ARTIGO ORIGINAL
O TRABALHO E A FORMAÇÃO EM SALA DE VACINA: A PERCEPÇÃO DAS TÉCNICAS EM ENFERMAGEM
WORK AND TRAINING IN THE VACCINATION ROOM: THE PERCEPTION OF NURSING TECHNICIANS
TRABAJO Y FORMACIÓN EN LA SALA DE VACUNACIÓN: LA PERCEPCIÓN DE LOS TÉCNICOS DE ENFERMERÍA
Vivia Barros da Silva 1
João Caio Silva Castro Ferreira 2
Francisco José de Araújo Filho 3
João Paulo Barros Ibiapina 4
Ana Cecília Cardozo Soares 5
Samira Rêgo Martins de Deus Leal 6
1,6 Universidade Estadual do Piauí. Teresina, PI, Brasil. 1Orcid: https://orcid.org/0000-0001-6031-2709 6Orcid: https://orcid.org/0000-0003-3438-5992
2 Universidade Federal da Bahia. Salvador, BA, Brasil. Orcid: https://orcid.org/0000-0003-3497-5896
3 Universidade Federal do Ceará. Fortaleza, CE, Brasil. Orcid: https://orcid.org/0000-0002-4203-7720
4 Universidade Federal do Piauí. Teresina, PI, Brasil. Orcid: https://orcid.org/0000-0003-1791-7774
5 Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira. Redenção, CE, Orcid: https://orcid.org/0000-0002-0174-7662
Autor correspondente
João Caio Silva Castro Ferreira
Rua Basílio da Gama, Canela, s/n, 40110-140 – Brasil. Contato: +55 (71)3283-7373; E-mail: joaovscaio@gmail.com.
Submissão: 26-11-2023
Aprovado: 15-04-2024
RESUMO
Introdução: A Técnica em enfermagem exerce um papel central no bom funcionamento das salas de vacinação, tornando-se crucial conhecer a rotina desse contexto de trabalho, sob sua perspectiva. Objetivo: Compreender o cotidiano de trabalho e formação da equipe de enfermagem nas salas de vacina sob a percepção das Técnicas em Enfermagem. Métodos: Trata-se de um estudo descritivo, exploratório com abordagem qualitativa, realizado nas salas de vacina da zona urbana da região sul de Teresina-Piauí. Participaram da pesquisa 15 Técnicas em enfermagem que trabalham nas salas de vacina que foram escolhidas de forma não aleatória por conveniência. A coleta de dados aconteceu no período de julho a agosto de 2021, por meio de entrevista semiestruturada. Resultados: Os achados deste estudo demonstraram que as técnicas em enfermagem desempenham contribuições valorosas nas salas de vacina, atuando em aspectos estruturais, organizacionais, operacionais e educacionais, no que se refere a manipulação adequada de imunobiológicos e ambientação apropriada destes setores. Além disso, pode-se conhecer mais sobre a atuação da Enfermeira nas salas de vacina, delimitando-se os déficits e contribuições relacionados a supervisão desta profissional. Considerações Finais: Através deste estudo pode-se constatar que os cuidados realizados pelas Técnicas em Enfermagem estão de acordo com as orientações previstas pelo Ministério da Saúde. Entretanto, é importante que a Enfermeira atue de forma mais presente nestas salas, contribuindo para melhorar o processo de trabalho em sala de vacina.
Palavras-chave: Papel do Profissional de Enfermagem; Percepção; Imunização; Vacinação; Educação Continuada.
ABSTRACT
Introduction: Nursing technicians play a central role in the smooth running of vaccination rooms, making it crucial to understand the routine of this work context from their perspective. Objective: Understanding the day-to-day work and training of the nursing team in vaccination rooms from the perspective of the Nursing Technicians. Methods: This is a descriptive, exploratory study with a qualitative approach, carried out in vaccination rooms in the urban area of the southern region of Teresina-Piauí. Fifteen nursing technicians working in the vaccine rooms took part in the study. They were chosen non-randomly for convenience. Data collection took place from July to August 2021, by means of a semi-structured interview. Results: The findings of this study showed that nursing technicians make valuable contributions in vaccine rooms, acting in structural, organizational, operational and educational aspects, regarding the proper handling of immunobiologicals and the appropriate setting of these sectors. In addition, we were able to find out more about the role of nurses in vaccine rooms, outlining the deficits and contributions related to their supervision. Final considerations: This study shows that the care provided by the nursing technicians is in line with the guidelines laid down by the Ministry of Health. However, it is important for nurses to be more present in these rooms, helping to improve the work process in vaccination rooms.
Keywords: Nurse's Role; Perception; Immunization; Vaccination; Continuing Education.
RESUMEN
Introducción: Los técnicos de enfermería desempeñan un papel central en el buen funcionamiento de los centros de vacunación, por lo que es crucial comprender la rutina de este contexto de trabajo desde su perspectiva. Objetivo: Comprender el trabajo diario y la formación del equipo de enfermería en las salas de vacunación desde la perspectiva de los Técnicos de Enfermería. Método: Se trata de un estudio descriptivo, exploratorio, con abordaje cualitativo, realizado en centros de vacunación del área urbana de la región sur de Teresina-Piauí. Participaron en el estudio 15 técnicos de enfermería que trabajan en las salas de vacunación, elegidos de forma no aleatoria por conveniencia. La recogida de datos se realizó entre julio y agosto de 2021, mediante entrevista semiestructurada. Resultados: Los hallazgos de este estudio mostraron que los técnicos de enfermería realizan valiosos aportes en las salas de vacunación, actuando en aspectos estructurales, organizativos, operativos y educativos, en lo que respecta al manejo adecuado de los inmunobiológicos y a la ambientación apropiada de estos sectores. Además, fue posible conocer mejor el papel de los enfermeros en las salas de vacunas, delimitando los déficits y contribuciones relacionadas con su supervisión. Consideraciones finales: Este estudio muestra que la atención prestada por los técnicos de enfermería está en consonancia con las directrices establecidas por el Ministerio de Salud. Sin embargo, es importante que los enfermeros estén más presentes en estas salas, ayudando a mejorar el proceso de trabajo en la sala de vacunación.
Palabras clave: Rol de la Enfermera; Percepción; Inmunización; Vacunación; Educación Continua.
INTRODUÇÃO
As vacinas são consideradas como uma das principais estratégias na prevenção, contenção e erradicação de enfermidades em todo o mundo no contexto da saúde pública (1). No Brasil, o Programa Nacional de Imunização (PNI) do Ministério da Saúde (MS), é reconhecido e apreciado mundialmente por diminuir as notificações de doenças preveníveis, alterando o cenário epidemiológico de várias enfermidades no país (2).
Na atual política de saúde brasileira, a vacinação é considerada uma atividade executada, preferencialmente, pela Atenção Primária à Saúde (APS), especificamente na Estratégia Saúde da Família (ESF). Assim, para sua efetividade, fica a cargo dos municípios uma parcela da responsabilidade na efetiva estruturação e organização do programa de vacinação, enquanto o gerenciamento direto das estratégias de vacinação e das salas de vacinação, fica a cargo da equipe de enfermagem, que se destaca nesta condução, fornecendo todo suporte teórico-prático em que foram habilitadas (3-2).
Embora a Enfermeira seja a líder da equipe de enfermagem e a responsável técnica pela sala de vacinação 4. Estudos observaram que as mesmas não possuem disponibilidade integral para tal atribuição, por estarem envolvidas em outras funções no cotidiano das Unidades de Atenção Primárias à Saúde (UAPS), reduzindo-se a assiduidade dessas profissionais nesses ambientes de trabalho. Consequentemente, as Técnicas e Auxiliares em enfermagem tornam-se as principais prestadoras de assistência no setor (4-6).
As Técnicas em enfermagem são profissionais essenciais para o funcionamento adequado das salas de vacinação, sob supervisão da enfermeira. Elas exercem múltiplas funções nestas salas, seja em aspectos operacionais ou práticos, como limpeza do ambiente, quantidade de dose, temperatura e organização do refrigerador, dose de administração, via de administração, efeitos colaterais ou adversos, descarte de materiais e orientações aos usuários (4,7).
Portanto, a Técnica em enfermagem exerce um papel central no bom funcionamento das salas de vacinação, assim, é inegável que não se deve desconsiderar a experiência dessa profissional nestes ambientes, pelo contrário, é necessário ouvi-las para que se possa conhecer a rotina desse cenário de trabalho, bem como os desafios que essa profissional enfrenta ao exercer a sua ocupação nesse local, visando-se problematizar e listar o passo a passo quanto à rotina, manutenção, funcionamento dessas salas e educação permanente dessas profissionais (8-9).
Portanto, teve-se como objetivo compreender o cotidiano de trabalho e formação da equipe de enfermagem nas salas de vacina sob a percepção das Técnicas em Enfermagem.
Trata-se de uma pesquisa descritiva e exploratória com abordagem qualitativa, analisada à luz das orientações propostas pelo Manual de Normas e Procedimentos para Vacinação e Manual de Rede de Frio do Programa Nacional de Imunizações, ambos do MS (3-4).
O estudo foi realizado em 20 salas de vacina localizadas na zona urbana da região sul do município de Teresina no estado do Piauí, durante o período de julho a agosto de 2021. A produção de dados ocorreu por meio de entrevistas semiestruturadas conduzidas por um roteiro sociodemográfico que abordou perguntas objetivas com o intuito de conhecer o perfil sociodemográfico e profissional e por um roteiro semiestruturado com perguntas subjetivas relacionadas ao processo de trabalho em sala de vacina, englobando questionamentos sobre o momento em que as técnicas recebiam os imunobiológicos e insumos até a aplicação e registro da vacina, conhecimentos em torno do PNI e a atuação da profissional enfermeira neste contexto, possibilitando discorrer sobre o tema.
As falas foram gravadas e transcritas na íntegra pela pesquisadora, preservando-se a fidedignidade das informações. O encerramento das entrevistas estabeleceu-se por meio do critério de saturação (10).
Participaram do estudo 15 técnicas em Enfermagem que atuavam há pelo menos seis meses nas salas de vacina, que estavam presentes durante as visitas nas UBS para a coleta de dados e que aceitaram participar do estudo, mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
A delimitação desta amostra foi definida como não probabilística e por conveniência ( 11). Logo, não há aleatoriedade e os resultados não podem ser generalizados para a população, este recorte específico justifica-se devido a maior viabilidade operacional para a execução da pesquisa, devido ao contexto de restrições da pandemia de Covid-19, para a realização das entrevistas foram tomadas todas as medidas de proteção contra a Covid-19.
Os dados foram analisados conforme o método de interpretação dos sentidos, à luz do referencial teórico proposto (12,3-4). Para garantir o sigilo e anonimato das participantes da pesquisa, as mesmas foram identificadas por meio de uma letra do alfabeto, sendo esta letra “T” referente ao termo “técnico” seguido de números arábicos crescentes a quantidade de entrevistadas.
Este estudo respeitou os aspectos éticos definidos pela comunidade científica, bem como foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual do Piauí sob CAEE: 46867321.9.0000.5209.
Participaram do estudo 15 técnicas em enfermagem, que trabalham em salas de vacina nas UBS localizadas na zona urbana da região Sul, no município de Teresina, Piauí. Todas as participantes foram do sexo feminino, com idades variando entre 25 e 62 anos, com tempo de formação de 5 a 34 anos e de atuação na área de 1 a 15 anos.
Após a análise dos dados coletados emergiram duas categorias temáticas dispostas da seguinte forma: Categoria 1) Sala de vacina: vivência e conhecimento das técnicas em enfermagem, Subcategorias: Ambientação das salas de vacina: cuidados pré e pós fim do turno; Cuidados com os imunobiológicos; Capacitações e atualizações sobre salas de vacina e imunobiológicos; Categoria 2) Ausência da Enfermeira nas salas de vacina.
Categoria 1. Sala de Vacina: Vivência e Conhecimento das Técnicas de Enfermagem
O cotidiano de trabalho nas salas de vacinação abrange aspectos estruturais, organizacionais, operacionais e educacionais, visando-se promover a manipulação adequada dos imunobiológicos e ambientação necessária para a atuação destas profissionais nas salas de vacina, conforme as vivências compartilhadas nas subcategorias abaixo.
Ambientação das salas de vacina: cuidados pré e pós fim do turno
Ao descreverem do início ao fim das suas jornadas de trabalho nestas salas, grande parte das entrevistadas tiveram um ponto de partida em comum, o cuidado com a verificação e o registro da temperatura da sala, como mostra nas falas de “T4’’ e “T6”.
Quando eu chego, a primeira coisa que observo é a temperatura da sala, depois, vou olhar o termômetro que fica anexado na geladeira e anoto a temperatura do momento, a máxima e a mínima, e em seguida abro o sistema e lanço a temperatura [...]. (T4)
Quando chego, primeiramente, ligo o ar-condicionado, depois ligo o computador, depois vou checar as temperaturas da geladeira, primeira coisa que fazemos é checar a temperatura da geladeira, [...]. (T6)
Após frisarem sua preocupação com a temperatura do ambiente, as profissionais iniciam os cuidados prévios para o manuseio dos imunobiológicos, destacando-se o quão cautelosas elas são quanto a temperatura das caixas térmicas e o seu preparo para o armazenamento, tal como foi evidenciado nos depoimentos abaixo.
Tem que ter cuidado com a caixa térmica, em está a +2ºC a +8°C antes de colocar as vacinas dentro e sempre ficar olhando as temperaturas [...]. (T12)
A rotina quando a gente chega é preparar a caixa térmica, primeiro tira o gelox da geladeira, e coloca na caixa, ao atingir a temperatura entre dois e oito graus no isopor, a gente coloca as vacinas, os imunobiológicos. (T13)
As estruturas mencionadas são essenciais para a realização dos procedimentos para administração das vacinas, evitando a abertura contínua das geladeiras e contribuindo para a preservação dos imunobiológicos armazenados. Logo, este cuidado prévio, pode ser tido como uma medida fundamental para o gerenciamento adequado das vacinas.
Por outrora, ao envolver este conjunto de práticas para a ambientação adequada da sala de vacina e os pré-cuidados com os imunobiológicos, as técnicas também relataram a importância do registro dessas informações, como medida de controle e alimentação do sistema de dados vinculado ao programa de vacinação.
Eu abro aqui o computador, aí eu vou no sistema para identificar o horário que estou entrando, e dizer se está tudo ok com as vacinas. (T2)
Entro no sistema, olho se está faltando mais alguma coisa, algumas seringas, se está faltando alguma vacina para eu repor. (T3)
Os sistemas informatizados de imunização, são contribuições tecnológicas cruciais para o gerenciamento de registros relacionados à imunização, que permite a retroalimentação das informações e acompanhamento eficaz e contínuo das atividades relacionadas ao setor de imunizantes.
Quanto a finalização dos turnos, os cuidados elencados neste momento se correlacionam diretamente com as atividades de pré-atendimento ao público, retomando-se aos cuidados diretos com a temperatura, a devolução adequada a geladeira das vacinas e dos insumos para conservação dos imunizantes, além de ter se destacado a necessidade de registro destas informações.
No final eu só recolho as vacinas, coloco na geladeira, as vacinas têm o prazo de validade de 6 a 8 horas [se ultrapassar] elas são jogadas fora e as outras que tem a validade maior são colocadas na geladeira. (T7)
No final do turno a gente pega o material, coloca novamente dentro da geladeira, vê a temperatura novamente e anota no mapazinho da geladeira. (T8)
É importante salientar, que existe uma troca de turnos entre algumas profissionais ou salas de vacina que funcionam apenas por um turno, conforme estas peculiaridades, os cuidados listados foram sistematizados de acordo com a rotina de cada sala, ou seja, para as que funcionavam em um único turno, a transferência destes cuidados pós-atendimento do dia estava sob a responsabilidade da próxima vacinadora, consequentemente os cuidados de pós-atendimento que a vacinadora fazia, estavam condizentes apenas ao período de transição referente a chegada da próxima profissional.
No final eu olho a temperatura de novo, mas eu não mexo mais porque eu não devolvo as vacinas para a geladeira, só a menina no final do plantão, eu só faço olhar se tá tudo ok na temperatura tanto na caixa como na geladeira, desligo meu computador e vou embora. (T1)
Aqui são dois turnos eu já deixo as atividades de fim de turno para a moça da tarde, quando ela avisa que não vem aí a gente coloca no nosso mapa a temperatura diária que fica anexado na geladeira. (T13)
Cuidados com os imunobiológicos
A lavagem das mãos antes da manipulação dos imunobiológicos foi um cuidado prévio bastante mencionado pelas entrevistadas, o que reforça a adesão desta prática na rotina das profissionais.
Eu lavo a mão direto, sempre antes de pegar o imunizante e depois que eu aplico a vacinação. (T1)
[...] a gente lava as mãos ou se não tiver água pelo menos usa o álcool. (T10)
Quando eu vou fazer a vacina eu lavo minhas mãos, enxugo aí eu vou e preparo a vacina. (T2)
A higienização das mãos é vista como um procedimento básico quanto ao manejo direto dos imunizantes, obviamente que para a sua eficácia, ela deve seguir todas as etapas referentes a higienização adequada, o que não foi possível analisar neste estudo, retificando-se a necessidade de mais investigações quanto o passo a passo da realização destes procedimentos.
Continuando-se nesta construção narrativa em torno dos depoimentos das técnicas em enfermagem, os cuidados se estenderam também para a abertura dos imunobiológicos, sua identificação, diluição adequada e análise da validade.
[...] a gente deve ter o cuidado na hora da quebra dos frascos ampolas, rotular com algodão para que não venha nos machucar, e sempre a questão da higiene [...] quando vou administrar eu sempre olho a questão da validade, como a vacina está armazenado, se está tudo funcionando direitinho e se precisa diluir. (T10)
[...] na hora de aspirar o imunizante sempre me atento para o aspecto desse imunizante, se mudou de coloração, se está congelado, qualquer aspecto que eu suspeite que não está normal. Tem também que se atentar ao prazo de validade, que laboratório que você está fazendo, se vem a dose certa no frasco [...]. (T4)
[...] pego o imunizante, homogeneízo, antes de fazer a administração, as vezes tem vacinas que são diluídas, a gente pega o diluente, pega a vacina, dilui e faz a administração, sempre a vacina certa, local certo [...]. (T7)
Os cuidados estão nos mínimos detalhes, permeando-se entre a análise prévia e manejo adequado dos imunobiológicos. Estas iniciativas contribuem para a minimização de erros durante a realização destes procedimentos, além de assegurar a proteção da trabalhadora, principalmente no que se refere ao lidar com os perfurocortantes.
Ademais, o registro da administração dos imunizantes, seu descarte e o cuidado com tempo de exposição do imunobiológico à temperatura ambiente, também foram outros cuidados mencionados pelas profissionais entrevistadas.
[...]eu retiro a quantidade que eu quero de vacina e devolvo o restante para a caixa e depois a fecho, aplico na criança e coloco tudo nos seus devidos lugares, seringa com agulha e os frasquinhos secos têm um descartex só para eles. (T1)
[...] a gente coloca os frascos em uma caixa de perfuro, fica uma para os frascos utilizados e outra para as seringas, manípulo sempre com todo cuidado para gente não ter contato com o líquido das vacinas, e a gente anota na caderneta o lote da vacina administrada. (T3)
[...] fico sempre atenta à questão da temperatura, tanto do ambiente, como da caixa térmica, como da geladeira. (T4)
Capacitações e atualizações sobre salas de vacina e imunobiológicos
Ao questionar as participantes sobre as capacitações e atualizações sobre as salas de vacina e imunobiológicos, elas relataram que ocasionalmente estes momentos são direcionados e proporcionados pela gestão municipal, ocorrendo de forma presencial ou online, sendo oportunidades marcadas pelo compartilhamento de orientações e fornecimento de manuais e notas técnicas.
As atualizações são feitas pela fundação municipal de saúde, sempre tem uma enfermeira responsável e elas fazem este momento conosco. Antes a gente tinha reuniões presenciais, mas agora não, agora as reuniões estão sendo online e sempre que tem uma novidade eles mandam um impresso para nós, e fazem uma reunião online conosco. (T3)
A gente tem algumas atualizações que vêm da fundação, por meio de reuniões. Por exemplo, se vai ter uma campanha de vacinação, eles nos explicam aquela nota técnica, imunobiológico, as reações, tudo direitinho. (T4)
Também foi evidenciado que estas atualizações e capacitações ocorrem por iniciativa das próprias técnicas, onde elas relataram utilizar os recursos digitais de instituições da saúde renomadas para esclarecerem suas dúvidas.
[...] eu busco muito na internet, as vezes você mesmo estando muito tempo dentro da sala de vacina, acontece uma situação e outra esporádica, que você tem que buscar realmente artigos para estar lendo pra ver como proceder [..] e vejo sempre na biblioteca virtual da fundação municipal de saúde. (T8)
Eu procuro sempre estar me atualizando na internet. [...] Agora estou fazendo um curso de atualização sobre vacinas pelo CONASS (Conselho Nacional de Secretários de Saúde). (T14)
Categoria 2. Ausência da Enfermeira na Sala de Vacina
A ausência contínua da enfermeira nas salas de vacina foi um tópico recorrente nos discursos das técnicas em enfermagem, corroborando com a atribuição de competências na figura da técnica em enfermagem.
A enfermeira não está presente na sala de vacina, a não ser quando eu preciso de orientação, mas presença física é muito difícil [...]. (T1)
[...] de vez em quando ela vem aqui perguntar para mim, se está tudo bem? (T2)
[...] o técnico basicamente assume às vezes a responsabilidade da enfermeira na sala de vacina[...]. (T10)
A situação torna-se ainda mais agravante, quando as técnicas referiram a total ausência das enfermeiras responsáveis pela sala de vacina ou desconhecimento de quem são estas responsáveis técnicas.
[...] eu não sei quem é o responsável técnico pela sala de vacina [...]. (T6)
[...] aqui não tem enfermeira técnica da sala de vacina [...]. (T11)
Por outrora, as enfermeiras quando contribuem nas atividades relacionadas à sala de vacina, são em momentos pontuais que ocorrem apenas durante campanhas.
Na campanha de vacinação a enfermeira sempre está presente ajudando[...]. (T4)
[...] Na época das campanhas elas vem dá um auxílio, quando elas desocupam as funções delas. (T3)
DISCUSSÃO
Conforme a análise realizada, pode-se identificar que as práticas de cuidado concernentes às salas de vacina e executadas pelas técnicas em enfermagem entrevistadas, corresponderam aos padrões esperados pelos regimentos do Ministério da Saúde. Um dos aspectos que foram principais quanto a estes cuidados, foi o monitoramento das temperaturas, um ponto crítico no que diz respeito à conservação dos imunobiológicos (13). Segundo outras análises, o cumprimento desse monitoramento ainda é algo ineficaz mediante as recomendações estabelecidas para a Rede de Frio em salas de vacina (3,14). ressaltando a iniciativa positiva vislumbrada nos achados vigentes.
A vigilância das temperaturas, por meio de um olhar atento e da observação contínua, é importante no processo de conservação das vacinas. Diante disso, o controle, registro e monitoramento diário da temperatura são imprescindíveis (15). Segundo outros estudos, a ocorrência de geladeiras com temperaturas inadequadas, bem como organização inadequada de geladeiras domésticas para o armazenamento de imunobiológico são episódios recorrentes, provocando um alto índice de perda de doses (15-17).
Acerca dos demais cuidados, os depoimentos estão compatíveis com a literatura, visto que a vacinadora presente na sala de vacina deve controlar o prazo limite de uso do estoque de insumos, bem como de seringas e agulhas a serem utilizadas. Destacando-se assim, a importância destes registros para posteriores reflexões relacionadas à melhoria da qualidade do cuidado prestado, assim como a reposição contínua destes materiais (18-19).
Outra percepção que merece destaque é a higienização das mãos, enfatizada pelo MS visto ser um procedimento básico e significativo no processo que antecede a vacinação. Quando realizado da forma correta, previne a contaminação no manuseio, preparo e administração dos imunobiológicos (4). No entanto, no cotidiano esta etapa do cuidado nem sempre é realizada de forma adequada (20). Segundo estudo realizado em uma Estratégia de Saúde da Família localizada no interior do Brasil, que teve como objetivo verificar a associação entre a contaminação microbiológica e a assistência prestada na sala de vacinação, foi constatado falhas quanto a higienização destes ambientes, por meio do crescimento microbiológico encontrado nas análises coletadas, indicando que a ocorrência de higienização inadequada pode influenciar na assistência em saúde prestada. Aspecto, relevante para destacar a necessidade de análises mais aprofundadas quanto a higienização destas salas (21).
No que diz respeito à administração dos imunizantes, durante pesquisa feita em salas de vacinas em um município de Minas Gerais, constatou-se que a similaridade apresentada nos frascos e rótulos, pode ser um fator que influencia na segurança do paciente, podendo induzir a ocorrência de erros e consequentemente danos aos pacientes (18). Portanto, é competência dos profissionais inseridos na sala de vacinação realizar procedimentos adequados no preparo dos imunizantes, bem como verificar a validade das vacinas, com atenção especial para a aparência da solução, o estado da embalagem e o número do lote (19). Tal qual foi evidenciado nos relatos das participantes deste estudo.
Por outrora, para reforçar a atenção contínua para estes detalhes referentes ao manuseio destes materiais, é de fundamental importância a presença da educação permanente para as profissionais vacinadoras, considerando que o conhecimento em vacinação está mudando continuamente (22). Em pesquisa realizada com 56 profissionais da Enfermagem e que atuavam como referências técnicas em imunização, foi constatado que o quão a Educação Permanente em Saúde possui o potencial para encorajar o trabalho em equipe, repercutindo positivamente no cuidado ofertado aos usuários e possibilitando aos profissionais mais segurança nas atividades prestadas (23).
No que se refere, a atuação das enfermeiras nas salas de vacina, alguns estudos reforçam que sua ausência nestes locais, se justifica devido à sobrecarga de responsabilidades ligadas a assistência na atenção básica, gerando o abandono ou falhas na execução de forma ineficaz da supervisão das salas de vacina, podendo provocar falhas nos procedimentos relacionados às vacinas (24).
Desse modo, a enfermeira é a responsável técnica pela sala de vacina, portanto necessita ser presente, proativa e orientadora para às necessidades das técnicas nestes locais, em contrapartida, como mencionado, sua ausência é preocupante, pois as técnicas não reconhecem sua figura de comando nesses ambientes, visto que diante de dúvidas e incertezas não tem a quem recorrer, o que pode prejudicar os resultados esperados pelo PNI e MS (4).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A rotina e a operacionalização das atividades na sala de vacinação são complexas, dinâmicas e peculiares, fazendo-se necessária atualização do conhecimento de forma frequente, visto que as mudanças no PNI acontecem de modo acelerado. A partir dos relatos das entrevistadas detectaram-se práticas em conformidade com as orientações previstas pelo referencial teórico utilizado para este estudo.
Para atuar nesta área, as técnicas em enfermagem precisam ter uma formação específica. Além da formação básica, é essencial que haja treinamentos específicos em imunização. Quanto à qualificação das técnicas em enfermagem, a pandemia foi um fator determinante que alterou o processo de qualificação dessas profissionais, antes habituadas ao processo de qualificação tradicional e presencial, levando as mesmas ocasionalmente procurarem conhecimentos por conta própria através da internet, principalmente para sanar dúvidas em relação a situações específicas que ocorrem durante a realização de suas atividades laborais.
Na sala de vacina, as técnicas em enfermagem têm múltiplas responsabilidades, desde a preparação e administração correta das vacinas até o monitoramento de reações adversas após a vacinação. Portanto, a atuação das técnicas em enfermagem nas salas de vacina é imprescindível para o sucesso dos programas de imunização. Através de suas competências técnicas, habilidades de comunicação e compromisso, essas profissionais contribuem diretamente para a prevenção de doenças infecciosas, protegendo indivíduos e comunidades e fortalecendo os sistemas de saúde.
No que se refere a presença da profissional enfermeira atuando em sala de vacina, foi evidenciado a necessidade da figura dessa profissional de forma contínua dentro desse ambiente, sendo importante que ela atue de forma mais efetiva, adotando uma abordagem holística que englobe tanto competências técnicas quanto habilidades interpessoais e de gestão. Ademais, sugere-se que esta presença mais efetiva ocorra por meio de ações educacionais para as vacinadoras e pacientes, monitorização das práticas dentro de sala de vacina, assim como por meio de apoio técnico e organizacional.
Com relação aos desafios para a realização deste estudo, teve-se a própria pandemia de Covid-19 como dificultadora para o acesso às salas de vacina, comprometendo a coleta de dados. Além disso, houve como obstáculo a resistência das técnicas em enfermagem em contribuírem com o estudo, o que limitou os resultados obtidos.
Quanto às potencialidades, esse estudo permite compreender o funcionamento das salas de vacina através da perspectiva das técnicas em enfermagem, conhecer a rotina dessas profissionais no manejo de imunobiológicos, desde o recebimento, armazenamento, registros e administração no público-alvo. Outrossim, é importante conhecer as contribuições da profissional enfermeira dentro desses ambientes, principalmente com relação à figura de supervisão dessa profissional dentro das salas de vacina.
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Fomento e Agradecimento: Nada a declarar
Critérios de autoria (contribuições dos autores)
Silva VB, Ferreira JCSC, Leal SRMD; Filho FJA: contribuíram substancialmente na concepção e/ou no planejamento do estudo; na obtenção, na análise e/ou interpretação dos dados; assim como na redação e/ou revisão crítica e aprovação final da versão publicada. Ibiapina JPB, Soares ACC: contribuíram na obtenção, na análise e/ou interpretação dos dados; assim como na redação e/ou revisão crítica e aprovação final da versão publicada
Editor Científico: Ítalo Arão Pereira Ribeiro. Orcid: https://orcid.org/0000-0003-0778-1447
Editor Associado: Edirlei Machado dos-Santos. Orcid: https://orcid.org/0000-0002-1221-0377