ARTIGO ORIGINAL
ANÁLISE DA SOBREVIDA DE PACIENTES SUBMETIDOS AS MANOBRAS DE RCP A PARTIR DO PROTOCOLO DE UTSTEIN
SURVIVAL ANALYSIS OF PATIENTS SUBMITTED TO CARDIOPULMONARY RESUSCITATION MANEUVERS
ANÁLISIS DE SUPERVIVENCIA DE PACIENTES SOMETIDOS A MANIOBRAS DE RCP BASADO EN EL PROTOCOLO DE UTSTEIN
https://doi.org/10.31011/reaid-2024-v.98-n.2-art.1772
1Sara Teixeira Braga
2Aline Sampaio Rolim de Sena
3Lucas Mateus Figueredo Nascimento
4Gabriela Duarte Bezerra
5Verônica Gomes de Lima
6Bianca Fernandes Marcelino
7João Marcos Ferreira de Lima Silva
8Woneska Rodrigues Pinheiro
1Enfermeira. Mestranda em Enfermagem pela Universidade Federal do Ceará, Fortaleza-CE, Brasil. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-0584-2800
2Mestranda em Enfermagem, Universidade Regional do Cariri, Crato-CE, Brasil. ORCID: http://orcid.org/0000-0002-7819-4170
3Discente de Enfermagem, Universidade Regional do Cariri, Crato-CE, Brasil. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-8745-3413
4Discente de Enfermagem, Universidade Regional do Cariri, Crato-CE, Brasil. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7472-4621
5Discente de Enfermagem, Universidade Regional do Cariri, Crato-CE, Brasil. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4337-3531
6Discente de Enfermagem, Universidade Regional do Cariri, Crato-CE, Brasil. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-5256-1550
7Graduado em Licenciatura Plena em Educação Física, Estatístico, Docente do Centro Universitário Leão Sampaio, Universidade Estácio de Sá. Faculdade de Medicina Estácio de Juazeiro do Norte. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2422-1305
8Dra. em Enfermagem, Docente da Universidade Regional do Cariri, Crato-CE, Brasil. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3353-9240
Autor correspondente
Sara Teixeira Braga
Rua. Av. Senador Fernandes Távora/Henrique Jorge, Fortaleza-CE, Brasil. CEP: 60510-290, Telefone: +55 (88)99716740. E-mail: sarinhatb2@gmail.com.
Submissão: 25-03-2023
Aprovado: 10-04-2024
RESUMO
Objetivos: Analisar a sobrevida de Pacientes submetidos às manobras de Ressuscitação Cardiopulmonar a partir do protocolo de Utstein. Métodos: Trata-se de um estudo de série de casos que incluem a descrição das características e desfechos entre indivíduos de um grupo com uma doença ou exposição, durante um período de tempo e sem grupo controle. Os dados foram coletados retrospectivamente, e não há randomização. O objetivo foi descrever a população e os desfechos, e não comparar riscos entre grupos. Resultados: Foram acompanhados sete procedimentos no período de setembro a dezembro de 2021, em turnos diurno e noturno, dos quais 85,7% dos pacientes em PCR foram conduzidos por médicos e 14,7% por enfermeiros. A respeito da sobrevida dos pacientes, o estudo enfatiza que não foi possível identificar os desfechos pós-PCR, ou mesmo a alta hospitalar baseando-se ao protocolo Utstein, devido todos os setes participantes apresentarem óbito recorrente a intervalos menores que 48 horas. Conclusão: O prognóstico da PCR na casuística estudada foi ruim, uma vez que não foi possível identificar os desfechos pós-PCR, ou mesmo a alta hospitalar baseando-se ao protocolo. O estudo enfatiza que é fundamental que mais estudos sejam produzidos a respeito do protocolo, ressaltando-se ainda o aperfeiçoamento e a inclusão do questionário na prática hospitalar, para que assim possamos obter resultado fidedigno, analisando fragilidades do processo e propondo estratégias de melhorias.
Palavras-chave: Protocolo; Paciente; Ressuscitação Cardiopulmonar; Equipe.
ABSTRACT
Objectives: To analyze the survival of patients undergoing Cardiopulmonary Resuscitation maneuvers using the Utstein protocol. Methods: This is a case series study that includes the description of characteristics and outcomes among individuals in a group with a disease or exposure, over a period of time and without a control group. Data were collected retrospectively, and there is no randomization. The objective was to describe the population and outcomes, and not to compare risks between groups. Results: Seven procedures were monitored from September to December 2021, in day and night shifts, of which 85.7% of patients undergoing PCR were conducted by doctors and 14.7% by nurses. Regarding patient survival, the study emphasizes that it was not possible to identify post-PCR outcomes, or even hospital discharge based on the Utstein protocol, due to all seven participants presenting with recurrent death at intervals of less than 48 hours. Conclusion: The prognosis of CRA in the case series studied was poor, since it was not possible to identify post-CRA outcomes, or even hospital discharge based on the protocol. The study emphasizes that it is essential that more studies be produced regarding the protocol, also highlighting the improvement and inclusion of the questionnaire in hospital practice, so that we can obtain reliable results, analyzing weaknesses in the process and proposing improvement strategies.
Keywords: Protocol; Patient; Cardiopulmonary Resuscitation; Team.
RESUMEN
Objetivos: Analizar la supervivencia de pacientes sometidos a maniobras de Reanimación Cardiopulmonar mediante el protocolo de Utstein. Métodos: Se trata de un estudio de serie de casos que incluye la descripción de características y resultados entre individuos de un grupo con una enfermedad o exposición, durante un período de tiempo y sin un grupo de control. Los datos se recopilaron de forma retrospectiva y no hay aleatorización. El objetivo era describir la población y los resultados, y no comparar riesgos entre grupos. Resultados: Se monitorearon siete procedimientos de septiembre a diciembre de 2021, en turnos diurno y nocturno, de los cuales el 85,7% de los pacientes sometidos a PCR fueron realizados por médicos y el 14,7% por enfermeros. En cuanto a la supervivencia de los pacientes, el estudio enfatiza que no fue posible identificar los resultados posteriores a la PCR, ni siquiera el alta hospitalaria según el protocolo de Utstein, debido a que los siete participantes presentaron muertes recurrentes en intervalos de menos de 48 horas. Conclusión: El pronóstico de la PCR en la serie de casos estudiada fue malo, ya que no fue posible identificar los resultados post-PCR, ni siquiera el alta hospitalaria según el protocolo. El estudio destaca que es fundamental que se realicen más estudios sobre el protocolo, destacando también la mejora e inclusión del cuestionario en la práctica hospitalaria, para que podamos obtener resultados fiables, analizando debilidades en el proceso y proponiendo estrategias de mejora.
Palabras clave: Protocolo; Paciente; Reanimación cardiopulmonar; Equipo.
INTRODUÇÃO
A Parada Cardiorrespiratória (PCR) é definida como a cessação da atividade mecânica do coração, confirmada pela ausência de sinais de circulação. Pode ocorrer como uma intercorrência inesperada ou como uma evolução do quadro clínico de um paciente em estado grave, configurando uma situação de iminência de morte. (1).
As doenças cardiovasculares (DCV) constituem atualmente um importante grupo de causas de óbito no Brasil e no mundo. De acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia, até o primeiro dia de julho de 2020, as DCV causaram mais de 198.000 óbitos entre os brasileiros. Essas doenças incluem as doenças isquêmicas do coração, que são as principais causas de PCR (2,3).
Segundo o Cardiômetro, indicador do número de óbitos por DCV criado pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), entre 2004 e 2014, as doenças isquêmicas constituíram o grupo com maior prevalência de eventos de óbito por DCV (2). No entanto, os dados na literatura sobre a incidência de PCR no Brasil são escassos, o que ressalta o impacto desse evento na mortalidade dos indivíduos (4,5).
Os procedimentos adotados para a Ressuscitação Cardiopulmonar (RCP) devem ser coordenados e executados por profissionais de saúde, como médicos e enfermeiros, que devem assumir ações articuladas, integradas e contínuas. Para tanto, é essencial que esses profissionais estejam bem treinados e utilizem uma abordagem sistematizada (6).
Nesse contexto, devido à dificuldade de verificar a efetividade da RCP intra-hospitalar, foi criado em 1997, durante uma conferência na antiga cidade de Utstein, na Noruega, um modelo de registro para PCR, denominado "Utstein Style" (7).
O estilo Utstein (7) é um guia que orienta sobre os elementos essenciais e desejáveis a serem coletados durante o atendimento à PCR. Avansi realizou a tradução e validação para a língua portuguesa em 2007. Seus dados possibilitam especificar as taxas de sobrevida e os resultados dos atendimentos por meio de variáveis coletadas e discriminadas em um relatório padrão de registro individual de RCP dos pacientes vítimas de PCR no ambiente intra-hospitalar (7).
O correto preenchimento desse relatório possibilita a análise de cada etapa da assistência prestada ao paciente e a qualidade desse atendimento. Além disso, torna possível avaliar as condições neurológicas do paciente na alta e acompanhá-lo ao longo do tempo para conhecer a sua sobrevivência (8).
Neste contexto, a questão norteadora do presente estudo foi: Qual é a eficácia da técnica de RCP empregada para pacientes no serviço de emergência, seguindo o protocolo Utstein (7), e como podem ser identificadas e melhoradas as inconsistências nos esforços de reanimação cardiopulmonar?
Desse modo, para responder a pergunta de pesquisa, objetiva-se identificar qual a taxa de sobrevida de pacientes submetidos a manobras de RCP conforme o protocolo de Utstein (7)?
MÉTODOS
Trata-se de um estudo de série de casos que incluem a descrição das características e desfechos entre indivíduos de um grupo com uma doença ou exposição, durante um período de tempo e sem grupo controle (9).
Os dados foram coletados retrospectivamente ou prospectivamente, e não há randomização. O objetivo é descrever a população e os desfechos, e não comparar riscos entre grupos. A série de casos também é um delineamento de estudo apropriado para descrever novos tratamentos, eventos adversos medicamentosos anteriormente desconhecidos e doenças raras. Nesse contexto, séries de casos são especialmente importantes quando surge uma nova doença ou tratamento, pois fornecem informações descritivas e contribuem para a construção de conhecimento e a geração de hipóteses (9).
Critérios de Inclusão
Para a avaliação da qualidade metodológica de séries de casos, a amostra foi composta por indivíduos que atendiam os seguintes critérios de inclusão: Pacientes de ambos os sexos, vítimas de PCR intra-hospitalar de qualquer etiologia e que foram submetidos a manobras de RCP, em um período de quatro meses, internados no setor de reanimação de emergência de um Hospital do interior do Ceará, Brasil.
Foram excluídas deste estudo as vítimas de traumatismos cranianos graves, aqueles considerados fora de possibilidades terapêuticas e os casos em que as manobras de reanimação não tenham sido iniciadas.
Coleta de dados
Realizou-se a coleta de dados por meio de uma observação sistemática, guiada pelo protocolo de registro Utstein (7), durante e após um procedimento de RCP. A observação sistemática foi realizada em dias úteis em período diurno e noturno.
A coleta foi instrumentalizada pelo protocolo, onde as variáveis estudadas pelo referido protocolo foram: identificação do paciente, dispositivos pré-existentes na parada, condições clínicas antes e após o evento, causas imediatas, tentativa de ressuscitação, ritmo inicial, horário dos eventos associados à PCR, drogas utilizadas, variáveis de seguimento e mortalidade.
Organização e análise dos dados
A partir do registro das informações de interesse na ficha de coleta de dados, foi confeccionado um banco de dados no programa Microsoft Word Excel (versão 2016) e posteriormente transferido para o programa estatístico Jamovi (versão 2.0), a partir do qual foram realizadas análises descritivas mediante obtenção dos valores de média, desvio padrão, frequência absoluta (n) e relativa (%), apresentando estes resultados na forma de tabela, destacando que não foram registradas no banco de dados informações que poderiam levar a identificação individual dos pacientes.
Destaca-se, que o trabalho foi aprovado por um Comitê de Ética em Pesquisa, e os familiares dos pacientes assinaram os termos de consentimento livre e esclarecido que segue em conformidade com o descrito na resolução 466/2012, com o número de parecer: 4.877.919.
RESULTADOS
Foram acompanhados sete procedimentos no período de setembro a dezembro de 2021, em turnos diurno e noturno, dos quais 85,7% dos pacientes em PCR foram conduzidos por médicos e 14,7% por enfermeiros. Observou-se que dos atendimentos, 28,6% resultaram em óbito, sendo todos associados à causa imediata “desconhecida”.
Na casuística dos sete pacientes estudados, a idade variou de 18 a 96 anos, com média e desvio padrão de 53 ± 28 anos. Quanto ao sexo, a análise do protocolo foi composta por quatro mulheres e três homens.
Avaliando os sete episódios de PCR, a maioria ocorreu durante o período diurno, representando 85,7% dos episódios. Foi identificado o ritmo inicial em episódios de PCR (considerando-se os episódios de recorrência de PCR), sendo a Assistolia o ritmo mais encontrado em 71,4%, seguido do ritmo de Atividade Elétrica sem Pulso (AESP), detectado em 28,6% dos episódios. Em relação à variável de tentativa de reanimação, em todos os episódios foram realizadas compressões torácicas (100%), enquanto a desfibrilação foi realizada em 42,9% dos episódios e somente 28,6% foram submetidos à abertura das vias aéreas.
Em relação à variável de tentativa de Ressuscitação Cardiopulmonar (RCP), em todos os episódios foram realizadas compressões torácicas (100%), e medicamentos foram administrados em 85,7% dos casos, devido à recuperação do paciente com os procedimentos de desfibrilação e/ou compressão torácica.
Observa-se ainda que, em apenas 14,3% dos episódios, não houve informação sobre a utilização de medicamentos durante a RCP. Quanto à medicação mais utilizada, a adrenalina e o bicarbonato tiveram maior destaque, correspondendo a 85,7%, e a glicose apresentou um percentual de 42,9% dos pacientes. Em relação à dosagem de adrenalina, todos os casos utilizaram dose acima de 3 mg.
No que se refere à variável de retorno da circulação espontânea (RCE) 71,4% apresentaram desfecho imediato. Em relação à RCP e a evolução do paciente, o estudo ressalta que não houve nenhuma associação entre o período do dia, no qual ocorreu a PCR, como também não teve impacto das variáveis categóricas em destaque à idade, causa-imediata, período e horário do evento, intervalos de tempo de procedimentos e duração da PCR.
A respeito da sobrevida dos pacientes, o estudo enfatiza que não foi possível identificar os desfechos pós-PCR, ou mesmo a alta hospitalar, com base no protocolo Utstein (7), devido a todos os sete participantes terem apresentado óbito recorrente a intervalos menores que 48 horas. Os dados descritos encontram-se na Tabela 1.
Tabela 1 - Variáveis relacionadas aos 07 episódios de parada cardiorrespiratória e ressuscitação cardiopulmonar.
Variável |
Categorias |
Geral |
Imediata – RCE (71,4% - n = 5) |
Óbito (28,6% = n=2) |
|||
IDADE (MD / DP) |
Média (Desvio padrão) |
53 (28) |
56 (31) |
47 (31) |
|||
|
|
n |
% |
n |
% |
n |
% |
CAUSA IMEDIATA |
Arritmia letal |
1 |
14,3 |
1 |
20,0 |
0 |
0,0 |
|
Desconhecida |
6 |
85,7 |
4 |
80,0 |
2 |
100,0 |
TENTATIVA DE RCP |
Compressões torácicas |
7 |
100,0 |
5 |
100,0 |
2 |
100,0 |
|
Desfibrilação |
3 |
42,9 |
2 |
40,0 |
1 |
50,0 |
|
Abertura das Vias Aéreas |
2 |
28,6 |
1 |
20,0 |
1 |
50,0 |
RITMO INICIAL |
Assistolia |
5 |
71,4 |
3 |
60,0 |
2 |
100,0 |
|
Atividade Elétrica sem Pulso – AESP |
2 |
28,6 |
2 |
40,0 |
0 |
0,0 |
PERIODO DO EVENTO (HORAS) |
Diurno |
6 |
85,7 |
5 |
100,0 |
1 |
50,0 |
|
Noturno |
1 |
14,3 |
0 |
0,0 |
1 |
50,0 |
MEDICACAO |
Adrenalina |
6 |
85,7 |
5 |
100,0 |
1 |
50,0 |
|
Atropina |
1 |
14,3 |
1 |
20,0 |
0 |
0,0 |
|
Bicarbonato |
6 |
85,7 |
5 |
100,0 |
1 |
50,0 |
|
Dobutamina |
1 |
14,3 |
1 |
20,0 |
0 |
0,0 |
|
Gluconato de cálcio |
1 |
14,3 |
1 |
20,0 |
0 |
0,0 |
|
Glicose |
3 |
42,9 |
2 |
40,0 |
1 |
50,0 |
|
Vasopressina |
1 |
14,3 |
1 |
20,0 |
0 |
0,0 |
|
Norepinefrina |
1 |
14,3 |
1 |
20,0 |
0 |
0,0 |
|
Nenhuma |
1 |
14,3 |
0 |
0,0 |
1 |
50,0 |
PROVEDOR DA RCP |
Enfermeiro |
1 |
14,3 |
0 |
0,0 |
1 |
50,0 |
|
Médico |
6 |
85,7 |
5 |
100,0 |
1 |
50,0 |
|
Fisioterapeuta |
0 |
0,0 |
0 |
0,0 |
0 |
0,0 |
|
Auxiliar/Tec. de Enfermagem |
0 |
0,0 |
0 |
0,0 |
0 |
0,0 |
PCR: parada cardiorrespiratória; RCE: retorno da circulação espontânea;
DISCUSSÃO
Quando a PCR é evidenciada no cenário intra-hospitalar, Esta influencia intrinsecamente na sobrevida do paciente, especialmente quando contida pela aplicação do Suporte Básico de Vida (SBV) e Suporte Avançado de Vida (SAV). Diante desse quadro, os sinais vitais apresentam anormalidades e tornam-se instáveis, o que pode servir como preditor
(10).
Partindo dessa premissa, segundo autores (11), a clientela internada que recebeu o atendimento de RCP devido à PCR intra-hospitalar apresentaram 50% do Retorno da Circulação Espontânea (RCE). Nesse ambiente, a ação precoce de reconhecimento e aplicabilidade da RCP é um grande indicador relacionado ao bom prognóstico.
Corroborando com esse fato, ao analisar a sobrevida na presença de RCP extra-hospitalar, mediante o atendimento pela Unidade de Suporte Avançado do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), a taxa de sobrevida imediata oscilou de 20% a 25%. Embora esses dados sejam desanimadores, eles comprovam que a área intra-hospitalar favorece um melhor prognóstico (12,13).
No que diz respeito ao sexo, destacou-se uma prevalência maior em mulheres; no entanto, devido à limitação de dados, a quantidade de PCR em sexo masculino se aproximou do valor feminino. Com base na literatura, estudos nacionais e internacionais mostram proporções maiores de paradas cardiorrespiratórias em públicos masculinos, com taxas que podem variar de 54% a 64%. Em relação às idades, o presente estudo abrangeu pacientes entre 18 e 96 anos. Frente às buscas bibliográficas, pacientes cardiopatas e com infarto agudo do miocárdio apresentam idade mais avançada, o que aumenta as chances de evolução para PCR (14,15).
Ao analisar o perfil clínico de pacientes em PCR de acordo com o protocolo Utstein (7), observam-se resultados sobre a influência do sexo na PCR, indicando que há uma maior sobrevida dos homens na análise multivariada. No entanto, em relação ao prognóstico neurológico, o sexo feminino obteve melhores resultados entre os sobreviventes (16).
Diante do ritmo inicial da PCR, resultados similares também foram reportados. Com base na auditoria de parada cardíaca do Reino Unido, a maioria dos pacientes com parada cardíaca intra-hospitalar era do sexo masculino (57,2%), e a média de idade era de 73,9 anos. A maioria dos pacientes tinha ritmo inicial não chocável (72,3%), e a sobrevivência até a alta hospitalar foi melhor para os ritmos chocáveis do que para os não chocáveis (49% versus 10,5%) (17).
Conforme dados da "Atualização da Diretriz de Ressuscitação Cardiopulmonar e Cuidados Cardiovasculares de Emergência da Sociedade Brasileira de Cardiologia", a assistolia e a Atividade Elétrica sem Pulso (AESP) são os ritmos mais recorrentes no ambiente intra-hospitalar e que apresentam as piores taxas de sobrevida, com classificação inferior a 17% (17).
As drogas utilizadas neste estudo foram observadas durante as reanimações, e as mais utilizadas durante a assistência foram: adrenalina, bicarbonato de sódio e glicose. O bicarbonato de sódio tem efeito inotrópico negativo no miocárdio isquêmico, enquanto a adrenalina faz parte do grupo das catecolaminas e atua como droga vasoativa, promovendo vasoconstrição mediada pelos receptores α-adrenérgicos. A glicose é administrada juntamente com o esquema de bicarbonato em casos de hipercalemia. O esquema de administração inclui 10 UI de insulina regular, pois esse mecanismo facilita a passagem do potássio para o meio intracelular, a fim de evitar hipoglicemia
(18).
Em um estudo observacional prospectivo nacional com 89 pacientes, observou-se que as drogas mais utilizadas durante as reanimações foram adrenalina, destacando-se com maior frequência de uso durante os atendimentos, com doses variando de 1 a 32 mg (média de 6,2 mg). A atropina foi utilizada na dose de 0,5 a 4 mg (média de 1,5 mg). Apesar das resoluções da American Heart Association (AHA) afirmarem que a atropina possui baixa taxa de sobrevivência durante seu uso, o uso de adrenalina na RCP foi identificado como fator preditor associado à melhor sobrevivência imediata e após os seis meses da alta (19).
Diante da primazia da PCR, assim como em qualquer assistência que se preze pelo cuidado do paciente, em situações de parada, não se faz diferente. É de suma importância que a equipe seja eficiente nas ações, desde a identificação até o pós-parada. Todas as condutas devem ser realizadas prezando pelo cuidado e com o mínimo de interrupções, possibilitando melhores chances de sobrevida ao paciente (20).
CONCLUSÃO
Foram estudados 07 pacientes com idade média e desvio padrão de 53 ± 28 anos, sendo a maioria do sexo feminino, que apresentaram PCR e foram submetidos às manobras de RCP. Em relação à causa imediata, a maioria foi do tipo desconhecida, havendo apenas um caso de arritmia letal, e o ritmo inicial mais comum foi a Assistolia, seguido pelo ritmo de AESP.
No que se refere à duração das manobras de ressuscitação, foi observado que nas mulheres foi maior do que nos homens. O prognóstico da PCR na casuística estudada foi ruim, uma vez que não foi possível identificar os desfechos pós-PCR, nem mesmo a alta hospitalar, resultando em óbito recorrente em intervalos menores que 48 horas em todos os casos.
Aponta-se como limitações desse estudo o quantitativo pequeno da amostra dos participantes, evidenciando uma fragilidade na publicação de evidências referentes à sobrevida de Pacientes submetidos ás manobras de RCP a partir do protocolo. O estudo evidencia que de fato é essencial avaliar a técnica de Ressuscitação Cardiopulmonar empregada para pacientes no serviço de emergência, para que, identificando inconsistências nos esforços de reanimação, estratégias de melhorias sejam estabelecidas.
Em suma, é fundamental, que mais estudos sejam produzidos a respeito do protocolo. Ressalta-se também o aperfeiçoamento e a inclusão do questionário na prática hospitalar, para que assim possamos analisar as fragilidades do processo e propor estratégias de melhorias, com treinamentos, utilizando o instrumento, e assim avaliar a qualidade da RCP com intervenções e programas computacionais que facilitem a autoaprendizagem.
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Contribuição dos autores
Sara Teixeira Braga: Concepção e desenho da pesquisa, obtenção e redação dos dados
Aline Sampaio Rolim de Sena: Análise e interpretação dos dados
Lucas Mateus Figueredo Nascimento: Análise e interpretação dos dados
Gabriela Duarte Bezerra: Análise e interpretação dos dados
Verônica Gomes de Lima: Análise e interpretação dos dados
Bianca Fernandes Marcelino: Análise e interpretação dos dados
João Marcos Ferreira de Lima Silva: Análise estatística
Woneska Rodrigues Pinheiro: Revisão crítica do manuscrito quanto ao conteúdo intelectual importante
Editor Científico: Ítalo Arão Pereira Ribeiro. Orcid: https://orcid.org/0000-0003-0778-1447
Editor Associado: Edirlei Machado dos-Santos. Orcid: https://orcid.org/0000-0002-1221-0377