¹Grasiele Costa Rodrigues

²Lucio Rodrigo Lucca de Camargo

³Elisangela Souza

⁴Deborah Bulegon Mello

⁵Mariana Iribarrem Ness

⁶Gisele Cristiane Czadotz

⁷Andreia Barcellos Teixeira Macedo

¹RC Serviços de Enfermagem, Porto Alegre, Brasil - ORCID: https://orcid.org/0009-0003-5559-3931

²RC Serviços de Enfermagem- ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7229-0612

³Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Porto Alegre, Brasil - ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7194-9764

⁴Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Porto Alegre, Brasil - ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2289-671X

⁵Hospital Mãe de Deus, Porto Alegre, Brasil - ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3472-0615

⁶Max Cirúrgica - ORCID:0009-0009-0012-4509

⁷Universidade Federal do Rio Grande do Sul- ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4219-4731

Autor correspondente

Andreia Barcellos Teixeira Macedo

Rua São Francisco, 528 Canoas RS – Brasil 92025410 - Fone: 51 993129487 E-mail: abtmacedo@gmail.com

Submissão: 13-03-2023

Aprovado: 06-07-2023

RESUMO

Objetivo: Mapear e sumarizar evidências científicas sobre a terapia do coágulo sanguíneo autólogo na cicatrização das lesões. Método: Trata-se de uma revisão de escopo construída em cinco etapas, realizada nas bases/motores de busca Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), PubMed, Google Acadêmico, Biblioteca Scientific Electronic Library Online (SCIELO) e no Portal de Teses e Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Os descritores controlados foram “cicatrização” e “ferimentos e lesões” e o não controlado Terapia do Coágulo Sanguíneo Autólogo”, com suas derivações em inglês e espanhol. Foram incluídos artigos publicados nos últimos 10 anos, e excluídos os duplicados ou que não estivessem disponíveis na íntegra. Para a extração foi construído um quadro sinóptico e os dados foram analisados de forma descritiva. Resultados: Foram identificadas 246 publicações e a amostra final foi composta por 16 publicações. O ano de 2022 foi o que apresentou maior número de publicações (5;33,4%), 15(93,7%) estudos estavam em inglês e 12(75,0%) em revistas dos Estados Unidos. Não foram localizados estudos no Brasil sobre o tema. Verificou-se que 11(68,7%) estudos avaliaram o efeito da terapia, dos quais 6(37,5%) tiveram delineamento quase-experimental, três (18,7%) foram estudo de caso e dois (12,5%) estudo de série de casos. Conclusões: O artigo atingiu os objetivos ao mapear as evidências científicas sobre a temática, demostrando que a terapia possui boa efetividade no tratamento de lesões por pressão. Contudo, há limitações pela falta de pesquisas com métodos com maior nível de evidência e com amostras maiores.

Palavras-chave: Cicatrização; Ferimentos e Lesões; Terapêutica; Revisão; Enfermagem.

ABSTRACT

Objective: To map and summarize scientific evidence on autologous blood clot therapy in wound healing. Method: This is a five-stage scope review, carried out in the Virtual Health Library (VHL) databases/search engines, PubMed, Google Scholar, Scientific Electronic Library Online (SCIELO) and in the Theses and Dissertations Portal of the Coordination for the Improvement of Higher Education Personnel (CAPES). The controlled descriptors were “healing” and “wounds and injuries” and the uncontrolled Autologous Blood Clot Therapy”, with its derivations in English and Spanish. Articles in the last 10 years were included, and duplicate articles or articles that were not available in full were excluded. For the extraction, a synoptic table was built and the data were analyzed descriptively. Results: 246 publications were identified and the final sample consisted of 16 publications. The year 2022 was the one with the highest number of publications (5;33.4%), 15 (93.7%) studies were in English and 12 (75.0%) in US journals. No studies were located in Brazil on the subject. It was found that 11 (68.7%) studies evaluated the effect of therapy, of which 6 (37.5%) had a quasi-experimental design, three (18.7%) were case studies and two (12.5%) were %) case series study. Conclusions: The article achieved its objectives by mapping the scientific evidence on the subject, demonstrating that the therapy has good effectiveness in the treatment of pressure injuries. However, there are limitations due to the lack of research with methods with a higher level of evidence and with larger samples.

Keywords: Wound Healing; Wounds and Injuries; Therapeutics; Review; Nursing.

RESUMEN

Objetivo: Mapear y resumir la evidencia científica sobre la terapia de coágulos sanguíneos autólogos en la cicatrización de heridas. Método: Revisión de alcance en cinco etapas, realizada en las bases de datos/buscadores de la Biblioteca Virtual en Salud (BVS), PubMed, Google Scholar, SCIELO y en el Portal de la Coordinación para la Perfeccionamiento del Personal de Educación Superior (CAPES). Los descriptores controlados fueron “cicatrización” y “heridas y lesiones” y la no controlada Terapia de Coágulos Autólogos, con sus derivaciones en inglés y español. Se incluyeron articulos publicados en los últimos 10 años y se excluyeron los duplicados o que no estuvieran disponibles en su totalidad. Para la extracción se construyó un cuadro sinóptico y los datos se analizaron descriptivamente. Resultados: se identificaron 246 publicaciones y la muestra final estuvo conformada por 16 estudos. El año 2022 fue el de mayor número de publicaciones (5;33,4%), 15 (93,7%) estudios fueron en inglés y 12 (75,0%) en revistas estadounidenses. No se localizaron estudios en Brasil. Se encontró que 11 (68,7%) estudios evaluaron el efecto de la terapia, de los cuales 6 (37,5%) tuvieron un diseño cuasi-experimental, tres (18,7%) fueron estudios de casos y dos (12,5%) fueron estudios de series de casos. Conclusiones: El artículo logró sus objetivos al mapear la evidencia científica sobre el tema, demostrando que la terapia tiene buena efectividad en el tratamiento de las lesiones por presión. Sin embargo, existen limitaciones por la falta de investigaciones con métodos con mayor nivel de evidencia y con muestras más grandes.

Palabras clave: Cicatrización de Heridas; Heridas y Lesiones; Terapéutica; Revision; Enfermeria.

INTRODUÇÃO

Feridas crônicas e complexas são lesões de difícil resolução, decorrentes de traumas ou agravos clínicos, cujo processo de cicatrização ultrapassa quatro a seis semanas. Causam sofrimento físico, psíquico para o paciente, além de gastos para o sistema de saúde, visto que são tratamentos longos e onerosos, principalmente nos casos de infecções por germes multirresistentes e/ou comprometimento ósseo. Dentre as feridas de difícil cicatrização se encontra a lesão por pressão (LP), ulceras do pé diabético, feridas cirúrgicas infectadas, entre outras⁽¹⁾.

A incidência de LP entre doentes crônicos tem sido fonte de preocupação. A LP é definida como um dano que compromete a pele e tecidos adjacentes decorrente de uma pressão excessiva em áreas sobre proeminências ósseas, estando relacionada a fatores intrínsecos e/ou extrínsecos⁽¹⁾. São classificadas progressivamente conforme o grau de complexidade, podendo atingir estruturas como músculos, tendões e ossos^(2,3).

Este tipo de lesão é considerado um incidente relacionado a assistência à saúde e verifica-se dados alarmantes acerca do problema. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) publicou uma nota técnica em 2017, onde demonstrou os eventos notificados no período de janeiro de 2014 a julho de 2017, com um total de 134.501 incidentes notificados, sendo que 23.722 (17,6%) corresponderam às notificações de LP, ficando como o terceiro tipo de evento frequentemente notificado pelos núcleos de segurança do paciente. Dentre os 3.771 dos eventos que nunca deveriam ocorrer, 72,6% (2.739) foram de LP Estágio 3 e 22,0% (831) foram resultantes de LP Estágio 4⁽⁴⁾.

Um outro tipo de lesão crônica e difícil cicatrização são as úlceras decorrentes do pé diabético. Caracteriza-se pela destruição do tecido cutâneo com presença de infecção e ulceração, associado a alteração neurológica e doença arterial periférica. A incidência anual de úlcera do pé diabético chega a 2% e portadores de Diabetes Mellitus (DM) apresentam risco de 25% de desenvolver úlcera nos pés ao longo da vida. A úlcera em pé diabético é responsável por 50 a 70% das amputações de membros inferiores, ocasionando incapacidade e afetando a capacidade para as atividades cotidianas desses indivíduos^(5,6).

Diante da gravidade do problema gerado pelas feridas crônicas e complexas, diversas opções terapêuticas vêm surgindo para proporcionar uma melhora na qualidade de vida dos pacientes acometidos, diminuindo o tempo de evolução deste das feridas acarretam morbidade e mortalidade. Terapias como a utilização de concentrações específicas de ozônio, laser de baixa potência, terapia por pressão negativa associado a coberturas, produzem efeitos muito promissores, diminuindo infecção, a dor e proporcionando uma cicatrização mais rápida. O intuito é proporcionar uma estimulação de fatores fisiológicos e com isso produzindo menos efeitos colaterais⁽⁶⁾.

A utilização de derivados sanguíneos autólogos também é uma opção inovadora, tratando-se de terapias que utilizam produtos e substratos do próprio organismo capazes de criar um ambiente que se assemelha a matriz extracelular, restabelecendo a comunicação entre as células e demais componentes necessários para cicatrização da ferida⁽⁷⁾.

A terapia tópica do coágulo sanguíneo autólogo (TTCSA), comercializado com nome de Actigraft^®, consiste em um coágulo de sangue total criado a partir de sangue periférico do próprio paciente, que atua como ambiente protetor, imitando as propriedades da matriz extracelular, promovendo diminuição da intensidade da dor através da modulação da inflamação. Este coágulo autólogo é capaz de converter macrófagos M1 em M2 que secretam citocinas anti-inflamatórias, progredindo a ferida para fase proliferativa da cicatrização, proporcionando desta forma um fechamento rápido e mais eficiente que o tratamento convencional^{(7, 8)}.

Trata-se de uma tecnologia importada, em fase de expansão no cenário do tratamento de lesões crônicas e complexas, fato que justifica a necessidade de buscar evidências na literatura científica sobre o que já foi publicado sobre o tema, assim como a efetividade encontrada, visando a produção de conhecimento sobre o assunto. Nesta perspectiva, o presente estudo objetiva mapear e sumarizar as evidências científicas sobre a TTCSA na cicatrização de lesões. Medidas que auxiliem no tratamento de lesões crônicas e complexas devem ser divulgadas, buscando melhorar a qualidade de vida dos pacientes acometidos por estes danos.

MÉTODO

Delineamento do Estudo

Trata-se de um estudo do tipo revisão de escopo, um delineamento com objetivo de dimensionar evidências de pesquisas, mapear amplamente a literatura existente de uma especialidade e sinalizar lacunas na literatura cientifica. A pesquisa foi realizada conforme o proposto pelo Instituto Joanna Briggs (JBI) e apresenta 5 etapas essenciais: 1) identificação da questão de pesquisa; 2) identificação de estudos relevantes; 3) seleção de estudos para revisão; 4) mapeamento dos dados; e 5) coleta, resumo e relato dos resultados^(9,10).

A questão norteadora foi construída com suporte da estratégia PICO⁽¹¹⁾, onde “P” corresponde à população (adultos com lesões); “I” à intervenção (terapia tópica do coágulo sanguíneo autólogo); “C” à comparação (não se aplica, pois esse não é um estudo comparativo) e “O” correspondendo ao desfecho (cicatrização da lesão). Desta forma, definiu-se como questão norteadora: “Quais as evidências disponíveis na literatura científica sobre a terapia tópica do coágulo sanguíneo autólogo na cicatrização de lesões de pele e tecidos subjacentes em adultos?

A identificação online dos estudos relevantes ocorreu na primeira semana de janeiro de 2023 utilizando os motores de busca Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), PubMed (Medical Literature Analysis and Retrieval System Online-Medline) e Google Acadêmico, na Biblioteca Scientific Electronic Library Online (SCIELO) e no Portal de Teses e Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Esta escolha considerou a abrangência e afinidade com o tema, além de disponibilizarem artigos na íntegra. A pesquisa no Portal da Capes objetivou averiguar a presença de pesquisas ainda não divulgadas na forma de artigo no Brasil.

Para identificação ampliada das pesquisas sobre o tema utilizou-se os descritores controlados “Wound Healing” e “Wounds and Injuries” selecionados por meio de pesquisa no Medical Subject Headings (MESH) e Descritores em Ciências da Saúde (DECS), e o não controlado “Autologous Blood Clot Therapy”, escolhido após leitura de publicações sobre o tema. As combinações foram realizadas em inglês e português, com operadores booleanos AND e OR. Para a seleção das publicações os termos foram pesquisados no título e resumo nas bases que permitiam esta escolha. Cabe ressaltar que a versão atual do DECS possui interface com o MESH e realiza busca em todos os termos hierárquicos dos descritores escolhidos. A Figura 1 apresenta as estratégias para identificação dos estudos.

Figura 3 - Caracterização dos estudos segundo autoria, periódico, idioma e delineamento. Porto Alegre, RS, Brasil, 2023

Cod.	Autoria e Ano	Periódico País da publicação	Idioma Delineamento
P1	Kushnir I et al., 2016 ⁽¹³⁾	Wounds; EUA	Inglês; QE
P2	Snyder RJ et al., 2018 ⁽¹⁴⁾	Wounds; EUA	Inglês; QE multicêntrico
P3	Vallejo L, Achterberg J. 2020 ⁽¹⁵⁾	J Wound Care, Reino Unido	Espanhol; QE
P4	Snyder, et al., 2020. ⁽¹⁶⁾	JAPMA; EUA	Inglês; revisão da literatura
P5	Snyder RJ, Ead K, 2020 ⁽¹⁷⁾	Ann Rev Resear; EUA	Inglês; transversal
P6	Naude L et al., 2021⁽¹⁸⁾	Wounds International Inglaterra	Inglês; QE
P7	Curtis RD, Wachuku CD., 2021⁽¹⁹⁾	Ann Rev Resear; EUA	Inglês; estudo de caso
P8	Emre OM, Wachuku CD., 2021⁽²⁰⁾	Ann Rev Resear; EUA	Inglês; estudo de caso
P9	Gurevich et al., 2021⁽²¹⁾	Ann Rev Resear; EUA	Inglês; série de Casos
P10	Landau et al. 2022 ⁽²²⁾	Int Wound J.; Reino Unido	Inglês; QE multicêntrico
P11	Williams et al., 2022 ⁽²³⁾	Wounds; EUA	Inglês; QE
P12	Dimitriou et al., 2022 ⁽²⁴⁾	J Clin Images Med Case Rep; EUA	Inglês; estudo de caso
P13	Snyder RJ et al., 2022 ⁽²⁵⁾	Wounds; EUA	Inglês; descritivo
P14	Naude et al., 2022 ⁽²⁶⁾	S Afr med j; África do Sul	Inglês; transversal
P15	Gurevich et al., 2023 ⁽²⁷⁾	J Wound Care North American Supplement EUA	Inglês; série de casos
P16	Snyder RJ et al., 2023 ⁽²⁸⁾	Wounds; EUA	Inglês; consenso de especialistas

QE: Quase-experimental; Fonte: Dados da pesquisa, 2023.

Figura 4 - Resultado da utilização da Terapia do Coágulo Sanguíneo Autólogo no tratamento de lesões nos estudos quase-experimentais, estudos de caso e série de casos. Porto Alegre, RS, Brasil, 2023

Cod.	Objetivo	Local e ano do estudo	Amostra e tipo de lesão	Resultados
P1⁽¹³⁾	Avaliar a eficácia e segurança de um novo método usando um coágulo de sangue total autólogo	Israel; 2009/2010	Nove feridas (7 pacientes); LP estágio 3 ou 4 com mais de um mês de evolução,	Cicatrização completa de 7 (78%) feridas em até 7 semanas; Redução de 77% e 82% da área nas duas não cicatrizadas. Sem eventos adversos.
P2⁽¹⁴⁾	Avaliar a segurança e eficácia de um coágulo sanguíneo quando aplicado em úlceras neuropáticas crônicas do pé diabético	EUA; 2014/2016	Vinte pacientes iniciaram o protocolo e 18 finalizaram; úlcera do pé diabético	Pacientes que terminaram o protocolo tiveram cicatrização mais rápida do que os que foram excluídos. O tempo médio de cicatrização foi de 56 dias no tratamento completo e 59 nos demais. Dois eventos adversos, incluindo uma infecção no local.
P3⁽¹⁵⁾	Avaliar a eficácia da matriz autóloga no tratamento de úlceras do pé diabético e analisar a resposta com um scanner de infravermelho e um medidor de pH dérmico.	Porto Rico; 2020	Três pacientes; úlcera pé diabético com mais de 4 semanas de evolução, foram excluidos os que tinham evolução de mais de 9 meses.	Houve redução de 70% no tamanho das lesões após duas aplicações e 97,6% após três aplicações, assim como aumento na saturação de oxigênio nos tecidos. Não houve reações adversas.
P6⁽¹⁸⁾	Explorar o uso da TTCSA em feridas difíceis de cicatrizar	África do Sul e Israel; 2020/2021	Vinte e nove pacientes; pé diabético e úlcera vascular	Três lesões fecharam na semana 4 e mais 8 na semana 12. Na semana 14 três lesões atingiram o fechamento e as cinco restantes atingiram entre 93% e 97% de redução.
P7⁽¹⁹⁾	apresentação de um caso de reconstrução de tecido moles da mão	Não informa	Caso único; Ferimento por arma de fogo na mão	Após uma aplicação, o tamanho da ferida diminuiu 73% e o uso por 5 semanas possibilitou fechamento cirúrgico
P8⁽²⁰⁾	Apresentar um caso de terapia com ActiGraft, em uma lesão pé diabético com extenso tecido necrótico e exposição de estruturas	Não informado.	Caso único; Pé diabético	Ocorreu promoção de granulação cobrindo osso e tendão, redução de tecido necrótico e diminuição da área da ferida, ficando apta para enxerto.
P9⁽²¹⁾	Apresentar o tratamento com ActiGraft em feridas complexas com exposição de estruturas	Não informa	Três pacientes; lesões complexas e exposição de osso e tendão	Houve aumento da granulação, com cobertura de estruturas vitais e redução na área da ferida.
P10⁽²²⁾	Avaliar a eficácia do TCSA no tratamento de LP	Local não informa; 2021	Vinte e quatro pacientes; LP variando de estágio 1 a 4, em qualquer localização	Na semana 4, 86,3% dos pacientes excederam 40% da área de cicatrização e 8 (36,4%) tiveram cicatrização completa; Em 12 semanas houve cicatrização completa de 10 (45,5%) lesões.
P11⁽²³⁾	Avaliaram a eficácia da TCSA em úlceras do pé diabético	EUA e Israel Período não informado	Vinte e nove pacientes; úlcera do pé diabético	Vinte e dois pacientes (75,86%) atingiram 50% de área de cicatrização na semana 4; O fechamento completo foi obtido em 28 feridas (95%) na semana 12.
P12⁽²⁴⁾	Discutir as características do ActiGraft para controle da dor e no processo de cicatrização de feridas.	Não informado	Caso único; úlcera vascular com duração de um ano	Cicatrização 60% nas primeiras 6 semanas e completa após 16 semanas
P15⁽²⁷⁾	Apresentar a eficácia do ActiGraft em uma série de casos de feridas cirúrgicas de difícil cicatrização.	EUA e Israel Período não informado	Catorze pacientes; Feridas cirúrgicas complexas	Semana 4: redução da área de 72,33% e fechamento de 33,33%; Semana 12: cicatrização de 78,54% das feridas.

Fonte: Dados da Pesquisa, 2023

Dois estudos transversais avaliaram custo e comparação com outras terapias.

Os dados se encontram na Figura 5.

Figura 5 - Descrição dos estudos transversais com a Terapia do Coágulo Sanguíneo Autólogo em lesões. Porto Alegre, RS, Brasil, 2023.

Cod.

Objetivo

Resultados

P5⁽¹⁷⁾

Analisar o custo-efetividade de cinco (5) substitutos avançados da pele, comparando o TCSA com outras tecnologias

O ActiGraft foi mais econômico quando comparado aos outros produtos analisados, assim como mais efetivo na cicatrização.

P14 ⁽²⁶⁾

Comparar as considerações sociais e os custos financeiros do TCSA versus Terapia de Pressão Negativa no tratamento de úlceras do pé diabético na África do sul.

O TCSA possui custo semanal menor do que o vácuo nas lesões com menos e com mais exsudato. Em 12 semanas, a cicatrização foi de 75% para TCSA e 43% na TPN.

Fonte: Dados da Pesquisa, 2023

As pesquisas demonstraram a efetividade da TTCSA e custo reduzido em relação a outras terapias. Ainda compôs a amostra três publicações escritas pelos mesmos autores (P4⁽¹⁶⁾; P13⁽²⁵⁾; P16 ⁽²⁸⁾), os quais foram estudos teóricos e de revisão de literatura, sendo um com objetivo de identificar um potencial mecanismo de ação de um coágulo sanguíneo autólogo e dois referentes ao protocolo de utilização da terapia.

DISCUSSÃO

As feridas complexas tendem a progredir de forma lenta ou ter sua cicatrização interrompida por uma série de fatores intrínsecos e extrínsecos.^(29,30) Além dos acometimentos fisiológicos causados por este tipo de lesão, como dor, dificuldade de mobilidade e odor, há de se considerar os impactos psicossociais e econômicos causados aos doentes: custos relacionados aos curativos, dificuldades em manutenção das atividades diárias/profissionais; distúrbios psíquicos como problemas de autoimagem, depressão, ansiedade, por exemplo.^(31,32)

Esta revisão identificou 16 estudos sobre a TTCSA dos quais, 11 avaliaram a efetividade da terapia. Cinco estudos tiveram como população de interesse pacientes com pé diabético. ^{(14,15,18,20,23)} As publicações demonstraram cicatrização rápida, em 2 a 4 semanas, em média 57,5 dias⁽¹⁴⁾. Um ensaio clinico testou a terapia de oxigênio hiperbárica no mesmo tipo de lesão e obteve cicatrização em 78% dos pacientes do grupo intervenção, enquanto que nenhum paciente do grupo controle obteve fechamento completo (p = 0,001). Entretanto, a duração das lesões que utilizaram terapia foi de 8 meses, em média, demonstrando sucesso na cicatrização, porém de forma mais lenta do que a TTCSA⁽³³⁾.

Dentro da linha de utilização de tecidos humanos, um estudo avaliou a cicatrização de úlceras do pé diabético por meio da cobertura membrana amniótica, identificando 70% de lesões cicatrizadas em 6 semanas, quando comparados com 15% com o uso de desbridamento e tratamentos convencionais. (34) Estes resultados demonstram que uma série de fatores devem ser analisados ao indicar uma terapia, como custos e disponibilidade da tecnologia, medicamentos ou produtos, assim como a possibilidade da diversidade de respostas dos pacientes.

Pelos resultados apresentados nos estudos selecionados, úlceras vasculares^(18,24), lesão por pressão ^(12,22), lesão de ferimento por arma de fogo⁽¹⁹⁾, lesões complexas com exposição de estruturas⁽²¹⁾ e feridas cirúrgicas complexas⁽²⁷⁾ também apresentaram resultado positivo com o uso da TTCSA, mesmo quando comparado a tecnologias de ponta como a terapia por pressão negativa⁽³⁵⁾.

Evidencia-se que os estudos sobre TTCSA foram desenvolvidos com amostras pequenas, alguns com caso único, demonstrando que apesar de terem apresentado resultado efetivo no tratamento de lesões complexas, deixam a dúvida quanto ao poder amostral, impedindo a generalização dos resultados e sugerindo estudos mais robustos, como ensaios clínicos randomizados. Outro fato que chama a atenção nas publicações selecionadas é que alguns são oriundos de um mesmo estudo matricial, ou são de autoria de um mesmo grupo de pesquisadores, sugerindo que a amostra pode ter sido segmentada para fins de publicação.

Além disso, parte dos estudos encontrados foram desenvolvidos pela empresa que realizou o registro da TTCSA, a qual recebeu o nome de Actigraft, o que pode representar conflito de interesse e viés nos resultados.

Por outro lado, o grupo de estudos que desenvolveu a terapia se mostrou preocupado em padronizar a utilização do mesmo, como mostram os estudos P4^(16),P13^{(25) e}P16⁽²⁸⁾. O tratamento de lesões complexas requer conhecimento e profissionais especializados em tratamento de feridas e em terapias alternativas às convencionais. Desta forma, publicações de revisão, consenso de especialistas e protocolos de utilização de novas tecnologias podem contribuir na utilização de todo arsenal de tratamento disponível atualmente no mercado^(29,30).

Por fim, os estudos P4⁽¹⁷⁾ e P14⁽²⁶⁾ analisaram custos e concluíram que a utilização da TTCSA pode ter custo menor em relação a outros tratamentos. Tratamento de lesões complexas representam 1 a 3% de custos para os sistemas de saúde, o que justifica a necessidade de terapias menos onerosas. ⁽³⁶⁾Atualmente, o valor do tratamento com o TTCSA da marca Actigraft ainda é bastante elevado no Brasil, devido aos custos de importação. Considerando a média de tempo para cicatrização da lesão com uso do produto, evidenciada pelos estudos levantados, o custo total do tratamento é alto. Porém, ao considerarmos a dificuldade em tratar feridas complexas, o uso de terapias alternativas às convencionais é imperativo. Desta forma, é necessário buscar opções para a diminuição dos custos envolvidos no processo de importação.

Para maior confiabilidade e possível generalização dos dados no Brasil, sugere-se o desenvolvimento de estudos nacionais sobre custo-efetividade do produto, a serem conduzidos por pesquisadores sem conflitos de interesse. A realização de mais estudos comparativos com base metodológica sólida proporcionaria segurança na aplicabilidade do produto em larga escala.

CONCLUSÃO

Esta revisão cumpriu seu objetivo ao mapear e sumarizar as evidências científicas existentes sobre a TTCSA, revelando que a literatura aponta efetividade da terapêutica no tratamento de lesões complexas, oferecendo mais uma opção de tratamento.

No entanto, é importante ressaltar que os estudos são limitados em sua abrangência, tratando-se de estudos de caso, amostras pequenas ou divulgação em publicações diferentes de dados de um único estudo matricial, o que pode reduzir a generalização dos resultados encontrados. É necessário promover pesquisas nessa área para avaliar mais amplamente a eficácia e a segurança dessa terapia, a fim de oferecer um tratamento mais seguro e eficaz para pacientes com feridas crônicas.

Espera-se que este artigo incentive mais pesquisas e investimentos nessa área, a fim de aprimorar o tratamento de feridas complexas, visando oferecer uma melhor qualidade de vida aos pacientes afetados por essas condições.

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Contribuições dos autores

¹Rodrigues GC, ²Camargo LRL, ³Souza E, ⁴Mello DB, ⁵Ness MI, ⁶Cadotz GC, ⁷Macedo ABT.

^{1,2,3,4,5,6,7.} contribui substancialmente na concepção e/ou no planejamento do estudo; na obtenção, na análise e/ou interpretação dos dados; assim como na redação e/ou revisão crítica e aprovação final da versão publicada.