¹Hemmily Nóbrega Ventura

²Carla Lidiane Jácome dos Santos

³Josefa Danielma Lopes Ferreira

⁴Lidiane Lima de Andrade

⁵Jacira dos Santos Oliveira

⁶Marta Miriam Lopes Costa

¹Universidade Federal da Paraíba, Programa de Pós-graduação em Enfermagem (PPGENF). João Pessoa, Paraíba, Brasil. Orcid: https://orcid.org/0000-0003-4043-7584

²Universidade Federal da Paraíba, Programa de Pós-graduação em Enfermagem (PPGENF). João Pessoa, Paraíba, Brasil. Orcid: https://orcid.org/0000-0002-5101-4408

³Universidade Federal da Paraíba, Programa de Pós-graduação em Enfermagem (PPGENF). João Pessoa, Paraíba, Brasil. Orcid: https://orcid.org/0000-0003-4209-4781

⁴Universidade Federal de Campina Grande, Professora Adjunto III do Curso de Enfermagem, campus Cuité-PB, Brasil. Orcid: https://orcid.org/0000-0003-1015-9237

⁵Universidade Federal da Paraíba, Programa de Pós-graduação em Enfermagem (PPGENF). João Pessoa, Paraíba, Brasil. Orcid: https://orcid.org/0000-0002-3863-3917

⁶Universidade Federal da Paraíba, Programa de Pós-graduação em Enfermagem (PPGENF). João Pessoa, Paraíba, Brasil. Orcid: https://orcid.org/0000-0002-2119-3935

Autor correspondente

Hemmily Nóbrega Ventura

Rua Adalgisa Luna de Menezes, 731, Apartamento 601, Bloco B, João Pessoa-PB, Brasil, CEP: 58051840.

Telefone: +55(83) 999916414

E-mail: hemmilynobrega@hotmail.com

Fomento e Agradecimento: Não houveram auxílios financeiros para o referido estudo.

RESUMO

Objetivo: analisar a produção científica nacional e internacional sobre o papel do enfermeiro no programa de planejamento reprodutivo. Método: revisão integrativa de artigos nas bases Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Índice Bibliográfico Español em Ciencias de la Salud (IBECS), National Library of Medicine National Institutes of Health PubMed / Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE/PUBMED) e na biblioteca Scientific Electronic Library Online (SCIELO), nos idiomas português e inglês, por meio dos descritores “Planejamento familiar”, "Family planning" “Enfermeiro”, “Nurse” e “Anticoncepção”, “Contraception”. Resultados: foram encontrados 75 artigos após busca nas bases de dados e após exclusão das duplicações e triagem adequada dos estudos, foram selecionados 8 artigos para compor a amostra da revisão. Dos achados, os estudos evidenciam que o planejamento reprodutivo está associado à educação em saúde como um instrumento para prevenção de uma gravidez indesejada e que o enfermeiro atua como mediador entre o serviço e a população, buscando melhores estratégias para garantia dos direitos em saúde sexual e reprodutiva. Conclusão: os resultados do estudo poderão contribuir para a atuação do profissional de enfermagem, assim como da equipe multiprofissional, a partir da reflexão sobre o tema pautados nos princípios de humanização e integralidade da assistência.

Palavras-chave: Planejamento Familiar; Enfermeiro; Anticoncepção.

ABSTRACT

Objective: to analyze national and international scientific production on the role of nurses in the reproductive planning program. Method: integrative review of articles in the bases Latin American and Caribbean Literature in Health Sciences (LILACS), Bibliographical Index Español em Ciencias de la Salud (IBECS), National Library of Medicine National Institutes of Health PubMed/ Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE/PUBMED) and in the Scientific Electronic Library Online (SCIELO) library, in Portuguese and English, using the descriptors "Family planning", "Family planning", "Nurse", "Nurse" and "Anticonception", " Contraception”. Results: 75 articles were found after searching the databases and after exclusion of duplications and adequate screening of studies, 8 articles were selected to compose the review sample. From the findings, the studies show that reproductive planning is associated with health education as an instrument to prevent unwanted pregnancy and that the nurse acts as a mediator between the service and the population, seeking better strategies to guarantee rights in sexual and health. reproductive. Conclusions: the results of the study may contribute to the performance of the nursing professional, as well as the multidisciplinary team, from the reflection on the theme based on the principles of humanization and integrality of care.

Keywords: Family Planning; Nurse; Anticonception.

RESUMEN

Objetivo: analizar la producción científica nacional e internacional sobre el papel del enfermero en el programa de planificación reproductiva. Método: revisión integradora de artículos en las bases Literatura Latinoamericana y del Caribe en Ciencias de la Salud (LILACS), Índice Bibliográfico Español em Ciencias de la Salud (IBECS), Biblioteca Nacional de Medicina National Institutes of Health PubMed / Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE/PUBMED) y en la biblioteca Scientific Electronic Library Online (SCIELO), en portugués e inglés, utilizando los descriptores “Family planning”, “Family planning”, “Nurse”, “Nurse” y “Anticonception”, “Contraception”. Resultados: se encontraron 75 artículos después de la búsqueda en las bases de datos y después de la exclusión de duplicaciones y la selección adecuada de los estudios, se seleccionaron 8 artículos para componer la muestra de revisión. A partir de los hallazgos, los estudios muestran que la planificación reproductiva está asociada a la educación en salud como instrumento para prevenir el embarazo no deseado y que la enfermera actúa como mediadora entre el servicio y la población, buscando mejores estrategias para garantizar los derechos en salud sexual y reproductiva. Conclusión: los resultados del estudio pueden contribuir para la actuación del profesional de enfermería, así como del equipo multidisciplinario, a partir de la reflexión sobre el tema a partir de los principios de humanización e integralidad del cuidado.

Palabras clave: Planificación Familiar; Enfermero; Anticoncepción.

INTRODUÇÃO

Com o passar dos anos, no século XX, o Planejamento Reprodutivo ganha forças e visibilidade a partir da criação de políticas públicas voltadas para a saúde sexual e reprodutiva do homem, mulher e casal e propõe estimular a população quanto ao uso de métodos contraceptivos ⁽¹⁾.

O planejamento reprodutivo se associa ao direito reprodutivo e sexual do indivíduo, considerando os aspectos morais e culturais, além de evitar a eventualidade de uma possível gravidez não planejada. Pesquisas demonstram que homens e mulheres não possuem conhecimento acerca do planejamento reprodutivo, do uso dos métodos contraceptivos e de como evitar uma gestação, acarretando conflitos socioeconômicos, insatisfações pessoais e abortos provocados ⁽²⁾.

O programa é ofertado principalmente pela Atenção Básica (AB), mas também pode ser fornecido por serviços de atenção secundária e terciária como método de prevenção e intervenção na saúde da população. Visa reduzir taxas de mortalidade infantil, gestação na adolescência e retardo no crescimento populacional. Após a implantação do programa, tem-se observado, ao longo dos anos, um declínio nas gestações indesejadas, a prevalência da adesão de mulheres a algum método contraceptivo, redução dos índices de abortamentos inseguros e de mortalidade materna⁽³⁾.

A assistência destinada ao planejamento reprodutivo não está voltada apenas a prevenir gestações não planejadas, mas também a oferta de informações sobre concepção e contracepção, quando e como ter seus filhos, acolhimento humanizado e orientações para os que buscam os serviços de saúde, independente do sexo.

Um estudo qualitativo realizado com enfermeiras da AB evidenciou que os homens são uma clientela que dificilmente buscam as unidades de saúde e quando buscam ações e serviços de planejamento familiar é para ter acesso a preservativos. Esse estudo aponta para a necessidade de os profissionais de saúde estarem atentos e sensibilizados para fornecer ações que busque o acesso a esse público masculino. Já que os profissionais da saúde são vistos como elo entre os serviços de saúde das diversas instâncias e os usuários ⁽⁴⁾.

O Conselho Federal de Enfermagem-COFEN normatiza na Resolução 690/2022 a atuação privativa do Enfermeiro no planejamento familiar, cabendo-lhe realizar a consulta de Enfermagem, proceder com a solicitação de exames, prescrição, administração e procedimentos, pautados nos protocolos institucionais, visando a promoção, proteção e apoio à utilização dos métodos de concepção e contracepção, garantindo a qualidade e a segurança do uso no cotidiano da vida reprodutiva ⁽⁵⁾.

Frente à necessidade de se trabalhar a temática planejamento reprodutivo com a família na AB, existe a necessidade de se ter cada vez mais profissionais capacitados para abordar o assunto e orientar quanto ao melhor método de escolha; bem como a necessidade de expansão do conhecimento sobre o tema. Nessa perspectiva, tem-se como objetivo: analisar a produção científica nacional e internacional sobre o papel do enfermeiro no programa de planejamento reprodutivo.

MÉTODOS

Trata-se de uma revisão integrativa, referente ao papel do enfermeiro no programa de planejamento reprodutivo, desta feita, foram percorridas seis etapas para a elaboração dessa revisão, que segue: identificação do problema, definição da questão de pesquisa, estabelecimento de critérios de inclusão e exclusão com a busca na literatura, definição das informações a serem extraídas dos estudos, avaliação dos estudos incluídos, interpretação dos resultados e síntese dos dados e apresentação ⁽⁶⁾.

Na etapa de identificação do tema foi elaborada a seguinte questão norteadora, como forma de delimitar o presente estudo: Quais as evidências disponíveis na literatura acerca do papel do enfermeiro no programa de planejamento reprodutivo?

Para responder a pergunta, realizou-se uma busca no período de janeiro a março de 2022 por meio das bases de dados disponíveis na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), tais como Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Índice Bibliográfico Español em Ciencias de la Salud (IBECS), National Library of Medicine National Institutes of Health PubMed/ Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE/PUBMED) e na biblioteca Scientific Electronic Library Online (SCIELO). Os descritores utilizados foram os seguintes para a seleção dos artigos: “Planejamento familiar”, "Family planning" “Enfermeiro”, “Nurse” e “Anticoncepção”, “Contraception”. Foram combinados com o operador booleano “AND”, entre si, nos idiomas em português e inglês. Conforme disponível em Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) e no Medical Subject Headings (MeSH).

Para compor a amostra foram selecionados os artigos com base nos seguintes critérios de inclusão: texto completo disponível na íntegra disponibilizados nos idiomas inglês e português, para acesso gratuito, publicado no período de 2017 a 2022. Foram excluídas publicações como: teses, dissertações, monografias, trabalhos de conclusão de curso. Os artigos duplicados foram analisados apenas uma vez. A coleta de dados procedeu-se a partir da leitura criteriosa dos títulos, resumos e conteúdo dos artigos. Para definição das informações extraídas dos artigos selecionados foi construído um formulário seguindo as recomendações de outro autor ⁽⁷⁾. Tais informações foram organizadas em quadros de forma concisa, contemplando os seguintes itens: codificação dos artigos, autor, título, periódico, ano de publicação, nível de evidência conforme Quadro 1, além de país de origem, tipo de estudo/abordagem, cenário do estudo, síntese dos resultados evidenciado no Quadro 2.

Os níveis de evidenciados estudos incluídos no corpus foram analisados de acordo com as seis categorias: Nível I –Evidências oriundas de revisões sistemáticas ou metanálises de relevantes ensaios clínicos; Nível II –Evidências derivadas de pelo menos um ensaio clínico randomizado controlado bem delineado, evidência moderada; Nível III –Ensaios clínicos bem delineados sem randomização; Nível IV –Estudos de coorte e de caso-controle bem delineados; Nível V –Revisão sistemática de estudos descritivos e qualitativos, evidência fraca; Nível VI –Evidências derivadas deum único estudo descritivo ou qualitativo; Nível VII –Opinião de autoridades ou relatório de comitês de especialistas ⁽⁸⁾.

Os artigos foram identificados simbolizados pela letra “A” seguida de um número (Exemplo: A1, A2, A3...).

As análises foram realizadas e organizadas por meio de fichamentos, os quais continham as informações principais do artigo e avaliação crítica dos autores.

RESULTADOS

Foram identificados 75 artigos após busca nas bases de dados, sendo PUBMED (72 artigos), LILACS (3 artigos). Após exclusão das duplicações e triagem adequada dos estudos, foram selecionados 8 artigos para compor a amostra desta revisão seguindo o fluxograma:

Tabela 1- Distribuição dos artigos selecionados para revisão integrativa. João Pessoa (PB), Brasil, 2022.

Artigo	Autor	Título	Periódico	Ano	Nível de evidência
1	Mugore S. et al. ⁽²⁾	Adaptation of the Training Resource Package to Strengthen Preservice Family Planning Training for Nurses and Midwives in Tanzania and Uganda.	Global Health: Science and Practice	2018	5
2	Britton LE. et al. ⁽⁹⁾	An Evidence-Based Update on Contraception: A detailed review of hormonal and nonhormonal methods.	American Journal of Nursing	2020	5
3	Ouyang M. et al.⁽¹⁰⁾	Intrauterine contraceptive device training and outcomes for healthcare providers in developed countries: A systematic review.	PLos One	2019	5
4	Costa JSP. et al. ⁽³⁾	Profissional de enfermagem no planejamento familiar na atenção básica: revisão integrativa	Revista Saúde.com	2020	5
5	Gupta M. et al. ⁽¹¹⁾	Competency assessment of the medical interns and nurses and documenting prevailing practices to provide family planning services in teaching hospitals in three states of India.	Plos One	2019	6
6	Karvande S. et al. ⁽¹²⁾	Family planning training needs of auxiliary nurse midwives in Jharkhand, India: Lessons from an assessment	The National Medical Journal of India	2018	6
7	Mbuzeleni H. et al. ⁽¹³⁾	Healthcare providers' knowledge and perceptions regarding the use of modern contraceptives among adolescent girls in Umlazi Township, KwaZulu-Natal province, South Africa	PanAfrican Medical Jornal	2021	5
8	Sousa FLL. et al. ⁽¹⁾	Assistência de enfermagem frente ao planejamento familiar na Atenção Primária a saúde.	Research, Society and Development	2021	5

Fonte: PUBMED, LILACS, 2017-2022.

Quadro 2 - Distribuição dos estudos acerca do papel do enfermeiro no planejamento reprodutivo, segundo características dos artigos. João Pessoa, Brasil, 2022.

Registro	Origem	Tipo de estudo	Cenário do estudo	Síntese dos resultados
1	Não foi descrito	Descritivo, do tipo revisão integrativa de literatura, de caráter qualitativo	Não informado no estudo	O enfermeiro tem como atribuição orientar a população quanto ao modo de uso, eficácia, efeitos colaterais, e implicações para vida sexual.
2	Feira de Santana – Bahia, Brasil	Revisão integrativa da literatura do tipo qualitativo e descritivo	Não informado no estudo	O profissional de enfermagem no contexto do planejamento familiar na atenção básica contribui positivamente para melhoria da qualidade de vida sexual do homem e da mulher, por meio da educação em saúde individual e coletiva, consulta de enfermagem, escuta qualificada, disponibilidade de métodos contraceptivos e inclusão do paciente na escolha do método.
3	Tanzânia e Uganda	Pesquisas, avaliações e workshops para adaptar módulos do Pacote de Recursos de Treinamento para Planejamento Familiar	Não informado no estudo	A adaptação de um recurso de treinamento global de planejamento familiar baseado em evidências na Tanzânia e Uganda resultou em mudanças substanciais nos currículos da unidade de curso de pré-serviço de saúde reprodutiva que apoiará enfermeiras e parteiras a fornecer serviços de planejamento familiar de qualidade e baseados em direitos.
4	Não foi descrito	Revisão da literatura	Não informado no estudo	Discutimos como o cuidado anticoncepcional está relacionado à ética da enfermagem e às iniquidades em saúde.
5	Índia	Estudo transversal	Hospitais Universitários da Índia	O conhecimento e as habilidades dos estagiários e enfermeiros sobre os serviços de PF eram inadequados.
6	Jharkhand, Índia	Estudo transversal	Não informado no estudo	Inadequação na formação de Enfermeiros em planejamento familiar.
7	KwaZulu-Natal, África do Sul	Estudo descritivo	Clínicas de saúde primária e um hospital	Sistemas de saúde precários e comportamentos negativos por parte dos profissionais de saúde influenciam a prestação de serviços de planejamento familiar em clínicas de saúde primária e servem como barreiras para serviços de planejamento familiar de qualidade prestados a mulheres mais jovens.
8	Não foi descrito	Revisão sistemática	Não informado no estudo	O treinamento em DIU para profissionais de saúde contribuiu para aumentar o conhecimento e melhorar as atitudes positivas em relação aos DIUs, altas taxas de inserções bem-sucedidas, baixas taxas de complicações e aumento da oferta de DIUs. Não foram observadas diferenças notáveis entre os tipos de provedores em termos de aumento de conhecimento ou resultados de inserção. Diferentes programas de treinamento para profissionais de saúde foram considerados eficazes para melhorar o conhecimento e o fornecimento bem-sucedido de DIUs.

Fonte: PUBMED, LILACS, 2017-2022.

DISCUSSÃO

O Ministério da Saúde (MS), tomando por base o dispositivo da lei do Planejamento Familiar (Lei nº. 9.263/96), determina, como competência dos profissionais de saúde, prestar assistência em concepção e contracepção, empenhando-se em informar os indivíduos sobre as opções para as duas finalidades ⁽¹¹⁾.

De acordo com os estudos ^(3,
13), o programa de planejamento reprodutivo e o profissional de enfermagem possuem extrema importância nesse contexto trabalhando em prol da redução da morbimortalidade materna e infantil, assegurando aos usuários acesso aos serviços de saúde, atendendo suas necessidades e permitindo uma vida sexual e reprodutiva saudável e protegida.

Destaca-se como competências do enfermeiro no planejamento reprodutivo: assistir em concepção e contracepção, apresentando aos indivíduos os métodos disponíveis na unidade e a facilidade para adquiri-los; a prática educativa, como estratégia de promoção à saúde a fim de que a orientação seja desenvolvida de forma dinâmica e clara; prevenção e tratamento de IST; acolhimento humanizado e escuta qualificada ⁽³⁾.

Ainda, na assistência de enfermagem no planejamento reprodutivo, as atribuições do enfermeiro estão alistadas nas consultas de enfermagem como prescrição de métodos contraceptivos, realização de procedimentos como a coleta de material para prevenção de câncer do colo de útero e de atividades de grupo, a solicitação de exames complementares, a prescrição de medicações, o encaminhamento de usuários para outros serviços, a realização de atividades programadas e de atenção à demanda espontânea, orientação individual, consulta de enfermagem, inserção de DIU, prevenção de câncer de colo e mamas, atende retornos e revisões de DIU, de laqueadura e de outros métodos ⁽¹⁰⁾.

Mesmo com todas as atribuições do enfermeiro na assistência ao planejamento familiar, ainda é encontrado muitos obstáculos institucionais e profissionais; dificuldades em oferecer assistência integral pela falta de adesão das mulheres ao programa; restrição na oferta dos métodos contraceptivos; limitação da autonomia para prescrição de enfermagem e escassez de capacitações profissionais ⁽¹⁴⁾.

Sendo assim, o profissional de enfermagem deve estar capacitado quanto a todo o conhecimento técnico e científico que abrange o planejamento reprodutivo, ressaltando a importância do respeito a cultura daquela comunidade, incluindo confiabilidade para participar e apoiar diretamente quanto à tomada de decisões relacionadas à vida sexual dos envolvidos, criando laços de confiança, participando da vida intima dessa família sem nenhum tipo de restrição ⁽¹⁵⁾.

Faz-se necessário que os usuários do serviço compreendam que a vontade de ter filhos também se insere em um planejamento, devendo o enfermeiro operar em todas as esferas, por meio da utilização de planos de educação em saúde e da efetivação de buscas ativas de pessoas que tenham a carência de orientações, bem como de informações, para que, assim, se alcance êxito em uma maior adesão desses usuários. Dessa forma, torna-se possível que se consiga certo controle em relação ao número de nascimentos, sobretudo em comunidades que carecem de subsídios necessários para uma boa qualidade de vida, como moradia, alimentação e saneamento básico adequado ⁽³⁾.

A inserção do DIU é também uma atribuição dos enfermeiros no Brasil e em alguns países. Os requisitos são semelhantes em países como a Austrália, EUA e Reino Unido. Estudos mostram melhorias no conhecimento e atitude de enfermeiros após treinamento para a inserção do DIU, com melhorias na escolha dos critérios de elegibilidade do método, confiança na prática do procedimento, maior recomendação do método para suas usuárias e aumento do índice de inserções bem-sucedidas com baixas taxas de complicações. A qualificação dos enfermeiros nesta área traria alguns benefícios: maior acesso aos DIUs e mais opções contraceptivas para as mulheres. Melhorar a disponibilidade e acessibilidade de toda a gama de opções contraceptivas, incluindo DIUs, é fundamental para garantir que as mulheres tenham acesso ao seu método de contracepção preferido ⁽¹⁰⁾.

O zelo pelo bom relacionamento entre o enfermeiro e o paciente é imprescindível para que haja um elo de confiança, e que o usuário não se intimide em fazer perguntas e esclarecer dúvidas sobre o uso dos métodos, descartando falsas interpretações sobre o assunto e ela não tenha vergonha de expor a sua intimidade relacionada à vida sexual, sendo de fundamental relevância a interação do companheiro nessas atividades, para que a responsabilidade não esteja apenas a cargo da mulher ⁽¹³⁾.

Os enfermeiros são os profissionais de maior destaque nos serviços de saúde a aconselhar sobre o planejamento reprodutivo, porém a maioria não recebe treinamento para atuação na área (inserção do DIU, uso de preservativos, IST’s, HIV, etc). São considerados os gerentes das instituições, que planejam e organizam suas unidades com eficiência. Destaca-se a necessidade de treinamento na prestação dos serviços de planejamento reprodutivo, uma vez que não se pode haver lacunas no conhecimento e habilidades para atuação nesse campo ⁽¹²⁾.

É de suma importância que o enfermeiro se mantenha atualizado, em todos os serviços de saúde e especialidades, em concepção e contracepção. Dessa forma, cumprirá com as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre fornecer educação aos usuários acerca da anticoncepção, bem como poderá fornecer assistência de qualidade centrada nos usuários e baseada em conhecimentos atualizados e em evidências ⁽⁹⁾.

As ações educativas no planejamento reprodutivo são processos que objetivam habilitar a mulher ou a comunidade na participação do programa, de modo que possam ajudar na evolução das condições de saúde deles. Para a realização de uma assistência no planejamento reprodutivo de qualidade na realização dessas atividades, é necessário que os profissionais sejam capacitados, que haja estrutura física adequada e, que tenha a participação das mulheres com ou sem a presença dos seus companheiros ⁽¹⁵⁾.

Outro estudo conclui que os enfermeiros devem estar preparados para fornecer aconselhamento, serviços e encaminhamentos contraceptivos, compreendendo a contracepção e os cuidados contraceptivos no contexto da ética da enfermagem e da justiça. Devem abordar a temática saúde sexual e reprodutiva por meio de reflexões e com o intuito de evitar qualquer tipo de discriminação. Indivíduos de grupos marginalizados e estigmatizados necessitam de atenção especial, a fim de não receberem interferência negativa que se configure como preconceito. Dessa forma, os enfermeiros podem melhorar os relacionamentos e resultados clínicos. O papel do enfermeiro no programa de planejamento reprodutivo se constitui, portanto, na orientação quanto ao modo de uso dos métodos contraceptivos, sua eficácia, efeitos adversos e implicações na vida sexual e reprodutiva ⁽⁹⁾.

CONCLUSÃO

O presente estudo atendeu ao objetivo proposto evidenciando que o papel do enfermeiro no programa de planejamento reprodutivo vai além da distribuição de métodos contraceptivos, como o aconselhamento, a orientação, a inserção do DIU. Evidencia-se que o planejamento reprodutivo está associado à educação em saúde como um instrumento para prevenção de uma gravidez indesejada e que o enfermeiro atua como mediador entre o serviço e a população, buscando melhores estratégias para garantia dos direitos em saúde sexual e reprodutiva.

Diante disso, os resultados do estudo poderão contribuir para a atuação do profissional de enfermagem, assim como da equipe multiprofissional, a partir da reflexão sobre o tema pautado nos princípios de humanização e integralidade da assistência.

Torna-se necessário que esse profissional esteja sempre atualizado por meio de treinamentos em serviço e receba educação continuada acerca da temática para maximizar os resultados propostos pelo programa. Manter os enfermeiros capacitados é um desafio, pois novos tipos de contracepção, formulações hormonais e indicações de uso estão sempre sendo desenvolvidos.

Quanto às limitações, destaca-se a prevalência de estudos observacionais, que possuem baixo nível de evidência. Ressalta-se ainda a importância da condução de estudos que tratem desse objeto na perspectiva de outros delineamentos, considerando o papel do enfermeiro no planejamento familiar.

REFERÊNCIAS

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2 Mugore S, MwanjaM, Mmari V, KalulaA. Adaptation of the Training Resource Package to Strengthen Preservice Family Planning Training for Nurses and Midwives in Tanzania and Uganda. Global Health: Science and Practice [Internet]. 2018 [citado em 03 jun 2022];6(3). Disponível em: http://dx.doi.org/10.9745/GHSP-D-18-00030.

3 Costa JSP, Castro AV, Silva CMV. Profissional de enfermagem no planejamento familiar na atenção básica: revisão integrativa. Rev. Saúde.Com. [Internet]; 2020 [citado em 03 jun 2022]; 16(2):1839–47. Disponível em: https://doi.org/10.22481/rsc.v16i2.4786

4 Casarin,S T. Family planning and men's health from nurses' perspective. Escola Anna Nery - Revista de Enfermagem [Internet]. 2014 [citado em 03 jun 2022]; 18(4). Disponível em: https://doi.org/10.5935/1414-8145.20140094

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6 Souza MT, Silva MD, Carvalho R. Revisão integrativa: o que é e como fazer. Einstein (São Paulo) [Internet] 2010 [citado em 03 jun 2022]; 8(1):102-06. Disponível em: https://doi.org/10.1590/s1679-45082010rw1134

7 Ursi ES. Prevenção de lesões de pele no perioperatório: revisão integrativa da literatura [dissertação]. Ribeirão Preto: Universidade de São Paulo: Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto [Internet]. 2005 [citado em 03 jun 2022]. Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/22/22132/tde-18072005-095456/pt-br.php

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11 Gupta M, Verma M, Kaur K, Iyengar K, Singh T, Singh A. Competency assessment of the medical interns and nurses and documenting prevailing practices to provide family planning services in teaching hospitals in three states of India. PLoS ONE [Internet]. 2019 [citado em 03 jun 2022];14(11): e0211168. Disponível em: https://doi.org/10.1371/journal.pone.0211168

12 Karvande S, Sonawane D, Samal J, Mistry N. Family planning training needs of auxiliary nurse midwives in Jharkhand, India: Lessons from an assessment. The national medical journal of India. [Internet]. 2018 [citado em 03 jun 2022]; 31(2):73-8; Disponível em: http://dx.doi.org/10.4103/0970-258X.253164

13 Hlongwa M, Tlou B, Hlongwana K. Healthcare providers' knowledge and perceptions regarding the use of modern contraceptives among adolescent girls in Umlazi Township, KwaZulu-Natal province, South Africa. Pan African Medical Journal. [Internet]. 2021 [citado em 03 jun 2022];4(38):124. Disponível em: http://dx.doi.org/10.11604/pamj.2021.38.124.20771

14 Costa MM, Crispim ZM. Política de saúde do planejamento familiar na ótica do enfermeiro. Rev enferm UFPE on line. [Internet] 2010 [citado em 03 jun 2022]; 4(2): 568-76. Disponível em: https://doi.org/10.5205/reuol.759-6984-1-LE.0402201016

15 Castro ARB. Participação do enfermeiro no planejamento familiar. Monografia (especialização) - Instituto de Educação à Distância, Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira; 2018.

Submissão: 05-07-2022

Aprovado: 27-07-2022