PENSAMENTO COMPLEXO E FORMAÇÃO EM ENFERMAGEM: POSSIBILIDADES DA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

 

COMPLEX THINKING AND EDUCATION IN NURSING: POSSIBILITIES OF UNIVERSITY EXTENSION

 

PENSAMIENTO COMPLEJO Y EDUCACIÓN EN ENFERMERÍA: POSIBILIDADES DE EXTENSIÓN UNIVERSITARIA

 


1Emanuelly Vieira Pereira

2Samyra Paula Lustoza Xavier

3Ana Virgínia de Melo Fialho

4Karla Corrêa Lima Miranda

5Lúcia de Fátima da Silva

6Maria Vilani Cavalcante Guedes

7Maria Célia de Freitas

 

1https://orcid.org/0000-0003-1457-6281

 

2https://orcid.org/0000-0002-5295-7627

 

3 https://orcid.org/0000-0002-4471-1758

 

4 https://orcid.org/0000-0001-6738-473X

 

5https://orcid.org/0000-0002-3217-3681

 

6https://orcid.org/0000-0002-6766-4376

 

7https://orcid.org/0000-0003-4487-1193

 

 

RESUMO

Objetivo: Objetivou-se discutir à luz do Pensamento Complexo as possibilidades da extensão universitária na formação do Enfermeiro. Método: Trata-se de estudo teórico reflexivo com base referencial do pensamento complexo proposto por Edgar Morin em articulação com as cinco diretrizes da extensão universitária.  Para articular o conceito proposto pelo autor a temática em estudo, foram realizadas buscas eletrônicas não sistemática sobre o tema, realizando-se leitura crítica de suas obras e de outros estudiosos. Resultados: As discussões utilizaram o referencial do pensamento complexo de Edgar Morin e as cinco diretrizes da extensão universitária: Interação Dialógica; Interdisciplinaridade e Interprofissionalidade; Indissociabilidade Ensino- Pesquisa- Extensão; Impactos na Formação dos estudantes e Impacto e Transformação social, no ensino superior em Enfermagem. Evidenciaram-se contribuições e possibilidades das práticas extensionistas para a formação do enfermeiro direcionadas ao desenvolvimento do pensamento complexo, crítico, reflexivo, humano e cidadão. Considerações finais: Conclui-se que (re)pensar as práticas pedagógicas e curriculares da extensão na formação em Enfermagem em articulação com o pensamento complexo é imprescindível para uma práxis emancipatória e transdisciplinar.

Palavras-chave: Enfermagem; Educação em Enfermagem; Relações Comunidade-Instituição; Capacitação de Recursos Humanos em Saúde.

 

ABSTRACT

Objective: The objective was to discuss, in the light of Complex Thinking, the possibilities of university extension in the training of nurses. Method: This is a reflective theoretical study based on the complex thinking proposed by Edgar Morin in conjunction with the five guidelines of university extension. In order to articulate the concept proposed by the author to the subject under study, non-systematic electronic searches were carried out on the subject, carrying out a critical reading of his works and those of other scholars. Results: The discussions used Edgar Morin's complex thinking framework and the five university extension guidelines: Dialogical Interaction; Interdisciplinarity and Interprofessionality; Inseparability Teaching-Research-Extension; Impacts on Student Training and Impact and Social Transformation in Nursing Higher Education. Contributions and possibilities of extension practices were evidenced for the training of nurses aimed at the development of complex, critical, reflective, human and citizen thinking. Final considerations: It is concluded that (re)thinking the pedagogical and curricular practices of extension in Nursing education in conjunction with complex thinking is essential for an emancipatory and transdisciplinary praxis.

Keywords: Nursing; Education, Nursing; Community-Institutional Relations; Health Human Resource Training.

 

RESUMEN

Objetivo: El objetivo fue discutir, a la luz del Pensamiento Complejo, las posibilidades de la extensión universitaria en la formación de enfermeros. Método: Se trata de un estudio teórico reflexivo basado en el pensamiento complejo propuesto por Edgar Morin en conjunto con los cinco lineamientos de la extensión universitaria. Para articular el concepto propuesto por el autor al tema en estudio, se realizaron búsquedas electrónicas no sistemáticas sobre el tema, efectuando una lectura crítica de sus obras y de las de otros estudiosos. Resultados: Las discusiones utilizaron el marco de pensamiento complejo de Edgar Morin y las cinco directrices de la extensión universitaria: Interacción Dialógica; Interdisciplinariedad e Interprofesionalidad; Inseparabilidad Docencia-Investigación-Extensión; Impactos en la Formación de Estudiantes e Impacto y Transformación Social en la Educación Superior de Enfermería. Se evidenciaron aportes y posibilidades de prácticas extensionistas para la formación de enfermeros encaminados al desarrollo del pensamiento complejo, crítico, reflexivo, humano y ciudadano. Consideraciones finales: Se concluye que (re)pensar las prácticas pedagógicas y curriculares de extensión en la formación de Enfermería en conjunto con el pensamiento complejo es fundamental para una praxis emancipatoria y transdisciplinar.

Palabras clave: enfermería; Educación en Enfermería; Community-Institutional Relations; Capacitación de Recursos Humanos en Salud.



INTRODUÇÃO

O pensamento complexo constitui referencial teórico-filosófico que contempla a multidimensionalidade do sujeito enquanto ser social, biológico, político, afetivo, mitológico e, considerando aspectos que compõem o cenário em que ele está inserido, reconhece a complexidade como a união entre as partes e o todo1.

Pensar a complexidade é um novo modo de ver, constituir, apreender e contextualizar o real sob a influência do acaso2.  Na perspectiva educacional, o pensamento complexo deve promover a “inteligência geral”, favorecendo a aptidão natural da mente humana em resolver problemas, contextualizando os saberes de modo crítico, criativo e contínuo1

A educação deve fomentar a compreensão de que a sociedade está em constante transformação3, reconhecendo a complexidade da vida cotidiana, integrando os diferentes saberes e modos de pensar4.

Embora reconheça-se a importância dos pressupostos filosóficos sinalizados por Edgar Morin1-2 como paradigma (re)orientador dos processos formativos, sabe-se que ainda há uma cultura educacional enraizada nas práticas tradicionais com supervalorização e superfragmentação de conteúdos e disciplinas em comparação a outros saberes, fortemente assentados nos preceitos do positivismo e do reducionismo4. Isso reforça a lógica da segmentação do conhecimento e limita a capacidade de compreensão do todo.

Desde a criação do Sistema Único de Saúde (SUS) ampliaram-se discussões acerca da importância de uma formação profissional crítico-reflexiva que coadune com as atuais exigências sociais, econômicas, políticas e de saúde no cenário brasileiro5. Enfatiza-se, assim, o tripé “ensino, pesquisa e extensão” enquanto componentes curriculares capazes de promover no discente o desenvolvimento de competências essenciais para atuarem “junto à e para” a comunidade6.

Retomando a lógica discursiva do pensamento complexo, a extensão universitária se manifesta como um lócus privilegiado que o cenário educacional oferece, capaz de favorecer ao aluno novas possibilidades para conhecer um dado território e, a partir da integração de saberes, experiências e práticas, compreender e modificar a realidade local.

Mediante o exposto, a relevância deste estudo fundamenta-se em suscitar reflexões que interligam pressupostos teóricos às práticas educacionais reais, fornecendo, a partir do arcabouço filosófico de Morin2 uma visão ampliada acerca das possibilidades da extensão universitária para a formação do Enfermeiro à luz da complexidade. 

Ademais, conforme apontado em revisão de literatura6 evidenciou-se incipientes publicações direcionadas ao impacto da extensão universitária na formação profissional. Nesta senda, objetivou-se discutir à luz do Pensamento Complexo as possibilidades da extensão universitária na formação do Enfermeiro.

MÉTODOS

Trata-se de estudo teórico reflexivo desenvolvido no segundo semestre de 2021 durante a disciplina Análise Crítica dos Cuidados Clínicos em Enfermagem em Saúde vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde (PPCLIS) da Universidade Estadual  (UECE) com base referencial do pensamento complexo proposto por Edgar Morin2 em articulação com as cinco diretrizes da extensão universitária: Interação Dialógica; Interdisciplinaridade e Interprofissionalidade; Indissociabilidade Ensino-Pesquisa- Extensão; Impactos na Formação dos estudantes e Impacto e Transformação social, no ensino superior em Enfermagem. 

Para articular o conceito proposto pelo autor a temática em estudo, foram realizadas buscas eletrônicas não sistemática no mês de novembro de 2021 acerca de pesquisas que tratassem sobre a temática. Realizou-se leitura crítica das obras “Os setes saberes necessários à educação do futuro”, “Introdução ao pensamento complexo” e “A religação dos saberes: o desafio do século XXI”, das diretrizes da Extensão Universitária e de pesquisas realizadas relacionadas a formação do enfermeiro.  

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

 

Desde a elaboração das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) a extensão universitária surgiu como proposta para reorientar a formação em Enfermagem, conforme a Resolução nº 1.133 do Conselho Nacional de Educação (CNE), de 7 de novembro de 2001, em seu artigo 5º parágrafo 3, está entre as competências específicas “estabelecer novas relações com o contexto social, reconhecendo a estrutura e as formas de organização social, suas transformações e expressões”7.

Vislumbra-se que essa competência apontada como essencial para a formação do Enfermeiro, aproxima-se, conceitualmente, da ideia de Morin2 quando estabelece a necessidade de se reconhecer as múltiplas questões que envolvem a vida cotidiana dos indivíduos para então modificar a realidade em níveis cada vez mais profundos e complexos.

O exercício profissional da Enfermagem, enquanto ciência do cuidado, possui o compromisso de oportunizar e protagonizar novas possibilidades de intervenção social, a partir de práticas proativas e comprometidas com as necessidades e demandas locais8. Reconhece-se, assim, esse como campo de saberes e cuidados complexos, multifacetado que requer do profissional um conjunto de competências para atuação.

Mediante os desafios enfrentados pelas Instituições de Ensino Superior (IES), relacionados às questões políticas, econômicas, de gestão e pedagógicas que moldam os processos formativos, tem-se, ainda lacunas quanto ao “saber-fazer-ser” relacionado às ações de extensão e como elas devem ser integradas nos currículos.

Com vistas a direcionar as IES no tocante a implementação das ações de extensão nos currículos dos cursos da saúde, o FORPROEX criou em 2013, as diretrizes para a extensão universitária fundamentadas em: Interação Dialógica; Interdisciplinaridade e Interprofissionalidade; Indissociabilidade Ensino-Pesquisa- Extensão; Impactos na Formação dos estudantes e Impacto e Transformação social 9-11.

A tessitura entre as atividades de extensão e o processo formativo do Enfermeiro perpassam pela compreensão de que o movimento dialético, a historicidade e as mediações subsidiam o envolvimento dos pares, sua concepção em relação à extensão universitária e o processo avaliativo12.

Neste sentido, a realização de práticas extensionistas requer do discente o desenvolvimento da comunicação ética, dialógica e coparticipativa com os usuários11-13, reconhecendo a indissociabilidade entre sujeito e objeto (cuidado), articulando teoria e prática a alta complexidade do ser 2.

Entretanto, a literatura11-13 aponta atividades extensionistas ainda restritas a práticas assistenciais com transmissão de conhecimentos planejados a partir da percepção dos discentes, o que não necessariamente condiz com a necessidade do público em questão.

Tal aspecto aproxima-se da lógica da educação bancária à medida que os discentes não reconhecem/consideram o protagonismo e autonomia comunitária ou apresentam limitações quanto ao desenvolvimento da comunicação11-13 e da literacia em saúde14 como marcas da forte influência do modelo hegemônico ainda presente na formação técnico-científica13.

Pensar a complexidade de Morin2 reitera a premissa de que é preciso integrar saberes, considerar o todo, olhando para as particularidades que o circundam. As ações assistenciais em saúde se dão, inicialmente, a partir de trocas no processo de comunicação, e esta deve favorecer uma relação horizontalizada entre profissional e o usuário, o que possibilita o alcance das metas traçadas para a melhoria da qualidade de vida e saúde15.

Neste sentido, tem-se um desafio na formação que é o de elencar estratégias educativas que permitam mediar o desenvolvimento de competências para a comunicação em saúde, de modo a transpor a cientificidade, considerando e integrando os saberes e demandas populares nas ações extensionistas realizadas por acadêmicos de enfermagem, bem como articular saberes disciplinares na elaboração de cuidados individualizados e/ou coletivos.

            A vivência extensionista contribui para ampliar conhecimentos, formação técnico-científica humanizada e experimentação do trabalho interdisciplinar contíguo ao aprimorar habilidades técnicas necessárias à prática interprofissional e oferta de cuidados que considerem o contexto sócio-histórico-cultural dos usuários16. Essas possibilidades corroboram com a ideia do cuidado complexo e distanciam tais práticas da lógica reducionista e simplificadora do sujeito2-17.

A imersão comunitária ao permitir acesso à complexidade do viver em sociedade contribui para o desenvolvimento cognitivo do acadêmico e adoção de postura cidadã que contribua para a formação humanista, crítica e reflexiva13. Assim, a partir da integração interprofissional, percebe-se o usuário/família/comunidade sob diferentes pontos de vista, de modo que as ciências possam “juntar-se e desconjuntar-se”17 para construção de planos de cuidados colaborativos, articulados e resolutivos18.

A formação em Enfermagem está em processo de reorientação e têm estimulado o desenvolvimento e a adoção do seu papel profissional enquanto atores e agentes de transformação social15.

Entretanto, para além das mudanças pedagógicas e institucionais, a efetivação da inter e transdisciplinaridade no ensino e nas práticas de saúde requer que o docente possua vivências e experiências acerca da temática, mobilize-se e elenque diferentes estratégias de ensino-aprendizagem17. Tal aspecto, constitui desafio emergente para a modificação da práxis no ensino em saúde.

Pensar o conceito de saúde em sua perspectiva macroconceitual abre possibilidade para (re)pensar a formação e oportuniza a compreensão da necessidade de articulação entre ensino-pesquisa-extensão6. Tem-se, portanto, a oportunidade de desenvolver competências para o cuidado pela integração de conhecimentos teórico-práticos no fazer extensionista.

A estrutura curricular quando alinha o perfil do egresso as demandas e realidades locais, dá possibilidade para que a formação instigue nos discentes (futuros enfermeiros) a capacidade de reconhecer que a extensão universitária, ao descentralizar as ações do cenário acadêmico, vislumbra outros espaços e cenários para a produção e fortalecimento do conhecimento.

O agir da Enfermagem está constantemente associado a favorecer mudanças e melhorias nas condições de vida e saúde da população, sendo assim, não há sentido que a produção de tal conhecimento aconteça distante dessa realidade. O saber-fazer-ser do enfermeiro está intimamente ligado à produção do seu próprio campo de conhecimentos, o qual “emerge de e se volta para” a promoção da saúde e bem-estar dos indivíduos/família/comunidade.

O diagnóstico comunitário oportunizado pelas reflexões provenientes das singularidades e complexidades identificadas nas vivências comunitárias19 permitem ao acadêmico de enfermagem compreender e aplicar o conhecimento ao se defrontar com dilemas quanto às incertezas, ordem e desordem nos cenários de prática de cuidado, (re)analisar suas perspectivas epistemológicas frente a hipercomplexidade humana e (re)construir concepções quanto a ambiguidade e a resolubilidade por meios únicos e estáticos evidenciados cientificamente2.

Reconhece-se que a indissociabilidade entre as práticas de ensino-pesquisa-extensão constituem eixos estruturantes para a formação no ensino superior e, nas premissas do pensamento completo reafirmam a necessidade dialógica ao articular saberes disciplinares, reconhecer as alterações constantes da realidade e a ininteligibilidade do conhecimento complexo1,2.

Ademais, a observação da realidade suscita novos olhares quanto às problemáticas reais, permitindo ampliar ou propor novas perspectivas de investigação científica de modo a evidenciar a necessidade de (re)pensar práticas, reconhecer a efemeridade da produção de conhecimentos e a inesgotabilidade investigativa relacionada à complexidade enquanto fenômeno antropológico.

Tem-se, portanto, a extensão universitária como proposição que permite ao acadêmico essa aproximação e triangulação “serviço de saúde - comunidade - universidade”, ampliando o olhar sobre suas práticas11 e desvelando as relações entre os diversos contextos vivenciados no processo saúde-doença, reconhecendo-os em suas particularidades, subjetividades e complexidades, de modo a romper a “cegueira” atrelada a lógica reducionista e fragmentada de cuidado, para além da dimensão tecnicista 2-17.

No entanto, a operacionalização da curricularização da extensão tem como entrave a necessidade de reestruturação dos projetos Políticos Pedagógicos dos Cursos e a readequação dos componentes teóricos e/ou práticos contemplados na formação em Enfermagem.

Tem-se ainda, a necessidade de maior incentivo político, econômico institucional e governamental, ampliação de discussões no âmbito universitário quanto ao desenvolvimento de projetos ancorados nas necessidades comunitárias, bem como a valorização de docentes6 e discentes envolvidos na práxis extensionista.

Ademais, acresce-se a necessidade de investimentos em metodologias educacionais para o aprendizado significativo19 que estimulem o desenvolvimento do pensamento crítico-reflexivo na formação do enfermeiro18 e sua corresponsabilização na construção do próprio conhecimento20.

Neste sentido, foram aqui elencados como sugestões alguns aspectos que podem auxiliar neste processo: Capacitação docente para reestruturação dos processos disciplinares e suas respectivas ementas; Organizar o dimensionamento da carga horária destinada a extensão semestral ou anualmente, conforme dinâmica institucional, integrando-a, especialmente, nas disciplinas que concernem ao cuidado de enfermagem nas diferentes fases do ciclo vital; Repensar as práticas docentes e discentes na articulação com os componentes teóricos, práticos e comunitários, e viabilizar a articulação de diferentes cursos/saberes/conteúdos/disciplinas nas ações comunitárias.

Apesar dos desafios para a curricularização da extensão universitária, estudos21-22 evidenciaram que sua implementação na formação em saúde contribuiu para o desenvolvimento de uma consciência mais humana e cidadã, sendo incentivada como prática útil para que os estudantes desenvolvam plenamente suas capacidades subjetivas em paralelo a formação técnica ao agregarem conhecimentos para o cuidado em saúde durante as vivências no território comunitário.

A utilização do pensamento crítico e reflexivo durante o processo formativo do enfermeiro permite a tomada de decisão considerando a influência das dimensões política, ética, afetiva, corporal, cognitiva, artística e cultural nas decisões e visão de mundo, constituindo prática emancipatória para docentes, discentes e usuários18, uma vez que a transformação da realidade operacionaliza-se pela implementação de intervenções conscientes e planejadas19 que considerem imprevisibilidades e incertezas que permeiam as relações sociais2.

Há na extensão universitária um propósito emancipatório quando os sujeitos, a partir da “reflexão na ação” são convidados a construir um conhecimento próprio, desafiando as leis de reprodução social e transformando o conhecimento teórico-prático com base no real23. É nesse sentido de (re)construção do conhecimento e da transformação social que a extensão universitária se potencializa frente ao pensamento complexo.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

A extensão universitária contribui para a formação do Enfermeiro à medida em que possibilita o desenvolvimento do pensamento complexo-crítico-reflexivo no discente quando da sua aproximação com a realidade nos territórios de saúde.

Ademais, reafirma-se que a lógica conceitual da extensão universitária coaduna com o pensamento complexo de Edgar Morin2 à medida que promove reflexões e instiga mudanças nas práticas pedagógicas e curriculares para o desenvolvimento de competências para a práxis emancipatória, humanística e transdisciplinar.  

Espera-se que as discussões possibilitem reconhecer a extensão universitária como estratégia/caminho/possibilidade de mudanças no processo formativo em Enfermagem ao considerar as novas tendências necessárias para atuação profissional, em atenção às mudanças sociais e ideológicas atuais.

 

REFERÊNCIAS

1. Morin E. Os setes saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez, UNESCO; 2000.

 

2. Morin E. Introdução ao pensamento complexo. Porto Alegre: Sulina; 2005.

 

3. Araujo MTM, Santos TW, Sá RA, Vosgerau DSR. O pensamento complexo na educação: uma revisão sistemática da literatura [Internet]. In: XIII Congresso Nacional de Educação - EDUCERE, IV Seminário Internacional de Representações Sociais, Subjetividade e Educação - SIRSSE e VI Seminário Internacional sobre Profissionalização Docente – SIPD; 2017. Curitiba, Brasil [acesso em 24 nov. 2021]. Disponível em: https://educere.bruc.com.br/arquivo/pdf2017/24696_12108.pdf.

 

4. Terra MG, Camponogara S, Silva LC, Girondi JBR, Nascimento K, Radunz V, Santos EKA. O significado de cuidar no contexto do pensamento complexo: novas possibilidades para a enfermagem. Texto Contexto Enferm [Internet]. 2006 [acesso em 24 nov. 2021];15(Esp):164-9. Disponível em: https://www.redalyc.org/pdf/714/71414366020.pdf

 

5. Colares KTP, Oliveira W. Metodologias Ativas na formação profissional em saúde: uma revisão. Revista Sustinere [Internet]. 2018[acesso em 24 nov. 2021];6(2):300-20. Disponível em: http://dx.doi.org/10.12957/sustinere.2018.36910   

 

6. Santana RR, Santana CCAP, Costa-Neto SB, Oliveira EC. Extensão universitária como prática educativa na promoção da saúde. Educação & Realidade [Internet]. 2021[acesso em 25 nov. 2021]; 46(2): e98702. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/2175-623698702

 

7. Brasil. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Superior. Parecer nº 1.133 de 7 de outubro de 2001. Dispõe as Diretrizes Curriculares para os cursos de graduação de Enfermagem, Farmácia, Medicina, Nutrição e Odontologia. 2001. [acesso em 24 nov. 2021]. Disponível em:  http://portal.mec.gov.br/escola-de-gestores-da-educacao-basica/323-secretarias-112877938/orgaos-vinculados-82187207/12991-diretrizes-curriculares-cursos-de-graduacao

 

8. Cassenote LG, Jeferson Ventura J, Gehlen MH, Rangel RF, Paula SF, Martins ESR O impacto do cuidado lúdico no cenário social: implicações para a enfermagem. Rev enferm UFPE on line [Internet]. 2014 [acesso em 24 nov. 2021];8(supl.1):2249-55. Disponível em: https://doi.org/10.5205/reuol.5927-50900-1-SM.0807supl201408

 

9. Fórum de pró-reitores de extensão das universidades públicas brasileiras. Avaliação da Extensão Universitária: práticas e discussões da Comissão Permanente de Avaliação da Extensão [Internet]. Belo Horizonte: FORPROEX/CPAE; PROEX/UFMG; 2013. [acesso em 24 nov. 2021]. Disponível em: https://www.ufmg.br/proex/renex/images/avalia%C3%A7%C3%A3o_da_extens%C3%A3o-_livro_8.pdf.

 

10. Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras Política Nacional de Extensão Universitária [Internet]. Manaus - AM: FORPROEX; 2012 [acesso em 24 nov. 2021]. Disponível em: https://proex.ufsc.br/files/2016/04/Pol%C3%ADtica-Nacional-de-Extens%C3%A3o-Universit%C3%A1ria-e-book.pdf

 

11. Silva AFL, Ribeiro CDM, Silva Júnior AG. Thinking of university extension as a health education field: an experience at the Fluminense Federal University, Brazil. Interface [Internet]. 2013[acesso em 25 nov. 2021];17(45):371-84. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1414-32832013000200010

 

12. Silva, KC, Kochhann A. Tessituras entre concepções, curricularização e avaliação da extensão universitária na formação do estudante. Espaço Pedagógico [Internet]. 2018 [acesso em 25 nov. 2021];25(3):703-25. Disponível em: www.upf.br/seer/index.php/rep

 

13. Coriolano-Marinus MWL, Queiroga BAM, Ruiz-Moreno L, Lima LS. Comunicação nas práticas em saúde: revisão integrativa da literatura.  Saúde Soc [Internet]. 2014 [acesso em 25 nov. 2021];23(4):1356-69. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0104-12902014000400019 

 

14. Resende A, Figueiredo MH. Práticas de literacia familiar: uma estratégia de educação para a saúde para o desenvolvimento integral da criança. Port J Public Health [Internet]. 2018 [acesso em 25 nov. 2021]; 1-12. Disponível em: https://doi.org/10.1159/000492265

 

15. Xavier SPL, Machado LDS, Moreira MRC, Martins AKL, Machado MFAS. Professional competencies to promote health in nursing and physical education undergraduate courses. Rev Bras Enferm [Internet]. 2021 [acesso em 25 nov. 2021];74(2):e20200617. Disponível em: https://doi.org/10.1590/0034-7167-2020-0617

 

16. Cardoso AC, Jorge D, Corralo DJ, Krahl M, Porto L, Alves LP. O estímulo à prática da interdisciplinaridade e do multiprofissionalismo: a Extensão Universitária como uma estratégia para a educação interprofissional. Rev. ABENO [Internet] 2015[acesso em 25 nov. 2021]; 15(2):12-19. Disponível em: https://doi.org/10.30979/rev.abeno.v15i2.93

 

17. Morin E. A religação dos saberes: o desafio do século XXI. 6. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil; 2007.

 

18. Chirelli MQ, Sordi MRL. Pensamento crítico na formação do enfermeiro: avaliação na área de competência Educação em Saúde. Rev. Bras. Enferm [Internet]. 2021; [acesso em 25 nov. 2021] 74 (sup.5):1-9. Disponível em: https://doi.org/10.1590/0034-7167-2020-0979e20200979.

 

19. Rozin L, Forte LT. Curricularização da extensão universitária em saúde: uma proposta com uso do diagnóstico comunitário. Espac. Saúde [Internet]. 2021[acesso em 25 nov. 2021]; 22(e774):1-9. Disponível em: https://doi.org/10.22421/1517-7130/es.2021v22.e774

 

20. Ferreira PB, Suriano MLF, Domenico EBL. Contribuição da Extensão Universitária na formação de graduandos em Enfermagem. Rev. Ciênc. Ext [Internet]. 2018[acesso em 26 nov. 2021];14(3):31-49. Disponível em: https://ojs.unesp.br/index.php/revista_proex/article/download/1874/2080

 

21. Almeida SMV, Barbosa lMV. Curricularização da Extensão Universitária no Ensino Médico: o Encontro das Gerações para Humanização da Formação. Rev. bras. educ. Med [Internet]. 2019; [acesso em 25 nov. 2021] 43(suppl. 1):672-80. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1981-5271v43suplemento1-20190013  

 

22. Rocha SP, Ponte Neto OA, Farias QLT, Maciel GP, Silva IAP, Sousa JIT, Cavalcante ASP, Vasconcelos MIO. Curricularização da extensão na graduação em saúde: a experiência de um curso de Enfermagem. Saúde em Redes [Internet]. 2019; [acesso em 26 nov. 2021] 5(3):275­83. Disponível em: https://doi.org/10.18310/2446-48132019v5n3.2440g432 

 

23. Fraga LS. Transferência de conhecimento e suas armadilhas na extensão universitária brasileira. Avaliação [Internet]. 2017 [acesso em 26 nov. 2021];22(2):403-19. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1414-40772017000200008  

 

Submissão: 05-07-2022

Aprovado: 19-07-2022