INTRODUÇÃO
Este estudo tem como propósito apresentar as contribuições de Edgar Morin e a complexidade do seu pensamento, referente à capacitação do enfermeiro recém-formado e sua interrelação com a religação de saberes interdisciplinares no ambiente hospitalar de ensino, rompendo um modelo de formação fragmentado de ensino, rompendo um modelo de formação e médico-centrado na busca pela integralidade das ações do ensino na saúde e o estabelecimento do campo de prática hospitalar como o melhor local para a articulação (1).
Como estratégia de capacitação profissional, tendo como proposta promover a qualificação do enfermeiro para a atuação no sistema único de saúde (SUS), proporcionando nestes espaços desenvolver o conhecimento crítico-reflexivo ao vivenciar práticas significativas no processo de aprendizado profissional.
O trabalho laboral do enfermeiro é um processo considerado complexo, que envolve à necessidade de desempenhar uma adversidade de atividades gerenciais e assistenciais, determinando a tomada de decisão adequada e rápida, dada a dinâmica própria de resolução mesmo diante da complexidade da realidade do mundo profissional (2). Cabe ao enfermeiro recém-formado compreender que o mundo real, diferentemente do mundo acadêmico experenciado até a graduação, é complexo e inexplorado por ele até o momento. Assim, é preciso reconhecer que o movimento e a evolução que se necessita nesta etapa virão com o passar do tempo e com a experiência adquirida (3).
Neste sentido, corrobora-se que o ensino-aprendizagem está pautado na transmissão de conteúdo, apenas com a educação bancária já não permite a transformação de saberes necessários para modificar as situações-problemas nas práticas de serviços, cabendo ao recém-formado a superação de tais paradigmas para, efetivamente, cada vez mais se capacitar e possibilitar que a qualidade do cuidado nos ambientes de trabalho seja ampliada (4).
Sendo assim, o cotidiano do trabalho destaca-se como cenário de integração ensino-serviço-comunidade, a fim de que o enfermeiro possa vivenciar, a partir das interrelações entre equipes de saúde, gestores e demais profissionais, a integração da produção de conhecimento novo e qualificando o ensino-serviço para atender às reais necessidades da comunidade (5).
O profissional de enfermagem vem ascendendo e sendo fortalecido pelas bases científicas, sendo reconhecido pelo seu impacto no desenvolvimento social, auxiliando de forma efetiva à melhoria da atenção à saúde (6).
Dessa forma, compreender os aspectos da teoria da complexidade centrais, considerando sua influência “antropoética” com a educação, ensino-aprendizagem foi elencado para análise teórico-reflexiva: a introdução do pensamento complexo (7).
O processo ensino-aprendizagem comprova-se como essencial, pois permite que ambos participantes, tanto quem aprende quanto quem ensina, possa desfrutar e trabalhar com estruturas cognitivas, desenvolvendo a reflexão; assim, criando possibilidade ao mesmo tempo em que perpassa diferentes campos científicos. Morin considera que a "filosofia identifica a prática da sabedoria com um autêntico saber-viver."(7).
MÉTODOS
O estudo foi desenvolvido durante o doutorado do Programa de Pós-Graduação em Ciências do Cuidado em Saúde (PACCS), da Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa (EEAAC), da Universidade Federal Fluminense (UFF), no Brasil. Por meio de uma revisão integrativa e um estudo descritivo, com a avaliação da prática como caminho para repensar a formação do enfermeiro recém-formado, tendo como base teórico-metodológica a questão dos saberes e o pensamento complexo proposto por Edgar Morin.
A presente produção teórica caracteriza-se como abordagem qualitativa devido à interpretação e análise dos elementos teóricos, dividida em dois eixos temáticos: interdisciplinaridade, uma necessidade na formação do profissional da saúde e repensando a realidade do ensino-serviço na perspectiva de Edgar Morin (8).
DISCUSSÃO
O pensamento complexo é uma maneira de repensar a realidade e a educação. Demonstra uma forma de sair de um padrão de pensamento cartesiano, que leva à fragmentação do conhecimento. Neste pensamento, a complexidade é o tecido de acontecimentos, ações, interações, retroações e determinações que constituem o nosso mundo (8).
Aqui, a interdisciplinaridade pode significar troca e cooperação. A multidisciplinaridade constitui uma associação de disciplinas por conta de um projeto ou de um objeto que lhes sejam comuns. No que concerne a transdisciplinaridade, os esquemas cognitivos frequentes podem atravessar as disciplinas; considera-se, de fato, que os complexos são "inter-multi-trans-disciplinaridade" e realizaram um fecundo papel na história das ciências (8).
Ao considerar igualmente o pensamento racional, lógico e científico ao mítico e simbólico, se estabelece o pensamento complexo como requisito para o exercício da interdisciplinaridade. Visa mover, conjugar, articular os diversos saberes compartimentados nos mais variados campos do conhecimento sem perder a essência e as particularidades, e permite religar sujeito e objeto, matéria e espírito, natureza e cultura, objetividade e subjetividade, arte, ciência e filosofia.
Sendo assim, os pensamentos vão ao encontro das necessidades do ensino do profissional de saúde, onde o indivíduo é considerado no seu contexto histórico, social e cultural, assim como a equipe de saúde que o assiste e leva em conta os aspectos interdisciplinares mobilizados para atender às necessidades de cada usuário do sistema de saúde.
A desfragmentação do pensamento e análise do paciente como um ser com suas complexidades, leva o enfermeiro recém-formado a estar preparado para o atendimento de pessoas em diversos ambientes dentro do SUS. Colocando-o frente à realidade social com o desenvolvimento de programas de ensino clínico baseado nas comunidades, faz parte da visão do futuro da educação em escolas de saúde. A integração ensino-serviço-comunidade faz parte do processo de formação dos acadêmicos de enfermagem, mediante os estágios curriculares, e atividades de ensino, pesquisa e extensão, e, assim, preparar enfermeiros para a prática independente (9).
A formação de profissionais da área da saúde voltadas para o atendimento da comunidade com competência, analisa o paciente dentro do seu contexto social e suas complexidades (10).
Um importante objetivo da educação é melhorar a competência, em qualquer área que seja. Portanto, gerar maior confiança do enfermeiro recém-formado sem uma ampla evidência sobre a eficácia de aprendizado além da graduação, a fim de suplementar educação tradicional baseada na escola para alcançar um profissional globalmente treinado é um diferencial imprescindível (11).
O pensamento criativo se faz necessário para resolver os diversos desafios que os cuidados em enfermagem no sistema de distribuição enfrentam no atendimento das necessidades da população (12). Além de um olhar holístico para o novo aprendizado, mostra a realidade do atendimento fora da sala de aula e proporciona vivências com conhecimentos práticos do cotidiano no contexto social.
O aprendizado baseado em problemas e exposição clínica, assim como uma abordagem centrada no paciente, gera habilidades de comunicação, trabalho em equipe e usuários do SUS necessários para uma prática reflexiva, percebidos como pontos fortes, e ainda fornecem uma compreensão mais profunda dos méritos e desafios entre os profissionais de saúde, refletindo na capacitação dos profissionais de graduação de enfermagem de forma inovadora (13-4).
Através do ensino que busca uma visão do todo, tanto no aspecto físico como social, valida-se uma forte contribuição para a formação de profissionais mais preparados para a realidade, bem como humanizados, tornando importante a interdisciplinaridade no sentido de pensamento complexo e transformando, assim, a realidade da educação.
Ao demonstrar receptividade com o enfermeiro recém-formado, competência didático-pedagógica e segurança no trabalho, atua como facilitador do processo ensino-aprendizagem. Ela se apoia nas atividades que desenvolve com os demais profissionais no cotidiano do trabalho, portanto, deve ser entendida como condição necessária para a integração ensino-serviço-comunidade no e para o SUS, não restringindo-se à função técnica ou à prática clínica. A integração busca, ainda, o alcance de uma sociedade menos desigual, mais humana, politizada e o mais democrática possível (15).
A inserção do enfermeiro no processo de formação do profissional de saúde traz uma nova perspectiva na abordagem do processo ensino-aprendizagem, sendo importante para o fortalecimento do vínculo com a comunidade. Os trabalhadores compreendem a integração do ensino-serviço como ferramenta que potencializa as ações já desenvolvidas e a importância da construção de um cenário de aprendizagem que dê espaço à reflexão e ao planejamento de ações (16).
As inseguranças vivenciadas pelo enfermeiro recém-formado ao se deparar com um paciente complexo em situações adversas, na qual se faz necessária a tomada de decisões em equipe, o leva a refletir sobre a complexidade do ser humano e o torna um profissional apto a ver o paciente em todo seu contexto, se tornando capaz de entender e fazer parte da equipe multidisciplinar (17).
Considera-se que a complexidade da vida envolve a interrelação entre os objetos, bem como as interações existentes entre eles, avaliando o ser humano, seus conhecimentos, diversidades, subjetividades, questões econômicas, entre outros que estão inseridos nessa abordagem. Surge um novo olhar sobre o conhecimento e as consequências educativas epistemológicas e éticas (18).
A reflexão do pensamento complexo leva à discussão sobre a diversidade humana, o diálogo entre parceiros ou atores sociais, reconhecendo as semelhanças e diferenças instituídas que estão interrelacionadas na complexidade do ser humano e nas relações de saúde. Explicar não basta para compreender. Explicar é utilizar todos os meios objetivos de conhecimento, que são, porém, insuficientes para compreender o ser subjetivo (19).
As contribuições desta reflexão para o campo da saúde referem-se à análise das potencialidades do profissional em formação ou em processo de capacitação e sua adaptação às necessidades de cuidados complexos dos pacientes, transformando o modo de ensino na saúde.
Observa-se uma lacuna na formação técnica do enfermeiro evidenciando as deficiências do estudo relativo a diversas teorias que possa facilitar, orientar as práticas clínicas dos profissionais de enfermagem recém-formado.
CONCLUSÕES
Este estudo permite demonstrar a importância do estabelecimento do pensamento complexo no ensino da saúde por parte do preceptor, onde ele é o mediador do processo ensino-aprendizagem ao apresentar para o discente a realidade do atendimento em saúde.
O ensino na saúde, por sua inerente complexidade, pode usufruir dos conceitos de Morin e estabelecer paralelos entre os pressupostos, ensino acadêmico e a prática, nos referenciais do filósofo e na perspectiva do pensamento complexo, que faz repensar a realidade em conjunto sob a ótica da inter transdisciplinaridade.
O campo de ensino-aprendizagem é compreendido como o local de integração ensino-serviço-comunidade, e mostra a importância da construção de um ambiente de aprendizagem reflexivo que deve colocar em prática os ensinamentos em um atendimento e avaliar as diferentes realidades, tendo como princípio o pensamento complexo de Edgar Morin, que faz repensar a realidade e a educação em saúde nas instituições de saúde.
Como contribuições acredita-se que essa reflexão analítica irá contribuir e ajudará no empoderamento dos enfermeiros recém-formados de enfermagem ao assistir e cuidar como uma atitude proativa com liberdade, responsabilidade e comprometimento com o ser humano no âmbito do SUS.
REFERÊNCIAS
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Fomento: não há instituição de fomento
Editor Científico: Francisco Mayron Morais Soares. Orcid: https://orcid.org/0000-0001-7316-2519
Rev Enferm Atual
In Derme 2023;97(2):e023102