ARTIGO DE REVIS�O INTEGRATIVA
AUTONOMIA DO ENFERMEIRO NO TRATAMENTO DE FERIDAS: UMA REVIS�O INTEGRATIVA
NURSES' AUTONOMY IN WOUND TREATMENT: INTEGRATIVE LITERATURE REVIEW
�Alessandra da Rocha Magalh�es*
� Alana Braga Sportitsch
� Alcione Matos de Abreu
�Enfermeira pela Universidade de Nova Igua�u- UNIG, Residente de Enfermagem em Cl�nica M�dica e Cir�rgica pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro- UNIRIO, Rio de Janeiro, Brasil. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4786-5899.
� Enfermeira pela Universidade do Grande Rio- UNIGRANRIO, Residente de Enfermagem em Cl�nica M�dica e Cir�rgica pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro- UNIRIO, Rio de Janeiro, Brasil. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6422-595X.
� Enfermeira pela Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa EEAAC/Universidade Federal Fluminense UFF, Mestrado Acad�mico em Enfermagem pelo Programa de P�s Gradua��o em Ci�ncias do Cuidado em Sa�de MACCS/ da Universidade Federal Fluminense/ UFF , Doutorado Acad�mico pelo Programa de P�s Gradua��o em Ci�ncias do Cuidado em Sa�de PACCS da Universidade Federal Fluminense/UFF,� Professora do Departamento M�dico Cir�rgica da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto (EEAP) da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro- UNIRIO RJ. Membro do Grupo de pesquisa: CICATRIZAR, Rio de Janeiro, Brasil. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6078-7149.
Autor correspondente *
Alesssandra da Rocha Magalhaes
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Av. Pasteur, 296 - Urca, Rio de Janeiro - RJ, Brasil CEP 22290-250.
E-mail: alleerochamagalhaes@gmail.com
Submiss�o: 09-01-2023
Aprovado: 25-02-2024
RESUMO
OBJETIVO: Analisar as produ��es cient�ficas sobre a autonomia do enfermeiro frente ao tratamento do paciente com feridas. METODOLOGIA: Trata-se de uma Revis�o Integrativa da Literatura realizada em setembro de 2022, nas bases de dados eletr�nicas: LILACS, BBDENF via BVS e na SciELO, utilizando os seguintes descritores: Cuidados de Enfermagem; Ferimentos e Les�es; Autonomia Profissional e Cicatriza��o de Feridas. Para a busca dos artigos utilizou-se o recorte temporal de 2010 a 2022, e selecionou-se os artigos que responderam a pergunta do estudo. RESULTADOS: Foram selecionados 05 artigos, os mesmos foram organizados em duas categorias para analise: 1�- Atua��o e Autonomia do Enfermeiro frente ao processo de tratamento e recupera��o de feridas e 2�- Autonomia do Enfermeiro fundamentada na legisla��o do exerc�cio profissional com o foco no tratamento de feridas. CONCLUS�O: Apesar de existirem resolu��es que discursam sobre a autonomia do trabalho dos enfermeiros que tratam pacientes com feridas, muitos enfermeiros desconhecem essas resolu��es do COFEN. A falta deste conhecimento, impacta diretamente nas a��es/interven��es do enfermeiro no tratamento do paciente com feridas. As pr�ticas cl�nicas relacionadas a preven��o e ao tratamento das feridas realizadas pelo enfermeiro, devem ser atualizadas e baseadas em evid�ncias cient�ficas.
Palavras- Chaves: Cuidados de Enfermagem; Ferimentos e Les�es; Autonomia Profissional; Cicatriza��o de feridas.
ABSTRACT
OBJECTIVE: To analyze scientific productions on nurses' autonomy in the treatment of patients with wounds. METHODOLOGY: This is an Integrative Literature Review carried out in September 2022, in the electronic databases: LILACS, BBDENF via VHL and SciELO, using the following descriptors: Nursing Care; Wounds and Injuries; Professional Autonomy and Wound Healing. To search for articles, the time frame from 2010 to 2022 was used, and articles that answered the study question were selected. RESULTS: 05 articles were selected, they were organized into two categories for analysis: 1st - Nurse's Performance and Autonomy in the process of treatment and recovery from wounds and 2nd - Nurse's Autonomy based on the legislation of professional practice with a focus on treatment of wounds. CONCLUSION: Although there are resolutions that discuss the work autonomy of nurses who treat patients with wounds, many nurses are unaware of these COFEN resolutions. The lack of this knowledge directly impacts the nurse's actions/interventions when treating patients with wounds. Clinical practices related to the prevention and treatment of wounds carried out by nurses must be updated and based on scientific evidence.
Keywords: Nursing Care; Wounds and Injuries; Professional Autonomy; Wound healing.
RESUMEN
OBJETIVO: Analizar las producciones cient�ficas sobre la autonom�a del enfermero en el tratamiento de pacientes con heridas. METODOLOG�A: Se trata de una Revisi�n Integrativa de la Literatura realizada en septiembre de 2022, en las bases de datos electr�nicas: LILACS, BBDENF v�a BVS y SciELO, utilizando los siguientes descriptores: Atenci�n de Enfermer�a; Heridas y Traumatismos; Autonom�a Profesional y Curaci�n de Heridas. Para la b�squeda de art�culos se utiliz� el per�odo de tiempo de 2010 a 2022 y se seleccionaron los art�culos que respondieran a la pregunta de estudio. RESULTADOS: Se seleccionaron 05 art�culos, organizados en dos categor�as para su an�lisis: 1� - Actuaci�n y Autonom�a del Enfermero en el proceso de tratamiento y recuperaci�n de las heridas y 2� - Autonom�a del Enfermero basado en la legislaci�n de la pr�ctica profesional con enfoque en el tratamiento de las heridas. . CONCLUSI�N: Si bien existen resoluciones que discuten la autonom�a laboral de las enfermeras que atienden a pacientes con heridas, muchas enfermeras desconocen estas resoluciones del COFEN. La falta de este conocimiento impacta directamente las acciones/intervenciones del enfermero en el tratamiento de pacientes con heridas. Las pr�cticas cl�nicas relacionadas con la prevenci�n y tratamiento de heridas realizadas por enfermeras deben estar actualizadas y basadas en evidencia cient�fica.
Palabras Clave: Atenci�n de Enfermer�a; Heridas y Lesiones; Autonom�a Profesional; Cicatrizaci�n de la herida.
INTRODU��O
De acordo com os principios fundamentais do c�digo de �tica dos profissionais, o Enfermeiro deve atuar com autonomia e em conson�ncia com os preceitos �ticos e legais, t�cnico-cient�fico e te�rico-filos�fico, ele exerce suas atividades com compet�ncia para a promo��o do ser humano na sua integralidade, de acordo com os Principios da �tica e da Bio�tica(1).
Atualmente, h� um grande interesse dos enfermeiros na �rea do tratamento de feridas cr�nicas, sendo uma especialidade, que, cada dia exige mais conhecimento para a atua��o, o que contribui para uma pr�tica profissional mais aut�noma, vis�vel e valorizada(2).
O Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) por meio da Resolu��o 567/2018(3) regulamenta e amplia a atua��o do enfermeiro nessa �rea, sendo respons�vel por avaliar, prescrever e executar cuidados � pessoa com ferida, bem como coordenar e supervisionar a equipe de enfermagem em a��es de promo��o da sa�de, preven��o, tratamento e reabilita��o, al�m de ter autonomia para abertura de Cl�nica/Consult�rio de Preven��o e Cuidados de pessoas com feridas, respeitadas as compet�ncias t�cnicas e legais. Para isso, lan�a m�o do uso de recursos e novas tecnologias que ir�o impactar positivamente a vida das pessoas com les�es cut�neas e seus familiares(3).
� considerado aut�nomo o enfermeiro que age com consci�ncia de seus espa�os de atua��o e visa tanto a pr�pria satisfa��o como a daqueles que usufruem de seu trabalho, considerando a relev�ncia de suas a��es para as pessoas, os processos de trabalho e os servi�os de sa�de(4).
O enfermeiro e a equipe de enfermagem t�m capacidade de intervir na defini��o de prioridades assistenciais. O exerc�cio da autonomia, no entanto, fundamenta-se em cren�as do indiv�duo e � influenciado por aspectos socioculturais, uma caracter�stica importante, visto que a conviv�ncia com les�es cr�nicas � justamente um fator de interfer�ncia nas rela��es sociais, laborais e at� mesmo familiares(2).
O trabalho do enfermeiro que trata pacientes com feridas � compartilhado com atividades de outras categorias da sa�de, por�m quando o cuidado a esta clientela n�o � realizado de forma interdisciplinar e com fluxos bem delimitados, pode gerar impactos diretos na autonomia do enfermeiro, inclusive na tomada de decis�o e resolu��o de problemas dentro do seu espa�o de atua��o/consulta de enfermagem(5).
A utiliza��o de protocolos cl�nicos confere maior autonomia, organiza��o e sistematiza��o da assist�ncia ao paciente portador de ferida cr�nica, para que assim sejam respaldadas as condutas de avalia��o, diagn�stico, planejamento, cuidado, tratamento, evolu��o da ferida e registro de todos os dados do paciente(6).
A aplica��o do processo de enfermagem, com a identifica��o dos diagn�sticos, resultados e interven��es de enfermagem, s�o fundamentais para se realizar uma assist�ncia de enfermagem diferenciada, adequada �s necessidade individuais de cada paciente e pautada no rac�ciocinio cl�nico para a tomada de decis�o(7).
Dessa forma, ressalta-se a import�ncia do enfermeiro que trata pacientes com feridas, se empoderar das suas habilidades, conhecimentos cient�ficos e t�cnicos, mas tamb�m conhecer as limita��es relacionadas a sua categoria. Com isso, o enfermeiro consegurir� exercer com seguran�a e com autonomia a tomada de decis�o relacionada ao cuidado integral do paciente com feridas.
Esta revis�o objetivou a responder � seguinte pergunta de pesquisa: O enfermeiro apresenta autonomia para tratar feridas?
Frente a todo exposto, este estudo tem por objetivo analisar as produ��es cient�ficas sobre a autonomia do enfermeiro frente ao tratamento do paciente com feridas.
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo realizado por meio de revis�o integrativa da literatura. Este m�todo de investiga��o viabiliza a busca, avalia��o cr�tica e a s�ntese das evid�ncias dispon�veis sobre o tema. Para que seja realizada a revis�o integrativa de literatura � necess�rio que o pesquisador siga as seis etapas inerentes a esse m�todo(8).
A revis�o integrativa possui as seguintes etapas: estabelecimento da quest�o de pesquisa; crit�rios de inclus�o e exclus�o; categoriza��o e avalia��o dos estudos; interpreta��o dos dados e s�ntese do conhecimento(8).
Na primeira etapa foi realizada a escolha da tem�tica de pesquisa e a delimita��o da quest�o que norteou a revis�o integrativa. Em seguida, houve o estabelecimento dos crit�rios de inclus�o e de exclus�o dos estudos e a busca na literatura(8).
A partir do levantamento dos problemas, surgiram a seguinte quest�o de pesquisa: O enfermeiro apresenta autonomia para tratar feridas?
A pergunta de pesquisa foi elaborada por meio da estrat�gia PICo, em que P: corresponde aos participantes, no caso os Enfermeiros, I: fen�meno de interesse, Autonomia do Enfermeiro, Co:� contexto do estudo, que � �rea do tratamento de feridas.
Foram considerados os seguintes crit�rios de inclus�o: Per�odo de 2012 a 2022; artigos publicados em portugu�s; que fossem localiz�veis com os descritores: cuidados de enfermagem; ferimentos e les�es; autonomia profissional; cicatriza��o de feridas. Como crit�rio de exclus�o, optou se pela elimina��o dos artigos que n�o estivessem em conformidade com os objetivos do estudo e aqueles indispon�veis para leitura na integra.
Os dados sobre o tema foram levantados nas bases de dados: literatura latino americana e do Caribe em Ci�ncias da Sa�de (Lilacs), Base de Dados de enfermagem (Bdenf), acessadas atrav�s da Biblioteca Virtual em Sa�de (BVS) e Google Acad�mico. Ap�s o cruzamento dos descritores com a palavra-chave utilizando o operador booleano AND, foi verificado o quantitativo de textos que atendessem �s demandas do estudo. Foram utilizados os descritores selecionados ap�s consulta aos Descritores em Ci�ncias da Sa�de (DeCS), com a combina��o dos operadores boleanos �cuidados de enfermagem� AND �ferimentos e les�es�, �autonomia profissional� AND �tratamento de feridas�, �cuidados de enfermagem� AND �autonomia profissional� AND �cicatriza��o de feridas�.
A partir da combina��o desses descritores, foram localizados um total de 223 artigos. Foram inclu�dos artigos dispon�veis na �ntegra e com data de publica��o entre os anos de 2012 ao ano de 2022, que resultou em 199 artigos.
Ap�s a leitura do t�tulo e resumo dos artigos filtrados, foram selecionados os artigos que atenderam aos objetivos do trabalho, e foram selecionados 05 artigos.
Na terceira etapa ocorreu a categoriza��o dos estudos com objetivo de agrup�-los de maneira clara para facilitar a compreens�o dos t�picos abordados. Para organizar os estudos foi confeccionada uma tabela com as seguintes vari�veis: ano de publica��o, base de dados, peri�dico t�tulo do artigo e principais resultados (s�ntese).
Na quarta etapa foi realizada a avalia��o dos estudos inclu�dos na revis�o integrativa. A interpreta��o dos resultados, quinta etapa deste estudo, foi composta pela discuss�o dos resultados da pesquisa.
Na sexta e �ltima etapa foi apresentada a revis�o/s�ntese do conhecimento. Essa etapa consiste na elabora��o do documento que deve conter as etapas percorridas pelo revisor para o alcance dos resultados. Entre as produ��es encontradas foram selecionadas apenas aquelas que passaram pelo crivo dos crit�rios de inclus�o e exclus�o deste estudo.
RESULTADOS
Baseado nos resultados dos 05 artigos selecionados foram encontradas peculiaridades especificas entre os artigos referente a atua��o do enfermeiro no tratamento de ferida e de sua autonomia como profissional, atrav�s desses estudos descritos no quadro I podemos detalhar a import�ncia do enfermeiro para as etapas da cura do paciente.� A seguir ser� apresentado o quadro 1 com a s�ntese dos estudos inclu�dos nesta revis�o.
Quadro 1 - Quadro-s�ntese com os principais resultados por ano, base de dados, revista, t�tulo do artigo e resultados
Ano Base de Dados Autores |
Revista |
Objetivo do estudo |
Tipo de estudo |
Titulo de Artigo |
Resultados |
2013 Lilacs
Vieira (9). |
Revista de Pesquisa: Cuidado � fundamental online |
Identificar os t�picos trabalhados pelos professores de enfermagem sobre preven��o e tratamento de feridas e analis�-los sob a perspectiva �tica e de autonomia profissional |
Pesquisa descritiva qualitativa |
O ensino e a autonomia do enfermeiro na preven��o e no tratamento de feridas |
Constata-se que as legisla��es s�o ferramentas primordiais e essenciais para o profissional enfermeiro implementar sua autonomia e buscar subs�dios para sua pr�tica com todo respaldo �tico legal, dispondo ao cliente portador de feridas qualidade e seguran�a. |
2015 Bdenf
Brum, et al (6). |
Revista de Enfermagem� da UFSM |
Conhecer�� se�� os enfermeiros� utilizam� os� protocolos� no� cuidado� aos� usu�rios� com� feridas� cr�nicas� e� se� os identificam como instrumentos de promo��o da autonomia profissional |
Estudo progn�stico |
Protocolo de Assitencia de enfermagem a pessoas com feridas como instrumento para autonomia profissional |
Os enfermeiros, embora entendam o significado da autonomia no cuidado com feridas, poucos aplicam os protocolos existentes e,ocasionalmente exercitam sua autonomia. |
2017 Bdenf
Silva (2) |
Revista Cubana de Enfermagem |
analisar as representa��es sociais elaboradas por enfermeiros acerca de sua autonomia profissional na preven��o e tratamento de feridas. |
Estudo progn�stico / Pesquisa Qualitativa |
Representa��es sociais de autonomia profissional do enfermeiro na preven��o e tratamento de feridas |
Os enfermeiros afirmam que para ter autonomia profissional no cuidado a feridas � necess�rio adquirir conhecimentos t�cnicos e cient�ficos pertinentes as coberturas. |
2021 Lilacs
Silva Filho, et al (4) |
Revista Bio�tica |
Refletir sobre a autonomia do enfermeiro no cuidado � pessoa com les�o cr�nica. |
Estudo progn�stico |
Autonomia do enfermeiro no cuidado � pessoa com les�o cr�nica |
A autonomia do enfermeiro � essencial nas �reas afins ao cuidado da pessoa com les�o de pele. Desse modo, as reflex�es te�rico-conceituais sobre �tica, bio�tica e direito tornam-se ainda mais necess�rias. Tais reflex�es s�o fundamentais para garantir a seguran�a e o bem-estar do paciente, oferecendo-lhe uma assist�ncia integral, sistematizada e livre de danos. |
2021 Lilacs
Oliveira, et al (10) |
Revista Nursing |
Descrever as a��es do enfermeiro no atendimento ao |
Revis�o Sistem�tica |
A��es de enfermagem na aten��o ao portador de feridas na aten��o b�sica em sa�de |
O enfermeiro deve� respaldar� a� autonomia e exercer papel de acompanhamento e� orienta��o� das� pr�ticas� desenvolvidas� pelo� usu�rio� e� fam�lia� atrav�s� do� uso� da� tecnologia� de� educa��o� em� sa�de . |
Fonte: Elaborado pelos autores, 2024.
DISCUSS�O
De acordo com os dados levantados e apartir dos artigos selecionados, escolheu-se duas categorias: 1�- Atua��o e Autonomia do Enfermeiro frente ao processo de tratamento e recupera��o de feridas e 2� - Autonomia do Enfermeiro fundamentada na legisla��o do exerc�cio profissional com o foco no tratamento de feridas.
Categoria 1: Atua��o e Autonomia do Enfermeiro frente ao processo de tratamento e recupera��o de feridas.
O termo "autonomia" pode ser entendido como compet�ncia humana em seguir suas pr�prias leis, ou, ainda, a ser exercida por pessoa capaz de fixar as normas de sua conduta, sendo esta diretamente relacionada � personalidade de cada um e proporcionada pela valoriza��o do seu trabalho(11).
Relata-se que, a express�o da autonomia profissional do enfermeiro pode ser compreendida quando este(12), dotado de independ�ncias moral e intelectual, usufrui da capacidade de governar-se pelos pr�prios meios e toma decis�es livremente, estabelecendo sua pr�tica individual ou coletiva(12). A autonomia profissional pressup�e compet�ncia e liberdade para se proceder �s escolhas conscientes, dentre as op��es poss�veis.
Com a evolu��o da enfermagem, necessitou-se aprofundar igualmente as quest�es relacionadas � sua autonomia. Este tema � de importante compreens�o da profiss�o ao longo do tempo, tanto na defini��o de seus desafios e objetivos, quanto na forma como os enfermeiros se relacionam e se apresentam para a equipe de sa�de e para a sociedade(9).
O Enfermeiro sempre esteve inserido no cuidado de les�es de pele desde o surgimento da profiss�o. O papel desse profissional n�o se d� apenas na execu��o de curativos, visto que, o cuidado com feridas � uma atividade intr�nseca do cotidiano do enfermeiro. Por essa raz�o o enfermeiro deve estar preparado para assumir o processo do cuidar e do cuidado com autonomia, exercitando a pr�tica do cuidado, ainda que, em alguns aspectos exista interdepend�ncia com o trabalho m�dico, em muitos outros aspectos as a��es s�o independentes (2).
O enfermeiro t�m capacidade de intervir na defini��o de prioridades assistenciais. O exerc�cio da autonomia, no entanto, fundamenta-se em cren�as do indiv�duo e � influenciado por aspectos socioculturais. Pacientes com les�es se tornam mais vulner�veis a situa��es como desemprego, abandono e isolamento social, que prejudicam planos de vida e geram sentimentos de tristeza, ansiedade, raiva e vergonha. Tudo isso afeta o estado de equil�brio, a autoimagem e a autoestima do indiv�duo (4).
A tem�tica ferida remete a diversos problemas de ordem de sa�de p�blica no Brasil, especialmente pelas complica��es e alto custo envolvidas no seu gerenciamento�� e tratamento. Estudos apontam que pessoas portadoras de feridas podem desenvolver algum tipo de complica��o de ordem f�sica ou emocional ao longo da vida e que a educa��o em sa�de promovida pelos enfermeiros � algo essencial, pois o di�logo e a intera��o s�o as principais formas de constru��o de conhecimentos e empoderamento dos usu�rios e familiares para o desenvolvimento da autonomia no cuidado e promo��o � sa�de(10).
Considera-se fundamental que enfermeiro exer�a a autonomia nessa �rea de cuidados, tendo em vista que este profissional pode melhorar a recupera��o e/ou reabilita��o do usu�rio com feridas, que necessita de avalia��o cont�nua dos servi�os de sa�de(6).
A ferida n�o deve ser tratada ou prevenida como um fato patol�gico isolado do contexto do ser. Pelo contr�rio, refletem em si outros problemas que n�o necessariamente s�o estritamente org�nicos, inflamat�rios ou teciduais. Portanto temos que enxergar al�m da ferida, ocupando-nos do cliente como um todo, de forma hol�stica(9).
A escolha da terap�utica adequada acaba por influenciar diretamente no tempo de interna��o hospitalar. Levando-se em considera��o os fatores envolvidos na tomada de decis�o e responsabilidade do enfermeiro da realiza��o da avalia��o cl�nica(2).
No Brasil, desde os prim�rdios da enfermagem, h� registros de diversas op��es de curativos dispon�veis aos enfermeiros, que envolviam diversos e complexos recursos materiais e t�cnicas de aplica��o. Muitos termos descritos de dif�cil entendimento de conceito e aplica��o e, outros, descritos com melhor sistematiza��o de ideias o que contribuiu no conhecimento e na forma��o dos profissionais de enfermagem(2).
As a��es desenvolvidas pelo enfermeiro no manejo do cuidado, devem abordar o usu�rio de forma integral e individualizada, sendo capaz de viabilizar al�m da cicatriza��o ou cura da les�o a melhora cl�nica e social do mesmo, atrav�s de procedimentos eficientes e otimiza��o do atendimento, assegurando o direito dos usu�rios � assist�ncia de qualidade e equ�nime(10).
De acordo com o hist�rico de tratamento de feridas, observa-se um despontar da enfermagem, que participa de forma direta e ativa, tanto nos processos de preven��o quanto no de tratamento de feridas. Os enfermeiros est�o se destacando na pesquisa cl�nica e em alternativas de interven��o de enfermagem ao cliente portador ou com risco de desenvolver les�es. Outro campo de atua��o direta do enfermeiro � a avalia��o da conduta do tratamento de feridas junto � equipe interdisciplinar. O enfermeiro realiza o curativo diariamente, com avalia��o criteriosa da ferida e para desenvolv�-la, � necess�rio conhecimento t�cnico e cient�fico(9).
As habilidades para a tomada de decis�o comp�em-se do pensamento cr�tico sobre as situa��es com base na an�lise e julgamento sobre as perspectivas de cada proposta de a��o e de seus desdobramentos. A tomada de decis�o ocorre nas diversas dimens�es da atua��o do enfermeiro, com n�veis de complexidade diferentes e exigem que o enfermeiro percorra as etapas de seu processo de forma sistematizada(12).
Entende-se, dessa forma, que a busca pela autonomia deve ser sustentada por uma pr�tica cientificamente embasada. Sendo a Sistematiza��o da Assist�ncia de Enfermagem (SAE), uma atribui��o espec�fica do enfermeiro, sustentando uma pr�tica aut�noma , proporcionando maior visibilidade ao trabalho do enfermeiro(2).
Com base no exposto, percebe-se que os enfermeiros devem estar preparados cientificamente, assumindo o paradigma que determina a sistematiza��o global do saber humanizado, visualizando o cliente como �nico em todas as suas necessidades. Devem possuir sensibilidade para cuidar al�m do que os olhos v�em, para poder intervir de forma correta nos fatores que influenciam na preven��o e na evolu��o de uma ferida(9).
Categoria 2: Autonomia do Enfermeiro fundamentada na legisla��o do exerc�cio profissional com o foco no tratamento de feridas.
O exerc�cio da enfermagem exige que o profissional desenvolva postura aut�noma, �tica e tenha liberdade na tomada de decis�es, sendo importante considerar a opini�o dos demais membros da equipe, assim como do usu�rio, que recebe influ�ncia direta na decis�o terap�utica tomada. O profissional deve conhecer as tecnologias dispon�veis para o cuidado, buscando a forma mais adequada de avaliar o usu�rio em sua integralidade(6).
A autonomia gera motiva��o e rendimento nas atividades de forma satisfat�ria. O profissional tem liberdade de estabelecer os procedimentos operacionais � equipe de enfermagem, como exerc�cio legal da sua profiss�o(6).
De acordo com o art. 1 do Cap�tulo 1 da Resolu��o COFEN n. 240/2000, �A enfermagem � uma profiss�o comprometida com a sa�de do ser humano e da coletividade. Atua na promo��o, prote��o, recupera��o da sa�de e reabilita��o das pessoas, respeitando os preceitos �ticos e legais�. O art. 6 da mesma lei diz que �O profissional de enfermagem exerce a profiss�o com autonomia, respeitando os preceitos legais da enfermagem�(9:1).
Os estudos apontam que o tratamento de feridas � uma atividade reconhecida como de compet�ncia do enfermeiro, o mesmo, necessita de um conhecimento te�rico baseado em evid�ncias para uma pr�tica com qualidade. O saber quando assimilado e constru�do facilita na autonomia do profissional na tomada de decis�o, que se estende ou se limita de acordo com a compet�ncia do profissional. Para ter atos respons�veis em sua pr�tica, o enfermeiro deve conhecer seus direitos, deveres e responsabilidades providos do C�digo de �tica dos profissionais de enfermagem (2).
Na busca da autonomia o enfermeiro tem amparo na Lei do Exerc�cio Profissional, que traz subs�dios para atua��o com respaldo �tico-legal. Conforme a Resolu��o do COFEN N� 567/2018, o Art. 3� ressalta que �cabe ao enfermeiro da �rea a participa��o na avalia��o, elabora��o de protocolos, sele��o e indica��o de novas tecnologias em preven��o e tratamento de pessoas com feridas�(2:1).
A prescri��o de medicamentos e coberturas, bem como a solicita��o de exames, deve ser realizada conforme protocolos, guias, manuais e notas t�cnicas estabelecidas por institui��es e programas de sa�de p�blica, considerando a Lei 7.498/1986, que regulamenta o exerc�cio da enfermagem. Essa lei estabelece que cabe ao Enfermeiro da �rea a participa��o na avalia��o, elabora��o de protocolos, sele��o e indica��o de novas tecnologias em preven��o e tratamento de pessoas com feridas(4).
A prescri��o da cobertura � embasada no conhecimento fisiopatol�gico da les�o, nas atribui��es �ticas e legais do profissional e nas normas de vigil�ncia sanit�ria. Al�m disso, uma mesma tecnologia pode n�o ser eficaz para todas as fases de cicatriza��o ou para todos os pacientes, cabendo ao enfermeiro, em sua autonomia e com seu conhecimento, prescrever a terap�utica mais indicada em cada fase do processo(4).
Apesar de existirem resolu��es que abordam a autonomia dos profissionais de enfermagem relacionadas ao tratamento de feridas, muitos enfermeiros desconhecem as leis de seu pr�prio conselho. H� d�vidas frequentes a respeito de consultas, prescri��es, requisi��o de exames, escolha de medicamentos etc. Essas d�vidas sobre autonomia geram inseguran�a por parte do profissional e consequentemente, o cliente a ser tratado, n�o recebe o cuidado correto e integral que deveria(9).
Constata-se que as legisla��es s�o ferramentas primordiais e essenciais para o profissional enfermeiro implementar sua autonomia e buscar subs�dios para sua pr�tica com todo respaldo �tico legal, dispondo ao cliente portador de feridas qualidade e seguran�a. Cabe aos �rg�os de classe legislar sobre temas pertinentes a pr�tica profissional que ocorrem diariamente nas atividades dos profissionais(9).
CONSIDERA��ES FINAIS
Atualmente, nota-se que � crescente o interesse do enfermeiro para as quest�es pol�ticas/ �ticas relacionadas a sua categoria, inclusive sobre seus direitos, deveres, responsabilidades e limita��es dentro da sua atua��o profissional.
O avan�o conquistado nesses �ltimos anos pelos enfermeiros que tratam pacientes com feridas, foi not�rio e ajudou na constru��o da autonomia e do empoderamento da categoria, j� que o enfermeiro, atualmente tem o respaldo legal pelo COFEN, para elaborar protocolos, avaliar e prescrever produtos para o tratamento e preven��o de feridas, e realizar consultas de enfermagem em consult�rios, cl�nicas e em domic�lio.
Apesar desta tem�tica ser recente, ela tamb�m � pouco abordada, inclusive no processo de forma��o do enfermeiro nas universidades, por esta raz�o se faz necess�rio ampliar, divulgar sobre todas as �reas de atua��o do enfermeiro e suas especialidades, e inclusive a �rea do tratamento e preven��o de feridas.
O enfermeiro que trabalha na �rea do tratamento de feridas, vem se mostrando cada vez mais empenhado e interessado em aumentar a sua autonomia, buscando valoriza��o e conhecimento cient�fico para cuidar dos pacientes e da comunidade.
REFER�NCIAS
1 Conselho Federal de Enfermagem (BR). Resolu��o Cofen n� 564, de 6 de novembro de 2017. Aprova o novo C�digo de �tica dos Profissional de Enfermagem. [Internet]. Di�rio Oficial da Uni�o. Bras�lia; 13 fev 2007 [cited 2024 Mar 26]. Se��o I. Available from: https://www.cofen.gov.br/resolucao-cofen-no-5642017/.
2 Silva VS. Autonomia do enfermeiro no tratamento de feridas cr�nicas no �mbito hospitalar: uma revis�o integrativa [disserta��o]. Salvador: Universidade Cat�lica do Salvador; 2019 [cited 2024 Mar 26]:20. Available from: http://ri.ucsal.br:8080/jspui/bitstream/prefix/938/1/VANESSASANTOS.pdf
3 Conselho Federal de Enfermagem (BR). Resolu��o Cofen n� 567, de 29 de janeiro de 2018. Regulamenta a atua��o da Equipe de Enfermagem no Cuidado aos pacientes com feridas. [Internet]. 29 jan 2018 [cited 2024 Mar 26]. Available from: https://www.cofen.gov.br/resolucao-cofenno-567-2018/.
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Fomento e Agradecimento: A pesquisa n�o recebeu financiamento.
Contribui��o dos autores
�Alessandra da Rocha Magalh�es: Contribuiu substancialmente na concep��o e no planejamento do estudo;
� Alana Braga Sportitsch: Contribuiu na obten��o, na an�lise e interpreta��o dos dados;
� Alcione Matos de Abreu: Contribuiu na reda��o e revis�o cr�tica e aprova��o final da vers�o publicada.
Editor Cient�fico: Francisco Mayron Morais Soares. Orcid: https://orcid.org/0000-0001-7316-2519
Editor Associado: Edirlei Machado dos-Santos. Orcid: https://orcid.org/0000-0002-1221-0377