ARTIGO DE REFLEXÃO
RESSIGNIFICAÇÃO DO PROCESSO DE MORTE E FINITUDE SOB A ÓTICA DA TEORIA HUMANÍSTICA DE ENFERMAGEM
RESIGNIFICATION OF THE DEATH AND FINITUDE PROCESS FROM THE PERSPECTIVE OF THE HUMANISTIC THEORY OF NURSING
RESIGNIFICACIÓN DEL PROCESO DE MUERTE Y FINITUD EN LA PER
SPECTIVA DE LA TEORÍA HUMANISTA DE ENFERMERÍA
1Valéria Fernandes da Silva Lima
2André Sousa Rocha
3Janine de Araujo Ferro
4Sara Saraiva dos Santos
5Maria Vitória Fonseca da Silva Sousa
6Adriane Mendes Rosa
1Universidade Estadual do Maranhão -UEMA, Colinas, Maranhão, Brasil.
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7516-4806
2Centro Universitário INTA-UNINTA, Sobral, Ceará, Brasil.
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-0185-9699
3Universidade Estadual do Maranhão -UEMA, Colinas, Maranhão, Brasil.
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6226-3426
4Universidade Estadual do Maranhão -UEMA, Colinas, Maranhão, Brasil.
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-5549-3872
5Universidade Estadual do Maranhão -UEMA, Colinas, Maranhão, Brasil.
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-5279-8582
6Universidade Estadual do Maranhão – UEMA, Colinas, Maranhão, Brasil.
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8262-8525
Autor correspondente
Valéria Fernandes da Silva Lima
Rua São Benedito, Colinas, Maranhão, Brasil, CEP: 65690-000.
Telefone: +55(99) 98485-2826
E-mail: valeriafernandesxp@gmail.com
Submissão: 16-02-2023
Aprovado: 03-04-2023
RESUMO
Objetivo: Refletir sobre a aplicação da teoria humanística no processo ressignificação dos fenômenos de morte e finitude. Método: Consiste em um estudo teórico-reflexivo realizado entre novembro de 2022 a janeiro de 2023, o qual se fundamenta na teoria humanística Paterson e Zderad, elaborado a partir de reflexões, pautando-se na metodologia fenomenológica a respeito do processo de morte e finitude. Resultados e discussão: A reflexão dos achados referentes a ressignificação da morte e finitude sob a luz da teoria humanística de Paterson e Zderad, conceberam duas categorias temáticas, denominados: “Bases teóricas da teoria humanística de Paterson e Zderad sob a perspectiva fenomenológica” o qual visa descrever os princípios básicos da teoria humanística. Já o segundo eixo temático intitulou-se de “A teoria humanística de Paterson e Zderad como instrumento no processo de ressignificação da morte e finitude” que propõe responder à pergunta norteadora. Considerações Finais: O enfermeiro, pautado nos pressupostos da teoria humanística, torna-se qualificado para oferecer cuidado integral aos pacientes em sofrimento, tornando-se auxiliadores no processo de ressignificação da morte e finitude no intuito de conferir novos significados a esses fenômenos, para promover uma morte digna, resguardando o paciente de sofrimentos e respeitando seus desejos.
Palavras-chave: Direito a Morrer; Teoria de Enfermagem; Humanização da assistência; Assistência Terminal.
ABSTRACT
Objective: To reflect on the application of the humanistic theory in the process of reframing the phenomena of death and finitude. Method: It consists of a theoretical-reflective study carried out between November 2022 and January 2023, which is based on the humanistic theory Paterson and Zderad, elaborated from reflections, based on the phenomenology methodology regarding the process of death and finitude. Results and discussion: The reflection of the findings referring to the resignification of death and finitude in the light of the humanistic theory of Paterson and Zderad, conceived two thematic categories, called: "Theoretical bases of the humanistic theory of Paterson and Zderad under the phenomenological perspective" which aims to describe the basic principles of humanistic theory. The second thematic axis was entitled “The humanistic theory of Paterson and Zderad as an instrument in the process of re-signification of death and finitude”, which proposes to answer the guiding question. Final Considerations: The nurse, based on the assumptions of the humanistic theory, becomes qualified to offer comprehensive care to patients in suffering, becoming helpers in the process of reframing death and finitude in order to give new meanings to these phenomena, to promote a dignified death, protecting the patient from suffering and respecting his wishes.
Keywords: Right to Die; Nursing Theory; Humanism; Terminal Care.
RESUMEN
Objetivo: Reflexionar sobre la aplicación de la teoría humanista en el proceso de replanteamiento de los fenómenos de muerte y finitud. Método: Consiste en un estudio teórico-reflexivo realizado entre noviembre de 2022 y enero de 2023, el cual se sustenta en la teoría humanista de Paterson y Zderad, elaborada a partir de reflexiones, a partir de la metodología fenomenológica respecto al proceso de la muerte y la finitud. Resultados e discusión: La reflexión de los hallazgos referentes a la resignificación de la muerte y la finitud a la luz de la teoría humanista de Paterson y Zderad, concibió dos categorías temáticas, denominadas: “Bases teóricas de la teoría humanista de Paterson y Zderad bajo la perspectiva fenomenológica” que tiene como objetivo describir los principios básicos de la teoría humanista. El segundo eje temático se tituló “La teoría humanista de Paterson y Zderad como instrumento en el proceso de resignificación de la muerte y la finitud”, que se propone responder a la pregunta orientadora. Consideraciones Finales: El enfermero, a partir de los presupuestos de la teoría humanista, se capacita para ofrecer un cuidado integral a los pacientes en sufrimiento, convirtiéndose en auxiliar en el proceso de reencuadre de la muerte y de la finitud con el fin de dar nuevos sentidos a esos fenómenos, para promover una vida digna. muerte, protegiendo al paciente del sufrimiento y respetando sus deseos.
Palabras clave: Derecho a Morir; Teoría de Enfermería; Humanización de la Atención; Cuidado Terminal.
INTRODUÇÃO
Em decurso dos séculos V a XV, a morte era considerada um evento corriqueiro, geralmente aguardado na própria residência do enfermo. No entanto, ao longo do percurso transpassado pelos anos, a significação da morte sofreu alterações significativas, transfigurando-se como um fenômeno abominável que se pretende evitar. Assim, essa ruptura de concepções tornou-se acentuada no século XX, quando se transformou em um fenômeno tecnicista, deslocando-se do ambiente domiciliar para as instituições hospitalares (1-2).
Dessa forma, o avanço tecnológico tem florescido gradativamente com o transcorrer do tempo, proporcionando insumos e tratamentos para doenças graves, incapacitantes e progressivas, de modo a culminar na diminuição da mortalidade, e, por conseguinte, melhorias na qualidade de vida das pessoas. Além disso, há também o prolongamento da vida ou adiamento da morte por meio de técnicas invasivas, que por vezes causam mais sofrimento à beneficência (3).
Portanto, tendo em vista a complexidade do ser humano, é imprescindível a racionalização de uma óptica expandida para o processo dinâmico de morte e finitude com o envolvimento de distintas esferas de sua significação e acepção, de modo que possam influenciar ações positivas para a melhor compreensão e aceitação da ocorrência desses fenômenos (2).
É evidente o quanto a evolução técnico-científica tem prolongado o tempo de vida dos pacientes, aumentando assim a qualidade de vida e sobrevida, além de incluir os casos de pacientes com doenças que não tem possibilidade terapêutica tradicional. Entretanto, é perceptível que diante de tantas condutas técnicas, por vezes, invasivas no processo de morte e morrer, pode gerar um afastamento do cuidado integral e holístico em relação aos aspectos não técnicos do processo de morrer, de modo a focar a atenção apenas na melhoria dos sintomas físicos e sobrevivência do paciente. Deste modo, os profissionais pautados nessa formação mais tecnicista acabam esquecendo-se do ser humano como um ser multidimensional que necessita de cuidados em todas as esferas que o compõem (1).
Mediante a Teoria Humanística de Josephine Paterson e Loretta Zderad, considera-se que na filosofia dos Cuidados Paliativos (CP), o ser humano pode ser auxiliado em seu processo de morte e morrer por meio do cuidado holístico. Além disso, considera-se a conservação da dignidade do paciente, uma vez que a assistência profissional não é pautada apenas na cura da enfermidade, de modo a ultrapassar os cuidados tecnicistas e tratar de questões humanas individuais, sociais, emocionais, espirituais, éticas, étnicas e culturais do indivíduo (4).
O incentivo para a abordagem de um estudo com essa temática surgiu da observação das dificuldades dos profissionais da enfermagem ao lidarem com questões relacionadas ao processo de morte e finitude, o que se transforma em um obstáculo para o auxílio no que concerne a ressignificação e a assistência desses profissionais aos pacientes que estão condição de saúde fragilizada assim como seus familiares. Levando em considerando que a equipe de enfermagem é a categoria profissional que passa maior tempo em contato com pacientes implementando cuidados em todas as situações que envolvem a complexa dinâmica do cuidar, observa-se lacunas no que se refere à formação dos profissionais que possuem pouco ou nenhum preparo prévio. Ou seja, não são educados para compreender os processos de morte e finitude, tampouco para se reconhecerem como figuras auxiliadoras na ruptura de estigmas e tabus que cercam os temas relacionados à morte e finitude.
Com isso, refletir sobre as inquietações que envolvem o processo de morte e finitude pode se configurar como uma ação importante prol de compreender como os profissionais de enfermagem podem lidar com a temática da morte para auxiliarem os pacientes e seus familiares no processo de ressignificação da morte e finitude, contribuindo para preencher as lacunas sobre a assistência de enfermagem nesse processo. A partir desse entendimento é possível proporcionar aos pacientes uma vida e morte digna, além de amenizar o seu sofrimento e de todos os envolvidos. Desta forma, a aderência a Teoria Humanística de Paterson e Zderad mostra-se uma importante aliada aos profissionais da saúde que almejam por uma assistência qualificada e integral aos pacientes em terminalidade(2). Portanto, diante do exposto, objetivou-se refletir sobre a aplicação da teoria humanística no processo ressignificação dos fenômenos de morte e finitude.
MÉTODOS
O manuscrito consiste em um estudo teórico-reflexivo realizado entre novembro de 2022 a janeiro de 2023, o qual se fundamenta na teoria humanística Paterson e Zderad, elaborado a partir de reflexões, pautando-se na metodologia fenomenológica a respeito do processo de morte e finitude que circundam o ser humano.
O percurso metodológico incluiu primeiramente o levantamento bibliográfico da literatura existente que se relaciona com a temática abordada para leitura e seleção do referencial teórico utilizado para embasar o estudo. Deste modo, foi realizada uma busca de manuscritos eletrônicos pertinentes na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Scientific Electronic Library Online (SciELO), Literatura Latino-americana e do Caribe em ciências da Saúde (LILACS) e no buscador virtual Google Scholar, designados pelos próprios autores considerando apenas o tema central.
Por se tratar de um artigo de reflexão e não uma revisão de literatura, não foi necessário delinear especificamente critérios de exclusão e inclusão para a seleção do material, assim como não houve necessidade de especificar a pergunta norteadora. Ademais, também não foi empregado recorte temporal, pois compreende-se que existe uma substancial variedade de estudos primários e textos clássicos atemporais referentes ao tema.
A análise dos dados foi categorizada em dois eixos temáticos, assim denominados: “Teoria humanística de Paterson e Zderad sob a perspectiva fenomenológica", o qual visa descrever os princípios básicos da teoria humanística disponível na literatura mais atual possível. Já o segundo eixo temático intitulou-se de “A teoria humanística de Paterson e Zderad como instrumento no processo de ressignificação da morte e finitude” que propõe responder o questionamento inicial usado como pilar para permear as reflexões acerca da ressignificação da morte e finitude.
RESULTADO E DISCUSSÃO
Teoria humanística de Paterson e Zderad sob a perspectiva fenomenológica
Diante das teorias acerca da assistência da enfermagem, destaca-se com significância a Teoria Humanística de Paterson e Zderad, assim como a aplicação de suas conjecturas para nortear a prática clínica da enfermagem. Essa teoria possui influência de vários pensadores humanistas, fenomenológicos-existenciais como Marcel, Nietzsche, Hesse, Chardin, Bérgson, Jung e Buber que denotam o diálogo como um recurso a ser explorado na assistência em saúde (5).
A abordagem teórica humanística apresenta a prática com um enfoque fenomenológico, humanista e existencial, a fim de auxiliar os profissionais da enfermagem a aprimorarem seus conhecimentos. Desse modo, tal teoria vem de encontro à ideologia dos cuidados paliativos, pois visa proporcionar reflexões no cotidiano profissional para o investimento na qualidade do atendimento, cujo objetivo é promover bem-estar, visualizando as condições de vida e morte de cada paciente (6).
Diante disso, torna-se importante que o relacionamento profissional entre paciente e enfermeiro seja desenvolvido de forma objetiva, clara, transparente, respeitosa e empática, assim como o enfermeiro deve estar sempre receptivo ao acolhimento das experiências vivenciadas pelo paciente, o que oportuniza uma escuta ativa e compreensão de suas vivências, a fim de entender-lhe de forma individualizada e integral, pois entende-se que cada sujeito é dotado de singularidade, possuidor de suas próprias bagagens históricas, experiências ao longo da vida, vontades e sonhos que devem ser respeitados, inclusive diante da morte e morrer(5).
Assim, a teoria da prática da enfermagem humanista propõe que a enfermagem aborda deliberadamente as situações vivenciadas como uma experiência existencial. Além disso, ela possibilita a reflexão e a descrição fenomenológica acerca das experiências vivenciadas. Neste sentido, os autores(6) comentam que um diálogo autêntico entre enfermeiro-paciente tem substancial poder de transformar o significado das experiências vividas na díade profissional-paciente(6).
Ademais, ao utilizar a teoria humanista, observa-se um potencial no que tange ao amadurecimento pessoal e profissional, visto que essa abordagem promove reflexões diante das relações com o outro e com as experiências vividas. Assim, a enfermagem humanística é considerada um diálogo que envolve o encontro assim como as trocas dialógicas do enfermeiro com os pacientes, de modo a possibilitar a presença autêntica, com chamados e respostas que se apresentam na forma de comunicação verbal e não verbal(7).
Por fim, compreende-se que a descrição do que o homem visa conhecer e entender em sua experiência evoluiu a partir da abordagem fenomenológica. Assim, tanto a fenomenologia quanto o existencialismo valorizam a experiência, as capacidades de surpresa e o conhecimento do homem, respeitando a evolução do que emerge como "novo". Nessa perspectiva, os enfermeiros vivenciam com outros seres humanos vários fenômenos, como a criação, o nascimento, as vitórias, as perdas, as separações e a morte (6).
A teoria humanística de Paterson e Zderad como instrumento no processo de ressignificação da morte e finitude
Dentre os temas que deveriam ser discutidos com mais frequência e profundidade pela sociedade diz respeito à terminalidade e morte, pois costumam ser circundados por eufemismos para atenuar o seu impacto, de modo a minimizar o sofrimento ou desconforto acarretados pela sua explanação. No entanto, este fenômeno dialógico que faz parte do ciclo da vida pode ser entendido quando reconhecida as múltiplas perspectivas que o compõem, por meio do reconhecimento de suas diferentes dimensões, seja no que tange aos aspectos biológicos ou culturais e sociais (2).
A morte perdura no imaginário utópico dos indivíduos como um evento terrível e inevitável, o qual deve ser combatido a fim de evitar ou adiá-la. No estudo dos autores(8) é evidenciado que existe uma grande associação entre a morte, a dor e o sofrimento. Contudo, nota-se que diante do sofrimento dos doentes, alguns cuidadores compreendiam a morte como algo que proporciona paz e alívio do sofrimento, tanto para si quanto para o paciente. Verifica-se, então, que alguns cuidadores foram capazes de ressignificar o sentido da morte, que deixa de ser uma situação temida para ser um evento inevitável que propicia a atenuação da angústia e dor.
Todavia, tanto lidar com a concepção da vida humana, como com a terminalidade é extremamente complexo. Por isso, deve-se ter um olhar atento, posto que os diferentes significados e ações atribuídos a ela podem influenciar a qualidade com que esse fenômeno ocorre. Vale reforçar que cada sociedade tem sua própria cultura, hábitos, crenças e valores, oferecendo às pessoas significações variadas e diferentes recursos para seu respectivo enfrentamento (2).
Entretanto, considera-se que o ser humano possa ser auxiliado em seu processo de morrer, tendo como fio condutor o cuidado, a preservação da dignidade, uma vez que a assistência recebida ultrapassa os cuidados técnicos que envolvem questões éticas, étnicas, culturais, humanas, sociais e espirituais. Dessa forma, o conhecimento da abordagem humanística pode auxiliar os profissionais na discussão, reflexão e qualificação para atuar na colaboração, planejamento e desenvolvimento de ações que possibilitem uma assistência técnica, humanizada e individualizada (4).
Os autores(9), constataram que no instante em que o ser humano atinge o estado de consciência sobre sua finitude, passa a valorizar melhor a vida, conferindo espaço para transfigurar-se em sua melhor versão, permitindo se reinventar e viver intensamente o presente. Neste contexto, a questão não é mais sobre a morte de outrem, mas sim sobre a própria morte, uma vez que se trata do modo com que a pessoa constrói e torna-se autor da própria vida a partir da ressignificação da finitude e morte.
Nesse sentido, reduzir o medo e sofrimento relacionado à morte e à finitude permite observar o paciente transcender, auxiliando-lhe na aceitação de sua condição de saúde irreversível, na resolução de questões importantes, principalmente afetivas que possam ser sanadas em vida para que não haja espaço para remorso. Portanto, neste contexto a aplicação da teoria humanística é de potencial valia para alcançar o proposto (10).
A comunicação permite o estreitamento do relacionamento profissional-paciente que é fundamental para o estabelecimento de uma relação de confiança que permeia o processo de cuidado. Assim, o enfermeiro pode se tornar a presença que o paciente necessita, seja quando solicitado por meio de uma ligação ou em situações na qual o profissional ou familiar considerar imprescindível. Deste modo, a importância da teoria humanística de enfermagem aplicada na prática dos cuidados paliativos reside no fato de que ela aperfeiçoa e orienta os saberes e técnicas do enfermeiro de forma existencial, posto que, baseia-se no encontro de um diálogo autêntico entre quem cuida e quem recebe os cuidados (7).
Nessa direção, a preparação de uma equipe multidisciplinar de saúde com conhecimentos específicos acerca dos cuidados paliativos é imprescindível para a atuação de profissionais mais conscientes e competentes em suas práticas, para que assim eles possam fornecer cuidados com qualidade e humanização, sobretudo, em relação a pacientes que apresentam alguma doença que ameace a vida. Assim, chama-se a atenção dos enfermeiros para realizar uma reflexão sobre a sua prática diária, no intuito de buscar maior aproximação com a temática da terminalidade e os princípios dos cuidados paliativos e da humanização, tanto no processo de formação permanente, como na gestão institucional (4).
Assim, um dos momentos mais delicados que se pode vivenciar é a condição na qual o indivíduo está diante da morte iminente, mas não concretizada. O tempo prolongado dessa situação pode ser debilitante para os envolvidos, pois sabe-se que muitas vezes o anúncio da aproximação do óbito pode provocar maior nível de ansiedade e angústia. Entretanto, os autores (8) percebem em suas investigações que a espiritualidade emerge como fator contribuinte diante das incertezas acerca da morte, trazendo alívio e sustentação aos cuidadores nestes momentos de angústia.
A permissão de partida (PP) é considerada um cuidado espiritual que proporciona o acompanhamento terapêutico intencional e de confiança entre o profissional, o paciente e seus familiares. Neste cenário, a PP é muito importante, por se tratar de uma tecnologia leve que promove o cuidado espiritual e objetiva facilitar a expressão livre de sentimentos, crenças e rituais religiosos ou espirituais que se podem ter influências em situação de morte e morrer, concedendo o abrandamento de dores, angústias, expectativas e medos experienciado pelo paciente e familiares, induzindo a ressignificação do momento de partida(10).
Desse modo, chama-se a atenção para a importância da preparação da enfermagem para o cuidado espiritual em situações de terminalidade(10). Tendo em vista que por meio da espiritualidade é possível atribuir sentidos ao desconhecido e inevitável, trazendo com isso o apaziguamento do sofrimento. Para algumas pessoas, a morte poderia proporcionar o alívio de um sofrimento que se prolonga tanto para o paciente quanto para aqueles envolvidos neste contexto. Adicionalmente, os cuidadores demonstram a necessidade de resgatar a trajetória de vida dos pacientes, principalmente em relação aos melhores momentos vivenciados. Posto isso, percebe-se que a rememoração do passado, de alguma forma, possibilita o contorno à experiência da morte permitindo ao cuidador atribuir significado à vida até seu último momento (8).
É nesse ínterim que o enfermeiro é percebido como o profissional que fica mais próximo ao paciente e aos seus familiares, uma vez que ele se envolve no gerenciamento de cuidados, por meio da identificação das necessidades do paciente, com intuito de acolher as demandas e coordenar as intervenções de enfermagem. Nessa direção, é fundamental que os profissionais compreendam os valores subjacentes que os pacientes atribuem às diferentes representações da morte e finitude, bem como apreender as representações desses fenômenos para os próprios profissionais no intuito de conferir significado ao cuidado realizado no fim de vida (2).
Segundo os autores(1) observaram que o distanciamento dos profissionais da saúde em relação ao paciente que se encontra em processo de morrer aumenta conforme o tempo de atuação profissional, como forma de proteção do sofrimento causado pela morte. Para os profissionais que não possuem preparo para lidar com a morte, o processo de morrer torna-se um gerador de sofrimento. Por isso, inúmeros procedimentos são realizados na tentativa de curar o indivíduo Todavia, o resultado é o prolongamento do processo, de modo a ampliar o sofrimento de todos.
Neste contexto, percebe-se o quanto a formação acadêmica negligencia as abordagens relacionadas ao processo de morte e finitude, o que resulta em dificuldades para o enfrentamento ou ressignificação desses fenômenos. Em conformidade com os autores(11), para os profissionais de saúde lidar com a temática morte não é uma tarefa fácil, uma vez que a aceitação se torna mais morosa, sobretudo, porque o seu objetivo maior é a manutenção da vida. No entanto, as adversidades diante da morte poderiam ser amenizadas na formação acadêmica se houvesse maior abertura para dialogar sobre a temática com maior profundidade, além de propiciar um espaço para que os futuros profissionais possam expressar seus sentimentos e medos em relação à morte. Um último acréscimo gira em torno da oferta de suporte psicológico, para que os estudantes possam saber gerenciar emoções que estão envoltas no processo de finitude.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo do presente estudo foi refletir sobre a aplicação da teoria humanística no processo ressignificação dos fenômenos de morte e finitude. De acordo com a revisão bibliográfica levantada e das categorias concebidas, pode-se considerar que o objetivo foi atendido satisfatoriamente. Sendo assim, o manuscrito apresenta contribuições e avanços na temática de estudo, em especial, para área da enfermagem por meio daS reflexões a um tema tão estigmatizado como a terminalidade. Logo, a pesquisa buscou associar discussões sobre a teoria humanística da enfermagem, que pode ser utilizada como base teórica para o aperfeiçoamento do cuidado em enfermagem a pacientes em fase terminal.
Em síntese, o enfermeiro, pautado nos pressupostos da teoria humanística, torna-se mais qualificado para oferecer o cuidado integral aos pacientes em sofrimento. Assim, esses profissionais estarão aptos a auxiliar no processo de ressignificação da morte e finitude no intuito de conferir novos significados a esses fenômenos, visto que, é preciso encarar a morte da melhor forma possível, para promover uma morte digna, resguardando o paciente de sofrimentos desnecessários e respeitando seus desejos e a sua autonomia.
Dentre as limitações destaca-se o quantitativo de estudos atuais envolvendo os fenômenos estudados, principalmente relacionados à teoria humanística. Diante disso, pretensiosamente, espera-se que essa reflexão alcance a comunidade científica, gestores institucionais, graduandos e profissionais da saúde para que reflitam a importância de falar abertamente sobre a temática pautada para compreensão e ressignificação, o que consequentemente trará benefícios aos profissionais, pacientes e familiares que possibilitará desenvolver de forma inteligente o gerenciamento de suas emoções em relação à morte e finitude.
Dito isso, destaca-se a importância de novos estudos na temática, inclusive empíricos, qualitativos e de análise de ementas na formação de bacharel em enfermagem, para que isso possa se instigar e fomentar a relevância da inclusão de disciplinas que enfoquem uma atuação que não utilize a técnica em sobreposição ao cuidado humano e empático.
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Editor Científico: Francisco Mayron Morais Soares. Orcid: https://orcid.org/0000-0001-7316-2519