ARTIGO ORIGINAL

IMPACTO DA PANDEMIA NA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA: UM ESTUDO DE CASO

IMPACTS OF THE PANDEMIC ON UNIVERSITY EXTENSION: A CASE STUDY

IMPACTOS DE LA PANDEMIA EN LA EXTENSIÓN UNIVERSITARIA: UN ESTUDIO DE CASO

https://doi.org/10.31011/reaid-2024-v.98-n.3-art.1911

1Yan Zi li Figueiredo Tem

2Fernanda Costa Guedes

3Magda Guimarães de Araujo Faria

4Cristiane Helena Gallasch

5Tatiana Cabral da Silva Ramos

6Gabriel Santos da Silva

 

1Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro (RJ-Brasil). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8587-6460.

2Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro (RJ-Brasil). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8050-3833.

3Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro (RJ-Brasil). ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9928-6392.

4Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro (RJ-Brasil). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-0823-0818.

5Universidade Estácio de Sá. Rio de Janeiro (RJ-Brasil). ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1385-2029.

6Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro (RJ-Brasil). ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7853-9995.

 

Autor correspondente

Magda Guimarães de Araujo Faria

Avenida Boulevard 28 de setembro, 157. Vila Isabel, Rio de Janeiro – RJ. CEP: 20.551-030. Telefone: +55 21 9 8881-0216.

E-mail: magda.faria@uerj.br

 

Submissão: 28-06-2023

Aprovado: 25-08-2024

 

RESUMO

Introdução: A promoção da saúde no ambiente universitário enfrenta algumas complexidades devido às demandas acadêmicas e, consequentemente, à negligência do bem-estar coletivo, no entanto, a extensão universitária surge como uma estratégia promissora, buscando estabelecer uma relação simbiótica entre Ensino, Pesquisa e Extensão. Objetivo: Promover uma reflexão sobre os efeitos da pandemia dentro do comportamento extensionista de uma Universidade pública, observando um comparativo do período anterior à pandemia e posterior ao consequente isolamento. Métodos: Estudo de caso documental com análise qualitativa descritiva. Os dados foram coletados abril de 2023 e correspondem aos períodos de 2019 e 2022. Utilizou-se como base teórica desta análise, os preceitos e âmbitos de atuação das Universidades Promotoras da Saúde.  Resultados: A coleta de dados resultou em uma amostra final de 812 e 1039 projetos respectivamente aos anos analisados. A amostra final resultou em 16 e 13 projetos respectivamente. Observou-se que todos os projetos estão relacionados ao âmbito de atuação intitulado “Promover o bem-estar dos funcionários, desenvolvendo e aplicando conhecimentos na missão científica e tecnológica”.  Conclusão: Ao comparar os períodos estudados, os efeitos da pandemia foram capazes de estimular o comportamento extensionista, evidenciado por aumento consubstancial dos projetos, em especial, aqueles voltados para a promoção da saúde e do bem-estar no âmbito universitário.

Palavras-chave: Universidades; Promoção da Saúde; Saúde Ocupacional.

 

ABSTRACT

Introduction: Health promotion in the university environment faces some complexities due to academic demands and, consequently, the neglect of collective well-being, however, university extension emerges as a promising strategy, seeking to establish a symbiotic relationship between Teaching, Research and Extension. Objective: To promote a reflection on the effects of the pandemic within the extensionist behavior of a public University, observing a comparison between the period before the pandemic and after the consequent isolation. Methods: Documentary case study with descriptive qualitative analysis. Data were collected in April 2023 and correspond to the periods of 2019 and 2022. The precepts and areas of action of the Health Promoting Universities were used as the theoretical basis for this analysis. Results: Data collection resulted in a final sample of 812 and 1039 projects respectively for the analyzed years. The final sample resulted in 16 and 13 projects respectively. It was observed that all projects are related to the scope of action entitled “Promoting the well-being of employees, developing and applying knowledge in the scientific and technological mission”. Conclusion: When comparing the periods studied, the effects of the pandemic were able to stimulate extensionist behavior, evidenced by a substantial increase in projects, in particular those aimed at promoting health and well-being in the university context.

Keywords: Universities; Health Promotion; Occupational Health.

 

RESUMEN

Introducción: La promoción de la salud en el ámbito universitario enfrenta algunas complejidades debido a las exigencias académicas y, en consecuencia, al descuido del bienestar colectivo, sin embargo, la extensión universitaria surge como una estrategia promisoria, buscando establecer una relación simbiótica entre Docencia, Investigación y Extensión. Objetivo: Promover una reflexión sobre los efectos de la pandemia dentro del comportamiento extensionista de una Universidad pública, observando una comparación entre el período previo a la pandemia y posterior al consecuente aislamiento. Métodos: Estudio de caso documental con análisis cualitativo descriptivo. Los datos fueron recolectados en abril de 2023 y corresponden a los períodos de 2019 y 2022. Se utilizaron como base teórica para este análisis los preceptos y áreas de actuación de las Universidades Promotoras de Salud. Resultados: La recolección de datos resultó en una muestra final de 812 y 1039 proyectos respectivamente para los años analizados. La muestra final resultó en 16 y 13 proyectos respectivamente. Se observó que todos los proyectos están relacionados con el ámbito de actuación denominado “Promoviendo el bienestar de los empleados, desarrollando y aplicando el conocimiento en la misión científica y tecnológica”. Conclusión: Al comparar los períodos estudiados, los efectos de la pandemia lograron estimular el comportamiento extensionista, evidenciado por un aumento sustancial de proyectos, en particular aquellos destinados a la promoción de la salud y el bienestar en el contexto universitario.

Palabras Clave: Universidades; Promoción de la salud; Salud Laboral.

 

INTRODUÇÃO

A promoção da saúde no ambiente universitário é um grande desafio, devido ao acúmulo de atividades do corpo acadêmico e do estabelecimento de prioridades que muitas vezes não convergem com o cuidado à própria saúde ou à manutenção do estado saudável de um coletivo(1).

            Uma das possibilidades para implementar ações e programas de promoção da saúde é por meio de atividades extensionistas. Neste sentido, é importante ressaltar o conceito de extensão universitária, como “a atividade que se integra à matriz curricular e à organização da pesquisa, constituindo-se em processo interdisciplinar, político educacional, cultural, científico, tecnológico, que promove a interação transformadora entre as instituições de ensino superior e os outros setores da sociedade, por meio da produção e da aplicação do conhecimento, em articulação permanente com o ensino e a pesquisa”(2).

No Brasil e no mundo, a extensão universitária alia conceitos não apenas da promoção da saúde, mas de outros elementos que visam tornar o ambiente acadêmico mais sustentável e salutogênico, ou seja, busca alterar o modo com a qual saúde e bem-estar são vistos, trazendo uma dissociação da dicotomia entre saúde e doença, criando uma relação onde a prioridade é a promoção de hábitos saudáveis com o objetivo de trazer uma melhora da qualidade de vida e do bem-estar(3).

            Esta associação é perceptível na contemporaneidade, sobretudo, com a criação do coletivo das Universidades Promotoras da Saúde (UPS) que tem como marco histórico a primeira Conferência Internacional de UPS realizada na Universidade de Lancaster no ano de 1996, onde foi lançado o documento Health Promoting Universities: Concepts and framework for action, editado por Agis Tsouros. O documento, desenvolve a potencialidade da promoção da saúde dentro das Universidades e tem como objetivo coordenar a criação de um projeto de extensão universitário que promova a saúde de forma teórica e prática(4).

            A criação de estratégias de promoção da saúde sob a perspectiva das UPS ainda é um desafio na atualidade, sobretudo, no cenário pandêmico e pós-pandêmico. É sabido por todos que o ano de 2020 foi marcado pelo início da pandemia de Covid-19(5), a qual repercute na saúde de docentes e discentes até os dias atuais. Dessa forma, mais uma vez que as ações extensionistas demarcam sua importância na oferta de atividades curativas e protetivas à população, mesmo que para isso, tais atividades tenham sido modificadas e reinventadas para este novo contexto.

O tema da presente investigação é: a extensão universitária sob a perspectiva das UPS: Comparativos entre o pré-pandemia de covid-19 e os dias atuais. O objeto do estudo é a análise dos projetos de extensão voltados para promoção da Saúde na Universidade do Estado do Rio de Janeiro nos anos de 2019 e 2022 e, o objetivo é promover uma reflexão sobre os efeitos da pandemia dentro do comportamento extensionista de uma Universidade pública, observando um comparativo do período anterior à pandemia e posterior ao consequente isolamento.

A justificativa do estudo, está pautada em dar visibilidade à temática da promoção da saúde, já que estima-se que a pandemia, bem como o isolamento social tenham tido grande influência na saúde da população universitária e nos processos de adoecimento, sejam eles físicos, mentais ou emocionais, visto que a população acadêmica possui uma vulnerabilidade relacionada à saúde mental justificada pela cobrança do modelo de avaliação do aprendizado utilizado pela Universidade, somado a isso a entrada na faculdade marca o início da vida profissional desses estudantes sendo esse mais um fator para potencializar as preocupações desses estudantes(6,7).

Ademais, os projetos de extensão são a forma mais viável de comunicação e intervenção do saber acadêmico com a população. Assim, o trabalho se justifica a medida de que acreditamos que os projetos e ações extensionistas podem auxiliar na oferta de ações de saúde auxiliando a manutenção do estado saudável e a minimização de agravos decorrentes da pandemia.

 

MÉTODOS

Trata-se de um estudo de caso documental com análise qualitativa descritiva, que utilizou como base o documento de registro do evento “UERJ sem muros” referente ao ano de 2019 e 2022. Diferentemente de uma pesquisa bibliográfica, um estudo de caso documental utiliza a análise de documento como principal instrumento de observação, comumente associado a documentos históricos esta ferramenta vai além do estereótipo e pode vir a utilizar documentos contemporâneos para obtenção de dados tais como portarias circulares, projeto político-pedagógico (PPP) de alguma determinada escola ou mesmo uma Lei vigente(8).

A coleta de dados foi realizada em abril de 2023. Foi utilizada uma análise descritiva e interpretativa dos resumos de projetos extensionistas, sendo considerados os aspectos éticos e suas definições de acordo com as áreas temáticas. Para a coleta de dados foi utilizado um fluxograma de inclusão de projetos, que está ancorado em quatro etapas: 1. Identificação dos projetos registrados no ano de análise; 2. Identificação dos projetos da área da saúde; 3. Identificação de projetos com foco na promoção da saúde; 4. Identificação de projetos com ênfase na promoção da saúde e que atendam à comunidade interna da universidade. 

Em um segundo momento identificou-se os âmbitos de atuação dos projetos, de acordo com a classificação dos componentes das Universidades Promotoras da Saúde proposta por Arroyo (2018), disposta na Figura 1.

 

Figura 1 - Âmbitos de atuação dos componentes das Universidades Promotoras da Saúde (UPS).

 

 

Fonte:  Arroyo, 2018(9)

 

Através deste método os dados de 2019 e 2022 foram coletados, chegando assim no resultado final que contempla os projetos que promovem a saúde para a comunidade interna. Apesar do vírus ter sido descoberto em 2019, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) a pandemia teve seu início em 11 de março de 2020, portanto os projetos de extensão analisados no decorrer do ano de 2019 não sofreram nenhuma influência do isolamento social. No ano de 2022 com o avanço da vacinação(10) as atividades presenciais foram retomadas gradualmente, gerando um impacto no retorno dos projetos de extensão, sendo esse o recorte temporal ideal para evidenciar as mudanças ligadas à pandemia na quantidade e finalidade das atividades extensionistas da Universidade(11).

O comparativo desses dados no contexto pré e pós pandemia tem relevância fundamental para a discussão e análise destes então projetos de extensão que objetivam a promoção da saúde da comunidade interna. A pandemia de SARS-CoV 19 afetou diretamente na mudança do estilo de vida da população mundial, a qual vivenciou durante esse período uma reclusão social, que acarretou em uma redução das atividades físicas e do aumento do comportamento sedentário(11). Por isso, o comparativo desses dados no contexto pré e pós pandemia tem relevância fundamental para a discussão e análise destes então projetos de extensão que objetivam a promoção da saúde da comunidade interna, que contempla discentes, docentes e também servidores.

            Este estudo não passou por um comitê de ética visto que não houve uma pesquisa envolvendo diretamente seres humanos, e sim, análise das informações de projetos de extensão dispostos de maneira pública em página institucional.

 

RESULTADOS

A coleta de dados resultou na amostra de 812 projetos totais referentes ao ano de 2019, dos quais foram posteriormente categorizados em 210 projetos da modalidade saúde, sendo dentro destes 66 relacionados a promoção da saúde e por fim 16 projetos relacionados a promoção de saúde para a comunidade interna. Referente ao ano de 2022, a UERJ passou a comportar 1039 projetos, sendo 328 voltados para a saúde e 74 relacionados à promoção da saúde, e após avaliação destes a amostra de 13 projetos voltados para a comunidade interna foi obtida. A síntese dos resultados pode ser observada no Gráfico 1.

 

Gráfico 1 - Síntese fluxo de inclusão dos projetos de extensão de acordo com o ano de avaliação

Chart

É perceptível que neste hiato de 3 anos entre 2019 e 2022 não houve uma mudança significativa dos projetos promotores de saúde para a comunidade interna. Por outro lado, os projetos da modalidade saúde aumentaram em 56,19%, o que significa um crescimento de 118 projetos, mudando o número total de 210 (2019) para 328 (2022). E avaliando por uma perspectiva geral, nestes 3 anos 227 projetos de extensão novos surgiram na UERJ, ou seja, mais da metade dos projetos criados são da modalidade saúde.

É importante ressaltar que todos os projetos identificados estão inseridos no âmbito de atuação “Promover o bem-estar dos funcionários, desenvolvendo e aplicando conhecimentos na missão científica e tecnológica”.

 

DISCUSSÃO

O conceito de salutogênese foi criado por Aaron Antonovsky em 1979 como uma nova perspectiva de promoção da saúde que procura estudar os mecanismos de manutenção da saúde das pessoas diante dos problemas vivenciados no cotidiano, como por exemplo no meio laboral e universitário(12). Dentro da teoria salutogênica, existem fatores interligados a esses problemas que podem ser observados com maior atenção, e a partir deles podem então surgir as medidas que objetivam a saúde de forma pontual, tendo uma melhor eficácia no momento de implementar tais ações(13).

Neste sentido, a promoção da saúde, pode estar associada à condições multifatoriais que englobam as condições de alimentação e nutrição, qualidade de vida, moradia, educação, trabalho, saneamento, ambiente físico e apoio social para família e indivíduos(14). Outrossim, o ambiente universitário - que é local de trabalho e educação - possui direta relação com a saúde daqueles que circulam por este ambiente, sendo esta comunidade interna da universidade composta por servidores, discentes e docentes. A extensão universitária desempenha a função de articular com o ensino e pesquisa de maneira simbiótica, realizando assim um processo educativo e cultural(15) e, deste modo a extensão - aliada a conceitos de promoção da saúde - pode desempenhar o papel de promoção de um ambiente salutogênico, através da promoção de hábitos que objetivam a melhora da qualidade de vida e do bem estar(16).

Apesar do conceito de salutogênese ser democraticamente veiculado na literatura acadêmica - sobretudo associado ao ambiente universitário - percebe-se neste trabalho que todos os projetos analisados estão associados a um único âmbito de atuação das universidades promotoras de saúde: a assistência e as ações educativas(9).  Segundo um dos âmbitos de atuação dos projetos de acordo com a classificação dos componentes das universidades promotoras da saúde é papel da Universidade exercer um papel social de liderança dentro da sociedade na qual está inserida, ou seja, sendo liderança dentro do desenvolvimento do conhecimento, na formação técnica e também profissional dos membros da comunidade, e por meio da pesquisa, educação e propagação do conhecimento, orientando e apoiando então as mudanças presentes tanto nos cenários nacionais quanto internacionais(17).

Identifica-se também dentro dos âmbitos de atuação dos projetos, de acordo com a classificação dos componentes das universidades Promotoras da Saúde proposta(9), o reforço da importância de assegurar o bem estar dos funcionários, podendo contribuir com a saúde em três áreas distintas: disponibilizando ambientes de trabalho, oferecendo aprendizagem e vivências saudáveis tanto para estudantes quanto funcionários sobre a importância da saúde, promoção da saúde e saúde pública, desenvolvendo assim alianças e parcerias de promoção da saúde envolvendo a atuação comunitária, o que se enquadra também no âmbito de incentivo das relações intersetoriais que busca promover a participação ativa da comunidade(18).

A promoção da saúde vai além da prevenção de doenças, ela se atenta ao bem estar geral e a saúde como um todo, ou seja, é preciso cuidar da saúde antes do adoecimento, à vista disso as estratégias de promoção de saúde são direcionadas para a transformação das condições de vida e trabalho, afirmando que esses aspectos têm influência direta e indireta nos problemas de saúde. Essas estratégias demandam uma abordagem multiprofissional e intersetorial, levando em consideração a complexidade que envolve o autocuidado e o cuidado com o próximo, o que coloca em evidência a importância da participação ativa no cuidado de cada rede social, composta pela comunidade interna da Universidade, seja realizando uma escuta ativa, dedicando um tempo de qualidade, participando em conjunto de atividades propostas pela própria instituição(19).

A ampliação do ensino em saúde nas UPS, desempenha um papel fundamental na formação de indivíduos responsáveis e conscientes sobre o seu autocuidado e das redes sociais ao seu entorno. Diante disso, é essencial promover conhecimentos teóricos e práticos, desenvolvendo assim habilidades inerentes ao desenvolvimento da saúde pessoal e social. Por conseguinte, a comunidade interna das Universidades estará capacitada a adotar estilos de vida saudáveis que por meio da educação permanente e continuada permanecerão por gerações(20).

Ademais, outro componente das Universidades promotoras da saúde é a capacidade da instituição, influenciar a cultura, proporcionar uma estrutura organizacional e garantir um processo de ensino e aprendizagem saudável para os alunos e servidores. Portanto, a cultura institucional deve valorizar e priorizar a saúde e o bem-estar, incorporando-os nas políticas e práticas da universidade. Além disso, é essencial que a estrutura organizacional apoie e promova iniciativas de saúde, garantindo recursos adequados, parcerias com outras Universidades e incentivando projetos de extensão relacionados à temática. No âmbito do ensino, é importante adotar uma abordagem holística, integrando conteúdos de saúde em diferentes disciplinas e promovendo uma visão ampla da saúde. A aprendizagem saudável envolve estratégias pedagógicas que incentivam a participação ativa dos alunos na aplicação prática dos conhecimentos adquiridos. Ao influenciar positivamente esses aspectos, as universidades têm o potencial de criar um ambiente de aprendizado que promova não apenas o sucesso acadêmico, mas também a saúde e o bem-estar abrangentes dos estudantes e servidores(21).

O próximo pilar das Universidades promotoras da saúde, está pautado na promoção e sensibilização da comunidade acadêmica acerca dos desafios de saúde e dos fatores econômicos, físicos e sociais. Logo, entender e discutir essas dificuldades é fundamental para que de forma gradual a inclusão e promoção da equidade seja realizada no meio acadêmico. Ao fomentar essa conscientização, cada vez mais haverá necessidade de articular medidas que constituam a igualdade de forma ponderada no acesso dos espaços universitários, como por exemplo: rampas de acesso a pessoas com deficiência, legenda em braile - indicando os setores do Campus -, aulas e capacitação de libras para discentes, docentes e servidores. No âmbito das disparidades socioeconômicas uma excelente estratégia utilizada é a criação de cotas e auxílios que garantem a permanência na Universidade daqueles que apresentam alguma medida de vulnerabilidade(22).

Assim como foi garantido internacionalmente em eventos e declarações internacionais - tais como na Carta de Ottawa (1986), Declaração de Alma Ata (1978), nas Conferências de Adelaide (1988) e Sundsvall (1991), na Declaração de Jacarta (1997), na Conferência do México (2000), na Conferência de Bangcok (2005) por exemplo - as atividades de promoção da saúde devem assegurar que os direitos sociais serão respeitados com desenvolvimento sustentável e objetificando a redução das desigualdades sociais e de saúde. As universidades promotoras de saúde desempenham o papel de ser um centro de criatividade e inovação, e por isso devem aplicar o seu conhecimento garantindo os direitos previamente citados(23).

Os 7 âmbitos de atuação dos componentes das Universidades Promotoras da Saúde(9),como exemplificado anteriormente, limitam suas ações para atividades educativas e assistencialistas. A participação e atuação em projetos de extensão estreitam os laços com a comunidade e políticas públicas e esse é um caminho para bons resultados, todavia as mudanças profundas só serão alcançadas se houver políticas públicas que operem nesse sentido. O desenvolvimento de ações para a promoção da saúde dentro cria espaços onde a população possui poder deliberativo na sua organização, gestão e controle de ações e serviços de saúde. Os espaços de são caminhos para a participação social, onde os problemas são identificados e cuidados por meio de intervenções sobre seus determinantes, ou seja, ações que promovam saúde que irão agir como método de prevenção da saúde(24).

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

            Embora a pandemia tenha acarretado prejuízos e mudanças no cenário acadêmico, conclui-se que ao comparar os períodos estudados, os efeitos da pandemia foram capazes de estimular o comportamento extensionista, constato pelo aumento no número de projetos, em especial aqueles voltados para a promoção da saúde e do bem-estar no âmbito universitário.

            Neste sentido, reforçam-se as potencialidades das atividades de extensão como instrumentos capazes de implementar ações e programas de promoção da saúde. Entretanto, há de se considerar que tais ações ainda possuem apenas caráter assistencial e ênfase em ações educativas, portanto, devem ser ampliadas para que possam englobar outros componentes das Universidades Promotoras da Saúde.

 

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Fomento e Agradecimento: Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro - E_26/2021 – AUXÍLIO BÁSICO À PESQUISA (APQ1) EM ICTs ESTADUAIS UERJ, UENF e UEZO -2021 - Ref. Proc. E-26/211.928/2021

Declaração de conflito de interesses

Nada a declarar.

Contribuição dos autores

Yan Zi Li: 1- Contribuiu substancialmente na concepção e/ou no planejamento do estudo; 2- Obtenção, análise e/ou interpretação dos dados; 3- Redação e/ou revisão crítica e aprovação final da versão publicada.

Fernanda Costa Guedes: 1- Contribuiu substancialmente na concepção e/ou no planejamento do estudo; 2- Obtenção, análise e/ou interpretação dos dados; 3- Redação e/ou revisão crítica e aprovação final da versão publicada.

Magda Guimarães de Araujo Faria: 1- Contribuiu substancialmente na concepção e/ou no planejamento do estudo; 2- Obtenção, análise e/ou interpretação dos dados; 3- Redação e/ou revisão crítica e aprovação final da versão publicada.

Cristiane Helena Gallasch: 2- Obtenção, análise e/ou interpretação dos dados; 3- Redação e/ou revisão crítica e aprovação final da versão publicada.

Tatiana Cabral da Silva Ramos: 2- Obtenção, análise e/ou interpretação dos dados; 3- Redação e/ou revisão crítica e aprovação final da versão publicada.

Gabriel Santos da Silva: 2- Obtenção, análise e/ou interpretação dos dados; 3- Redação e/ou revisão crítica e aprovação final da versão publicada.

Editor Científico: Ítalo Arão Pereira Ribeiro. Orcid: https://orcid.org/0000-0003-0778-1447

Rev Enferm Atual In Derme 2024;98(3): e024379                          

 Atribuição CCBY