EDITORIAL

 

ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO PARA EDUÇÃO DE ESTRESSE DOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM EM TEMPOS DA COVID-19

 

COPING STRATEGIES FOR STRESS REDUCTION OF NURSING PROFESSIONALS IN TIMES OF COVID-19

 

ESTRATEGIAS DE AFRONTAMIENTO PARA LA REDUCCIÓN DEL ESTRÉS DE LOS PROFESIONALES DE ENFERMERÍA EN TIEMPOS DE COVID-19

 

https://doi.org/10.31011/reaid-2022-v.97-n.1-art.1681

 

Girlene Ribeiro da Costa1,

Márcia Teles de Oliveira Gouveia2

 

1Enfermeira. Docente na Faculdade Estácio de Teresina.  Preceptora no Centro Universitário Uninovafapi. Doutoranda em Enfermagem pelo Programa de Pós-graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Piauí (PPGENF).  E-mail:  gigiribeirocosta@hotmail.com. Orcid:  https://orcid.org/0000-0002-0214-4601

 

2Enfermeira. Docente no Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Piauí (UFPI). Doutora em Enfermagem Fundamental pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto USP. E-mail:  marciateles@ufpi.edu.br. Orcid: https://orcid.org/0000-0002-2401-4947

 

O enfrentamento caracteriza-se pelo desenvolvimento de estratégias cognitivas e comportamentais que o indivíduo utiliza para controlar as demandas internas e externas, que, se não utilizadas adequadamente, podem deixar o indivíduo vulnerável ao adoecimento. Neste sentido, é o resultado da interação do indivíduo com o meio, influenciado pelos traços de personalidade e pelas experiências anteriores que pode ter adquirido, para acessar recursos emocionais, comportamentais, cognitivos e sociais para lidar com situações adversas(1).

Os profissionais de enfermagem se destacaram durante a pandemia de COVID-19. A equipe de enfermagem realizava todos os dias um trabalho contínuo e integrado para prevenir, promover, proteger e restaurar a saúde. Além disso, a presença destes profissionais na linha de frente do combate ao novo vírus era fundamental para o tratamento e o cuidado de pacientes com COVID-19. Este resultado teve implicações importantes para a prática de cuidado à população e para o fortalecimento da ação de enfermagem(2).

No âmbito da literatura nacional e internacional, apesar da reestruturação, considera-se que eram o ambiente e os processos de trabalho no contexto de uma pandemia são complexos e dinâmicos e constituem importantes fatores de risco para doenças, seja devido à alta exposição ou aos fatores psicossociais vivenciados pelos profissionais de saúde, especialmente os profissionais de enfermagem(3).

Assim, entre as estratégias de enfrentamento e apoio aos profissionais estão as práticas e programas para redução do estresse baseados em meditação, Mindfulness, estratégias de reflexão, promoção do autocuidado, alongamentos, atividade física, alimentação saudável, técnicas de respiração, psicoterapia, comunicação assertiva, leitura e videochamadas com amigos ou familiares, reflexão, treinos funcionais em casa, sono, repouso, dentre outros. Apresentam resultados promissores e evidências de eficácia no controle de dores crônicas, assim como na redução dos indicadores de estresse, além de ansiedade e depressão(4).

Também como estratégias de enfrentamento durante a pandemia da COVID-19, as intervenções com participação remotas baseada no ambiente de saúde telemental, na comunicação online e na tecnologia audiovisual mostraram por ter tido melhorias no estado emocional e no grau de perturbação percebida, além de impactar no clima, na coesão e na dinâmica do trabalho em equipe de enfermagem(5,6).

As estratégias voltadas para o desenvolvimento de suporte de pares ajudaram no gerenciamento de três componentes de esgotamento: a exaustão emocional, a despersonalização, e a eficácia reduzida. Acredita-se que a simples escuta ativa apresenta efeitos positivos nas relações de confiança, constituindo importantes estratégias de enfrentamento do estresse(7).

No campo científico, os fenômenos estressores são amplamente relatados na vida dos enfermeiros, estando também associados à demanda acelerada e abrupta de atendimentos, o contato frequente com os casos suspeitos e/ou confirmados COVID-19, as altas taxas de mortalidade entre os profissionais de saúde, a sobrecarga de trabalho, o uso contínuo de equipamentos de proteção individual, o isolamento de famílias e à exposição a infodemia(8).

Diante disso, no cenário ocupacional, a prática regular de estratégias de enfrentamento vem sendo valorizada e aplicada em centros médicos, hospitalares e instituições de saúde, visando a promoção do bem-estar e o desenvolvimento de habilidades e competências necessárias para gerenciamento de eventos estressores relacionados ao trabalho(9).

Logo, considerando que os profissionais de enfermagem que atuam ou atuaram no enfrentamento da pandemia da COVID-19 constituem grupo de alto risco tanto para contaminação, quanto para níveis elevados de estresse, assim a implementação de intervenções como estratégias de enfrentamento, e seus efeitos na promoção da saúde mental devem ser considerados e amplamente investigados(10).

É importante evidenciar as potencialidades das técnicas de enfrentamento para redução, prevenção e no gerenciamento do estresse ocupacional, além de dimensionar o impacto real da pandemia na vida dos trabalhadores de saúde, em especial da enfermagem. Diante disso, novas investigações são necessárias para propor ações e estratégias que subsidiem programas, políticas públicas e linhas de cuidados baseadas em evidências e favoráveis à segurança no trabalho(11).

Na mesma perspectiva de avaliação, o apoio social, e em particular o apoio dos pares, limitou o efeito da exposição ao trauma nos sintomas de estresse, indicando proteção contra a depressão, o sofrimento psicológico e o esgotamento(12).

Em meio a magnitude do problema, a saúde ocupacional tem despertado amplo interesse entre os pesquisadores, gestores e líderes de saúde, exigindo a estruturação de políticas e estratégias voltadas para redução da exposição profissional aos eventos estressores e ao risco de adoecimento mental.

 

REFERÊNCIAS

(1) Paiva MJA, Rodrigues BG, Signorini SMT. Estratégias de enfrentamento: uma revisão sistemática sobre instrumentos de avaliação no contexto brasileiro. Rev Cuid [Internet]. agosto de 2018 [citado 2023 Jan 12]; 9(2): 2257-2268. Disponível em: http://www.scielo.org.co/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2216-09732018000202257&lng=en.  https://doi.org/10.15649/cuidarte.v9i2.503 .

(2) Cunha LB, Leal CCG, Batista MA, Nunes ZB. Estratégias de enfrentamento (COPING) da equipe de enfermagem durante a pandemia de covid-19 no Brasil: uma revisão integrativa da literatura. Cuid Enferm. 2021 jul.-dez.; 15(2):263-73. Disponível em: http://www.webfipa.net/facfipa/ner/sumarios/cuidarte/2021v2/p.263-273.pdf

(3) Wei H, Aucoin J, Kuntapay GR, Âmbar J, Jones A, Zhang C. et al. The prevalence of nurse burnout and its association with telomere length pre and during the COVID-19 pandemic. Plos one, 2022;17(3):e0263603. doi: https://doi.org/10.1371/journal.pone.0263603

(4) Pinho PH, Carnevalli LM, Santos OR, Lacerda LCSD. Mindfulness no contexto dos transtornos mentais: uma revisão integrativa. SMAD, Revista Eletrônica Saúde Mental Álcool E Drogas (Edição Em Português), 2020;16(3), 105-117. doi: https://doi.org/10.11606/issn.1806-6976.smad.2020.166027

(5) Shen YJ, Wei L, Li Q, Li LQ, Zhang XH. Mental health and social support among nurses during the COVID-19 pandemic. Psychol Health Med. 2022 Feb;27(2):444-52. doi: 10.1080/13548506.2021.1944653.

(6) Tarquinio C, Brennstuhl MJ, Rydberg JA, Bassan F, Peter L, Tarquinio CL. et al. EMDR in Telemental Health Counseling for Healthcare Workers Caring for COVID-19 Patients: A Pilot Study. Issues Ment Health Nurs. 2021 Jan;42(1):3-14. doi: 10.1080/01612840.2020.1818014.

(7) Tobase L, Cardoso SH, Rodrigues RTF, Peres HHC. Escuta empática: estratégia de acolhimento aos profissionais de enfermagem no enfrentamento da pandemia por coronavírus. Rev Bras Enfermagem, 2021; 74: e20200721. doi: https://doi.org/10.1590/0034-7167-2020-0721

(8) Tabrizi ZM, Mohammadzadeh F, Quchan ADM,  Bahri N. COVID-19 anxiety and quality of life among Iranian nurses. BMC nursing. 2022;21(1):1-10. doi: https://doi.org/10.1186/s12912-021-00800-2

(9) Lemos P, de Almeida Filho N, Firmo J. COVID-19, desastre do sistema de saúde no presente e tragédia da economia em um futuro bem próximo. Braz. J. Implantol. Health Sci [Internet]. 28º de abril de 2020 [citado 2023 Jan 12];2(4):39-50. Disponível em: https://bjihs.emnuvens.com.br/bjihs/article/view/147

(10) Monroe C, Loresto FHorton-Deutsch S, Kleiner CEron KVarney R. et al. The value of intentional self-care practices: The effects of mindfulness on improving job satisfaction, teamwork, and workplace environments. Archives of psychiatric nursing. 2021;35(2):189-194, 2021. Doi: https://doi.org/10.1016/j.apnu.2020.10.003

(11) Jackson Filho JM, Assunção AA, Algranti E, Garcia EG, Saito CA, Maeno M. A saúde do trabalhador e o enfrentamento da COVID-19. Rev. bras. saúde ocup. 2020;45. doi: https://doi.org/10.1590/2317-6369ED0000120 

(12) Yang BJ, Yen CW, Lin SJ, Huang CH, Wu JL, Cheng YR. et al. The effects of na emergency nurse‐led stress‐reduction project during the first 120 days of the COVID‐19 pandemic in Taiwan. J Nursing Management, 2021;30(2);367-74. doi: https://doi.org/10.1111/jonm.13527

 

 

Fomento: não há instituição de fomento

 

Editor Científico: Francisco Mayron Morais Soares. Orcid: https://orcid.org/0000-0001-7316-2519



 

Rev Enferm Atual In Derme 2023;97(1):e023026