ARTIGO DE REVISÃO
DIFICULDADES DOS IDOSOS NA ADESÃO AO TRATAMENTO DE DOENÇAS CRÔNICAS NÃO TRANSMISSÍVEIS
DIFFICULTIES OF THE ELDERLY IN ADHERING TO TREATMENT FOR CHRONIC NON-COMMUNICABLE DISEASES
DIFICULTADES DE LAS PERSONAS MAYORES PARA SEGUIR EL TRATAMIENTO DE LAS ENFERMEDADES CRÓNICAS NO TRANSMISIBLES
https://doi.org/10.31011/reaid-2024-v.98-n.1-art.2040
Simony de Freitas Lavor¹
Ana Karoline Alves da Silva²
Edilma Gomes Rocha Cavalcante³
Malvina Thaís Pacheco Rodrigues4
Emiliana Bezerra Gomes5
Célida Juliana de Oliveira6
1,2,3,4,5,6 Universidade Regional do Cariri – URCA, Crato, Brasil
1 Orcid: https://orcid.org/0000-0001- 8568-5501
² Orcid: https://orcid.org/0000-0003- 0686-1808
³ Orcid: https://orcid.org/0000-0002-6861-2383
4 Orcid: https://orcid.org/0000-0001-5501-0669
5 Orcid: https://orcid.org/0000-0002-7135-512X
6 Orcid: https://orcid.org/0000-0002-8900-6833
Autor correspondente
Simony de Freitas Lavor
Rua Cel. Antônio Luiz, 1161, Bairro Pimenta, Crato, Ceará, Brasil. CEP: 63105-010 - Contato: +55(88) 99684-5539 - E-mail: simonylavor21@gmail.com.
Submissão: 17-10-2023
Aprovado: 12-03-2024
RESUMO
Introdução: O envelhecimento é um fenômeno biológico e universal, uma vez que permeia por mudanças físicas, sociais, psicológicas e espirituais. É constatada a baixa adesão na população idosa, principalmente, em virtude do diagnóstico de mais de um tipo de doença, o que demanda várias medicações e cuidados. Objetivo: Revisar a literatura para identificar as dificuldades do idoso com doença crônica não transmissível na adesão ao tratamento terapêutico. Métodos: Revisão integrativa da literatura, baseada na análise de 18 artigos, realizada entre janeiro e março de 2023. Foram incluídos artigos com texto completo, desenvolvidos com pessoas com idade acima de 60 anos, nos idiomas português, inglês e espanhol, publicados nos últimos 10 anos (2014-2023), disponíveis para download gratuito e que respondessem à pergunta de pesquisa. Já as monografias, teses, dissertações, artigos repetidos e de revisão foram excluídos da amostra. Resultados: As principais dificuldades dos idosos na adesão ao tratamento terapêutico estão relacionadas aos diversos fatores, como efeitos colaterais da medicação, esquecimento, idade avançada, multimorbidades, escolaridade, falha na comunicação entre paciente e profissional e altos custos das medicações. Discussão: O reconhecimento de dificuldades na adesão medicamentosa contribui para o melhor manejo da doença e, consequentemente, na qualidade de vida das pessoas idosas com doenças crônicas não transmissíveis. Conclusão: O idoso necessita de atenção especializada para compreensão da doença e a importância do tratamento terapêutico.
Palavras-chave: Saúde do Idoso; Doença Crônica não Transmissível; Adesão à Medicação.
ABSTRACT
Introduction: Ageing is a biological and universal phenomenon, as it involves physical, social, psychological and spiritual changes. Low adherence in the elderly population has been observed, mainly due to the diagnosis of more than one type of disease, which requires various medications and care. Objective: To review the literature in order to identify the difficulties faced by elderly people with chronic non-communicable diseases in adhering to therapeutic treatment. Methods: Integrative literature review, based on the analysis of 18 articles, carried out between January and March 2023. We included full-text articles on people over the age of 60, in Portuguese, English and Spanish, published in the last 10 years (2014-2023), available for free download and which answered the research question. Monographs, theses, dissertations, repeated and review articles, on the other hand, were excluded from the sample. Results: The main difficulties faced by the elderly in adhering to therapeutic treatment are related to various factors, such as medication side effects, forgetfulness, advanced age, multimorbidities, schooling, failure in communication between patient and professional and high medication costs. Discussion: Recognizing difficulties in medication adherence contributes to better disease management and, consequently, to the quality of life of elderly people with chronic non-communicable diseases. Conclusion: The elderly need specialized attention to understand the disease and the importance of therapeutic treatment.
Keywords: Health of the Elderly; Chronic Non-Communicable disease; Adherence to Medication.
RESUMEN
Introducción: El envejecimiento es un fenómeno biológico y universal, ya que implica cambios físicos, sociales, psicológicos y espirituales. Se ha observado una baja adherencia en la población anciana, principalmente debido al diagnóstico de más de un tipo de enfermedad, que requiere diversos medicamentos y cuidados. Objetivo: Revisar la literatura para identificar las dificultades que enfrentan los ancianos con enfermedades crónicas no transmisibles en la adherencia al tratamiento terapéutico. Métodos: Revisión bibliográfica integradora, basada en el análisis de 18 artículos, realizada entre enero y marzo de 2023.Se incluyeron artículos a texto completo sobre personas mayores de 60 años, en portugués, inglés y español, publicados en los últimos 10 años (2014-2023), disponibles para descarga gratuita y que respondieran a la pregunta de investigación. Monografías, tesis, disertaciones, artículos repetidos y de revisión, por otro lado, fueron excluidos de la muestra. Resultados: Las principales dificultades de las personas mayores para adherirse al tratamiento terapéutico están relacionadas con diversos factores, como los efectos secundarios de la medicación, el olvido, la edad avanzada, las multimorbilidades, la escolarización, el fallo en la comunicación entre paciente y profesional y el elevado coste de la medicación. Discusión: Reconocer las dificultades en la adherencia a la medicación contribuye a un mejor manejo de la enfermedad y, en consecuencia, a la calidad de vida de las personas mayores con enfermedades crónicas no transmisibles. Conclusión: Los ancianos necesitan una atención especializada para comprender la enfermedad y la importancia del tratamiento terapéutico.
Palabras clave: Salud de las Personas Mayores; Enfermedad Crónica no Transmisible; Cumplimiento de la Medicación.
INTRODUÇÃO
O envelhecimento é um fenômeno biológico e universal, que permeia por mudanças físicas, sociais, psicológicas e espirituais. Depara-se com as várias alterações em relação ao mundo e sua própria história, podendo ser caracterizado pela dependência, insatisfação, angústia e isolamento¹.
No ano de 2022, a população idosa brasileira era representada por 10,49% da população total do país². Em virtude desse crescente número de idosos, houve um aumento significativo da prevalência das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT)³.
As DCNT interferem no grau de autonomia e estão associadas à limitação e incapacidade de realizar diversas atividades diárias ou restrição à participação social. A população idosa por ser considerada uma faixa etária com maiores possibilidades de desenvolvimento de doenças crônicas e, consequentemente, com aumento no consumo de medicamentos, requer uma maior atenção em relação às orientações sobre os horários das medicações, efeitos colaterais e implicações na saúde decorrentes da não adesão à medicação4.
O tratamento para as condições crônicas depende de vários fatores como mudanças no estilo de vida, uso correto e adesão à medicação. No entanto, estudos constatam a baixa adesão na população idosa, principalmente, em virtude do diagnóstico de mais de um tipo de doença, o que demanda várias medicações e cuidados, dificultando o autocuidado5.
Nessa perspectiva, as consequências da não adesão podem dificultar a qualidade de vida do idoso, causar agravos, complicações da doença, hospitalização e pode contribuir para o surgimento de mais doenças crônicas, mortalidade do indivíduo e altos custos hospitalares6.
Diversos fatores têm sido associados à baixa adesão ao tratamento medicamentoso por pessoas idosas como uso inadequado, esquecimento, idade avançada, sexo, situação econômica, falta de conhecimento, dificuldades na administração, efeitos adversos, baixo nível instrucional e dificuldades de acesso aos medicamentos7,8.
Entende-se como adesão medicamentosa o seguimento das orientações realizadas pelos profissionais de saúde para o melhor controle da doença. Já a não adesão se caracteriza como o abandono dos fármacos por conta própria ou a sua utilização de forma incorreta9.
Considerando que a população idosa com doença crônica não transmissível enfrenta inúmeras dificuldades na adesão ao tratamento terapêutico, faz-se necessário a identificação dessas barreiras, para que a partir disso os profissionais de saúde possam intervir de maneira eficaz.
Esse estudo visa contribuir para uma melhor assistência dos profissionais de saúde à população idosa, permitindo conhecer as principais dificuldades para a adesão medicamentosa. Dessa forma, objetivou-se revisar a literatura para identificar as dificuldades do idoso com doença crônica não transmissível na adesão ao tratamento terapêutico.
MÉTODOS
Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, realizada entre janeiro e março de 2023. Para a sua construção utilizou-se como referencial metodológico o estudo10, em que são apresentadas seis etapas, contribuindo para a construção dos tópicos a seguir:
Etapa 1: Identificação da questão de pesquisa
Para a construção da pergunta de pesquisa e seleção dos descritores utilizou-se a estratégia PVO (Population, Variables and Outcomes). O estudo foi norteado pela seguinte pergunta: “Quais as principais dificuldades do idoso com doença crônica não transmissível na adesão ao tratamento terapêutico?” Os descritores utilizados na busca pelos artigos estão disponíveis no quadro 1.
Quadro 1 - Descritores de assunto localizados no DeCS/MeSH para os componentes da pergunta de pesquisa segundo estratégia PVO. Crato, Ceará, Brasil, 2023.
Itens da estratégia |
Componentes |
Descritores de assunto |
Population |
Idosos com doença crônica não transmissível |
Idosos OR aged |
Variables |
Doença crônica |
Doença crônica OR chronic disease |
Outcomes |
Dificuldades na adesão à medicação |
Adesão à medicação OR Medication Adherence |
Etapa 2: Fonte de dados, procedimentos de busca e seleção
Para a construção da revisão integrativa adotou-se como critérios de inclusão: artigo com texto completo, desenvolvidos com pessoas com idade acima de 60 anos, nos idiomas português, inglês e espanhol, publicados nos últimos 10 anos (2014-2023), disponíveis para download gratuito e que respondessem à pergunta de pesquisa.
Foram considerados como critérios de exclusão as monografias, teses, dissertações, revisões do tipo integrativas, escopo ou sistemáticas e artigos que se repetiam nas bases de dados.
A busca pelos estudos foi realizada por duas avaliadoras independentes, que ocorreu nas seguintes bases de dados: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE), Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature (CINAHL), Web of Science e Embase, utilizando o método de busca avançada, por meio do Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). A estratégia de busca utilizada nas bases de dados está disponibilizada no quadro 2.
Quadro 2 – Estratégia de busca para obtenção dos artigos. Crato, Ceará, Brasil, 2023.
Base de dados |
Estratégia de busca |
Medline/Lilacs/Cinahl/Web of Science/Embase |
“Idosos OR aged” AND “Doença crônica OR chronic disease” AND “Adesão à medicação OR Medication Adherence” |
O processo de seleção está detalhado no fluxograma (Figura 1) que foi baseado no Preferred Reporting Items for Systematic Review and Meta-Analysis (PRISMA) (TRICCO et al., 2018).
Figura 1 – Processo de busca e seleção dos artigos. Crato, Ceará, Brasil, 2023.
Fonte: Adaptado do PRISMA-ScR (2018)
Foram identificadas, inicialmente, 1470 publicações, sendo 12 na LILACS, 5 na Web of Science, 560 na MEDLINE, 703 na EMBASE e 190 na CINAHL.
A partir disso, com a finalidade de permitir o refinamento dos achados, primeiramente realizou-se a leitura dos títulos e resumos dos estudos e, em seguida, foram excluídos 1301 artigos: 1050 não respondiam à pergunta de pesquisa, 137 não foram localizados na íntegra, 47 eram artigos de revisão, 66 foram repetidos e uma carta ao editor. Nesse processo, foram selecionados dois artigos na LILACS, dois na Web of Science, 48 na Medline, 32 na CINAHL e 85 na Embase, resultando em 169 artigos, selecionados para a segunda etapa, ou seja, a leitura na íntegra.
A terceira etapa consistiu na avaliação dos 18 artigos que foram incluídos nesta revisão (um da LILACS, dois da MEDLINE, um da CINAHL, 14 da EMBASE e nenhum da Web of Science). No processo foi utilizado o software Ryyan.
Todo esse processo foi realizado por meio de dupla conferência, em que cada pesquisadora realizou de maneira independente, baseando-se nos critérios de inclusão, exclusão e pergunta norteadora. Em caso de divergência sobre a permanência de algum estudo, era solicitada a contribuição de uma terceira avaliadora para emitir o parecer final.
Etapa 3: Procedimento de extração, organização e sumarização dos dados
Para extração e organização dos dados, elaborou-se um instrumento, contendo informações quanto aos aspectos bibliográficos dos estudos incluídos: título, ano, país, base de dados, tipo de estudo, nível de evidência e objetivos. As informações foram agrupadas seguindo o processo de sumarização, aproximando aquelas que eram semelhantes e as que se distinguiam.
Etapa 4: Avaliação dos estudos incluídos
Para caracterizar a variável nível de evidência foi utilizado a classificação da Agency for Healthcare Research and Quality (AHRQ), que abrange seis níveis: (I) evidências resultantes de metanálise e revisão sistemática; (II) evidências obtidas em ensaios clínicos com randomização; (III) evidências obtidas em ensaios clínicos sem randomização; (IV) evidências de estudos de coorte e de caso-controle; (V) evidências oriundas de revisão sistemática de estudos descritivos e qualitativos e (VI) evidências baseadas em estudo descritivo ou qualitativo11.
Etapas 5 e 6: Análise dos resultados e apresentação da revisão
Os estudos selecionados foram analisados de forma descritiva, o que permitiu observar, descrever e classificar as informações obtidas nos artigos. A apresentação da revisão consistiu no agrupamento dos dados, que foram interpretados tendo como suporte a literatura científica e posteriormente discutidos.
RESULTADOS
O quadro 1 apresenta os dados bibliométricos quanto ao objetivo, ano, país, tipo de estudo, nível de evidência e principais dificuldades na adesão à medicação.
Quadro 3 – Caracterização dos estudos selecionados. Crato, Ceará, Brasil, 2023.
*Código de identificação; **Nível de evidência; ***Artigo.
A não adesão medicamentosa está associada a vários fatores, sendo estes modificáveis ou não modificáveis, os quais foram classificados em cinco categorias: socioeconômica, relacionada ao paciente, à terapia, à condição de saúde e ao sistema de saúde16.
No que diz respeito aos fatores socioeconômicos, os artigos destacaram o custo relacionado ao tratamento da doença12, morar em um bairro pobre12, renda baixa23,19,22 transporte29, dificuldades em comprar medicamentos27.
Referente às dificuldades na adesão em relação ao próprio paciente, surgiram esquecimento, como lembrar a quantidade ou o horário de cada medicamento 29,27, destreza29, remover medicamentos da embalagem, reconhecê-las, ler instruções e sentir-se pior ao tomar a medicação27, ser fumante15, sexo masculino13, comprometimento cognitivo19,23,25,20, menor escolaridade19,24,15, idade avançada28, visão e audição prejudicadas20, preocupação a respeito da doença29, 18, crenças e atitudes dos pacientes em relação à medicação18, dificuldades para abrir ou ler frascos de remédio27, falta de controle da doença17, 26, insatisfação com a medicação15.
Quanto às barreiras associadas à terapia medicamentosa, detectaram-se problemas em administrar medicamento21, preocupações com os efeitos colaterais 14,18,21, quantidade de fármacos consumidos 13,16, 20, 24,26, percepção de regime de medicação complicado15, não ter pleno conhecimento sobre o tratamento terapêutico15,28,14.
As principais dificuldades identificadas relacionadas à condição do paciente foram: ter múltiplas condições crônicas20,23, fragilidade13, estresse/humor negativo17,25.
Já em relação ao sistema de saúde destacaram-se a falha na comunicação entre paciente e profissional 12,28, disponibilidade do medicamento21, informações inadequadas relacionadas ao ajuste dos horários para administrar os medicamentos22, não possuir plano de saúde23, ausência de revisão de medicamentos25, internação e ausência adequada aos cuidados médicos21.
A maioria dos estudos foram classificados no nível 2, sendo, portanto, estudos transversais.
DISCUSSÃO
As principais dificuldades dos idosos na adesão ao tratamento terapêutico estão relacionadas aos diversos fatores, como efeitos colaterais da medicação, esquecimento, idade avançada, multimorbidades, escolaridade, falha na comunicação entre paciente e profissional e altos custos das medicações.
Em um estudo realizado com 263 idosos, com idade acima de 60 anos, observou que a não adesão medicamentosa estava relacionada principalmente ao gênero feminino, idade entre 60 e 69 anos, não brancos, idosos que não eram alfabetizados, sem vínculo empregatício e que recebiam uma renda de até um salário mínimo30.
Esses idosos do estudo apresentavam dificuldades em aderir ao tratamento medicamentoso, devido a fatores sociodemográficos e econômicos. No que se refere ao fator gênero, pode-se dizer que não há um consenso, visto que alguns estudos apontam o sexo masculino, enquanto outros o sexo feminino para não adesão a medicação.
No Brasil, há uma maior procura pelos serviços de saúde por parte do sexo feminino31. Esse problema pode estar relacionado ao fato de que as mulheres estão mais preocupadas com a sua própria condição de saúde e de seus familiares, enquanto os homens são mais resistentes na busca por atendimento em saúde, mesmo com a existência de políticas de saúde para essa população32.
Isso reforça a necessidade de aumentar a atenção e o cuidado, por meio da busca ativa desses pacientes para sua inserção nos serviços de saúde. Os profissionais devem proporcionar acolhimento, aconselhamento, ações de promoção, educação em saúde, prevenção de agravos e incentivo a adesão à medicação, através de orientações, visitas domiciliares, de acordo com as particularidades, vulnerabilidades e o contexto familiar que estão inseridos.
O tratamento farmacológico consiste em um dos componentes essenciais para o manejo da doença em qualquer faixa etária, especialmente na população idosa, que representa 50% dos consumidores de medicações. Esse quantitativo se dá em decorrência da multimorbidade e incapacidades presentes nessa faixa etária30.
Geralmente, pessoas idosas diagnosticadas com mais de uma DCNT fazem uso de diversos fármacos no seu tratamento. Consequentemente, devido a essa quantidade elevada, podem apresentar esquecimento e abandono do esquema terapêutico. Dessa maneira, esses indivíduos necessitam de uma maior atenção dos profissionais de saúde, por apresentarem problemas no controle da doença quando comparados com pessoas jovens9.
O esquecimento, pertencente a categoria relacionada ao próprio paciente, foi um fator considerado como uma barreira para a adesão à medicação, visto que as pessoas idosas apresentam comprometimento no sistema cognitivo, necessitando, assim, do auxílio de familiares e/ou cuidadores no manejo da doença.
Por outro lado, no estudo9 foi constatado que as pessoas idosas que fazem uso de uma medicação há muito tempo, geralmente apresentam uma boa adesão. Além disso, os participantes desse estudo relataram que o esquecimento não era visto como uma barreira na farmacoterapia, pois o consumo desses fármacos já fazia parte do seu cotidiano.
A escolaridade é um elemento que pode contribuir na adesão ao tratamento terapêutico, pois facilita no processo de autocuidado e autonomia do paciente. O baixo nível de escolaridade afeta diretamente na compreensão das informações dos medicamentos prescritos, o que pode prejudicar a qualidade de vida e o controle da doença33.
A utilização de tecnologias educativas, como jogos, cartilhas, aplicativos móveis e panfletos informativos durante as consultas de rotina nos serviços de saúde e até em outros ambientes (praças públicas e residência do próprio paciente) pode contribuir no processo de escolaridade do paciente.
Em 2017 foi desenvolvida uma tecnologia que contribui no armazenamento, organização, facilidade na retirada e lembrete de medicamentos. Esse recurso consiste na divisão por compartimentos das medicações diárias a serem consumidas. Além disso, a tecnologia dispõe de um sensor que sinaliza ao paciente o uso das medicações em horários corretos34.
Foram identificadas como barreiras na terapia medicamentosa: problemas em administrar medicamentos, a quantidade de fármacos consumidos, dificuldade de lembrar a quantidade ou o horário de cada medicamento, remover medicamentos da embalagem, reconhecê-las e ler as instruções.
A grande quantidade de fármacos consumidos está diretamente ligada à não adesão, devido à complexidade dos esquemas terapêuticos, que exige um maior cuidado do paciente, e representa ainda uma maior dificuldade para as pessoas idosas35.
No que se refere a condição do paciente, foi identificado que a multimorbidade pode causar fragilidade e mudanças de humor em pessoas idosas e, consequentemente, prejudicar na terapia medicamentosa. Esses fatores contribuem negativamente no controle da doença, tornando-os vulneráveis à sua condição crônica.
A população idosa tende a apresentar diversos problemas na aceitação e na adesão medicamentosa, pois, na maioria das vezes, a crença está interligada às atitudes do indivíduo, como o incômodo e mau funcionamento da medicação, o que corrobora para o agravamento dos problemas relacionados à sua patologia36.
Os estudos incluídos nesta revisão apontam que os principais desafios relacionados ao sistema de saúde são falhas na relação entre o profissional de saúde e o paciente, disponibilidade do medicamento e falta de informações adequadas de acordo com o plano terapêutico de cada pessoa.
A participação da equipe multiprofissional da atenção básica torna-se relevante no processo de adesão ao tratamento, visto que esses profissionais atuam no atendimento contínuo, ofertando ao idoso o cuidado com a saúde por meio de estratégias metodológicas que considerem e minimizem as dificuldades mais observadas entre os idosos e possibilitem o envolvimento no seu processo saúde/doença37.
O reconhecimento de dificuldades na adesão medicamentosa contribui para o melhor manejo da doença e, consequentemente, na qualidade de vida das pessoas idosas com doenças crônicas não transmissíveis. A população idosa é considerada como vulnerável e suscetível ao desenvolvimento de doenças crônicas, o que requer maiores cuidados por parte dos profissionais de saúde, familiares e/ou cuidadores.
O estudo teve como limitação a identificação de barreiras na adesão ao tratamento terapêutico de idosos com doenças crônicas não transmissíveis que não podem ser generalizadas, devido às diferenças entre os países, as crenças e o sistema de saúde. No entanto, os achados desta revisão são válidos e pertinentes na detecção dos fatores contribuintes para a não adesão à medicação, uma vez que os dados foram encontrados em bases confiáveis e reconhecidas mundialmente.
CONCLUSÕES
Essa revisão integrativa permitiu identificar que as principais dificuldades para a não adesão ao tratamento terapêutico, as quais estão relacionadas aos fatores socioeconômicos, ao paciente, à terapia medicamentosa, à condição crônica e ao sistema de saúde.
O idoso necessita de atenção especializada para compreensão da doença e a importância do tratamento terapêutico. É necessário que o enfermeiro possa intervir com estratégias educativas que possibilitem a autonomia e a promoção da saúde.
Dessa forma, os resultados obtidos nesta revisão integrativa contribuem para uma melhor identificação pelo enfermeiro dos fatores que interferem na adesão ao tratamento terapêutico dos idosos com DCNT. A partir disso será possível realizar uma assistência cada vez mais qualificada e, consequentemente, melhorar os índices de adesão ao tratamento terapêutico.
REFERÊNCIAS
1. Santos PA, Heidemann ITSB, Marçal CCB, Belaunde AMA. A percepção do idoso sobre a comunicação no processo de envelhecimento. Audiol, Commun. Res [Internet]. 2019;24(24):1-8. https://doi.org/10.1590/2317-6431-2018-2058.
2. IBGE. Instituto de Geografia e Estatística. Comunicados [Internet]. 2022. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/novo-portal-destaques.html?destaque=35600.
3. Araújo RR, Tanaka AKSR, Gerhardt LM, Machado MLP. O conhecimento de idosos de doenças crônicas não transmissíveis acerca de seu tratamento polimedicamentoso. Pajar [Internet]. 2019;7(2):1-10. https://doi.org/10.15448/2357-9641.2019.2.33199.
4. Inácio RVS, Neves NCV, Almeida JCS, Amparo TR, Bittencourt MM, Dôres RGR. Dificuldades de idosos na adesão a terapias medicamentosas crônicas, Unidade Básica de Saúde, Congonhas-Brasil. Rev. Salud Pública [Internet]. 2019;21(6):628-33. https://doi.org/10.15446/rsap.V21n6.80240.
5. Abreu DPG, Santos SSC, Ilha S, Silva BT, Martins NFF, Varela VS. Fatores comportamentais associados à adesão medicamentosa em idosos em atendimento ambulatorial. Recom. [Internet]. 2019;9(3025):1-9. http://dx.doi.org/10.19175/recom.v9i0.3025.
6. Pinheiro FM, Santo FHE, Sousa RM, Silva J, Santana RF. Adesão terapêutica em idosos hipertensos: revisão integrativa. Recom [Internet]. 2018;8(8):1-10. https://doi.org/10.19175/recom.v8i0.1938.
7. Silva, LM, Souza AC, Fhon JRS, Rodrigues RAP. Adesão ao tratamento e síndrome da fragilidade em idosos hipertensos. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2020;54(03590):1-8. https://doi.org/10.1590/S1980-220X2018048903590.
8. Oliveira GL, Barros DSL, Silva DLM, Leite SN. Fatores relacionados à adesão ao tratamento sob a perspectiva da pessoa idosa. Rev. Bras. Geriatr. Gerontol [Internet]. 2021;23(4):1-10. https://doi.org/10.1590/1981-22562020023.200160.
9. Gewehr DM, Bandeira VAC, Gelatti GT, Colet CF, Oliveira KR. Adesão ao tratamento farmacológico da hipertensão arterial na Atenção Primária à Saúde. [Internet].2018;42(116):179-90. https://doi.org/10.1590/0103-1104201811614.
10. Mendes KDS, Silveira RCCP, Galvão CM. Uso de gerenciador de referências bibliográficas na seleção dos estudos primários em revisão integrativa. Texto contexto – enferm [Internet]. 2019;28(20170204):1-13. https://doi.org/10.1590/1980-265X-TCE-2017-0204.
11. Stetler CB, Rucki DMS, Broughton S, Corrigan B, Fitzgerald J, Giuliano K. Utilization-focused integrative reviews in a nursing service. Appl Nurs Res [Internet]. 1998;11(4):195-206. https://doi.org/10.1016/s0897-1897(98)80329-7.
12. Dinan MA, Wilson LE, Greiner MA, Spees LP, Pritchard JE, Zhang T, et al. Oral anticancer agent (OAA) adherence and survival in elderly patients with metastatic renal cell carcinoma (mRCC). Urology [Internet]. 2022;168(00904295):129-36. https://dx.doi.org/10.1016/j.urology.2022.07.012.
13. Bonikowska I, Szwamel K, Uchmanowicz I. Medication adherence in elderly people with type 2 diabetes living in Lubuskie Voivodeship in Poland: Association with frailty syndrome. J. Clin. Med [Internet]. 2022;11(6):1-9. https://doi.org/10.3390%2Fjcm11061707.
14. Poon IO, Skelton F, Bean LB, Guinn D, Jemerson T, Mbue ND, et al. A qualitative analysis to understand the perception of drug-related problems among minority older adults in a historically black community. Pharmacy [Internet]. 2022;10(1):1-9. https://doi.org/10.3390/pharmacy10010014.
15. Chew SM, Lee JH, Lim SF, Liew MJ, XU Y, Towle RM. Prevalence and predictors of medication non-adherence among community-dwelling elderly with chronic diseases in Singapore.J adv nurs [Internet]. 2021;77(10):4069-80. https://doi.org/10.1111/jan.14913.
16. Bueno JG, Sánchez DS, Juvanteny EP, Brunet NM, Jané CC, Panicot JE. Factors associated with non-adherence to medication in patients with multimorbidity and polypharmacy admitted to an intermediate care center. Int. J. Environ. Res. Public Health [Internet]. 2021;12(18). https://doi.org/10.3390/ijerph18189606.
17. Gruszczynska M, Wyszomirska J, SielańczykAD, Sosnowska MB. Selected psychological predictors of medication adherence in elderly people with chronic diseases.Nurs open [Internet]. 2020;8(1):317-26. https://doi.org/10.1002/nop2.632.
18. Qiao X, Tian X, Liu N, Dong L, Jin Y, Si H, et al. The association between frailty and medication adherence in community-dwelling elderly people with chronic diseases: Medication beliefs acting as mediators.Patient edu couns [Internet]. 2020;103(12):2548-54. https://doi.org/10.1016/j.pec.2020.05.013.
19. Angadi NB, Kavi A, Torgal SS. Therapeutic adherence among elderly people with chronic diseases living in an urban area of South India - a cross-sectional descriptive study. Biomed Pharmacol [Internet]. 2020;13(4):2109-16. https://dx.doi.org/10.13005/bpj/2092.
20. Jeon, HO. Correlation of physical, psychological, and functional factors with independent medication adherence in elderly Koreans with chronic diseases: using the 2017 national survey of elderly Koreans. Arch Gerontol Geriatr [Internet]. 2020;90:104-30. https://doi.org/10.1016/j.archger.2020.104130.
21. Algameel M. Patterns of medication use and adherence in nursing home residents.Pak j Med Sci [Internet]. 2020;36(4):729-34. https://doi.org/10.12669%2Fpjms.36.4.1923.
22. Punnapurath S, Vijayakumar P, Platty PL, Krishna S, Thomas T. Therapeutic adherence in patients with chronic diseases from the elderly club of a health center, Ecuador. J Family Med Prim Care [Internet]. 2020;10(4):1644-48. https://doi.org/10.4103%2Fjfmpc.jfmpc_1302_20.
23. Chung GC, Marottoli RA, Leo MCJ, Rhee TG. Cost-related medication non-adherence among older adults: results from a nationally representative sample.J am geriatra soc [Internet]. 2019; 67(12):2463-73. https://doi.org/10.1111/jgs.16141.
24. Tan YW, Suppiah S, Bautista MAC, Malhotra AR. Polypharmacy among community-dwelling elderly in Singapore: prevalence, risk factors and association with medication non-adherence.Proc. Singapore Healthc [Internet]. 2019;28(4):224-31. https://doi.org/10.1177/2010105819868485.
25. Leung DY, Bai X, Leung AYM, Liu BCP, Chi I. Prevalence of medication adherence and its associated factors among community-dwelling Chinese elderly in Hong Kong. Geriatr Gerontol Int [Internet]. 2015;15(6):789-96. https://doi.org/10.1111/ggi.12342.
26. Raymundo ACN, Pierin AMG. Adesão ao tratamento de hipertensos em um programa de gestão de doenças crônicas: estudo longitudinal retrospectivo. Rev. Esc. Enferm [Internet]. 2014;48(5):811-19. https://doi.org/10.1590/S0080-6234201400005000006.
27. Campbell NL, Zhan J, Wanzhu T, Zach W, Ambeuhl R, Mckay C, et al. Self-reported barriers to medication adherence among elderly outpatients with mild cognitive impairment. Pharmacotherapy [Internet]. 2016;36(2):196-202. https://doi.org/10.1002/phar.1702.
28. LiquoriI G, Leo AD, Simone E, Dionisi S, Giannetta N, Ganci E, et al. Medication adherence in chronically ill elderly patients: an Italian observational study using the medication adherence reporting scale (MARS-5I). Int J Environ Res Saúde Pública [Internet]. 2022;19(9). https://doi.org/10.3390%2Fijerph19095190.
29. Haugh KH. Medication adherence in the elderly: the half-box of medicines. Nurs Clin North Am [Internet]. 2014;49(2):183-99. https://doi.org/10.1016/j.cnur.2014.02.006.
30. Arruda DCJ, Eto FN, Velten APC, Morelato RL, Oliveira ERA. Fatores associados à não adesão medicamentosa entre idosos de um ambulatório filantrópico do Espírito Santo. Rev. Bras. Geriatr. Gerontol [Internet]. 2015;18(2):327-37. https://doi.org/10.1590/1809-9823.2015.14074.
31. Lima DBS, Moreira TMM, Borges JWP, Rodrigues MTP. Associação entre adesão ao tratamento e tipos de complicações cardiovasculares em pessoas com hipertensão arterial. Texto Contexto – Enferm [Internet].2016; 25(0560015):1-9. http://dx.doi.org/10.1590/0104-07072016000560015.
32. Silva GF, Magalhães PSF, Junior VRS, Moreira TMM. Adesão ao tratamento anti-hipertensivo e ocorrência de Síndrome Metabólica. Esc Anna Nery [Internet]. 2021;25(2):1-8. https://doi.org/10.1590/2177-9465-EAN-2020-0213.
33. Coutinho APF, Xavier RMF, Júnior AFS, Bendicho MTF. Farmacoterapia geriátrica: o uso de medicamentos e as doenças crônicas não transmissíveis em idosos. Reas [Internet]. 2021;13(1):1-9. https://doi.org/10.25248/reas.e5720.2021.
34. Torres RE. Design para terceira idade: produto para auxiliar na organização pessoal de medicamentos. [Internet] 2017. 119f. Monografia (Curso de Design de Produto) - Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 2017.
35. Masson T, Dallacosta FM. Fatores relacionados à baixa adesão ao tratamento de hipertensos e diabéticos. Rev Ciências da Saúde [Internet]. 2021;33(3):55-61. https://doi.org/10.14295/vittalle.v33i3.13560.
36. Reis, LC, Soares RAQ, Rosa RF. Cardoso LGS. Adesão ao tratamento medicamentoso em idosos cardiopatas. Recom [Internet]. 2021;11(4130):1-8. https://doi.org/10.19175/recom.v11i0.4130.
37. Carneiro JLS, Ayres JRCM. Saúde do idoso e atenção primária: autonomia, vulnerabilidades e os desafios do cuidado. Rev Saúde Pública [Internet]. 2021;55(29):1-9. https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2021055002856.
Fomento e Agradecimento: Sem fomento
Critérios de autoria (contribuições dos autores)
A designação de autoria deve ser baseada nas deliberações do ICMJE, que considera autor aquele que: 1. LAVOR SF, SILVA AKA, contribui substancialmente na concepção e/ou no planejamento do estudo; 2. LAVOR SF, SILVA AKA na obtenção, na análise e/ou interpretação dos dados; 3. LAVOR SF, SILVA AKA, CAVALCANTE EGR, RODRIGUES MTP, GOMES EB, OLIVEIRA CJ, assim como na redação e/ou revisão crítica e aprovação final da versão publicada.
Declaração de conflito de interesses
Nada a declarar.
Editor Científico: Ítalo Arão Pereira Ribeiro. Orcid: https://orcid.org/0000-0003-0778-1447