perceptível, mas com o tempo a gente vai vendo outras coisas e vai meio que esquecendo, tem que ficar revisando. (A2)

[...] essa cadeira (disciplina) foi a que a gente pagou (cursou) melhor [...] a gente via o conteúdo e depois via essas metodologias ativas e fixou mais na mente [...] (A11)

Olha para ser sincera eu gostei muito, foi uma das minhas melhores matérias, acho que a melhor da graduação foi saúde da mulher e apesar de ser um pouco complicado a gente estar aprendendo esses nomezinhos, a gente fixando a ideia principal [...] já é muito importante e as professoras conseguiram fazer de uma forma dinâmica que a gente conseguisse entender bem isso. (A7)

[...] eu realmente consegui absorver muita coisa. Só que com o passar do tempo a gente não vai estudando e acaba esquecendo algumas coisas que são muito específicas [...]. A gente fica até perdida, mas foi muito boa a abordagem. Eu gostei. (A5)

 

As abordagens metodologias foram consideradas pelos acadêmicos como úteis para favorecer o processo de ensino-aprendizagem. Entretanto, esse não ocorreu de forma significativa à medida que os discentes referem dificuldades em distinguir os conceitos, períodos clínicos e mecanismos de parto:

Elas foram abordadas de uma forma [...] de metodologia ativa, tinha tanto aula teórica com slides, como a disponibilidade de livros, tinha gincanas, brincadeiras em equipe [...] É que são tantos assuntos de saúde da mulher e foi abordado de uma maneira muito boa, mas eu particularmente não lembro muito desses conceitos. (A10)

Assim foi bem dada à aula, abordagem explicativa, teve metodologias ativas, só que eu não me lembro mesmo, só de algumas coisas [...] (A11)

Os professores eles realmente passaram bem (o conteúdo), usaram várias temáticas, metodologias ativas e deu sim para realmente entender sobre período clínico e período de parto só que realmente a gente esquece porque faz tempo. (A12)

As acadêmicas reconhecem que parte dessa não assimilação de conteúdo decorrem de suas próprias fragilidades no processo de corresponsabilização/comprometimento durante o ensino-aprendizagem e enfatizaram a necessidade de incluir rotina de revisão de estudos:

Considero (o ensino-aprendizagem) positivo, mas da minha parte negativo [...] como já disse eles (os professores) não estão com falta com a gente, explicam bem, são conceituados, eles se dispõem. Acho que o tempo é pouco, deveria ter mais tempo e o que pesa mais é a questão de nós mesmos estarmos revisando aquilo na nossa casa e no tempo livre. Porque o professor faz a parte dele, por mais que seja pouco tempo, explica todo o conteúdo e a gente tem que se responsabilizar por estudar aquilo. (A1)

Foi bom, só que eu desaprendi muita coisa em decorrência de não revisar o conteúdo. (A3)

Eu acredito que eu tenho certo conhecimento, mas preciso me aprofundar mais, mas é uma área que eu gosto bastante e que pretendo seguir. (A4)

[...] eu consegui absorver muita coisa [...] só que quando a gente não exercita [...] não lê [...] acaba que a gente esquece alguma coisa, vem aquele flash, mas nunca lembra de lembrar tudo [...].  (A5)

[...] eu tenho que revisar. Na verdade, o que eu sei não é nem o que aprendi na graduação, mas porque agora nesse período de quarentena estou estudando um pouco [...] sobre esse assunto, mas no decorrer mesmo da graduação a gente não vê tanto isso, não se sente muito preparado, não sabe. (A9)

Claro que todo semestre a gente tem que estar repassando, tem que estar estudando por isso que a gente esquece de algumas coisas, mas foi bem repassado. (A12)

 

O aprendizado foi referido como fragilizado à medida que as participantes apresentaram relativa compreensão da teoria, mas não conseguiram articular os conhecimentos na prática.

Em função da dificuldade de aprendizagem relatada, apontaram a necessidade de ampliar os conhecimentos sobre a temática de períodos clínicos e mecanismos de parto durante as práticas nos estágios a partir de uma abordagem que considerasse não somente os aspectos técnicos, mas subjetivos inerentes ao cuidado obstétrico:

[...] é muito superficial [...] já estou no 9º semestre mas eu já vi parto presencialmente no decorrer dos estágios. Só que quando a gente se depara com a realidade eu acho que a gente tá muito despreparado no que diz a teoria. [...]. No que se refere a teoria [...] a gente até vê a questão dos períodos clínicos, sabe que tem as fases que é latente, ativa e de transição só que quando está lá na hora mesmo na realidade todo mundo se sente muito despreparado. Eu acho que isso deveria ser mais trabalhado na graduação [...]. (A9)

[...] eu ainda tenho que aprender muito, é um assunto que eu me interesso também e principalmente aprender e colocar na prática, que a gente não vê tanto na assistência e trabalhar bem o emocional dessa mãe e não está ligada apenas aos termos técnicos. (A7)

Eu considero frágil, uma vez que a gente vê na teoria, mas na prática não conseguimos associar muitas das vezes [...]. Não temos uma fase concisa desse mecanismo ensinando como acontece e nem nos estágios a gente vê esse processo de ensino. (A8)

            Nessa categoria as participantes apontaram como ocorreu o processo de ensino-aprendizagem e reconheceram suas próprias dificuldades, enfatizando aspectos relacionados ao comprometimento, organização e corresponsabilidade em relação aos estudos sobre a temática.

Categoria 2- Facilidades e dificuldades no processo ensino-aprendizagem sobre períodos clínicos e mecanismos de parto na graduação de enfermagem

 

As acadêmicas relataram que os aspectos potencializadores do processo de ensino-aprendizagem relacionavam-se a forma como os conteúdos eram ministrados (linguagem clara, acessível, detalhada e com articulação teórico-prática e enfatizavam o domínio do conteúdo, a explicação detalhada e disposição dos docentes para o ensino e esclarecimento de dúvidas:

Os professores são dispostos a falar sobre aquilo e explicar direitinho, de forma clara. (A1)

Conseguimos tirar todas as dúvidas [...]. (A3)

[...] os professores possuem domínio da temática [...] em sala de aula. (A4)

[...] as aulas foram bem explanadas [... foi feita uma abordagem também teórico-prática [...] no laboratório, vimos como eram os mecanismos [...] muitas imagens, vídeos [...] (A5)

[...] a gente tinha uma professora que mostrava todos os aspectos a todo o momento da temática. (A6)

[...] elas (as professoras) aplicaram de uma forma dinâmica que a gente conseguisse fixar bem o conteúdo. (A7)

[...] explanação detalhada, tanto dos períodos como dos mecanismos de parto. (A8)

 

As discentes também mencionaram positivamente a utilização das metodologias ativas no processo de ensino-aprendizagem como estratégia que facilitou a compreensão do conteúdo.

 

[...] essas metodologias ativas eram muito boas, instigavam a gente a estudar até materiais extras [...] procurava estar estudando, lendo outras coisas. Então acho isso muito bom. (A10)

[...] o positivo é que usaram muitas metodologia ativas, variaram muito o tipo de aula. (A12)

Em contrapartida, as acadêmicas relataram que os aspectos negativos se relacionavam principalmente a dificuldade em articular teoria e prática e as poucas oportunidades de vivências práticas durante os estágios da disciplina:

Mas não tivemos tanta prática. (A3)

Porém, o que falta muito é a prática para entender melhor e consolidar o aprendizado. (A4)

O negativo mesmo é mais a questão da gente não ter visto mais em estágio [...], mas em relação à aula em si a questão teórica foi bem explanada [...]. (A5)

Ponto negativo unir a teoria à prática, teve pouco isso. A gente sabia muito na teoria, sabia falar, sabia o tempo de trabalho de parto e os mecanismos, mas quando iria atender não conseguimos. Então acho que é uma falha no processo ensino-aprendizagem. (A8)

Negativo é que poderia ter. Foi por meio de aula expositiva onde a professora tinha imagens e vídeos, onde tivemos contato nos estágios. (A3)

Essa temática foi abordada através de aula teórica mesmo, através da didática de slides de oratória e somente. (A4)

Foram abordadas de maneira explicativa por meio dos slides, alguns vídeos e [...] teve uma demonstração com os bonecos anatômicos da faculdade. (A8)

[...] (os professores) levam vídeos e slides, textos, vamos para o laboratório, tem toda aquela parte anatômica [...]. (A5)

Foi de forma clara e completa, a gente acaba por não lembrar após a cadeira (disciplina) e, infelizmente, os professores têm pouco tempo para falar sobre tudo. (A1)

[...] foram abordados de uma maneira muito boa, porém eu acho que como são muitos assuntos [...] em um período curto de tempo [...] ficava muita coisa para estudar [...].” (A10)

Foi abordado de forma bem dinâmica porque as professoras da disciplina gostavam de metodologias ativas, então ficou de uma forma bem dinâmica e perceptível, mas com o tempo a gente vai vendo outras coisas e vai meio que esquecendo, tem que ficar revisando. (A2)

[...] essa cadeira (disciplina) foi a que a gente pagou (cursou) melhor [...] a gente via o conteúdo e depois via essas metodologias ativas e fixou mais na mente [...] (A11)

Olha para ser sincera eu gostei muito, foi uma das minhas melhores matérias, acho que a melhor da

graduação foi saúde da mulher e apesar de ser um pouco complicado a gente estar aprendendo esses nomezinhos, a gente fixando a ideia principal [...] já é muito importante e as professoras conseguiram fazer de uma forma dinâmica que a gente conseguisse entender bem isso. (A7)

[...] eu realmente consegui absorver muita coisa. Só que com o passar do tempo a gente não vai estudando e acaba esquecendo algumas coisas que são muito específicas [...]. A gente fica até perdida, mas foi muito boa a abordagem. Eu gostei. (A5)

Elas foram abordadas de uma forma [...] de metodologia ativa, tinha tanto aula teórica com slides, como a disponibilidade de livros, tinha gincanas, brincadeiras em equipe [...] É que são tantos assuntos de saúde da mulher e foi abordado de uma maneira muito boa, mas eu particularmente não lembro muito desses conceitos. (A10)

Assim foi bem dada à aula, abordagem explicativa, teve metodologias ativas, só que eu não me lembro mesmo, só de algumas coisas [...] (A11)

Os professores eles realmente passaram bem (o conteúdo), usaram várias temáticas, metodologias ativas e deu sim para realmente entender sobre período clínico e período de parto só que realmente a

Considero (o ensino-aprendizagem) positivo, mas da minha parte negativo [...] como já disse eles (os professores) não estão com falta com a gente, explicam bem, são conceituados, eles se dispõem. Acho que o tempo é pouco, deveria ter mais tempo e o que pesa mais é a questão de nós mesmos estarmos revisando aquilo na nossa casa e no tempo livre. Porque o professor faz a parte dele, por mais que seja pouco tempo, explica todo o conteúdo e a gente tem que se responsabilizar por estudar aquilo. (A1)

Foi bom, só que eu desaprendi muita coisa em decorrência de não revisar o conteúdo. (A3)

Eu acredito que eu tenho certo conhecimento, mas preciso me aprofundar mais, mas é uma área que eu gosto bastante e que pretendo seguir. (A4)

[...] eu consegui absorver muita coisa [...] só que quando a gente não exercita [...] não lê [...] acaba que a gente esquece alguma coisa, vem aquele flash, mas nunca lembra de lembrar tudo [...].  (A5)

[...] eu tenho que revisar. Na verdade, o que eu sei não é nem o que aprendi na graduação, mas porque agora nesse período de quarentena estou estudando um pouco [...] sobre esse assunto, mas no decorrer mesmo da graduação a gente não vê tanto isso, não se sente muito preparado, não sabe. (A9)

Claro que todo semestre a gente tem que estar repassando, tem que estar estudando por isso que a gente esquece de algumas coisas, mas foi bem repassado. (A12)

[...] é muito superficial [...] já estou no 9º semestre mas eu já vi parto presencialmente no decorrer dos estágios. Só que quando a gente se depara com a realidade eu acho que a gente tá muito despreparado no que diz a teoria. [...]. No que se refere a teoria [...] a gente até vê a questão dos períodos clínicos, sabe que tem as fases que é latente, ativa e de transição só que quando está lá na hora mesmo na realidade todo mundo se sente muito despreparado. Eu acho que isso deveria ser mais trabalhado na graduação [...]. (A9)

[...] eu ainda tenho que aprender muito, é um assunto que eu me interesso também e principalmente aprender e colocar na prática, que a gente não vê tanto na assistência e trabalhar bem o emocional dessa

mãe e não está ligada apenas aos termos técnicos. (A7)

Eu considero frágil, uma vez que a gente vê na teoria, mas na prática não conseguimos associar muitas das vezes [...]. Não temos uma fase concisa desse mecanismo ensinando como acontece e nem nos estágios a gente vê esse processo de ensino. (A8)

Os professores são dispostos a falar sobre aquilo e explicar direitinho, de forma clara. (A1)

Conseguimos tirar todas as dúvidas [...]. (A3)

[...] os professores possuem domínio da temática [...] em sala de aula. (A4)

[...] as aulas foram bem explanadas [... foi feita uma abordagem também

teórico-prática [...] no laboratório, vimos como eram os mecanismos [...] muitas imagens, vídeos [...] (A5)

[...] a gente tinha uma professora que mostrava todos os aspectos a todo o momento da temática. (A6)

[...] elas (as professoras) aplicaram de uma forma dinâmica que a gente conseguisse fixar bem o conteúdo. (A7)

[...] explanação detalhada, tanto dos períodos como dos mecanismos de parto. (A8)

[...] essas metodologias ativas eram muito boas, instigavam a gente a estudar até materiais extras [...] procurava estar estudando, lendo outras coisas. Então acho isso muito bom. (A10)

[...] o positivo é que usaram muitas metodologia ativas, variaram muito o tipo de aula. (A12)

Mas não tivemos tanta prática. (A3)

Porém, o que falta muito é a prática para entender melhor e consolidar o aprendizado. (A4)

O negativo mesmo é mais a questão da gente não ter visto mais em estágio [...], mas em relação à aula em si a questão teórica foi bem explanada [...]. (A5)

Ponto negativo unir a teoria à prática, teve pouco isso. A gente sabia muito na teoria, sabia falar, sabia o tempo de trabalho de parto e os mecanismos, mas quando iria atender não conseguimos. Então acho que é uma falha no processo ensino-aprendizagem. (A8)

Negativo é que poderia ter prática sobre esse assunto que a gente não teve muito. (A11)

A negativa é porque a gente teve pouca prática. (A12)

mais prática sobre esse assunto que a gente não teve muito. (A11)

A negativa é porque a gente teve pouca prática. (A12)

         

          Outro aspecto que influenciou negativamente no ensino-aprendizagem refere-se às questões organizacionais relacionadas ao semestre letivo, à medida que a disposição e quantidade extensa de conteúdos eram insuficientes para serem ministrados em curtos períodos de tempo:

O tempo é pouco, pois saúde da mulher tem muita coisa e nosso semestre é curto. São quatro meses acaba que fica corrido, mas foi boa. (A2)

[...] era um curto período de tempo para trabalhar muitos assuntos, porque saúde da mulher é um mundo muito grande, então às vezes você tinha uma aula para ser trabalhada e tentar sanar suas dúvidas sobre um assunto que é muito extenso. (A10)

[...] é um assunto tão extenso que precisava ser debatido mais, eu achei pouco o semestre para debater esses assuntos, que eles têm muito assunto ainda aí pra ser discutido. (A7)

Ainda foram mencionados aspectos negativos relacionados à forma como os conteúdos eram ministrados que se encontravam centrados em abordagem de ensino tradicional:

Negativo é não ser tão didático, ser mais em slides, as mesmas coisas de sempre. (A1)

Negativo é que faltaram métodos ativos. (A6)

Só que um fator negativo é que isso além de ser pouco abordado eles falam de uma maneira muito superficial e uma coisa muito mecanizada, é slide, é uma coisa que é totalmente jogada para os alunos e eu acho que isso dificulta demais o aprendizado que quando a gente vai para a realidade fica uma coisa que não casa muito bem, a gente sente muita dúvida. Tem um déficit no que diz respeito a esses assuntos, trabalho de parto e cuidados com RN. A gente se sente despreparado demais. (A9)

Nessa categoria foram mencionados os fatores intervenientes no processo ensino-aprendizagem das discentes sobre períodos clínicos e mecanismos de parto, enfatizando como potencialidade a utilização de metodologias ativas e como principal limitação a desarticulação entre teoria e prática.

Categoria 3: Necessidades para serem discutidas no processo ensino idades para serem discutidas no processo ensino aprendizagem sobre períodos clínicos e mecanismos de parto na graduação de enfermagem

 

Os acadêmicos de enfermagem apontaram sugestões para melhorar o processo ensino-aprendizagem sobre períodos clínicos e mecanismos do parto, sendo a principal a necessidade de articulação teórico-prática: 

Acredito que trazer mais aulas práticas sobre o processo de parto. (A3)

[...] é praticar, ir aos estágios e conseguir acompanhar o trabalho de parto e ter o auxílio do professor. Fazendo com que ele explique e proporcione uma aprendizagem maior. Acredito que realmente é [...] sair da teoria para a prática, campo de estágio. (A4)

Eu vejo a questão de unir a teoria à prática [...] para que a gente como estudante consiga entender. Porque é muito fácil você entender e aprender quais os mecanismos, mas na prática (é difícil) você identificar, assim como também nos campos de estágio. [...] Seria de grande valia durante o trabalho de parto e parto, (o professor) ir explicando o que está acontecendo naquele momento. (A8)

[...] deveria ser dividido melhor como é que esses assuntos são dados [...] vários conteúdos em uma aula ou duas acaba sendo uma coisa jogada para terminar logo [...], muito slide, um encima do outro [...]. é muita informação que se não for trabalhado de uma forma mais dinâmica fica complicado de você assimilar.   Então, a sugestão seria eles darem algum tipo de aula que não fosse ligado tanto a teoria fosse mais uma coisa prática, porque no laboratório tem até umas coisas para eles levarem para a sala, mas os professores nem fazem questão. (A9)

 

As acadêmicas sugerem intensificar a utilização de estratégias que permitam contextualização prática referindo aulas com simulação utilizando recursos do laboratório, discussão de situação problema, metodologias ativas e estratégias para facilitar o aprendizado. A ampliação das vivências práticas durante os estágios e indicações de leituras complementares de livros clássicos sobre saúde da mulher também foram sugeridos:

 

Sempre utilizar situações problema para estimular o senso crítico alinhando o conhecimento científico com as situações, utilizar as metodologias ativas, dinâmicas, jogos. (A2)

Eu acho que aplicação de mais simulações como estudos de alguns casos, só que simulando. (A12)

[...] atividades de revisão e indicações de livros, porque eu tenho ainda todos os slides, tem alguns arquivos em PDF, mas por exemplo eu não lembro de algum livro básico para cadeira (disciplina) [...]. Eu senti falta disso no de saúde da mulher. (A10).

Sugere-se ainda que ocorra ampliação e estimulação ao debate acerca do parto vaginal e aspectos subjetivos relacionados à assistência obstétrica em detrimentos dos aspectos técnicos:

 

Bom é importante demais que isso seja mais trabalhado e que aconteça mais um incentivo para que a gente estude mais essa questão de parto, trabalho de parto e saúde da mulher (A9)

[...] faltou métodos ativos, mais práticas, e assim profissionais que abraçassem realmente a causa do parto normal [...] o quanto o parto normal é bonito, do quanto ele pode ser melhor [...] (A6)

[...] deve associar, capacitar o enfermeiro profissional da saúde com os termos técnicos, mas totalmente ligado ao mesmo tempo com a paciente, com os termos emocionais, com os sentimentos que aquela mulher está trazendo [...] isso é muito importante, tem que ser aprendido em conjunto. (A7)

 

Esta categoria evidenciou que as necessidades apontadas pelas acadêmicas encontravam-se centradas principalmente em suprir a articulação teórico-prática, ampliação de assuntos abordados e mudanças didáticas nos recursos e estratégias utilizadas com vistas a a favorecer o aprendizado e contribuir para a oferta de cuidados obstétricos.

 

DISCUSSÃO

No processo de ensino-aprendizagem as aulas expositivas dialogadas realizadas pelos docentes permitem a exposição de conteúdos, entretanto há pouco estímulo à participação e compartilhamento de opiniões e conhecimentos prévios dos discentes acerca da temática e dinamismo durante as aulas13.

Entretanto, identificou-se no estudo a necessidade de inclusão e utilização de novas estratégias no processo ensino-aprendizagem. Esse aspecto evidencia que, cada vez mais, as abordagens tradicionais de ensino não se apresentam tão atrativas na atualidade uma vez que não favorece a aprendizagem significativa14.

Diante disso, quando se alia as tecnologias no ensino com metodologias ativas as aulas se tornam mais atrativas, dinâmicas e interativas para os alunos e transformam a forma de aprender e ensinar, contribuindo para experiências positivas ao proporcionarem participação ativa do discente no seu processo de ensino-aprendizagem13-14.

No estudo, evidenciaram-se dificuldades em resgatar os conhecimentos relacionados à disciplina que podem ter relação com o aprendizado não significativo. Salienta-se que para além de uma formação continuada que articule teoria e prática assentada em conhecimentos técnicos e científicos de bases epidemiológicas, clínicas, humanísticas e evidências necessárias para atuação profissional na área de enfermagem obstétrica7.

Evidencia-se, já na graduação em enfermagem, a necessidade de reorientação/superação das práticas pedagógicas tradicionais, onde os docentes possam ao planejar e desenvolver ações inovadoras para que o processo ensino-aprendizagem ocorra de forma significativa e centradas em pedagogia emancipatória, crítica, reflexiva, autônoma e humanista15.

Os achados enfatizam a necessidade de corresponsabilização do discente para o aprendizado significativo. Durante a formação em saúde os discentes precisam assumir um papel ativo e responsável na busca pelo conhecimento e com autonomia durante o processo pedagógico e as abordagens pedagógicas emancipatórias como mediadoras de mudanças no ensino e de posturas do discentes para o desenvolvimento de capacidade crítica, reflexiva, comprometida, criativa, com sensibilidade e responsabilidade ética e cidadã para atuação dos diferentes cenários e contextos sociais16-17.

Nos resultados deste estudo o tempo foi referido como limitação para o aprendizado. Corroborando com essa perspectiva, estudo afirma que a grade curricular de alguns cursos apresenta atividades extensas com pouco tempo disponível, o que acarreta na dificuldade dos estudantes e deficiência na realização adequada das atribuições acadêmicas18.

Ademais, em sala de aula os discentes referem cansaço e sonolência em função dos hábitos inadequados de sono, se dispersam com frequência e apresentam dificuldades de concentração, já fora do ambiente universitário não possuem hábitos de estudo adequados e um ambiente estruturado para realizar suas atividades acadêmicas e investem tempo insuficiente para o aprendizado19.

Nos achados desta pesquisa, apesar de novos métodos serem aplicados no processo ensino-aprendizagem, a articulação simultânea entre teoria e prática configura-se como aspecto fragilizado no processo de formação em saúde do enfermeiro sobre períodos clínicos e mecanismos de parto.

Essa fragmentação entre teoria e prática no ensino de enfermagem apresenta-se no aluno sob a forma de dificuldades em mobilizar conhecimentos teóricos e interligá-los às necessidades de cuidado evidenciadas nas vivências práticas cuja superação requer que as experiências de ensino-aprendizagem estejam centradas na perspectiva de integração ensino-serviço-comunidade e na prática multiprofissional e interdisciplinar, contribuindo para romper com a dissociação entre teoria e prática e para o desenvolvimento de competências, habilidades e atitudes16.

Embora se busque a inclusão de modelos inovadores no processo ensino aprendizagem, ainda não existem condições ideais que favoreçam esse processo, reforçando-se a necessidade ainda emergente de repensar como articular teoria e prática ao longo da formação do enfermeiro20.

Durante os estágios os discentes lidam com problemas, situações e atividades complexas de dimensões técnicas, pessoais ou emocionais, entretanto contam com a presença dos professores fornecendo apoio21. Essas atividades requerem processos educativos formais que garantam o aprendizado a curto, médio e longo prazo com a finalidade de formar profissionais capacitados mediante o desenvolvimento de competências que possam resultar em efetividade no desempenho de atribuições na atuação profissional22.

A utilização da Aprendizagem Baseada em Problema nos processos formativos pode favorecer o desenvolvimento de competências ao estimular a participação ativa baseada na autonomia e dialogicidade, bem como o desenvolvimento do pensamento crítico-reflexivo e suscitar o trabalho em equipe para atuação em cenários de práticas diversos23.

Com vistas à qualificação do cuidado de enfermagem ofertado aos usuários salienta-se a necessidade de transformações constantes nas abordagens pedagógicas de ensino aprendizagem utilizadas durante a formação de enfermeiros, de modo a reorientar sua compreensão acerca do seu objeto de trabalho ao possibilitar transpor a dimensão técnica e operacional da assistência para a compreensão ampliada do ser humano e dos aspectos subjetivos inerentes ao cuidado24.

No contexto da assistência obstétrica, evidencia-se a importância de incentivar o parto vaginal principalmente com a atuação de enfermeiras ao passo que ocorre redução de intervenções desnecessárias e incentivo à realização de boas práticas na assistência ao parto e nascimento25.

As discentes apontaram aspectos que incidem sobre a fragmentação curricular.  A inclusão de cenários práticos de simulação, além de fortalecer a articulação entre as disciplinas de saúde da mulher e da criança, favorece a aprendizagem significativa ao fomentar a articulação teórico-prática, promover o desenvolvimento de competências e proporcionar a participação ativa dos discente na atenção à parturição e humanização da assistência9.

Desse modo, contrapondo-se aos currículos fragmentados e disciplinares inerentes ao sistema educacional tradicional, sugere-se a estruturação de currículos integrados e transdisciplinares que possibilitem o desenvolvimento de ações inovadoras para que o processo de ensino-aprendizagem transcorra de forma significativa e resulte em um perfil de egresso crítico, reflexivo, ativo, autônomo e emancipado15.

Estudo26 realizado com docentes de enfermagem evidenciou que o currículo integrado representa uma modalidade curricular favorável ao desenvolvimento de competências durante a formação acadêmica. Entretanto, destacam que sua implementação ainda configura-se um desafio à medida que requer a criação de ambientes favoráveis à instrumentalização dos docentes para o exercício de suas práticas, bem como contínuo aprofundamento de discussões e reflexões direcionadas a (re)orientação no campo da macropolítica, das diretrizes curriculares nacionais e do Sistema Único de Saúde26.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

A análise da percepção dos acadêmicos de enfermagem evidenciou que o processo de ensino-aprendizagem sobre períodos clínicos e mecanismos de parto encontra-se fragilizado pela forma de abordagem e dificuldades de assimilação dos conteúdos, dissociação teórico-prática, dificuldades de organização da rotina de estudos, o que pode afetar o desenvolvimento de competências para a atuação na assistência à parturição.

Assim, o estudo suscita a necessidade de, mediante análise das dificuldades apresentadas pelos discentes, (re)pensar estratégias pedagógicas para aprendizagem significativa a partir da inclusão de metodologias ativas e problematizadoras e reorganização dos projetos político-pedagógicos com ênfase na integração curricular com vistas a impactar no perfil do egresso do curso de enfermagem.

Evidenciou-se como limitações do estudo a possibilidade de viés de memória dos participantes decorrente da investigação de fatos vivenciados anteriormente ao período de coleta de dados, o que pode subestimar os processos de ensino-aprendizagem vivenciados. Entretanto, a abordagem retrospectiva quando vinculado ao processo de ensino-aprendizagem permite melhor compreensão acerca do aprendizado significativo.

Embora a investigação da perspectiva discente possibilite evidenciar fragilidades e necessidade de modificações no processo de ensino-aprendizagem sobre a temática, a abordagem transversal e unidirecional pode limitar a compreensão ampla do fenômeno. Assim, sugerem-se pesquisas longitudinais sobre o tema e que englobem todos os envolvidos no processo de ensino-aprendizagem.

 

REFERÊNCIAS

 

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Submissão: 11-05-2022

Aprovado: 25-07-2022