RELATO DE EXPERIÊNCIA
EDUCAÇÃO EM SAÚDE PROMOVIDA PELA ENFERMAGEM NA PREVENÇÃO DA RADIODERMITE
HEALTH EDUCATION PROMOTED BY NURSING IN THE PREVENTION OF RADIODERMITIS
EDUCACIÓN EN SALUD PROMOVIDA POR LA ENFERMERÍA EN LA PREVENCIÓN DE LA RADIODERMITIS
https://doi.org/10.31011/reaid-2024-v.98-n.2-art.2156
1Maria Eduarda Dornelles de Oliveira
2Raquel Pötter Garcia
3Cenir Gonçalves Tier
4Alexandre Vasconcellos Leão
5Bruna Sodré Simon
1Universidade Federal do Pampa. Uruguaiana. Brasil. https://orcid.org/0009-0009-6600-0373
2Universidade Federal do Pampa. Uruguaiana. Brasil. https://orcid.org/0000-0002-5503-7981
3Universidade Federal do Pampa. Uruguaiana. Brasil. https://orcid.org/0000-0003-1539-7816
4Hospital Santa Casa de Caridade. Uruguaiana. Brasil. ORCID: https://orcid.org/0009-0004-7589-2434
5Universidade Federal do Pampa. Uruguaiana. Brasil. https://orcid.org/0000-0003-3855-1310
Autor correspondente
Bruna Sodré Simon
Endereço: BR 472 - Km 585, Uruguaiana/RS, Brasil. CEP: 97501-970. Telefone: +55 (21) 994623844
E-mail: brunasimon@unipampa.edu.br
Submissão: 26-01-2024
Aprovado: 02-05-2024
RESUMO
Introdução:
A
radioterapia, apesar de ser um tratamento eficaz para o câncer, pode ocasionar
a radiodermite, efeito colateral que repercute em sintomas físicos e emocionais
no paciente. No intuito de minimizar as chances de desenvolvê-las, é possível
aplicar medidas preventivas, por meio da educação em saúde e, destaca-se na
enfermagem, as tecnologias educativas nesse processo. Objetivo: relatar
a experiência de ações educativas de enfermagem para a prevenção da
radiodermite. Método: relato de experiência realizado por meio de sete
atividades educativas com duração média de 30 minutos cada, de setembro a
novembro de 2023, na sala de espera do setor de radioterapia de um hospital na
fronteira-oeste do Rio Grande do Sul, com os pacientes e seus familiares ou
acompanhantes que aguardavam para a realização da sessão de radioterapia. Resultados:
foram sete ações com diferentes participantes, totalizando 55 pessoas. Foi
produzido e entregue aos participantes, uma tecnologia educativa, do tipo
cartilha contendo orientações sobre os principais cuidados com a região da pele
irradiada e como produto final, um banner embasado no modelo da cartilha, para
ser deixado permanentemente no serviço. A maioria dos participantes avaliou
positivamente as ações, tendo suas dúvidas sanadas e seu conhecimento ampliado,
principalmente, para aqueles que estavam iniciando o tratamento. Conclusão:
esse tipo de ação desenvolvida contribuiu para o cuidado de enfermagem sobre o
manejo e a prevenção da radiodermite.
Palavras-chave: Radioterapia; Radiodermatite; Enfermagem; Educação em Saúde.
ABSTRACT
Introduction: radiotherapy, despite being an effective treatment for cancer, can cause radiodermatitis, a side effect that affects physical and emotional symptoms in the patient. In order to minimize the chances of developing them, it is possible to apply preventive measures, through health education and, in particular, nursing, using educational technologies in this process. Objective: report the experience of education nursing actions for the prevention of radiodermatitis. Method: experience report carried out through seven educational activities with an average duration of 30 minutes each, from September to November 2023, in the waiting room of the radiotherapy sector of a hospital on the western border of Rio Grande do Sul, with the patients and their family members or companions waiting for the radiotherapy session. Results: there were seven actions with different participants, totaling 55 people. An educational technology was produced and delivered to the participants, a booklet type containing guidance on the main care for the irradiated region and as a final product, a banner based on the booklet model, to be left permanently at the service. The majority of participants evaluated the actions positively, having their doubts resolved and their knowledge expanded, especially for those who were starting treatment. Conclusion: this type of action developed contributed to nursing care regarding the management and prevention of radiodermatitis.
Keywords: Radiotherapy; Radiodermatitis; Nursing; Health Education.
RESUMEN
Introducción: la radioterapia, a pesar de ser un tratamiento eficaz contra el cáncer, puede provocar radiodermatitis, efecto secundario que incide en los síntomas físicos y emocionales del paciente. Para minimizar las posibilidades de desarrollarlos, es posible aplicar medidas preventivas, a través de la educación sanitaria y, en particular, de la enfermería, utilizando tecnologías educativas en este proceso. Objetivo: relatar la experiencia de acciones educativas de enfermería para la prevención de la radiodermatitis. Método: relato de experiencia realizado a través de siete actividades educativas con una duración promedio de 30 minutos cada una, de septiembre a noviembre de 2023, en la sala de espera del sector de radioterapia de un hospital del límite occidental de Rio Grande do Sul, con los pacientes y sus familiares o acompañantes esperando la sesión de radioterapia. Resultados: fueron siete acciones con diferentes participantes, totalizando 55 personas. Se produjo y entregó a los participantes una tecnología educativa, un tipo cuadernillo que contiene orientaciones sobre los principales cuidados para la región irradiada y como producto final, una pancarta basada en el modelo de cuadernillo, para dejar permanentemente en el servicio. La mayoría de los participantes evaluaron positivamente las acciones, resolviendo sus dudas y ampliando sus conocimientos, especialmente en aquellos que iniciaban tratamiento. Conclusión: este tipo de acción desarrollada contribuyó a la atención de enfermería en el manejo y prevención de la radiodermatitis.
Palabras clave: Radioterapia; Radiodermatitis; Enfermería; Educación para la Salud.
INTRODUÇÃO
O câncer é uma condição que engloba variadas doenças malignas com o crescimento desordenado e alta velocidade de multiplicação celular, podendo acometer tecidos adjacentes ou órgãos, configurando metástase(¹). É considerado um problema de saúde pública, visto que, possui amplo impacto na população, sendo na maior parte dos países a primeira ou a segunda causa de óbito prematuro, implicando no aumento dos índices de mortalidade(2). Anualmente, cerca de 8,8 milhões de indivíduos do mundo morrem por neoplasias malignas, com a maioria dos casos nos países em desenvolvimento(3).
Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), no Brasil, estima-se 704 mil casos novos de câncer para cada ano do triênio 2023-2025, totalizando 483 mil, com exceção do câncer de pele não melanoma. O câncer de mama feminino e o de próstata, seguidos do câncer de cólon e reto, pulmão, estômago e o câncer de colo do útero, são os mais incidentes. No que se refere à distribuição de incidência nas regiões brasileiras, tem-se que a região Sudeste concentrará 48,4% de casos novos, a região Nordeste 22,8% seguida pelas regiões Sul 17,1%, Centro Oeste 7,3% e Norte 4,4%². Na Região Sul, a maior previsão de ocorrências é no Rio Grande do Sul (RS) com um total de 52.620 novos casos abrangendo todas as neoplasias(2).
Um dos tratamentos para diversos tipos de cânceres e tumores benignos, é a radioterapia, na qual um tipo de energia ionizante é utilizada para destruir ou impedir a multiplicação de células cancerígenas. Sendo assim, essa modalidade pode ser desempenhada para diversas finalidades de forma local ou locorregional, com o auxílio de equipamentos e técnicas para irradiar cuidadosamente as áreas demarcadas do corpo humano previamente ao início das sessões. O resultado dessa radiação ionizante é positivo e eficaz, pois pode reduzir o tumor e promover alívio da dor(4).
No entanto, apesar de avanços nas técnicas de radiação, os pacientes também experimentam efeitos negativos, que dependem da sua resposta biológica, da área irradiada, da quantidade de radiação aplicada, do fracionamento da dose administrada, idade, condições sistêmicas, da radiossensibilidade do tecido saudável envolvido pela radiação e da sua adesão às orientações de cuidados obtidos durante o tratamento(4). Diante disso, como efeito colateral, frequentemente encontrado nos pacientes que estão em tratamento radioterápico, tem-se a radiodermite, que é uma lesão na pele e/ou mucosa devido a mudanças celulares causadas pela radiação. Essas lesões ocorrem em cerca de 95% dos casos e geralmente surgem na segunda semana de tratamento, ficando restritas à área irradiada. Podem variar de uma simples vermelhidão a úlceras profundas e infecções. Em casos graves, é necessário interromper o tratamento até a cicatrização da pele(5).
No intuito de minimizar as chances do desenvolvimento das radiodermites, é possível aplicar medidas preventivas, incluindo intervenções precoces por meio da educação em saúde. Entende-se por educação em saúde, o conjunto de ações realizadas de modo a edificar o conhecimento em saúde da população. São práticas que contribuem para o desenvolvimento da autonomia das pessoas em relação a determinado tema, proporcionando maior atenção aos cuidados de saúde, conforme a necessidade individuais(6).
Nesse sentido, o enfermeiro é um dos profissionais que atua de forma integrada, identifica fatores de risco, realiza ações educativas e está ativamente incluído no processo de prevenção antes, durante e ao final do adoecimento(7). A atuação da enfermagem é essencial na educação dos pacientes em tratamento radioterápico, visto que, realiza orientações necessárias, esclarece sobre os efeitos do tratamento radioterápico, ensina sobre os cuidados com a pele e avalia a área afetada para a aplicação adequada de produtos, quando necessário(8).
A justificativa deste estudo pauta-se no surgimento das radiodermites no transcorrer da radioterapia, bem como no quanto esse problema pode ocasionar redução na qualidade de vida dos pacientes, e até mesmo interrupção no tratamento. Assim sendo, as ações de educação em saúde podem contribuir para o conhecimento das pessoas, podendo auxiliar para um tratamento com melhor qualidade de vida. Então, objetiva-se relatar a experiência de ações educativas de enfermagem para a prevenção da radiodermite.
MÉTODOS
Trata-se de um estudo do tipo um relato de experiência, acerca de atividades desenvolvidas por meio do projeto de extensão “Educação em saúde como uma estratégia para a enfermagem na prevenção da radiodermite”, vinculado ao Núcleo de Estudo em Família e Cronicidade (NEFAC), do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Pampa. O projeto foi registrado no Sistema Acadêmico de Projetos da universidade sob o número 2023.EX.UR.2559.
Entende-se por relato de experiência a produção de conhecimento acadêmico e/ou profissional, que pode estar alicerçado em um dos elementos do tripé (ensino, pesquisa e extensão) da universidade. Nessa perspectiva, deve ser oriundo de uma intervenção construída com reflexões críticas embasadas teoricamente, pois, a partir do momento que o saber científico compõe a formação do sujeito, ele é capaz de se tornar um multiplicador, levando à transformação social(9).
O cenário do projeto de extensão foi o setor de radioterapia de um hospital localizado na fronteira-oeste do RS. O hospital conta com o serviço de Oncologia, referência para os municípios que compõem a Regional de Saúde. O setor de radioterapia tem disponível uma máquina do tipo acelerador linear, atende em média 50 pacientes por dia, tanto pelo Sistema Único de Saúde (SUS) como convênios. As sessões são realizadas por ciclos que variam de 15 a 25 dias, no turno da manhã e da tarde, de segunda a sexta-feira. A equipe é composta por um enfermeiro, dois médicos, um físico médico, quatro técnicos de radiologia, uma nutricionista e uma psicóloga. Adicionalmente, o serviço conta com uma infraestrutura que contém uma sala de espera para consultas, sala de triagem, sala de consultas e a sala onde são realizadas as sessões.
As atividades ocorreram de setembro a novembro de 2023, na sala de espera do setor de radioterapia, e tiveram como participantes os pacientes e seus familiares ou acompanhantes que aguardavam para a realização da sessão de radioterapia. Destaca-se que a equipe que realizou as ações, foi composta por discentes do curso de graduação em Enfermagem e integrantes do NEFAC, as quais tinham constante contato com a temática relativa ao adoecimento crônico, sob a orientação da docente coordenadora do projeto.
Como forma de avaliação das ações foi criado e aplicado, no final de cada atividade, um formulário que continha rostos indicativos que avaliavam o nível de satisfação dos participantes quanto às ações desenvolvidas (Figura 1).
Figura 1 - Formulário de satisfação dos participantes.
Fonte: elaborado pelas autoras (2023).
RESULTADOS
Participaram das ações de educação em saúde um total de 55 pacientes/familiares/acompanhantes. Ao total foram sete encontros com duração média para cada ação de 30 minutos, intercalados em diferentes dias da semana e entre os turnos da manhã e da tarde como forma de abranger o maior número de participantes.
Para as ações foi produzido e entregue aos participantes uma tecnologia educativa, do tipo cartilha contendo orientações sobre os principais cuidados com a região da pele irradiada (Figura 2). O desenvolvimento dessa tecnologia educativa ocorreu em quatro etapas: I) busca na literatura para a fundamentação teórica e construção do tema; II) escolha da tecnologia, do tipo cartilha, III) escolha da identidade visual e dos recursos de linguagem; IV) elaboração da cartilha por meio da plataforma CANVA. Destaca-se que após esse processo, a cartilha, foi apresentada para sugestões e aprovação, previamente ao enfermeiro do setor e ao Núcleo de Ensino e Pesquisa do Hospital, para que assim, as informações contidas na cartilha estivessem em consonância com as necessidades, demandas e condutas do serviço.
Figura 2- Cartilha educativa entregue aos participantes (frente).
Fonte: elaborado pelas autoras (2023).
Figura 3 - Cartilha educativa entregue aos participantes (verso).
Fonte: elaborado pelas autoras (2023).
Em cada encontro, ao chegar no setor de radioterapia, a discente encarregada pela atividade conversava com o enfermeiro responsável pelo setor, logo, apresentava-se para os pacientes, seus familiares ou acompanhantes, os quais estavam na sala de espera do serviço. Após a apresentação da equipe executora, era dialogado sobre o objetivo da ação proposta pelo projeto e, questionado aos participantes: “Vocês já ouviram falar sobre a radiodermite? Qual o seu conhecimento sobre a radiodermite?”. Nesse momento, ao aguardar pelas respostas, era perceptível a expressão de desconhecimento dos participantes sobre o assunto. Em alguns encontros, ao fazer esse questionamento, tiveram participantes que tentaram deduzir sobre o tema, ao juntar o significado das palavras, relacionaram o termo “Radio” com a radioterapia e “dermite”, com a pele. Mesmo assim, a maioria dos participantes informava que desconhecia sobre o assunto.
Após essa atividade inicial de explanação com os participantes era entregue a cada um presente, a tecnologia educativa, do tipo cartilha contendo os principais cuidados com a região irradiada para antes, durante e após a sessão de radioterapia. E então, explicado verbalmente que a radiodermite é um efeito adverso do tratamento radioterápico, sendo uma inflamação que ocorre na pele em decorrência da radiação, e que não quer dizer que toda a pessoa que está em tratamento irá desenvolver, mas para evitar, é necessário ter alguns cuidados essenciais com a região irradiada. Em seguida, os itens da cartilha eram explicados. Nesse período, percebia-se o interesse dos participantes, pois compartilhavam as suas experiências em relação ao tratamento e também as dúvidas, sobre principalmente os cremes adequados para utilizar na região irradiada, não sendo recomendado o uso de pomadas oleosas, pois possuem contraindicações para uso na região irradiada.
Além disso, eram orientados sobre o creme adequado para ser a base de aloe vera e para a aplicação de compressas de camomila em temperatura ambiente. Nesse momento, notou-se a expressão de surpresa de alguns que não sabiam dessas informações. Além disso, alguns participantes relataram que faziam uso de outros cremes. Para esses, foi-lhes explicado que não eram indicados para o tratamento, pois favoreciam a irritação local e que poderia ocasionar outras lesões.
Mediante a característica territorial da abrangência regional do serviço de oncologia, alguns pacientes trabalhavam ou residiam na zona rural e na maior parte do tempo expostos ao sol. Assim, era enfatizado sobre os cuidados com a exposição solar e orientado que a pele precisa ser protegida com o uso de protetor solar, e também com a utilização de chapéu, lenços e roupas compridas, uma vez que contribuem para formar uma barreira entre a pele e a luz solar.
Durante as atividades de cada encontro, percebeu-se a interação com os familiares, uma vez que eram os responsáveis pelos cuidados dos pacientes, e com isso demonstraram-se bastante interessados com as orientações e por vezes questionavam, tiravam dúvidas e pediam que o paciente prestasse atenção nas informações. Alguns pacientes também eram acompanhados por mais de um familiar, sendo assim, perceptível a visualização da dinâmica da família como núcleo de apoio e motivação para o enfrentamento do tratamento.
No final das atividades, oportunizava-se um momento para que tanto os pacientes como os familiares ou acompanhantes, pudessem expor mais alguma dúvida ou até mesmo relatar suas experiências frente ao tratamento radioterápico com as demais pessoas que ali estavam. Por fim e como meio de avaliar a ação desenvolvida, era questionado como os participantes se sentiam após a execução de cada ação. Constatou-se que houve um elevado índice de satisfação em relação à explicação do tema, da apresentação e disponibilização da cartilha, do esclarecimento das dúvidas e da melhora no conhecimento (Figura 3). Destaca-se que dos 55 participantes, apenas um não se manifestou.
Figura 4 - Avaliação do nível de satisfação das ações educativas.
Fonte:
elaborado pelas autoras (2023).
A maioria dos participantes avaliou positivamente a atividade extensionista e, trouxeram que o tema auxiliou para ampliar seu conhecimento e até mesmo saber que pode ocorrer a radiodermite devido à exposição ao tratamento de radiação. Como alguns dos participantes estavam iniciando o seu tratamento, haviam dúvidas e anseios, então pode-se destacar que a abordagem do tema teve impacto significativo nos participantes, bem como alguns sentiram-se acolhidos pelas discentes.
Alguns participantes avaliaram ter gostado muito da atividade, sentindo-se agradecidos e sugeriram que, mais ações voltadas à educação em saúde fossem abordadas no serviço. Outro ponto mencionado foi sobre a satisfação dos pacientes, familiares e acompanhantes com as explicações, pois no decorrer das ações, também surgiam dúvidas sobre os cuidados com a pele, principalmente o uso de cremes e pomadas na região irradiada.
Tendo como base a cartilha, construiu-se um banner para deixar afixado permanentemente na sala de espera do serviço de radioterapia. Também foi disponibilizado, para distribuição no serviço de radioterapia aos novos pacientes, familiares e acompanhantes, exemplares da cartilha no formato físico.
Ressalta-se que, após o desenvolvimento de cada encontro, as atividades eram discutidas entre a equipe executora, de modo presencial ou no grupo de WhatsApp, a fim de avaliar a ação, identificar os pontos que precisavam ser melhorados, analisar o quantitativo de pessoas participantes e verificar a necessidade acréscimos nas orientações a serem dispensadas.
DISCUSSÃO
Constata-se, mediante a incidência de casos de câncer, que a radioterapia é uma das diversas modalidades utilizadas para o tratamento oncológico. No entanto, apesar dos seus benefícios, o paciente pode apresentar reações adversas, como a radiodermite(2,10). Diante desse panorama, a educação em saúde é compreendida como uma estratégia de prevenção e estímulo ao autocuidado, possibilitando a promoção da qualidade de vida do paciente(11). As ações de educação em saúde para essa população, como foi realizada pelo projeto, tornam-se relevantes, à medida que informações pertinentes, referente ao tratamento, são transmitidas aos participantes, de maneira a facilitar a compreensão sobre os efeitos adversos, podendo estimular na autogestão do cuidado.
Aliado ao desenvolvimento de ações de educação em saúde, tem-se a importância da enfermagem, que é capaz de conduzir essas informações com maestria, tendo em vista que esse profissional, conforme às evidências, possui o entendimento sobre o manejo da doença. Com isso, isso pode envolver o paciente no tratamento com estratégias que possam causar mudanças no seu meio, possibilitando a prevenção das radiodermites(12). Tais mudanças, incluem os cuidados com a região irradiada, que abordam a manutenção da higiene da pele; secagem suave da região irradiada, evitando o atrito; a promoção de conforto; evitando o uso de produtos perfumados e creme de barbear, pois podem conter componentes irritantes; a prevenção do trauma, como evitar o uso de lâminas, cera e cremes depilatórios(13).
Percebeu-se que a adoção da cartilha como ponto de sustentação teórico da atividade extensionista, serviu como um recurso interativo que facilitou o acesso de informação junto aos participantes. A mesma além de ser composta com informações claras e objetivas, possibilitou para que os pacientes e seus familiares ou cuidadores tivessem acesso sobre a prevenção da radiodermite e os cuidados com a pele irradiada, mesmo a qualquer momento de necessidade.
Verifica-se que a educação em saúde é uma estratégia para a enfermagem na disseminação do conhecimento e, como veículo de informação desse processo, as tecnologias educativas, do tipo cartilha, pode ser um material impresso utilizado para proporcionar suporte e esclarecimento sobre um determinado tema(14). Nesse contexto, é importante destacar, que existem quatro domínios de intervenção do enfermeiro à pessoa submetida ao tratamento radioterápico, ou seja, a segurança e a qualidade com foco na prevenção, a capacitação do cuidador e a continuidade de cuidados com estratégias que promovam o cuidado à distância(12).
Sendo assim, as ações de educação em saúde, juntamente com a utilização da cartilha, contemplavam esses domínios, colaborando na formação do profissional de enfermagem para uma assistência de qualidade prestada ao paciente e seus familiares. Ademais, a cartilha elaborada contemplou de forma dinâmica em textos e ilustrações na parte posterior uma linha do tempo explicando que a partir do início do tratamento, a pele estará mais sensível, exigindo diferentes cuidados, divididos em: antes, durante e após a sessão. Além disso, oportunizou dicas de limpeza, conforto e prevenção de traumas adicionais na região irradiada.
Somada a diversas reações na pele, a radiodermite pode provocar uma redução na qualidade de vida do paciente, a partir do momento que causa desconforto, dor, alteração da imagem corporal, da autoimagem e da autoestima(15).
Diante desse contexto, alguns sentimentos podem florescer impactando não só a vida do paciente, mas também de sua família. A doença crônica tem um impacto sobre a vida do sujeito e do seu familiar/cuidador. Com isso, infere-se que a família é um “agente de extensão” no tratamento oncológico, e também um alicerce de suporte psicossocial(16). Essa perspectiva de interação familiar, foi perceptível durante as atividades do projeto, uma vez que os familiares eram frequentes nas ações e participaram ativamente, buscando esclarecer dúvidas de modo a auxiliar a pessoa em tratamento radioterápico.
Relatar experiências beneficia, não somente o meio acadêmico, mas também a sociedade, pois a partir do momento em que contribui na construção do saber científico, viabiliza futuras intervenções de trabalho na área explorada(9). Nessa perspectiva, reitera-se a necessidade desse relato de experiência sobre uma ação educativa, de maneira que possa contribuir para o desenvolvimento de outras propostas metodológicas, norteadas por conhecimento científico, fortalecendo os cuidados de enfermagem com os pacientes submetidos ao tratamento radioterápico.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da experiência de utilizar uma tecnologia educativa, do tipo cartilha, como uma estratégia de enfermagem para a prevenção da radiodermite, percebeu-se a importância do tema para os participantes e seus familiares ou acompanhantes. Sendo assim, foi possível compreender que houve contribuição para o cuidado de enfermagem sobre o manejo e a prevenção da radiodermite, impactando no conhecimento das pessoas submetidas à terapia radioterápica.
Destaca-se que desenvolver o papel da enfermagem como educador em saúde foi enriquecedor, pois é uma forma de promover a saúde, por meio de estratégias, como as de prevenção. Sendo assim, essas ações auxiliaram a ampliar o conhecimento dos participantes sobre um efeito adverso da radioterapia. Dessa forma, explicar e reforçar sobre a necessidade de cuidados específicos que eles precisam ter com a região irradiada, é uma forma, também, de potencializar o tratamento, pois, o desenvolvimento da radiodermite impacta no tratamento e reduz a qualidade de vida do paciente.
Como fatores limitadores, ressalta-se a construção da cartilha com informações escritas, o que dificultou o entendimento de pessoas não alfabetizadas. Por isso, sugere-se a criação de tecnologias que sejam acessíveis às diferentes realidades, como, por exemplo, pessoas não alfabetizadas, deficientes visuais e auditivos. Outro limitador, foi a dificuldade de manter a sequência das atividades e abranger mais pessoas, diante do período em que o acelerador linear não esteve em funcionamento por problemas técnicos.
Sugere-se o desenvolvimento desse tipo de atividade de educação em saúde, em outras localidades, além disso, o desenvolvimento de atividades em grupos de apoio às pessoas em tratamento radioterápico e seus familiares, com a mediação do enfermeiro, no intuito de que possam trocar experiências e conhecimentos sobre maneiras de prevenção e tratamento da radiodermite. Pensa-se na criação de grupos, pois é um espaço dialógico, que pode contribuir para um ambiente de interação nesse processo de tratamento oncológico.
REFERÊNCIAS
Fomento e Agradecimento: sem fonte de financiamento.
Critérios de autoria (contribuições dos autores)
A designação de autoria deve ser baseada nas deliberações do ICMJE, que considera autor aquele que: 1. contribui substancialmente na concepção e/ou no planejamento do estudo; 2. na obtenção, na análise e/ou interpretação dos dados; 3. assim como na redação e/ou revisão crítica e aprovação final da versão publicada.
Maria Eduarda Dornelles de Oliveira (1, 2 e 3)
Raquel Pötter Garcia (1 e 3)
Cenir Gonçalves Tier (3)
Alexandre Vasconcellos Leão (3)
Bruna Sodré Simon (1, 2 e 3)
Declaração de conflito de interesses: Nada a declarar
Editor Científico: Ítalo
Arão Pereira Ribeiro. Orcid: https://orcid.org/0000-0003-0778-1447
Editor Associado: Edirlei Machado dos-Santos. Orcid: https://orcid.org/0000-0002-1221-0377