TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS ASSOCIADAS À PREVENÇÃO DE INCAPACIDADES ADVINDAS DA HANSENÍASE
EDUCATIONAL TECHNOLOGIES ASSOCIATED WITH THE PREVENTION OF DISABILITIES ARISING FROM LEANSESIS
TECNOLOGÍAS EDUCATIVAS ASOCIADAS A LA PREVENCIÓN DE DISCAPACIDADES DERIVADAS DE LEANSESIS
Aline Silva de Oliveira1
Eliane Maria Ribeiro de Vasconcelos2
Karla Pires Moura Barbosa3
Gabriella de Araújo Gama Ferreira4
José Luiz de Campos Ribeiro Junior5
Juliana de Vasconcelos Veloso da Silveira6
1Universidade Federal de Pernambuco. Recife, PE, Brasil. https://orcid.org/0000-0002-6986-8591
2Universidade Federal de Pernambuco. Recife, PE, Brasil. https://orcid.org/0000-0003-3711-4194
3Universidade Federal de Pernambuco. Recife, PE, Brasil. https://orcid.org/0000-0002-9676-5360
4Universidade Federal de Pernambuco. Recife, PE, Brasil. https://orcid.org/0000-0002-5942-7792
5Universidade Federal de Pernambuco. Recife, PE, Brasil. https://orcid.org/0000-0001-9807-1664
6Universidade Federal de Pernambuco. Caruaru, PE, Brasil. https://orcid.org/0000-0002-5423-5310
Autor correspondente
Aline Silva de Oliveira
Av. Prof. Moraes Rego, 844-900 - Cidade Universitária, Recife – PE - Brasil, 50670-420. E-mail: guriaaline@gmail.com
RESUMO
Objetivo: Identificar as tecnologias educacionais existentes para a prevenção de incapacidades advindas da hanseníase. Métodos: Trata-se de uma revisão de escopo, que utilizou como fonte de coleta as bases de dados SCOPUS, MEDLINE/PubMed, Embase, Cochrane Library, CINAHL/EBSCO, Science Direct, LILACS, IBECS, BDENF e Web of Science, entre julho e setembro de 2021. Aplicou-se os descritores Tecnologia Educacional, Hanseníase e Pessoa com Incapacidade Física, com o operador booleano AND, em português e inglês. Resultados: Encontrou-se 218 artigos e, após a exclusão dos estudos que não contemplaram os critérios de elegibilidade, três artigos compuseram a amostra final. Conclusão: As tecnologias educacionais existentes contemplam materiais expositivos, como manual de autocuidado, panfletos educacionais, cartilhas, folhetos impressos, kit para curativos das úlceras e vídeo, além de palestras educativas, capacitações e grupos de apoio. No entanto, mesmo havendo essa existência, observou-se que há limitações quanto à disponibilidade para o público-alvo de modo geral.
Palavras-chave: Tecnologia Educacional; Hanseníase; Pessoa com Incapacidade Física; Enfermagem; Promoção da Saúde.
ABSTRACT
Objective: To identify existing educational technologies for the prevention of disabilities resulting from leprosy. Methods: This is a scope review, which used the SCOPUS, MEDLINE/PubMed, Embase, Cochrane Library, CINAHL/EBSCO, Science Direct, LILACS, IBECS, BDENF and Web of Science databases as a source of collection. July and September 2021. The descriptors Educational Technology, Leprosy and Person with Physical Disability were applied, with the Boolean operator AND, in Portuguese and English. Results: 218 articles were found and, after excluding studies that did not meet the eligibility criteria, three articles made up the final sample. Conclusion: Existing educational technologies include expository materials, such as a self-care manual, educational pamphlets, booklets, printed leaflets, ulcer dressing kits and video, in addition to educational lectures, training and support groups. However, even with this existence, it was observed that there are limitations regarding availability to the target audience in general.
Keywords: Educational Technology; Leprosy; Person with Physical Disability; Nursing; Health Promotion.
RESUMEN
Objetivo: Identificar las tecnologías educativas existentes para la prevención de discapacidades derivadas de la lepra. Métodos: Se trata de una revisión de alcance, que utilizó como fuente de recolección las bases de datos SCOPUS, MEDLINE/PubMed, Embase, Cochrane Library, CINAHL/EBSCO, Science Direct, LILACS, IBECS, BDENF y Web of Science, julio y septiembre de 2021. Se aplicaron los descriptores Tecnología Educativa, Lepra y Persona con Discapacidad Física, con el operador booleano AND, en portugués e inglés. Resultados: se encontraron 218 artículos y, después de excluir los estudios que no cumplían con los criterios de elegibilidad, tres artículos conformaron la muestra final. Conclusión: Las tecnologías educativas existentes incluyen materiales expositivos, como un manual de autocuidado, folletos educativos, cuadernillos, folletos impresos, kits de apósitos para úlceras y video, además de conferencias educativas, grupos de capacitación y apoyo. Sin embargo, aun con esta existencia, se observó que existen limitaciones en cuanto a la disponibilidad para el público objetivo en general.
Palabras clave: Tecnologia Educacional; Lepra; Persona con Discapacidad Física; Enfermería; Promoción de la Salud.
INTRODUÇÃO
Define-se a hanseníase como uma patologia crônica, transmitida por meio do bacilo Mycobacterium leprae, cujos nervos periféricos são afetados. Clinicamente, a hanseníase é classificada em indeterminada, tuberculóide, dimorfa e virchowiana, a depender dos sinais e sintomas na pele, além dos nervos acometidos. Para se estabelecer o tratamento, o Comitê de Especialistas preconizou em paucibacilares, quando se evidencia até cinco lesões de pele com baciloscopia de raspado intradérmico negativo, bem como multibacilares, na presença de seis ou mais lesões de pele ou baciloscopia de raspado intradérmico positiva(1-5).
Mesmo nos tempos atuais, em que se tem a possibilidade de realizar medidas preventivas, diagnóstico precoce e uma abordagem terapêutica mais assertiva, considera-se a hanseníase como uma problemática no âmbito da saúde pública, sobretudo devido ao risco de ocasionar incapacidades físicas, atingindo e estigmatizando indivíduos de diferentes etnias, faixas etárias e gêneros(6-8). Tais comprometimentos e deformidades favorecem limitações que interferem na qualidade de vida, desencadeando problemas no contexto físico, mental e social(9).
No Brasil, a quantidade total de novos casos de hanseníase na população geral entre 2015 e 2019 representa cerca de 137.378 habitantes. Dentre estes, 10.025 habitantes referem-se ao valor total de novos casos com grau 2 de incapacidade física(10). Destaca-se que, consoante com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o território brasileiro abrange a segunda colocação no ranking de incidência de hanseníase mundialmente e caracteriza 92% do total de casos dos países das Américas(6,11).
Ressalta-se que os serviços de saúde devem ter a finalidade de oferecer a assistência pautada na integralidade do indivíduo, estando atentos não apenas para as ações de detecção prévia e fornecimento do tratamento poliquimioterápico, mas também para o fortalecimento de condutas de prevenção das incapacidades e deformidades advindas da hanseníase aos acometidos(9). Além disso, quando há ações conjuntas entre os profissionais de saúde com a participação dos acometidos, obtém-se um maior alcance de resultados esperados para a qualidade de vida dos mesmos(12).
Em face ao contexto exposto, torna-se de fundamental importância a aplicabilidade da educação em saúde, a fim de propiciar o esclarecimento sobre o processo saúde-doença da hanseníase, de forma a obter a interação do público-alvo e promover o processo do autocuidado, viabilizando a autonomia de habilidades nos diversos cenários da saúde. Para que a educação em saúde seja estabelecida com assertividade, necessita-se conhecer as fragilidades de cada indivíduo, de modo a englobar as demandas existentes, principalmente para possibilitar aos acometidos pela hanseníase a prevenção das incapacidades físicas, orientando-os quanto à prática do autocuidado(13-14).
Enfatiza-se a essencialidade de estimular o interesse dos indivíduos por meio de ferramentas lúdicas e acessíveis, a fim de proporcionar maior interação e disseminação do conhecimento. Dentre estas, pode-se destacar as tecnologias educacionais em saúde, que auxiliam o processo de concretização da aquisição do autoconhecimento sobre o processo saúde-doença da hanseníase de maneira atrativa, promovendo o protagonismo por parte dos próprios acometidos, de modo a permitir a prevenção dos agravos à saúde e promover a qualidade de vida(15).
Diante do cenário exposto, evidencia-se a imprescindibilidade de fortalecer práticas no que tange a prevenção das incapacidades inerentes da hanseníase. Desse modo, considerando as tecnologias educacionais como auxiliadoras no fornecimento da educação em saúde, consolidando os saberes e conhecimentos à população, este estudo tem como objetivo identificar as tecnologias educacionais existentes para a prevenção de incapacidades advindas da hanseníase. À vista disso, a pesquisa justifica-se por fornecer subsídios técnico-científicos à saúde, principalmente para a atuação dos profissionais de saúde.
MÉTODOS
Trata-se de uma revisão de escopo sobre as tecnologias educacionais em saúde relacionadas à prevenção das incapacidades da hanseníase. Este método baseia-se em mapear estudos diversos a um determinado foco de pesquisa, examinando a extensão, alcance e natureza da investigação acerca do assunto específico a ser estudado, a fim de servir de embasamento técnico-científico e verificar as lacunas existentes que precisam ser preenchidas(16-18).
Seguiu-se às etapas da metodologia proposta: definição do fenômeno a ser estudado e elaboração do questionamento norteador; estabelecimento dos critérios de inclusão e procedimentos de seleção; extração dos dados; análise e exposição dos resultados(16-18).
Utilizou-se a estratégia PCC (acrônimo de População, Conceito e Contexto), com a finalidade de obter a construção da questão norteadora mais definida e, consequentemente, uma busca bibliográfica mais apurada(19). Assim sendo, estabeleceu-se como “P” pessoas com hanseníase, “C” tecnologias educacionais, “C” prevenção de incapacidades advindas da hanseníase. Por conseguinte, em virtude das técnicas transcorridas, definiu-se a seguinte questão norteadora da pesquisa: Quais as tecnologias existentes para a prevenção das incapacidades advindas da hanseníase?
Realizou-se o levantamento bibliográfico entre julho e setembro de 2021, por meio de consulta nas bases de dados SCOPUS, MEDLINE/PubMed, Embase, Cochrane Library, CINAHL/EBSCO, Science Direct, Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), IBECS, BDENF, Web of Science e Google Scholar, acessando a Comunidade Acadêmica Federada (CAFE) do Portal Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Para chegar nas publicações sobre a temática, recorreu-se aos termos dos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) e Medical Subject Headings (MeSH), com o operador booleano AND: Tecnologia Educacional / Educational Technology; Hanseníase / Leprosy; Pessoa com Incapacidade Física / Disabled Persons (Quadro 1).
Quadro 1 - Estratégia de busca. Recife, PE, Brasil, 2021
Base de dados |
Estratégia de busca |
SCOPUS |
“Tecnologia Educacional” AND Hanseníase AND “Pessoa com Incapacidade Física”
“Educational Technology” AND Leprosy AND “Disabled Persons”
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MEDLINE/PubMed |
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Embase |
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Cochrane Library |
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CINAHL/EBSCO |
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Science Direct |
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LILACS |
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IBECS |
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BDENF |
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Web of Science |
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Google Scholar |
Fonte: Autoria própria, 2021.
Contemplou-se como critérios de inclusão responder a pergunta norteadora da presente revisão, abordando as tecnologias duras, estudos quantitativos, qualitativos e mistos, bem como literatura cinza (dissertações, teses, estudos de revisões, reflexões, capítulos de livros, matérias de jornais, entre outros), nos idiomas português, inglês e espanhol, sem delimitação do recorte temporal, sobretudo devido à escassez de publicações e para abranger todas as tecnologias educacionais existentes relacionadas à prevenção das incapacidades físicas advindas da hanseníase.
Realizou-se a busca e seleção dos artigos duplo-independente, em que se estabeleceu um terceiro revisor para averiguação das discordâncias. A triagem dos artigos foi executada através da plataforma online do Rayyan, que permite a exclusão de duplicatas e otimiza a seleção inicial dos títulos e resumos dos artigos aplicando um processo de semi-automação, cuja credibilidade alcança um alto nível, tornando a triagem autêntica(20). Por conseguinte, os artigos selecionados foram lidos e relidos na íntegra, adotando-se as recomendações do PRISMA Statement for Reporting Literature Searches in Systematic Reviews(21), sendo selecionados em consonância com os critérios de elegibilidade, para obter-se a amostra final. Por fim, examinou-se as listas de referências dos artigos que contemplaram a amostra final deste estudo.
RESULTADOS
Na busca inicial, identificou-se 218 estudos. Ao realizar a triagem desses trabalhos, utilizando os critérios de inclusão, três artigos foram selecionados (Figura 1). Dentre estes, um encontra-se na Embase, um no Google Scholar, e o outro na CINAHL/EBSCO.
Em relação ao país de origem dos estudos, o Brasil sobressaiu-se, com dois estudos (66,6%), seguido da Índia com um (33,3%). Quanto ao ano, dois (66,6%) referem-se a 2019 e um (33,3%) a 2012. As características das publicações foram descritas quanto ao periódico, autor e ano de publicação, título, objetivo, país e delineamento metodológico (Quadro 2). Além disso, identificou-se os estudos em relação ao tipo de tecnologia e desfecho (Quadro 3).
Figura 1 - Fluxograma do processo de seleção dos artigos. Recife, PE, Brasil, 2021
Fonte: Autoria própria, 2021
Quadro 2 - Caracterização do corpus de análise da revisão de escopo. Recife, PE, Brasil, 2021
Estudo |
Autor(es), periódico e ano |
Título |
Objetivo |
País |
Delineamento |
E1(22) |
Martins RMG, et al. Revista de Enfermagem UFPE Online. 2019 |
Desenvolvimento de uma cartilha para a promoção do autocuidado na hanseníase |
Apresentar o desenvolvimento de uma cartilha educativa para a promoção do autocuidado na hanseníase |
Brasil |
Relato de experiência |
E2(23) |
Cavalcante JL, et al. Revista Baiana de Enfermagem. 2019 |
Tecnologias em saúde para a promoção do autocuidado em pacientes com hanseníase: explorando evidências científicas |
Identificar as principais tecnologias em saúde aplicadas às pessoas com hanseníase, para a promoção do autocuidado |
Brasil |
Revisão integrativa |
E3(24) |
Shah N. Indian Journal of Leprosy. 2012 |
Key modalities for disability prevention and medical rehabilitation |
Apontar as modalidades-chave para a prevenção de deficiências e reabilitação médica aos pacientes com hanseníase |
Índia |
Resumo Científico apresentado na 28ª Conferência Bienal da Associação Indiana de Leprologistas (IAL)
|
Fonte: Autoria própria, 2021.
Quadro 3 - Tecnologias educacionais existentes relacionadas às incapacidades físicas da hanseníase, identificadas nos estudos incluídos da revisão de escopo. Recife, PE, 2021
Estudo |
Tecnologias educacionais em saúde relacionadas às incapacidades físicas da hanseníase |
Desfecho |
E1(22) |
1. Cartilha educativa |
1. Favoreceu a promoção do autocuidado na hanseníase. |
E2(23) |
1. Manual de autocuidado, cartilhas, folhetos impressos, vídeo, palestras educativas, capacitações e grupos de apoio |
1. Contribuiu na construção de saberes sobre o autocuidado com qualidade, de forma a garantir autonomia e cuidado, envolvendo ainda a percepção, a compreensão e o lúdico como estratégias para promoção do autocuidado. As tecnologias educativas tiveram um impacto positivo no tocante à avaliação de sua aplicação, visto que facilitaram e ampliaram a compreensão dos pacientes acerca da doença e das práticas para o autocuidado. |
E3(24) |
1. Panfleto educacional com ilustrações simples e cartilha com as principais dúvidas e as respectivas respostas
2. Kit de autocuidado |
1. Possibilitou o autocuidado pelos pacientes para prevenir as incapacidades advindas da hanseníase.
2. Houve a cura das úlceras nos pés, evitando-se deformidades secundárias. |
Fonte: Autoria própria, 2021.
DISCUSSÃO
As tecnologias em saúde são essenciais no contexto da hanseníase, visto que permitem o compartilhamento de saberes sobre o processo saúde-doença e favorecem a prevenção dos possíveis agravos inerentes da patologia, podendo ser segmentadas em tecnologias em saúde educativas e assistenciais. No contexto das tecnologias educativas, um estudo de revisão identificou a utilização de manual de autocuidado, cartilhas, folhetos impressos, vídeo, bem como a realização de palestras, oficinas/capacitações e grupos de apoio, como as principais tecnologias em saúde aplicadas às pessoas com hanseníase, para a promoção do autocuidado. Tais tecnologias objetivaram o fornecimento de informações referentes ao autocuidado para assegurar ao paciente a autonomia com qualidade e segurança durante o tratamento e, quando foram aplicadas, possibilitaram a compreensão dos pacientes sobre a hanseníase e promoveram as práticas de autocuidado(23).
Os materiais de educação em saúde são essenciais para possibilitar a prevenção das limitações ocasionadas pela hanseníase. Dentre as preocupações vivenciadas por esse grupo de pacientes, pode-se destacar a dormência e perda de sensibilidade nos pés e mãos. Dessa maneira, aponta-se a necessidade de instruir quanto aos cuidados a fim de evitar deformidades secundárias decorrentes de ferimentos e/ou queimaduras(24). Assim sendo, tais materiais são imprescindíveis para a prevenção de limitações e incapacidades, visto que abordam as práticas do autocuidado, que orientam o paciente quanto às atividades rotineiras de se cuidar, estabelecendo medidas de promoção, prevenção e recuperação da saúde e, evitando assim, que a hanseníase interfira em sua qualidade de vida(25).
Para oferecer orientações, a confecção de um panfleto educacional simples e de fácil entendimento para o público-alvo também é uma estratégia encontrada na literatura, englobando todos os contextos sociais, até mesmo para as pessoas não alfabetizadas. Nessa tecnologia, há instruções para os pacientes ficarem mais atentos nas mãos e pés devido a perda da sensibilidade, estabelecendo-se cautela quanto às atividades diárias, sobretudo para evitar contato com objetos pontiagudos e elementos quentes sem a devida proteção(24).
Outrossim, para complementar e consolidar os conhecimentos fornecidos, também foi identificado o desenvolvimento de uma cartilha contendo as principais dúvidas apresentadas pelo público-alvo e as respectivas respostas, com a finalidade de abranger as dificuldades referentes à temática. Ambas tecnologias possibilitaram desfechos satisfatórios em relação a prevenção das incapacidades advindas da hanseníase, estimulando o autocuidado por parte dos pacientes(24).
Dentre os artigos selecionados, foi ainda identificada a elaboração de uma cartilha educativa intitulada “Como cuidar do corpo na hanseníase”, na qual, em uma das etapas da confecção, houve a participação do público-alvo para identificar as principais dúvidas, dificuldades e necessidades no cenário da hanseníase, a fim de inserir informações condizentes com as demandas dos pacientes, destacando-se a necessidade do desenvolvimento de tecnologias educacionais sensíveis às particularidades dos pacientes e de fácil compreensão. Nesta tecnologia educativa, os conteúdos associaram-se às orientações quanto aos sinais e sintomas, transmissibilidade, incentivo ao tratamento e desmistificação do preconceito, bem como abordou-se as práticas de autocuidado na face, nas mãos e pés, que devem ser implementadas para prevenir as incapacidades advindas da hanseníase(22).
Considera-se a cartilha como uma ferramenta tecnológica de fácil utilização por parte dos profissionais de saúde e dos próprios paciente, resultando em desfechos satisfatórios, principalmente por possibilitar de forma lúdica o conhecimento diante da temática, estabelecendo o interesse por parte do público-alvo, além de favorecer subsídios aos usuários para aderirem ao autocuidado durante o tratamento da hanseníase(22). Porém, observou-se que a população geral dos portadores de hanseníase e os profissionais que trabalhavam com esse público não tiveram acesso a esta tecnologia, ficando esse acervo restrito para os autores e o grupo focal trabalhado durante o desenvolvimento da pesquisa.
No que se refere à prevenção de incapacidades advindas da hanseníase, cabe, ainda, destacar a importância de materiais relacionados aos procedimentos necessários aos cuidados com os pés e membros inferiores, que sejam condizentes com o cenário e contexto socioeconômico dos pacientes que, muitas vezes, encontram-se em vulnerabilidade social e andam descalços por não possuírem recursos financeiros para adquirir calçados. Tal realidade implica na ocorrência elevada de ferimentos, que com frequência são negligenciados e, consequentemente, tornam-se úlceras com cicatrização prolongada(24).
Nesse contexto, a confecção e oferta gratuita de um kit com elementos voltados às práticas de autocuidado com as úlceras, tais como pedaços de gaze esterilizados, tesouras, raspador de pés, ataduras, creme antisséptico e creme hidratante, associadas à capacitação dos usuários acompanhados pelos serviços de saúde quanto a utilização dessas ferramentas, foram tecnologias educativas que resultaram em uma melhora das úlceras em 40% dos indivíduos, dentro do período de 2 meses, evitando-se, portanto, deformidades secundárias pela progressão dos ferimentos(24).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conclui-se que as tecnologias educacionais em saúde referentes a prevenção das incapacidades da hanseníase contemplam materiais expositivos, como manual de autocuidado, panfletos educacionais, cartilhas, folhetos impressos, kit para curativos das úlceras e vídeo, além de palestras educativas, capacitações e grupos de apoio. Estas, por sua vez, contribuem para o fornecimento de conhecimento ao paciente e fortalecem a construção de saberes, propiciando a adesão das práticas de autocuidado de forma assertiva e eficiente.
Apesar das tecnologias terem contribuído com a produção científica, o público-alvo e os profissionais de saúde não tiveram acesso, tornando o acesso restrito para os autores e participantes de cada artigo analisado nesta revisão.
Mesmo examinando a lista de referências dos artigos que compuseram a amostra final, evidenciou-se um valor de publicações consideravelmente baixo, destacando as lacunas existentes sobre a temática. Dessa maneira, o mapeamento deste estudo contribuirá na construção de uma nova tecnologia educacional em saúde com ênfase na prevenção das incapacidades advindas da hanseníase, a fim de promover a saúde e qualidade de vida dos pacientes acometidos pela patologia.
FOMENTO AGRADECIMENTOS
Agradecimentos à Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (FACEPE) pela Bolsa de Iniciação Científica (BIC) concedida à autora, sob o processo nº BIC-0392-4.04/21, do Edital FACEPE 01/2021, do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica, que viabilizou a realização desta pesquisa.
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Submissão: 17-05-2022
Aprovado: 06-12-2022