ARTIGO ORIGINAL
CUIDADO DOMICILIAR NA FINITUDE E O CONTEÚDO RELEVANTE PARA A FORMAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM
HOME CARE IN FINITUDE AND THE CONTENT NEEDED FOR THE TRAINING OF NURSING PROFESSIONALS
LOS CUIDADOS DOMICILIARIOS EN LA FINITUD Y LOS CONTENIDOS NECESARIOS PARA LA FORMACIÓN DE LOS PROFESIONALES DE ENFERMERÍA
https://doi.org/10.31011/reaid-2024-v.98-n.2-art.2151
Francisca Aurelia Oliveira do NascimentoI
Laura Coutinho dos SantosII
Vivian Gomes MazzoniIII
Karla Biancha Silva de AndradeIV
Norma Valéria Dantas de Oliveira SouzaV
Eloá Carneiro CarvalhoVI
I Pós-graduação (lato sensu). Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Faculdade de Enfermagem. Rio de Janeiro, Brasil.
ORCID: http://orcid.org/0009-0001-7577-4604
II Pós-graduação (lato sensu). Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Faculdade de Enfermagem. Rio de Janeiro, Brasil.
ORCID: http://orcid.org/ 0009-0008-4876-5690
III Instituto Nacional do Câncer (INCA); Professora Convidada da Pós-graduação Enfermagem em Oncologia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil.
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6894-3484
IV Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Faculdade de Enfermagem. Rio de Janeiro, Brasil.
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6216-484X
V Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Faculdade de Enfermagem. Rio de Janeiro, Brasil.
ORCID: https://orcid.org/ 0000-0002-2936-3468
VI Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Faculdade de Enfermagem. Rio de Janeiro, Brasil.
ORCID: https://orcid.org/ 0000-0002-1099-370X
Autor correspondente
Francisca Aurelia Oliveira do Nascimento
Rua Mariz e Barros 775 (UTI Neonatal ou divisão de Enfermagem) Tijuca Cep: 202700-040, Tel: (21) 999841684, E-mail: francisca.aon@gmail.com.
Submissão: 18-01-2024
Aprovado: 05-04-2024
RESUMO
Objetivo: identificar na literatura científica o conteúdo relevante para a formação dos profissionais de enfermagem atuarem em cuidados domiciliares de fim de vida. Método: Trata-se de uma revisão integrativa, cujo levantamento de dados foi realizado por meio das plataformas online de pesquisa Scielo, PubMed e BVS nos idiomas português, inglês e espanhol. Resultados: Foram encontrados nove artigos e após a análise emergiram três categorias: Cuidados paliativos na enfermagem: a relevância dos cuidados, da bioética e dos aspectos legais, condutas dos profissionais de enfermagem para desenvolvimento dos cuidados paliativos em ambiente domiciliar, e a formação em enfermagem e seus impactos para o cuidado em fim de vida. Conclusão: Os resultados desse estudo destacam a importância de evidências científicas para os cuidados paliativos na enfermagem, enfatizando-se a necessidade de uma base ética sólida e uma abordagem integral para garantir que os pacientes em cuidados de fim de vida recebam assistência de qualidade. Além disso, foi possível evidenciar a relevância dos profissionais de enfermagem, especialmente em ambiente domiciliar, devido à proximidade com os pacientes e suas famílias, pois desempenham um papel fundamental no monitoramento da situação clínica do paciente, no alívio dos sintomas e no apoio emocional durante o processo de terminalidade.
Palavras-chave: Enfermagem; Cuidados Domiciliares; Cuidados Paliativos; Terminalidade; Perfil Profissional.
ABSTRACT
Objective: identify in the scientific literature the content necessary for the training of nursing professionals in end-of-life home care. Method: This is an integrative review, whose data collection was carried out through the online research platforms Scielo, PubMed and VHL in Portuguese, English and Spanish. Result: Nine articles were found and after their analysis, three categories emerged, namely: Palliative care in nursing: the relevance of care, bioethics and legal aspects, conduct of nursing professionals for the development of palliative care in the home environment, and the nursing training and its impacts on end-of-life care.Conclusion: The results of this study highlight the critical importance of palliative care in nursing, emphasizing the need for a solid ethical foundation and a comprehensive approach to ensure that patients receiving end-of-life care receive quality care. Furthermore, it was possible to highlight the relevance of nursing professionals, especially in a home environment, due to their proximity to patients and their families, as they play a fundamental role in monitoring the patient's clinical situation, relieving symptoms and providing emotional support during the terminality process.
Keywords: Nursing; Home Care; Palliative Care; Terminality; Professional Profile.
RESUMEN
Objetivo: identificar en la literatura científica los contenidos necesarios para la formación de los profesionales de enfermería en los cuidados domiciliarios al final de la vida. Método: Se trata de una revisión integradora, cuya recolección de datos se realizó a través de las plataformas de investigación en línea Scielo, PubMed y BVS en portugués, inglés y español. Resultado: Se encontraron nueve artículos y luego de su análisis surgieron tres categorías, a saber: Cuidados paliativos en enfermería: la relevancia del cuidado, los aspectos bioéticos y legales, la conducta de los profesionales de enfermería para el desarrollo de los cuidados paliativos en el ambiente domiciliario y la formación y sus impactos en la atención al final de la vida.Conclusión: Los resultados de este estudio resaltan la importancia crítica de los cuidados paliativos en enfermería, enfatizando la necesidad de una base ética sólida y un enfoque integral para garantizar que los pacientes que reciben cuidados al final de la vida reciban atención de calidad. Además, se pudo resaltar la relevancia de los profesionales de enfermería, especialmente en el ámbito domiciliario, por su cercanía con los pacientes y sus familiares, ya que juegan un papel fundamental en el seguimiento de la situación clínica del paciente, aliviando los síntomas y brindando apoyo emocional durante el proceso. proceso de terminalidad.
Palabras clave: Enfermería; Cuidados en el Hogar; Cuidados Paliativos; Terminalidad; Perfil Profesional.
INTRODUÇÃO
A história dos cuidados paliativos inicia-se em 1947 com Cicely Saunders, cuja formação era humanista, enfermeira, médica e assistente social. Ela conheceu e acompanhou até a morte um paciente de 40 anos chamado David Tasma, que recebeu uma colostomia paliativa devido a um carcinoma retal inoperável. David marcou a trajetória profissional de Cicely quando asseverou que: “Eu serei uma janela na sua casa” (1).
Assim, esse foi o ponto de partida para o compromisso com uma nova forma de cuidar, introduzido por Cicely Saunders entre 1950 e 1960, destacando-se no desenvolvimento desses cuidados e difundindo a medicina paliativa na Inglaterra, no Canadá, EUA e na Austrália(1).
Em 1967, Cicely Saunders fundou o San Chistopher’s hospice com o objetivo de proporcionar a qualidade de vida e finitude digna para a pessoa com doença avançada sem possibilidade de tratamento modificador da doença, com uma equipe multiprofissional além de voluntários. O tratamento era desenvolvido a partir de uma filosofia de cuidados específicos, voltados para uma abordagem psicossocial e espiritual, ativa comunicação, tomada de decisão, apoio do familiar e outros envolvidos no processo. Por meio desta perspectiva de cuidado, esta filosofia difundiu-se pelo mundo com o objetivo de propiciar uma assistência integral e individualizada para esses pacientes(1).
Já em meados de 1973, na América do Norte, o médico cirurgião canadense, Balfour Mount, identificou necessidades dos pacientes que estavam morrendo no Montreal’s Royal Victoria Hospital, iniciando um processo semelhante ao da Cicely(1).
Em 1974 foi desenvolvido um novo serviço para destacar o foco na atenção à qualidade de vida dos pacientes até o momento da morte. Nesse período foi criado o termo palliative care que descrevia o serviço iniciado no Canadá, e desde então ganhou aceitação mundial (1).
No mesmo ano, o termo “cuidados paliativos” passou a ser adotado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), e o Comitê de Câncer criou um grupo de trabalho responsável pela definição de políticas que visassem o alívio da dor e cuidados para paciente com câncer, direcionando a recomendação para todos os pacientes do mundo(2).
Em 1985, em fase de expansão dos movimentos de protesto contra o abandono de pacientes sem possibilidades terapêuticas pelo sistema inglês, foi fundada a Associação de Medicina Paliativa no Reino Unido (Grã-Bretanha e Irlanda). Destaca-se que a Inglaterra foi o primeiro país a reconhecer medicina paliativa como especialidade médica(1).
Nessa esteira, a Organização Mundial da Saúde(1) define que:
Cuidados Paliativos consistem na assistência promovida por uma equipe multidisciplinar, que objetiva a melhoria da qualidade de vida do paciente e seus familiares, diante de uma doença que ameace a vida, por meio da prevenção e alívio do sofrimento, identificação precoce, avaliação impecável e tratamento de dor e demais sintomas físicos, sociais, psicológicos e espirituais.
Diante dessa definição, nota-se que a OMS entende que os cuidados paliativos não são apenas voltados para o doente, mas também para seus familiares, já que irão vivenciar o sofrimento de seu ente querido. Nesse sentido, é de grande importância que os familiares e profissionais de saúde estejam cientes do quadro paliativo do paciente para que possam passar segurança e ao mesmo tempo a tranquilidade de que ele não sentirá dor e desconforto, recebendo todos os cuidados possíveis para seu processo de morrer(3).
Nesse contexto, o profissional de enfermagem no cuidado domiciliar na finitude desempenha um papel fundamental. Para tanto, o perfil desse profissional requer habilidades e competências específicas, além de uma abordagem humanizada e sensível às necessidades dos pacientes e suas famílias. O profissional de enfermagem, como integrante da equipe multidisciplinar, deve ser capaz de proporcionar conforto, alívio do sofrimento e qualidade de vida para aqueles que se encontram no final de sua jornada(2).
A partir do exposto, surgiu como questão norteadora para este estudo: “Qual é conteúdo relevante para a formação dos profissionais de enfermagem atuarem em cuidados domiciliares de fim de vida?”. Para responder à questão norteadora, traçou-se como objetivo identificar na literatura científica o conteúdo relevante para a formação dos profissionais de enfermagem atuarem em cuidados domiciliares de fim de vida.
Para o desenvolvimento desse estudo optou-se pela revisão integrativa (RI), porque possui reputação internacional na pesquisa em enfermagem e na prática baseada em evidências, trata-se de um tipo de revisão que permite realizar análises que extrapolam a síntese dos resultados dos estudos primários, abrangendo outras dimensões da pesquisa e que apresenta potencialidade para o desenvolvimento de novas teorias e problemas de pesquisa. Em conclusão, a RI é compreendida como um tipo de revisão de natureza complexa, que demanda métodos normatizados e sistemáticos para garantir o necessário rigor requerido na pesquisa científica e a legitimidade das evidências estabelecidas(4).
Essa análise pode ser feita utilizando técnicas de codificação e categorização dos dados. A RI possui seis passos: (1) seleção de tema /pergunta; (2) estabelecimento de critérios de inclusão; (3) definição das informações a serem extraídas dos estudos; (4) avaliação dos estudos; (5) interpretação dos resultados; (6) apresentação da revisão(5).
Para atender esses passos, identificou-se o tema e foi elaborada a seguinte pergunta central da pesquisa: “Qual é conteúdo relevante para a formação dos profissionais de enfermagem atuarem em cuidados domiciliares de fim de vida?”.
A busca dos dados foi realizada em abril de 2023, seguidas as recomendações dadas pelo método PRISMA (Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses) e utilizou-se três bases de dados PubMED, BVS (Biblioteca Virtual em Saúde) e SCIELO, 1 livro e 1 manual. Para garantir o controle de vocabulário e a identificação das palavras correspondentes na base de dados utilizou-se o Mesh Terms. Foram elaborados 3 grupos de descritores combinados pelo método booleano AND: (‘'Cuidados domiciliares AND Enfermagem AND cuidados paliativos AND Terminalidade AND perfil profissional AND Formação'‘).
A partir desses grupos de descritores e para buscar as produções científicas que integrariam essa revisão através de filtros da própria base de dados, estabeleceu-se como critério de inclusão: ano de publicação (2018-2023), produções cientificas em português, inglês e espanhol e artigos que falassem do profissional de enfermagem (técnico e enfermeiro). E como critério de exclusão, foram retirados os estudos que tratavam da equipe multidisciplinar, hospices, crianças e os artigos pagos para serem acessados.
Na busca realizada nas bases de dados Pub MED, BVS e SCIELO foram encontrados 1.223 artigos, assim, na primeira etapa procedeu-se à leitura dos títulos desses artigos, e aplicou-se os critérios de inclusão e exclusão e foram selecionados 323 artigos.
Na segunda etapa, seguindo o critério de exclusão, foram retirados os artigos com estudo em “hospices” e “Crianças”, sobrando 23 artigos.
Na terceira etapa, 14 artigos foram retirados, pois não atendiam às produções cientificas estabelecidos na metodologia, portanto, foram selecionados para o estudo nove artigos. Destaca-se que esses artigos foram lidos na íntegra e apontam de alguma forma a importância do ensino e um treinamento de equipes de enfermagem nos cuidados de fim de vida para melhoria deste atendimento.
A fim de organizar os resultados e facilitar a discussão foi
construído um quadro sinóptico com a distribuição das produções cientificas. Por
fim, realizou-se uma análise temática dos nove artigos selecionados,
identificando os principais temas e padrões emergentes relacionados ao conteúdo
relevante para a formação dos profissionais de enfermagem nos cuidados
domiciliares em cuidados de fim de vida. Ressalta-se que por se tratar
de uma RI não houve necessidade de ser submetida ao comitê de ética, conforme
as Resoluções números 466/2012 e 510/2016 do Conselho
Nacional de Saúde.
A seguir, apresenta-se o fluxograma de metodologia e busca, a fim de facilitar o entendimento:
Figura 1 - Fluxograma de Metodologia de busca, conforme recomendação do método Prisma para revisão sistemática de Literatura. Ano 2018-2023.
Fonte: elaborado pelas autoras
RESULTADO
Após as buscas, nove artigos foram selecionados e construiu-se um quadro sintético (Quadro 1), que será apresentado a seguir com a distribuição das produções cientificas por títulos, periódicos em que foram publicados, ano de publicação, objetivo, tipo de estudo. Utilizou-se instrumento validado(6) para definir o nível de evidência de cada estudo, sendo: l- Revisões sistemáticas e metanálise; II- estudo randomizado, controlado; III- Ensaio clinico controlado; IV- Caso controle ou Coorte; V- Revisão sistemática de estudos qualitativo ou descritivo; VI- Estudo Qualitativo ou Descritivo ; VII- Parecer ou consenso de especialista(21).
Quadro 1 – Quadro sintético de artigos selecionados
Fonte: elaborado pelas autoras.
O número de artigos encontrado aponta uma baixa produtividade sobre a temática, isso indica que há um vácuo de produção que precisa ser preenchido por nossas pesquisas a fim incrementar o conhecimento neste contexto do cuidado de enfermagem, tanto no Brasil quanto na Europa. Além disso, observou-se que 78% dos artigos eram pesquisas qualitativas e tinham nível de evidência IV.
A partir dos resultados
encontrados emergiram três categorias, a saber: cuidados paliativos na
enfermagem e Bioética; as condutas dos profissionais de enfermagem para
desenvolvimento dos cuidados paliativos em ambiente domiciliar; e percepção do
estudante de enfermagem frente à morte/morrer e a compreensão do sentido da
vida.
DISCUSSÃO
Cuidados paliativos na enfermagem: a relevância dos cuidados, da bioética e dos aspectos legais
Os cuidados paliativos na atenção domiciliar tiveram início no Brasil a partir da implementação da Política Nacional de Atenção Domiciliar, estabelecida pela Portaria nº 2.529, de 19 de outubro de 2011, do Ministério da Saúde. Essa política visava ampliar o acesso e qualificar a assistência domiciliar no âmbito do SUS. A inclusão dos cuidados paliativos como uma das modalidades de atenção domiciliar foi oficializada pela Lei nº 12.803, de 2012. Essa lei estabeleceu diretrizes para a oferta de assistência domiciliar pelo SUS, e reconheceu a importância dos cuidados paliativos no atendimento às pessoas em situação de doenças avançadas e incuráveis (7).
A partir da implementação dessa legislação, os cuidados paliativos passaram a ser oferecidos de forma mais estruturada e organizada no ambiente domiciliar. Foram criadas equipes multiprofissionais especializadas, compostas por médicos, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais, fisioterapeutas, entre outros profissionais, que passaram a atuar no cuidado integral aos pacientes e seus familiares nos domicílios(4).
Destaca-se que essa modalidade de cuidado também oferece suporte emocional, orientação e apoio aos familiares, contribuindo para o enfrentamento da doença e o cuidado integral da pessoa em seu ambiente familiar(4).
Assim sendo, os cuidados paliativos são considerados uma filosofia de cuidar, sendo voltados para pacientes com doenças crônicas degenerativas ou doenças não transmissíveis, cujo enforque é proporcionar ao paciente e seus familiares melhor qualidade de vida, porém, no domicílio torna-se um ambiente favorável para esse cuidar. Nesse sentido, pontua-se a importância de entender o contexto domiciliar, como cenário que engloba as peculiaridades e a dinâmica de cada família, além de abranger fatores que influenciam a vida destas pessoas e seus familiares(6).
A equipe de cuidados paliativos deve possuir habilidades de manejo de complicações, sejam essas oriundas da doença ou do tratamento; habilidades para manejo da dor e outros sintomas; abordagem centrada no paciente e em seus familiares, capacidade de prover acolhimento e humanização no ambiente de cuidado e propiciar cuidado biopsicossocial aos pacientes e seus familiares no momento da morte e do luto(3).
Nesse cenário, os profissionais de enfermagem são considerados componentes primordiais para a garantia dos cuidados aos pacientes em cuidados paliativos na terminalidade, uma vez que são os maiores responsáveis pelo monitoramento da situação clínica do paciente, reconhecendo primeiramente a deterioração clínica e a instalação do processo terminal, apontando a necessidade da reorganização do processo de assistência para o alcance do conforto, apoiando assim a família e a definição conjunta com a equipe multiprofissional de manutenção de condutas terapêuticas não invasivas(11).
No primeiro estudo, observou-se que a Bioética está envolvida com o nascer, o viver e o morrer, sendo primordial, para a prática dos profissionais de saúde, estando demarcada com quatro princípios básicos: a beneficência, a autonomia, a justiça e a não maleficência, que lhe dão fundamentação para lidar com as novas descobertas e suas aplicações(2). Ainda neste estudo o autor relata a importância de o profissional de enfermagem utilizar os conhecimentos da Bioética para nortear a assistência prestada, sendo o guia para uma assistência ao paciente como um ser integral. Os avanços tecnológicos permitiram diagnósticos e tratamentos precoces de inúmeras doenças e adicionaram a sobrevida de pacientes com doenças incuráveis(2).
Se, por um lado, esses avanços têm proporcionado uma melhoria na qualidade de vida das pessoas, por outro, essa sobrevida maior decorre do prolongamento dispensável e de tratamentos injustificáveis, com a obstinação terapêutica a qualquer custo(2).
Esse prolongamento exagerado no tempo de vida conduziu às discussões éticas e à necessidade de uma nova modalidade de cuidar, razão pela qual emergiram os cuidados paliativos(2).
As transições demográfica e epidemiológica vividas atualmente, juntamente com outros fatores como o avanço das tecnologias médicas e o modelo de pagamento por procedimento (fee for service), praticados atualmente na área da saúde, contribuem para o aumento dos custos dos sistemas de saúde público e privado. Nesse cenário, comumente são identificadas situações nas quais internações e procedimentos desnecessários são realizados na tentativa de prolongar a vida o máximo possível e afastar a morte às custas de prejuízos à qualidade de vida de pacientes com doenças potencialmente ameaçadoras da vida e incapacitantes (8).
Aponta-se também que os cuidados de Enfermagem devem ser pautados em princípios norteadores, cujo propósito envolve o alívio da dor e outros sintomas bem como a integração de aspectos psicossocial e espiritual do cuidado(7). Isso se deve por reconhecer a morte como um processo natural, devendo-se oferecer um sistema de suporte que capacite o paciente a viver tão ativamente quanto possível, até sua morte(2).
Afirma-se que a enfermagem bem como os processos que fundamentam a organização da assistência nas diversas áreas da saúde, passam por constantes modificações técnicas e nos últimos anos a atenção voltada aos cuidados paliativos tornou-se um tema altamente relevante também se conclui que o vínculo e a experiência dos profissionais de enfermagem são características fundamentais para melhorar a qualidade de vida destes pacientes(1).
Diante desses estudos, os autores concluíram que além do alívio da dor e de outros sintomas, o agir dos profissionais de enfermagem deve estar pautado na bioética, na espiritualidade e no processo psicossocial. A experiência no cenário da finitude da vida possibilita aos enfermeiros o encontro autêntico com seu eu e a possibilidade de ancorarem a vida com maior motivação e assertividade(9).
Frente à terminalidade humana, o cuidado paliativo se torna essencial, pois busca uma melhor condição de saúde na finitude, atenuando o sofrimento, ansiedade e depressão diante da morte(10).
Em conjunto, destacam a centralidade dos cuidados paliativos em fim de vida, enfatizam a necessidade de uma base ética sólida e uma abordagem integral, além de reconhecer a evolução e a importância crescente dos cuidados paliativos em fim de vida nos profissionais de saúde e na área da enfermagem, além da importância da formação profissional nesses cuidados.
Condutas dos profissionais de enfermagem para desenvolvimento dos cuidados paliativos em ambiente domiciliar
Atualmente, em nível mundial, evidencia-se a necessidade dos cuidados paliativos como uma das principais respostas ao sofrimento advindo das doenças crônicas avançadas. Essa modalidade de cuidado permite que milhares de doentes alcancem melhorias na qualidade de vida, assim como os seus cuidadores e familiares. Destaca-se que os enfermeiros têm um papel fundamental na concretização desse objetivo, porém, só poderão desempenhá-lo de maneira adequada se dotados dos conhecimentos necessários ao provimento de cuidados qualificados e sentirem-se efetivamente capazes para os prestar(11).
Patricia Benner, teorista de enfermagem, elaborou diversas propostas para a formação do enfermeiro, com elevado potencial para se adequar às necessidades advindas das condições de morbimortalidade mais prevalentes nos dias atuais, assim como as alterações tecnológicas emergentes(11).
“Somente através da educação continuada em cuidados paliativos de excelência é que podemos alcançar a realização profissional alinhada com nossa realização como seres humanos”. Sendo assim, a enfermagem deve ser capacitada para um atendimento de qualidade, trazendo maior conforto ao paciente e seus familiares(12).
Esses cuidados abrangem diversas áreas, e os profissionais de saúde em geral trabalham no alívio e controle dos sintomas, como: dor, dispneia náuseas, vômitos, fadiga, ansiedade e depressão. Para tanto, são utilizadas estratégias farmacológicas e não farmacológicas, com o intuito de garantir o máximo de conforto ao paciente. A seguir serão destacadas as ações desenvolvidas pelos profissionais de enfermagem no cuidado paliativo(13).
Ø Auxiliar na organização e administração correta dos medicamentos prescritos, ajustando as doses conforme prescrição médica;
Ø desenvolver cuidados de higiene pessoal, como banho no leito, troca de roupas, higiene bucal e cuidados com a pele. São utilizados recursos para proporcionar conforto ao paciente, como posicionamento adequado, uso de travesseiros e colchões especiais para prevenir feridas por pressão;
Ø auxiliar na alimentação adequada, considerando as preferências e restrições alimentares do paciente. Podem ser necessárias adaptações na consistência dos alimentos ou o uso de cateteres para garantir a nutrição adequada, conforme prescrição médica e da nutrição;
Ø oferecer apoio emocional tanto ao paciente quanto aos familiares, auxiliando na compreensão da situação, fornecendo informações sobre o processo de finitude e oferecendo suporte para lidar com sentimentos como medo, ansiedade e tristeza;
Ø manter comunicação constante com a equipe multiprofissional responsável pelo paciente, compartilhando informações sobre seu estado de saúde, necessidades e demandas. Esse acompanhamento é essencial para garantir uma assistência integrada e coordenada; e
Ø dar suporte espiritual e religioso, respeitando as crenças e valores individuais, quando solicitado pelo paciente ou família.
Esses são alguns exemplos dos cuidados indispensáveis realizados na assistência domiciliar em cuidados paliativos na finitude. É importante ressaltar que a abordagem é individualizada, levando em consideração as necessidades, preferências e valores de cada paciente e família(4).
Outro aspecto relevante é a competência técnica do profissional de enfermagem no cuidado domiciliar na finitude. Isso envolve conhecimentos atualizados sobre administração de medicamentos, curativos, cuidados paliativos e controle de sintomas, bem como a capacidade de lidar com emergências e garantir a segurança do paciente. Além disso, esse profissional deve estar preparado para enfrentar as complicações emocionais que envolvem o final da vida(4).
Nessa tessitura, é importante salientar que o perfil do profissional de enfermagem no cuidado domiciliar na finitude não se resume apenas às habilidades técnicas e ao aspecto clínico, mas também deve incluir a capacidade de reconhecer e aceitar os valores culturais, religiosos e éticos dos pacientes e de suas famílias. Isso implica em compreender crenças e tradições, adaptando o cuidado de acordo com suas necessidades individuais(4).
O perfil do profissional de enfermagem no cuidado domiciliar na finitude é composto por uma combinação de habilidades técnicas, competências emocionais e sensibilidade cultural. Esses profissionais desempenham um papel essencial no suporte e cuidado de pacientes e suas famílias nesse momento tão delicado da vida, a fim de promover a dignidade, o conforto e a qualidade de vida(4).
Diante desse cenário, é fundamental que os profissionais de enfermagem sejam capacitados e atualizados constantemente, por meio de cursos de educação continuada e treinamentos específicos na área de cuidado domiciliar na finitude. Somente dessa forma será possível garantir um cuidado de qualidade, centrado no paciente e em consonância com os princípios éticos e humanísticos da enfermagem(21).
Em resumo, a enfermagem desempenha um papel crucial nos cuidados em domicílio para pacientes em fim de vida, proporcionando assistência especializada, conforto, apoio emocional e garantindo que o paciente e suas famílias sejam tratados com dignidade e respeito durante esse momento delicado (8).
Apontou-se que a realização de cuidados paliativos em ambiente domiciliar favorece a aplicação dos princípios relacionados aos cuidados paliativos, contribui para a redução da ansiedade do paciente e de seus familiares, possibilita o empoderamento da família no cuidado, além de colaborar para a redução da demanda por atendimentos hospitalares e dos custos em saúde em aproximadamente 50%(15).
Demonstrou-se que os profissionais de enfermagem possuem papel relevante na equipe de cuidados paliativos domiciliar, considerando sua posição privilegiada de permanecer a maior parte do tempo junto ao paciente, prestando a maior parcela de cuidados e intermediando as relações entre a pessoa/família e os demais membros da equipe(2).
Verificou-se que um bom protocolo assistencial deve traçar uma intervenção de enfermagem efetiva para o manejo dos diagnósticos em cuidados paliativos aplicáveis ao contexto de terminalidade, minimizando as ações invasivas, atentando-se especialmente para o conforto do paciente e atenção aos familiares/cuidadores, quando os diagnósticos fossem aplicáveis a eles(5).
Observa-se que por meio dos artigos analisados, há consenso em relação à relevância dos cuidados paliativos de fim de vida em domicílio e enfatizam os benefícios dos cuidados neste contexto, a importância do papel dos enfermeiros, o papel relevante dos profissionais de enfermagem na equipe de cuidados paliativos e a necessidade de ensino e protocolos assistenciais efetivos para garantir cuidados de qualidade aos pacientes em fim de vida e suas famílias.
A formação em enfermagem e seus impactos para o cuidado em fim de vida
Nesta categoria os artigos evidenciaram o sentimento e a compreensão do profissional de enfermagem no sentido da vida e morte como fator intransponível. Contata-se que o cuidado paliativo não visa prolongar o sofrimento nem antecipar a morte, a perspectiva é apreender a morte como um fator que a pessoa não pode mudar naquele avanço da doença, e tentar amenizar os sinais e sintomas(15). É relacionado ao avanço da doença, a seguinte configuração: a dor, as náuseas, a fraqueza e o desespero espiritual e emocional. Um dos principais focos do cuidado paliativo é o controle da dor, que está relacionada a vários fatores(16).
Os temas morte e o processo de morrer, embora façam parte da realidade dos profissionais de saúde, causam constrangimento, pois muitos destes profissionais ainda não estão preparados para esse processo. Destaca-se que, em especial o enfermeiro, o meio mais confortável e aceitável em lidar com a finitude é considerá-la como biológico e natural, inevitável a todos os seres humanos(17).
Ainda neste artigo observou-se sobrecarga emocional nos entrevistados e dificuldades em lidar com alguns sentimentos. Como também foi possível depreender a carência de estratégias que amenizem estas sobrecargas no ambiente de trabalho e da abordagem da paliatividade nos currículos de saúde(17).
Verificou-se que a maioria dos profissionais de enfermagem que trabalha com pacientes que se encontram nos cuidados de fim de vida, não apresentam treinamento adequado para esse cuidado e uma proporção significativa não conhece a legislação vigente sobre cuidados paliativos. Tal condição, pode ter a carência de disciplinas que tratam do tema “Morte” nos currículos de formação acadêmica(12).
Outro estudo captado apresentou as experiências vividas pelos acadêmicos e mostrou o momento em que vivenciaram a prática dos cuidados de enfermagem ao paciente e destacou a importância das habilidades cognitivas, emocionais e acadêmicas necessárias para lidar com o óbito do paciente. Assim, foi concluído que o cuidado de pacientes em sua terminalidade causa diferentes sentimentos como medo, angústia, ansiedade, constrangimento e os estudantes desenvolveram habilidades para tentar superar tais anseios. Dessa maneira, aponta para a inclusão de capacitações em Tanatologia e Cuidados Paliativos durante o processo formativo dos estudantes de Enfermagem(1).
Embora todos os autores concordem que os cuidados paliativos não possuem como objetivo prolongar o sofrimento sem antecipar a morte, eles reconhecem a morte como um fator inevitável no avanço de doenças graves e buscam aliviar os sintomas e o sofrimento relacionados à doença, apontando as dificuldades emocionais associadas aos cuidados de fim de vida. É muito importante considerar o respeito da dignidade da pessoa, mesmo nos últimos momentos, que gera um conforto maior para o bem-estar(18).
Nesta categoria, foi possível evidenciar que o ensino de graduação nos cuidados de fim de vida deve ser abrangente, interdisciplinar e centrado no paciente. Deve-se capacitar os futuros profissionais de saúde com habilidades, conhecimentos e sensibilidade necessários para oferecer cuidados compassivos eficazes a pacientes que enfrentam o final da vida e suas famílias, destacando a importância de uma formação abrangente e interdisciplinar em cuidados de fim de vida para os estudantes de enfermagem(18).
Observa-se uma carência do conteúdo sobre cuidados paliativos nos currículos da maioria dos cursos de graduação da área da saúde, e dos enfermeiros não é diferente. A grade curricular da formação de enfermeiros é regulamentada por diretrizes estabelecidas por órgãos de ensino e saúde em cada país, e elas podem variar de acordo com a nação e a instituição de ensino específica. No entanto, em muitos lugares, as diretrizes básicas do ensino de enfermagem são orientadas por princípios gerais que evoluíram ao longo do tempo(19).
Nesse contexto, observa-se que à medida que a população envelhece e as doenças crônicas aumentam, a capacitação em cuidados paliativos e cuidados de fim de vida se tornou mais relevante, pois, envolve o alívio de sintomas e o apoio emocional para pacientes e familiares(20).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados desse estudo destacam a importância dos cuidados paliativos na enfermagem, enfatizando a necessidade de uma base ética sólida e uma abordagem integral para garantir que os pacientes em cuidados de fim de vida recebam assistência de qualidade. Além disso, foi possível evidenciar a relevância dos profissionais de enfermagem, especialmente em ambiente domiciliar, devido à proximidade com os pacientes e suas famílias, pois desempenham um papel fundamental no monitoramento da situação clínica do paciente, no alívio dos sintomas e no apoio emocional durante o processo de terminalidade.
O estudo também identificou a necessidade de melhorias na formação em cuidados de fim de vida, tanto para profissionais de saúde quanto para estudantes de enfermagem, apontando para a necessidade de incluir disciplinas no curso de graduação relacionadas à morte e aos cuidados, bem como o desenvolvimento de protocolos assistenciais eficazes.
Houve um reconhecimento dos desafios emocionais enfrentados pelos profissionais e estudantes ao lidar com pacientes em cuidados de fim de vida, enfatizando a importância de estratégias de apoio e capacitação em áreas como Tanatologia e Cuidados Paliativos.
Por fim, destaca-se a centralidade dos cuidados paliativos em fim de vida, reconhecendo a inevitabilidade da morte em doenças graves e a necessidade de garantir que os pacientes e suas famílias recebam assistência compassiva e eficaz. A formação interdisciplinar e centrada no paciente é fundamental para equipar os futuros profissionais de saúde com as habilidades e sensibilidade necessárias para enfrentar os desafios dos cuidados de fim de vida de maneira eficaz e compassiva.
O estudo apresenta como limitação o número pequeno de artigos sobre a temática, restringindo as reflexões acerca da abrangência dos estudos sobre cuidados paliativos no contexto da atenção domiciliar, não só no Brasil com também na Europa. Contudo, os resultados encontrados nessa revisão apontam a importância da ampliação desse tema junto aos projetos pedagógicos de cursos na área de saúde, principalmente na graduação e cursos técnicos, visando melhorar a qualidade do atendimento, nos cuidados de fim de vida, prestados ao paciente e ao seu familiar em internação domiciliar.
REFERÊNCIAS
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Fomento e Agradecimento: Declaramos que esta pesquisa não recebeu financiamento.
Critérios de autoria (contribuições dos autores)
Francisca Aurelia Oliveira do Nascimento:
1-Contribui substancialmente na concepção e/ou no planejamento do estudo.
2- Na obtenção, análise e/ou interpretação dos dados.
3- Na Redação e/ou revisão crítica e aprovação final da versão publicada.
Laura Coutinho dos Santos:
1-Contribui substancialmente na concepção e/ou no planejamento do estudo.
2- Na obtenção, análise e/ou interpretação dos dados.
3- Na Redação e/ou revisão crítica e aprovação final da versão publicada.
Vivian Gomes Mazzoni:
3- Na Redação e/ou revisão crítica e aprovação final da versão publicada.
Karla Biancha Silva de Andrade:
3- Na Redação e/ou revisão crítica e aprovação final da versão publicada.
Norma Valéria Dantas de Oliveira Souza:
3- Na Redação e/ou revisão crítica e aprovação final da versão publicada.
Eloá Carneiro Carvalho:
3- Na Redação e/ou revisão crítica e aprovação final da versão publicada.
Todos os autores realizaram a leitura e concordaram com a versão publicada do manuscrito.
Declaração de conflito de interesses
Nada a declarar.
Editor Científico: Ítalo Arão Pereira Ribeiro. Orcid: https://orcid.org/0000-0003-0778-1447
Editor Associado: Edirlei Machado dos-Santos. Orcid: https://orcid.org/0000-0002-1221-0377