IMPACTO DA PANDEMIA NA SAÚDE MENTAL DOS DISCENTES DE ENFERMAGEM NO CONTEXTO DA COVID-19
IMPACT OF THE PANDEMIC ON THE MENTAL HEALTH OF NURSING STUDENTS IN THE CONTEXT OF COVID-19
IMPACTO DE LA PANDEMIA EN LA SALUD MENTAL DE LOS ESTUDIANTES DE ENFERMERÍA EN EL CONTEXTO DEL COVID-19
1Daianny Paes Landim Macêdo
2Dayla Damires Nogueira Santos Silva
3Juliana Macêdo Magalhães
4Pedro Venicius de Sousa Batista
5Fernanda Cláudia Miranda Amorim
6Cláudia Maria Sousa de Carvalho
7Bruno Macêdo Gonçalves
1 Centro Universitário UNINOVAFAPI, Teresina, Piauí. ORCID: https://orcid.org/0000-00030-4885-505
2 Centro Universitário UNINOVAFAPI, Teresina, Piauí. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-5530-4931
3 Centro Universitário UNINOVAFAPI, Teresina, Piauí. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9547-9752
4 Centro Universitário UNINOVAFAPI, Teresina, Piauí. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-9441-0996
5 Centro Universitário UNINOVAFAPI, Teresina, Piauí. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1648-5298
6 Centro Universitário UNINOVAFAPI, Teresina, Piauí. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-8901-3390
7 Centro Universitário UNINOVAFAPI, Teresina, Piauí. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-5719-7455
Autor correspondente
Daianny Paes Landim Macêdo
Rua Vitorino Orthiges Fernandes, 6123, Uruguai, Teresina-PI. Brasil. CEP: 64073-505.
Telefone: +55(86) 99818-2160
E-mail: daiannypaes20@gmail.com
RESUMO
Objetivo: Investigar os impactos da pandemia da COVID-19 na saúde mental dos discentes de enfermagem e avaliar a relação entre o evento e os indicadores para transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). Método: estudo exploratório, analítico, transversal, com abordagem quantitativa. A amostra estudada foi constituída por 164 estudantes de uma instituição de ensino superior privada, matriculado no curso de Enfermagem, convidado por meio eletrônico, que responderam ao questionário on-line sobre dados sociodemográficos, percepção de risco pela pandemia COVID-19 e sintomas de estresse pós-traumático avaliados pela Impact of Event Scale (IES-R) em sua versão brasileira validada. Resultados: A maioria dos participantes eram da faixa etária de 18 a 23 anos (70,8%), do sexo feminino (91,5%), sem filhos (86%), residem com 2 a 4 pessoa (75%). 51,2% apresentam indicação alta para TEPT, 14,0% apresentam preocupação clínica para TEPT. Houve associação do escore da IES-R com a idade, quantidade de filhos e quantidade de pessoas com quem reside. Conclusão: O evento da pandemia da Covid-19 provocou um impacto na saúde mental dos discentes de Enfermagem, com uma elevada classificação de participantes com indicação alta para TEPT. Esses dados são importantes para futuras intervenções psicológicas e pedagógicas entre estudantes.
Palavras-chave: Enfermagem; Estudantes; Saúde Mental; Covid-19; Transtornos de Estresse Pós-Traumáticos; Pandemias.
ABSTRACT
Objective: To investigate the impacts of the COVID-19 pandemic on the mental health of nursing students and to assess the relationship between the event and the indicators for post-traumatic stress disorder (PTSD). Method: exploratory, analytical, cross-sectional study with a quantitative approach. The sample studied consisted of 164 students from a private higher education institution, enrolled in the Nursing course, invited by electronic means, who answered the online questionnaire on sociodemographic data, risk perception by the COVID-19 pandemic and symptoms of stress. trauma assessed by the Impact of Event Scale (IES-R) in its validated Brazilian version. Results: Most participants were aged between 18 and 23 years (70.8%), female (91.5%), without children (86%), living with 2 to 4 people (75%). 51.2% have a high indication for PTSD, 14.0% have clinical concern for PTSD. There was an association of the IES-R score with age, number of children and number of people with whom they live. Conclusion: The Covid-19 pandemic event had an impact on the mental health of Nursing students, with a high rating of participants with a high indication for PTSD. These data are important for future psychological and pedagogical interventions among students.
Keywords: Nursing, Students; Mental Health; Covid-19; Stress Disorders; Post-Traumatic; Pandemics.
RESUMEN
Objetivo: Investigar los impactos de la pandemia de COVID-19 en la salud mental de estudiantes de enfermería y evaluar la relación entre el evento y los indicadores de trastorno de estrés postraumático (TEPT). Método: estudio exploratorio, analítico, transversal con enfoque cuantitativo. La muestra estudiada estuvo conformada por 164 estudiantes de una institución de educación superior privada, matriculados en la carrera de Enfermería, invitados por medios electrónicos, quienes respondieron el cuestionario en línea sobre datos sociodemográficos, percepción de riesgo por la pandemia del COVID-19 y síntomas de estrés y trauma evaluados por la Escala de Impacto de Evento (IES-R) en su versión brasileña validada. Resultados: La mayoría de los participantes tenían entre 18 y 23 años (70,8%), sexo femenino (91,5%), sin hijos (86%), viviendo con 2 a 4 personas (75%). El 51,2% tiene una alta indicación de TEPT, el 14,0% tiene preocupación clínica por TEPT. Hubo asociación del puntaje IES-R con la edad, número de hijos y número de personas con las que conviven. Conclusión: El evento pandémico de la Covid-19 tuvo impacto en la salud mental de los estudiantes de Enfermería, con alta calificación de participantes con alta indicación para TEPT. Estos datos son importantes para futuras intervenciones psicológicas y pedagógicas entre los estudiantes.
Palabras clave: Enfermería; Estudiantes; Salud Mental; Covid-19; Trastornos de Estrés Postraumático; Pandemias.
INTRODUÇÃO
A Universidade é um espaço onde os discentes trocam conhecimentos e experiências contínuas, que viabilizam o amadurecimento do indivíduo no coletivo. O ingresso no ensino superior é marcado por um momento de grande realização pessoal, uma vez que promove a ampliação do rol de habilidades profissionais e pessoais. Ao entrar na graduação, o estudante passa a enfrentar grandes mudanças, como uma metodologia de ensino diferente da usada no colegial, no qual precisa adquirir uma grande quantidade de informações, podendo estar associando ainda à algumas situações em que o aluno reside sozinho longe de sua base familiar e precisa conciliar a rotina acadêmica com suas atividades, lazer e relacionamentos sociais (1).
Todavia, com todas essas mudanças, o período na graduação pode ser marcado por elevados níveis de estresse, relacionados às transições de novas demandas na vida do indivíduo, que condicionados à rotina acadêmica, expectativas familiares, autocobrança, dificuldade de adaptação e inseguranças profissionais podem consolidar-se como fatores de risco para transtornos mentais (2).
Deste modo, a experiência acadêmica pode constituir-se como um desafio, visto que além de aspectos de caráter intrínsecos ao indivíduo, a universidade deve ser vista não somente como um ambiente educacional, mas também provedora de saúde e bem-estar. Sendo assim, as universidades devem prover vivências acadêmicas integrais, que propiciem um desenvolvimento social, afetivo e pessoal, além do intelectual e profissional. Uma vez que o apoio de seus pares e docentes são fatores de proteção para a sua saúde mental, já que promovem competências para lidar com as situações dificultosas dentro do ambiente universitário, auxiliando na aprendizagem, no rendimento e desenvolvimento psicossocial dos discentes (3).
No entanto, a pandemia causada pelo coronavírus afetou diretamente a educação e os discentes, em virtude das medidas de restrição e isolamento social adotadas por conta das atuais condições de quarentena, as universidades foram fechadas e as atividades presenciais suspensas, gerando muitas preocupações individuais e coletivas nos discentes (4).
Vale ressalta que o coronavírus (SARS-CoV-2), um vírus respiratório, foi identificado na cidade de Wuhan (China) no final de 2019 e devido a sua capacidade de transmissão foi reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) no início de 2020 como uma pandemia. Os impactos dessa pandemia culminaram em implicações sociais e econômicas, que repercutiram na esfera da saúde mental da população. Deste modo, as medidas de contenção, a imposição do distanciamento físico e a privação social desencadearam um impacto direto na vida da população em geral, uma vez que a interação humana é indispensável para a manutenção do bem-estar (5).
Com o atual cenário de pandemia, os estudantes enfrentam muitas inseguranças, visto que o isolamento ocasionou um rompimento nas suas relações interpessoais e rotinas acadêmicas de formas imprevisíveis, levando ao afastamento social e a pausa nas atividades presenciais, causando um impacto negativo na sua saúde mental. Dessa forma, os impactos do distanciamento social, podem ser percebidos mais intensamente nesses indivíduos, uma vez que a quebra das relações sociais e afastamento físico de seus pares, interfere em seu desenvolvimento profissional e pessoal, pois normalmente os acadêmicos passam mais tempo com seus colegas e professores, do que mesmo com a própria família (6).
Deste modo, essa pesquisa teve como objetivo investigar os impactos da pandemia Covid-19 na saúde mental dos discentes de enfermagem e avaliar a relação entre o evento e os indicadores para transtorno de estresse pós-traumático (TEPT).
MÉTODOS
Trata-se de um estudo exploratório, analítico, transversal, com abordagem quantitativa. Foi seguido o roteiro STROBE (Strengthening the Reporting of Observational Studies in Epidemiology) para estudos observacionais, recomendado pela rede EQUATOR.
A Coleta foi realizada numa instituição de ensino superior privada, na cidade de Teresina-PI, Brasil, no Centro Universitário UNINOVAFAPI.
Em virtude das limitações de acesso presencial aos potenciais participantes e às instituições, no segundo semestre de 2021, a amostra foi composta por estudantes de uma instituição de ensino superior privada, matriculados no curso de Enfermagem, ingressos até o ano de 2020. Responderam ao convite 164 estudantes, selecionados aleatoriamente entre os 285 matriculados no curso.
Para o cálculo do tamanho da amostra foi usada a fórmula:
n = (z2∙0,25∙N) /(E2(N-1) +z2∙0,25) = (1,962∙0,25∙285) /(0,052∙284+1,962∙0,25) = 164, na qual z é o valor crítico, E a margem de erro e N o tamanho da população, considerando o grau de confiança de 95% (z=1,96), margem de erro E = 5% e N = 285.
Os critérios de inclusão foram estudantes de Enfermagem matriculados na instituição durante o período da coleta, ingressados até o ano de 2020. Os critérios de exclusão utilizados foram estudantes menores de 18 anos e formulários preenchidos incompletos.
Os dados foram coletados no período de agosto a setembro de 2021 por meio da aplicação de um questionário virtual, com a utilização de formulários do Google, disponibilizado em redes sociais através de um link com convite para a participação na pesquisa, contendo: a) Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE); b) informações de caráter sociodemográficas (idade, raça, estado civil, sexo, quantidade de filhos, renda, ocupação, situação de moradia, com quem reside, com quantas pessoas reside, cidade em que mora com relação a universidade); c) Escala de Impacto do Evento- Revisado (IES-R), que contém 22 itens distribuídos em 3 escalas (evitação, intrusão e hiperestimulação) que contemplam os critérios de avaliação de transtorno do estresse pós-traumático. A IES-R é autoaplicável, e o padrão de resposta consiste em escala do tipo Likert com quatro níveis de intensidade: 0 = de forma alguma; 1= um pouco; 2= moderadamente; 3= bastante; 4= extremamente. O cálculo do escore de cada subescala é obtido por meio da média dos itens que compõem as subescalas evitação, intrusão e hiperstimulação, desconsiderando as questões não respondidas. O escore total é a soma dos escores das subescalas.
Foram coletados 165 questionários ao total, no qual, 1 foi excluído pelas pesquisadoras, mediante o parâmetro de exclusão: formulário preenchido incompleto. Para o controle de respostas, os questionários respondidos ficavam disponíveis de forma simultânea à coleta, podendo ser visualizados antes de que toda a amostra fosse concluída, dessa forma, o questionário foi excluído antes da finalização da coleta, sendo simultaneamente substituído por outro participante.
Após a coleta, os dados obtidos foram registrados numa planilha do Excel e após dupla checagem exportados e processados pelo programa IBx9 SPSS Statistics 20.0. Os resultados obtidos foram analisados de forma estatística descritiva, por meio de frequência absoluta (N°) e relativas (%) para as variáveis qualitativas. Os resultados foram apresentados em tabelas e gráficos. Os dados foram avaliados quanto ao coeficiente de variação e a distribuição amostral para a determinação do teste estatístico. Realizou-se a análise estatística com o emprego de um programa (GraphpadPrism V, GraphPad Software, California, USA), empregando-se o teste de Shapiro-Wilk (normality test), para a análise da distribuição dos dados. Posteriormente, foi utilizado o teste de Spearmann (rS) para análise das correlações entre variáveis quantitativas e qualitativas. Foi considerando intervalo de confiança de 95% e nível de significância de 5% (p <0,05).
A pesquisa obedeceu a Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), aprovada pelo Comitê de Ética em pesquisa do Centro Universitário UNINOVAFAPI (25/06/2021, sob parecer n° 4.806.439 e CAAE: 47991321.4.0000.5210). O TCLE foi inserido no Questionário Google, de forma que os participantes pudessem aceitar ou recusar/interromper a participação antes de ter acesso às perguntas. Após aceite do TCLE, o participante era direcionado a inserir um e-mail de uso para envio de cópia das respostas. Todos os participantes aceitaram o TCLE antes de responder aos instrumentos de coleta de dados.
Foram avaliados 164 estudantes de enfermagem, a maioria com faixa etária entre 18 a 23 anos, solteiros (as), pardos, do sexo feminino, declararam não ter filhos, com renda mensal entre 0 a 3 salários mínimos, ocupação estudante, residem em casa própria, sendo que moram ou com os pais ou com o cônjuge, residem de 2 a 4 pessoas, incluindo a si mesmo e declararam que moram na mesma cidade que estudam, conforme demostra a Tabela 1.
Tabela 1 - Caracterização sociodemográfica dos estudantes de Enfermagem (n=164). Teresina, Piauí. 2021
Variável |
|
Frequência |
% |
|
Faixa etária |
18-20 anos |
57 59 |
34,8% 36,0% |
|
21-23 anos |
||||
24-26 anos 27-30 anos |
19 10 |
11,6% 6,1% |
|
|
31-33 anos 34-36 anos 37 ou mais
|
9 4 6 |
5,5% 2,4% 3,6% |
|
|
Estado civil |
Casado(a) Divorciado(a) Solteiro(a) |
22 2 135 |
13,4% 1,2% 82,3% |
|
União estável
|
5
|
3%
|
|
|
Raça/etnia |
Amarela Branca |
3 42 |
1,8% 25,6% |
|
Parda Preta
|
103 16 |
62,8% 9,8% |
|
|
Sexo |
Feminino Masculino |
150 14 |
91,5% 8,5%
|
|
Possui filhos |
Nenhum |
141 |
86,0% |
|
Apenas 1 Dois Três ou mais
|
14 7 2
|
8,5% 4,3% |
|
|
1,2% |
|
|||
|
|
|||
Renda mensal |
Menos de 1 salário mínimo 1 a 3 salários mínimos 4 a 6 salários mínimos Acima de 7 salários mínimos Não possui renda
|
57 78 21 5 3
|
34,8% 47,6% 12,8% 3,0% 1,8%
|
|
Ocupação |
Somente estuda Estuda e trabalha |
115 49 |
70,1% 29,9%
|
|
|
|
|||
Moradia |
Apartamento Avó |
43 1 |
26,2% 0,6% 13,4% 0,6% 58,5% |
|
Casa alugada |
22 |
|||
Casa do meu tio |
1 |
|||
Casa própria |
96 |
|||
|
Moro com parentes |
1 |
0,6% |
|
Reside |
2 filhos |
1 |
0,6% 0,6% 15,9% 0,6% 0,6% 0,6% 0,6% 50,0% 15,9% 0,6% 0,6% 1,8% 0,6% |
|
Avó/mãe Com amigos Com mãe e vô Com o pai e madrasta Com os filhos Com os irmãos |
1 26 1 1 1 1 |
|||
Com os pais |
82 |
|||
Cônjuge |
26 |
|||
FAMILIARES |
1 |
|||
Filha/irmã |
1 |
|||
Irmãos |
3 |
|||
Marido e sogra |
1 |
|||
|
Sozinho Tia e tio |
16 1 |
9,8% 0,6% |
|
|
Tios |
1 |
0,6% |
|
Com quantas pessoas que você reside |
Apenas eu |
16 |
9,8% 73,8% 15,2% |
|
De 2 a 4 De 5 a 7 |
121 25 |
|||
|
Mais de 7 |
2 |
1,2% |
|
Reside na mesma cidade em que estuda |
Não |
59 |
36,0% 64,0% |
|
Sim |
105 |
Fonte: pesquisa direta
A Tabela 2 é referente à Escala de impacto do Evento- IES. Ela apresenta o score de classificação para a pontuação obtida pelos participantes no questionário, conforme demonstra a Tabela abaixo.
Tabela 2 - Classificação do Score de pontuação do questionário da Escala de Impacto do Evento- IES/R.
Resultado SCORE Pontuação/ Resultado |
Frequência |
% |
|
Sem indicação de TEPT Abaixo de 24 pontos
|
45
|
27,4%
|
|
Preocupação clínica para 24 a 33 pontos TEPT
Provável Diagnóstico para 34 a 36 pontos TEPT |
23
12
|
14,0%
7,3%
|
|
Indicação alta para TEPT 37 ou mais pontos |
84 |
51,2% |
|
|
|
|
|
Fonte: Pesquisa Direta
O gráfico apresenta o percentual de cada pontuação do Score, onde observa-se que 84 dos participantes apresentam indicação alta para TEPT, 23 apresentam preocupação clínica para TEPT, 12 apresentam provável diagnóstico para TEPT e 45 não apresenta indicação para TETP, quando relacionado ao evento da Covid-19.
Gráfico 1 - Percentual da pontuação do Scores da Escala de impacto do Evento. Teresina, Piauí, 2021.
Fonte: Pesquisa Direta
A tabela 3 mostra a correlação da pontuação da escala IES-R com as seguintes variáveis: Idade (faixa etária), estado civil, sexo, quantidade de filhos, renda mensal, ocupação, tipo de moradia e a quantidade de pessoas que moram na casa.
Tabela 3 - Correlação da escala IES-R com as demais variáveis.
Teste de Correlação |
Idade |
Estado Civil |
Sexo |
Quantidade de filhos |
Renda Mensal |
Ocupação |
Moradia |
QPMC |
Spearman r |
-0,1736 |
-0,1132 |
0,05072 |
-0,1564 |
-0,08938 |
-0,08707 |
-0,02324 |
-0,2145 |
95% (IC) |
-0.3225 para -0.01628 |
-0.2661 para 0.04540 |
-0.1079 para 0.2068 |
-0.3066 para 0.001333 |
-0.2437 para 0.06934 |
-0.2415 para 0.07166 |
-0.1803 para 0.1350 |
-0.3601 para -0.05874 |
P |
0,0262 |
0,1491 |
0,5190 |
0,0454 |
0,2550 |
0,2676 |
0,7677 |
0,0058 |
RVP |
* |
Ns |
Ns |
* |
Ns |
Ns |
ns |
** |
A correlação é significativa? (alfa=0,05) |
Sim |
/ |
Não |
SIM |
/ |
Não |
Não |
SIM |
Tipo de correlação |
FRACA |
/ |
/ |
FRACA |
/ |
/ |
/ |
FRACA |
Legenda: p= valor de p; r= valor de r; IC= Intervalo de confiança; RVP= Resumo do valor P; ns= Não significativo; *=Significativo; **=Muito significativo; QPMC= quantidade de pessoas que moram na casa.
Fonte: Pesquisa Direta
Foi realizado a correlação da pontuação da escala IES-R com as respostas dos voluntários com as respostas das seguintes questões ou afirmações: “Qualquer lembrança traz consigo sentimentos sobre o que aconteceu; Tive dificuldades em dormir continuamente; Outras coisas continuam a fazer-me pensar sobre o que aconteceu; Senti-me irritada(o) ou zangada(o); Evitei ficar perturbada(o) quando pensava ou me lembrava disso; Pensei sobre o que aconteceu quando não o desejava; Senti como se não tivesse acontecido ou que não era real; Afastei-me de coisas que me lembravam o sucedido; Surgiram-me imagens do que aconteceu; Estive agitada(o) e assustava-me facilmente; Tentei não pensar sobre isso; Eu percebi que ainda tinha muitos sentimentos sobre o que aconteceu, mas não os suportava; Os meus sentimentos sobre isso estavam como que paralisados; Dei comigo a agir ou a sentir como se estivesse nos momentos em que aquilo aconteceu; Tive dificuldades em adormecer; Tive momentos de emoções intensas sobre o que aconteceu; Tentei apagar da minha memória o que aconteceu: Tive dificuldade em concentrar-me; As recordações do que aconteceu causaram me sensações físicas como suores, dificuldade em respirar, náusea ou aperto no coração; Sonhei sobre o que aconteceu; Tentei não falar sobre o que aconteceu”.
O Teste de Spearma foi utilizado para avaliar a associação da pontuação na Escala de Impacto (IES-R) com dados sociodemográficos, sendo observado que não houve associação do score IES com estado civil, sexo, renda, ocupação e moradia. Houve, portanto apenas diferença estatística com as variáveis idade (com p- valor de 0,0262), quantidade de filhos (com p- valor de 0,0454) e quantidade de pessoas que moram na casa (com p-valor de 0,0058), sendo a correlação com a idade e quantidade de filhos significativa e a quantidade de pessoas que moram na casa muito significativa.
DISCUSSÃO
Ao analisar os indicadores para TEPT, identificou-se que a maioria dos acadêmicos estudados apresentaram uma indicação alta para TEPT (51,2%), e um índice mais baixo, porém relevante para preocupação clínica para TEPT (14%), evidenciando que durante a evolução da pandemia no Brasil, houve a existência de um estresse ocasionado pelo evento da Covid-19, que pode comprometer a saúde mental e física dos acadêmicos envolvidos no estudo, podendo se prorrogar até mesmo após o evento da Covid-19. Esse cenário indica potencial para presença de estresse pós-traumático nos acadêmicos, além de outros impactos para sua saúde mental.
Observa-se que a pandemia da Covid-19 proporcionou impacto na saúde mental e bem-estar da população acadêmica, gerando um índice alarmante de alto risco de consequências psicológicas nesses indivíduos (7). Isso porque a mudança abrupta da rotina e a dificuldade de habilidades tecnológicas, somada ao isolamento social acabaram por inserir os alunos num contexto estressor (8). De forma que, desencadeiam e agravam o estresse e a ansiedade, gerando sinais e sintomas de um estresse que pode se manifestar de várias formas, do qual o tempo e a duração da exposição a esse estresse irão determinar o grau de comprometimento da saúde do indivíduo (9).
O Transtorno de Estresse Pós-Traumático é um transtorno desenvolvido após exposição direta ou indireta a um ou mais eventos traumáticos. O evento traumático por vez, é tido como um episódio concreto em que haja risco iminente de morte, lesão grave ou violência sexual (10). O TEPT não envolve apenas eventos traumáticos, mas também está relacionado com o desenvolvimento de sintomas emocionais, comportamentais e ideacionais decorrentes de uma situação estressora (11).
Os achados do estudo mostraram que a maioria dos estudantes são do sexo feminino (91,5%), e apenas 8,5% do sexo masculino. Existe uma predominância da classe feminina na Enfermagem, nos resultados da pesquisa 87,23% era do sexo feminino. Para os autores isso se justifica pelo fato de a Enfermagem ser vista por muitos como uma profissão de atribuição feminina, ligada a aspectos histórico-sociais, associados ao processo de cuidar, atraindo assim, mais ingressantes desse sexo para o curso (12).
No presente estudo, os fatores que apresentaram associação significante para indicação de TEPT, no contexto pandêmico, foram a idade, quantidade de filhos e a quantidade de pessoas morando na casa. Na faixa etária foi observada uma correlação negativa (18-23 anos, prevalência de 70,8%), ou seja, quanto menor a idade, maior a pontuação na escala IES-R, sugerindo assim que os participantes mais jovens da pesquisa sofreram mais com os efeitos da pandemia (13).
Corroborando os achados, outro estudo recente que revelou índices de 37,1% e 41% de jovens entre 18 e 29 anos com sintomas de ansiedade moderada a grave e depressão moderada a grave, respectivamente, durante o período da pandemia da Covid-19. Isso pode decorrer pelo fato de adultos jovens se encontrarem numa fase mais instável e de muitas inseguranças, principalmente com relação as expectativas ao futuro (13).
Estudo realizado com estudantes de Enfermagem, constatou que a maioria dos estudantes não possuem filhos (86,86%), isso porque, para a autora, ter filhos na graduação, pode prejudicar a qualidade de vida dos acadêmicos, haja visto, a difícil conciliação entre a maternidade/paternidade e a dedicação que demanda o meio acadêmico. Mediante a isso, no presente estudo, foi observado que aquelas pessoas que não tinham nenhum filho (86,0%), apresentaram uma maior pontuação na escala. Isso sugere que o vínculo familiar existente entre o laço de pais e filhos pode ser um fator de proteção em meio a eventos estressores, como a pandemia da Covid-19, isto porque o afeto pode diminuir os níveis de estresse e promover bem-estar (14).
Com relação ao isolamento social, os resultados encontrados na pesquisa apontam que a estadia compulsória em casa, ocasionou diversos sentimento negativos nesses estudantes, deixando-os num estado de alerta e estresse acentuado. Foi observado que quanto menos pessoas residiam na casa dos participantes, maior era a pontuação na escala IES-R. Em um estudo realizado durante a pandemia, foi possível verificar que participantes que residiam com a família, ou aqueles que residiam sozinhos nas capitais e retornaram a sua cidade natal, sugeriu uma contribuição para minimizar os efeitos da pandemia na saúde mental desses participantes. Isso porque a susceptibilidade individual do estudante pode ser agravada pelo afastamento físico do seio familiar, o que pode gerar um sentimento de solidão, e potencializar os efeitos da pandemia e do isolamento (15).
Mediante a isso, é importante entender as consequências psicossociais que a pandemia acarretou a esses estudantes. Tendo em vista o estudo de epidemias anteriores, espera-se que o número de pessoas com a saúde mental prejudicada será maior que a totalidade de pessoas infectadas pelo vírus (16). Com uma porcentagem com mais da metade da amostra, com indicação alta para TEPT, e um índice ainda que baixo, mas indicativo de preocupação clínica para TEPT, percebe-se que existe uma correlação entre o evento da pandemia da Covid-19 e a elevação dos níveis de estresse desses indivíduos, que quando analisados, se tornam um fator de risco alto para TEPT (15).
As mudanças no cotidiano ocasionadas pela pandemia, a depender da resiliência de cada pessoa, podem acarretar em alterações neurobiológicas associadas ao desenvolvimento de TEPT. Evidencias comprovam que pessoas acometidas pelo TEPT, apresentam uma resposta neurobiológica ao estresse, causando uma hiperativação do Sistema Nervoso Central (SNC), levando a alterações como produção elevada de adrenalina (epinefrina) e noradrenalina (norepinefrina) e uma redução do cortisol na circulação sanguínea, de forma que esses sistemas podem ter interação entre si, podendo ocasionar maiores danos à saúde mental (17).
Segundo a Escala de Impacto do Evento (IES-R), os discentes do estudo foram classificados como indicativo alto para TEPT nos próximos 10 anos, relacionado ao evento da Covid-19, onde os resultados apresentam uma porcentagem de 51,2%. Embora não existam estudos conclusivos sobre os impactos do fechamento provisório das Universidades, os efeitos da pandemia associados à saúde, bem-estar e aprendizagem já podem ser percebidos. Assim, a pandemia trouxe aos discentes de enfermagem sofrimento emocionais como ansiedade e depressão relata ainda que esses sintomas afetam o desempenho acadêmico dos estudantes (18). Isso porque os estudantes relatam que a falta de contato com os colegas e docentes gerou uma desmotivação, levando os assim a uma baixa no seu desempenho acadêmico (19).
Dessa forma, constatou-se que os efeitos colaterais da pandemia atingiram de forma importante a saúde mental dos estudantes em todo o mundo (20). Outro estudo, afirmou ainda, que a medida em que a pandemia se expandiu, ocorreu um aumento dos transtornos mentais, especialmente a fadiga, agressividade, estresse agudo, episódios de pânico e manifestação de preditores de TEPT na população em geral (21).
Vale ressaltar que há poucos estudos científicos que abordem a saúde mental correlacionado com a pandemia da Covid-19 em discentes de Enfermagem, dessa forma esses dados não podem ser generalizados por completo em outros locais, dada as suas variáveis.
Diante disso, pode-se afirmar que a pandemia da COVID-19 trouxe impactos para a saúde mental dos discentes de Enfermagem. Assim, há uma necessidade que no espaço universitário e científico sejam abordados sobre como essas mudanças podem afetar aspectos psicossociais desses estudantes, visto que podem trazer prejuízos para a sua saúde mental futuramente. Além da importância de melhorar a rede de apoio à saúde mental dos alunos e prepara-los para lidar com adversidades e momentos como o da pandemia, de forma a preservar seu bem-estar e saúde mental.
Como limitador do estudo, reiteramos que as percepções desta pesquisa são compostas de uma pequena parcela de acadêmicos, não podendo se generalizar em todos os cenários, sendo necessário outros estudos mais abrangentes desta temática.
Espera-se então, que este estudo possibilite novas reflexões e discussões sobre o tema, bem como abordagens sobre a promoção da saúde e bem-estar do universitário, tanto física quanto psicológica. Além de demonstrar a necessidade de pesquisas que venham abordar sobre os impactos que eventos estressores ocasionam na saúde mental em estudantes do ensino superior.
CONCLUSÃO
Os resultados desta pesquisa sugerem que o evento da pandemia da Covid-19 provocou um impacto na saúde mental dos discentes de Enfermagem, reforçando a importância de investigar a temática, para que se possam estabelecer os mecanismos e reações psicológicas posteriores a um período de vida tão atípico e estressor.
A elevada porcentagem de estudantes classificados com indicação alta para TEPT, é preocupante e nos leva a refletir sobre a importância de olhar para com mais atenção e direcionado para a sua saúde mental.
Entende-se que abordagens voltadas para auxiliar esses estudantes é de suma importância, para que não haja agravos em relação a sua saúde mental e o impacto que a pandemia da COVID-19 desencadeou. Pois compreende-se que acolher esses discentes, promovendo apoio e um acompanhamento específico é a primeira decisão a ser tomada. Junto a instituição, o desenvolvimento de um programa de apoio, no presente momento, é de caráter decisivo.
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Submissão: 19-07-2022
Aprovado: 16-08-2022