ARTIGO ORIGINAL

INTERVENÇÃO EDUCATIVA SOBRE INTERAÇÃO MEDICAMENTO-NUTRIÇÃO ENTERAL NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA: ESTUDO ANTES E DEPOIS

 

EDUCATIONAL INTERVENTION ON MEDICATION-ENTERAL NUTRITION INTERACTION IN THE INTENSIVE CARE UNIT: BEFORE AND AFTER STUDY

 

INTERVENCIÓN EDUCATIVA SOBRE LA INTERACCIÓN MEDICAMENTOS-NUTRICIÓN ENTERAL EN LA UNIDAD DE CUIDADOS INTENSIVOS: ANTES Y DESPUÉS DEL ESTUDIO

 

https://doi.org/10.31011/reaid-2024-v.98-n.2-art.2168

 

1Aniele Fernandes Evangelista

2Vanessa Galdino de Paula

3Caroline de Deus Lisboa

4Luciana Guimarães Assad

5Ronilson Gonçalves Rocha

6Luana Ferreira de Almeida

 

1Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil. https://orcid.org/0009-0003-5033-9029

2Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil. https://orcid.org/0000-0002-7147-5981

3Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil. https://orcid.org/0000-0001-5089-9139

4Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil. https://orcid.org/0000-0003-1134-2279

5Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil. https://orcid.org/0000-0003-4097-8786

6Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil. https://orcid.org/0000-0001-8433-4160

 

Autor correspondente

Vanessa Galdino de Paula

Boulevard 28 de Setembro, 157, 6º andar, Vila Isabel, Rio de Janeiro – RJ, Brasil. CEP: 20551-030, telefone: +55(21)28688236. E-mail: vanegalpa@gmail.com

 

Submissão: 06-02-2024

Aprovado: 31-05-2024

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RESUMO

Introdução: Alguns nutrientes presentes na dieta enteral podem alterar o efeito dos medicamentos, acarretando prejuízos ao tratamento, perdas na biodisponibilidade do fármaco e redução do nível sérico. Objetivo: avaliar o conhecimento dos profissionais   de enfermagem acerca da interação medicamento-nutrição enteral em uma unidade de terapia intensiva, antes e após intervenção educativa. Método: Estudo comparativo, com abordagem quantitativa, do tipo antes e depois, realizado na Unidade de Terapia Intensiva geral de um hospital Universitário no Estado do Rio de Janeiro, entre os meses de fevereiro a setembro de 2023. Para análise dos dados, foi atribuído um ponto aos acertos do questionário e aos erros foi atribuída a pontuação zero, gerando um somatório para os períodos pré-intervenção e pós-intervenção, para avaliar os efeitos da atividade educativa. Resultados: O escore médio de conhecimento dos participantes relacionada à administração de medicamentos pré-intervenção foi 13,07 pontos e pós-intervenção 18,57 pontos; trituração de medicamentos, de 3,35 pontos e 4,54 pontos respectivamente; diluição de medicamentos, escore pré-intervenção de 3,38 pontos e pós-intervenção 4,69 pontos; administração de medicamentos por sonda enteral, 4,45 pontos pré intervenção e 5,69 pontos pós-intervenção;  interação entre medicamentos e nutrição enteral, escore pré-intervenção de 1,88 pontos e pós-intervenção 3,64 pontos. Isso indica que houve uma melhoria significativa no conhecimento dos participantes após a intervenção. Conclusão: Os resultados da pesquisa demonstraram efetividade na ação educativa.

Palavras-chave: Nutrição enteral; Interações alimento-droga; Enfermagem; Preparações farmacêuticas; Educação em saúde.

 

ABSTRACT

Introduction: Some nutrients present in the enteral diet can alter the effect of medications, causing harm to the treatment, losses in the bioavailability of the drug and a reduction in serum levels. Objective: to evaluate the knowledge of nursing professionals about the medication-enteral nutrition interaction in an intensive care unit, before and after educational intervention. Method: Comparative study, with a quantitative approach, of the before and after type, carried out in the general Intensive Care Unit of a University hospital in the State of Rio de Janeiro, between the months of February and September 2023. For data analysis, one point was assigned to the answers to the questionnaire and errors were assigned a score of zero, generating a sum for the pre-intervention and post-intervention periods, to evaluate the effects of the educational activity. Results: The participants' average knowledge score related to pre-intervention medication administration was 13 .07 points and post-intervention 18.57 points; crushing medicines, 3.35 points and 4.54 points respectively; medication dilution, pre-intervention score of 3.38 points and post-intervention score of 4.69 points; administration of medication via enteral tube, 4.45 points pre-intervention and 5.69 points post-intervention; interaction between medications and enteral nutrition, pre-intervention score of 1.88 points and post-intervention score of 3.64 points. This indicates that there was a significant improvement in participants' knowledge after the intervention. Conclusion: The research results demonstrated effectiveness in the educational action.

Keywords: Enteral nutrition; Drug-food interactions; Nursing; Pharmaceutical preparations; Health education.

 

RESUMEN

Introducción: Algunos nutrientes presentes en la dieta enteral pueden alterar el efecto de los medicamentos, provocando perjuicio al tratamiento, pérdidas en la biodisponibilidad del fármaco y reducción de los niveles séricos. Objetivo: evaluar el conocimiento de los profesionales de enfermería sobre la interacción medicamentos-nutrición enteral en una unidad de cuidados intensivos, antes y después de la intervención educativa. Método: Estudio comparativo, con enfoque cuantitativo, del tipo antes y después, realizado en la Unidad de Cuidados Intensivos generales de un hospital Universitario del Estado de Río de Janeiro, entre los meses de febrero y septiembre de 2023. Para el análisis de los datos, se asignó un punto a las respuestas. al cuestionario y a los errores se les asignó una puntuación de cero, generándose una sumatoria de los períodos preintervención y posintervención, para evaluar los efectos de la actividad educativa. Resultados: Puntaje promedio de conocimientos de los participantes relacionados con la administración de medicamentos preintervención fue de 13,07 puntos y postintervención de 18,57 puntos; medicamentos trituradores, 3,35 puntos y 4,54 puntos respectivamente; dilución de medicación, puntuación preintervención de 3,38 puntos y puntuación postintervención de 4,69 puntos; administración de medicación vía sonda enteral, 4,45 puntos preintervención y 5,69 puntos postintervención; interacción entre medicamentos y nutrición enteral, puntuación preintervención de 1,88 puntos y puntuación postintervención de 3,64 puntos. Esto indica que hubo una mejora significativa en el conocimiento de los participantes después de la intervención. Conclusión: Los resultados de la investigación demostraron efectividad en la acción educativa.

Palabras clave: Nutrición enteral; Interacciones entre alimentos y medicamentos; Enfermería; Preparaciones farmacéuticas; Educación para la salud.

 

INTRODUÇÃO

No âmbito hospitalar, é comum que o paciente não consiga ingerir alimentos por via oral. Por isso, pacientes desnutridos, com ingestão por via oral nula ou de menos de 60% de seu gasto energético total por cinco dias ou mais e que tenham o trato gastrointestinal funcionante, tem indicação de utilizar a nutrição enteral (NE)(1).

A NE é a mais fisiológica, administrada por sonda diretamente no trato gastrointestinal, mantendo a integridade da mucosa do aparelho digestório e a terapia nutricional (TN)  objetiva evitar a desnutrição e favorecer uma nutrição adequada que fortaleça a resposta imunológica do paciente crítico,  reduzindo o tempo de internação e a mortalidade(2).

Na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), a maior parte dos pacientes críticos não apresentam condições de alimentação por via oral, devido o rebaixamento do nível de consciência, sendo incapazes de atingir suas necessidades nutricionais. Sendo assim, a nutrição enteral é a escolha de preferência para ofertar nutrientes(3).

 Nesses casos, as sondas enterais (SE) são indicadas para infusão de NE, e para administração de medicamentos, sendo os mais utilizados os comprimidos e os xaropes. Grande parte de medicamentos administrados por  essa via tem apresentação sólida, embora as fórmulas líquidas sejam preferíveis. A maioria dos medicamentos sólidos não são formulados para a administração por sonda, podendo afetar sua eficácia e causar toxicidade, acarretando em eventos adversos. A polifarmácia potencializa o risco de interações fármaco-nutrientes(4,5).

 Ademais, alguns nutrientes presentes na      dieta enteral modificam o efeito dos medicamentos e podem interferir em processos farmacocinéticos, trazendo prejuízos ao tratamento, como perdas na biodisponibilidade do fármaco, redução do nível sérico, entre outros(1).

Os medicamentos, também  podem alterar a absorção dos nutrientes, impossibilitando uma nutrição eficiente, além de causar distúrbios gastrointestinais. Determinados medicamentos e nutrientes têm sua absorção por mecanismos similares, competindo entre  si, acarretando alterações no mecanismo de ação(1).

A administração de medicamentos por sondas tem diversas particularidades e características; o preparo dos medicamentos de forma errada pode causar a obstrução da sonda e interações entre fármacos e nutrientes, potencializando ou reduzindo seu efeito(6).

Para isso, se faz necessário seguir algumas recomendações, tais como: verificar a disponibilidade e compatibilidade de forma farmacêutica líquida para administração por SE; avaliar medicamentos prescritos a serem administrados via SE, considerando a compatibilidade com a via e técnica de preparo, interações entre os medicamentos e a nutrição enteral e o potencial para ocasionar reações adversas gastrointestinais ou efeito subterapêutico; atentar se os medicamentos prescritos são compatíveis com a trituração e administração via SE, sendo imprescindível o conhecimento técnico- científico do profissional responsável pelo preparo e administração de medicamentos(6,7).

Por meio do treinamento, os profissionais de enfermagem podem  manter-se atualizados sobre as principais interações medicamento-nutrição enteral, no preparo e administração de medicamentos por sonda enteral, podendo minimizar possíveis interações medicamentosas, otimizando o tratamento, diminuindo o tempo de internação, reduzindo chance de obstrução da sonda, e  reinserção de SE, contribuindo para a segurança do paciente(6,8).

 Nesse sentido, ações educativas voltadas para esses profissionais são primordiais, pois visam o aprimoramento da equipe  contribuindo para assistência à saúde, sendo essencial que os profissionais de enfermagem se atualizem e adquiram  habilidades, oferecendo um cuidado de qualidade aos seus pacientes(9).

O presente estudo teve como objetivo avaliar o conhecimento dos profissionais   de enfermagem acerca da interação medicamento-nutrição enteral em uma unidade de terapia intensiva, antes e após intervenção educativa.

 

MÉTODO

Estudo comparativo,  com  abordagem  quantitativa,  do  tipo antes  e  depois, desenvolvido em uma Unidade de Terapia Intensiva geral de um hospital universitário no Rio de Janeiro. A referida unidade é composta por dez leitos, e o preparo dos medicamentos por sonda enteral é realizado na sala de medicação, por enfermeiros e técnicos de enfermagem, escalados exclusivamente para o preparo dos medicamentos administrados regularmente.

A amostra  contou com 42  profissionais de enfermagem que  realizam o preparo e administração de medicamentos por sonda enteral. Foram incluídos todos os profissionais de enfermagem que atuam na sala de preparo de medicação   e excluídos aqueles que estiveram afastados de suas atividades laborais no período da coleta de dados.

A coleta de dados ocoreu entre os meses de fevereiro a setembro de 2023, em três etapas. Na primeira etapa  foi aplicado um questionário não validado, elaborado pela  pesquisadora, tendo como base a Diretriz BRASPEN de Enfermagem em Terapia Nutricional Oral, Enteral e Parenteral (10); o artigo Manual de diluição e administração de medicamentos por acessos enterais (11); Boletim  de Preparo e Administração de Medicamentos via Sonda Enteral ou Ostomias(12). O instrumento contém perguntas relacionadas a caracterização dos profissionais como formação, maior titulação,tempo de formação, tempo de atuação em UTI; ao preparo de medicamentos por sonda enteral, com questões sobre forma de trituração de medicamentos em cápsulas, comprimidos de ação prololongada, comprimidos revestidos, drágeas e pílulas; às soluções utilizadas para a diluição (água destilada, soro fisiológico a 0,9% e água filtrada); às boas práticas na administração de    medicamentos por sonda enteral e a interação entre medicamento (acetilcisteína, haloperidol, fenitoína ou domperidona) e nutrição enteral.

A segunda etapa da pesquisa ocorreu aproximadamente um mês após a resposta ao questionário, por meio de uma ação educativa, onde foi realizada apresentação em Power Point, sobre trituração de medicamentos sólidos, diluição e preparo de medicamentos, lavagem da sonda enteral e interação entre medicamentos e nutrição enteral. A intervenção ocorreu no posto de enfermagem e contou com aproximadamente seis a oito profissionais por apresentação, com duração de aproximadamente dez minutos. Essa etapa foi realizada durante o turno de trabalho dos participantes.

A terceira etapa consistiu na aplicação do mesmo questionário da primeira etapa do estudo, para avaliação da efetividade da ação educativa, distribuído aos 42 participantes, imediatamente após a atividade educativa.

Para a análise, os dados foram tabulados no Microsoft Excel® e transferidos para o software Stata v.16. Variáveis de caracterização de experiência laboral foram analisadas por meio do cálculo de frequências brutas e percentuais. Para as variáveis tempo de formação e tempo de atuação em UTI foram calculadas medidas de posição (média e mediana) e de dispersão (desvio-padrão e intervalo interquartílico).

Para a avaliação do conhecimento dos profissionais tanto antes, quanto após intervenção, considerou-se um ponto para o acerto de cada questão correta. Adotou-se, ainda, somatório para as dimensões de conhecimento: trituração, produtos utilizados para diluição, boas práticas no preparo e administração de medicamentos por sonda enteral e interação medicamentosa.

            Avaliou-se a distribuição do somatório de acertos nos períodos do estudo por meio do teste Shapiro-Wilk. Valores de p iguais ou superiores a 0,05 indicam distribuição normal, o que acarreta o uso de testes paramétricos. Valores de p inferiores a 0,05 indicam distribuição não-normal, sendo utilizado testes não-paramétricos.

            O somatório dos acertos foi comparado entre os períodos do estudo com o propósito de avaliar os efeitos da intervenção. Dada a distribuição normal das variáveis de somatório de acertos, o teste t de Student para amostras pareadas foi adotado. Adicionalmente, analisaram-se as diferenças de médias de conhecimento entre as categorias das variáveis: formação profissional, titulação, tempo de formação e tempo de atuação na UTI. Foram adotados os testes t de Student e ANOVA a um fator para analisar as diferenças de médias. O nível de significância adotado em toda a análise foi de 5%.

Essa pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), sendo aprovado sob   o   número CAAE 41871820.7.0000.5282. Ressalta-se que o estudo seguiu todas as determinações éticas e legais das resoluções do Conselho Nacional de Saúde (CNS) Nº 510/2016 e Nº466/2012.

 

RESULTADOS

Dentre os 42 participantes do estudo,  houve predomínio de técnicos de enfermagem (64,3%),  a especialização  foi a maior titulação (45,2%),  média de 16,02 (±11,43) anos de formação e 11,99 (±10,27) anos de experiência em Unidade de Terapia Intensiva.

Na dimensão que trata de como é realizada a trituração, o número de acertos relacionados aos medicamentos em cápsulas se manteve estável, enquanto o  quantitativo de acertos sobre comprimidos de ação prolongada, comprimidos revestidos, drágeas e pílulas aumentou após intervenção, sendo identificado maior percentual de aumento no item sobre trituração de comprimidos revestidos. 

Na dimensão soluções utilizadas para diluição, houve aumento do número de acertos pós-intervenção nas diluições que deverão ser realizadas com água destilada, soro fisiológico a 0,9% e água filtrada.

Na dimensão boas práticas no preparo e administração de medicamentos por sonda enteral, o número de acertos pós-intervenção foi maior nas perguntas sobre misturar mais de um medicamento prescrito no mesmo horário e interrupção da dieta antes e após a administração de medicamentos que necessitam de jejum. Nesse item, foram elencados os medicamentos mais utilizados na unidade pesquisada e que necessitam de interrupção da dieta durante antes da sua administração.

A dimensão sobre soluções usadas para diluição de medicamentos na forma líquida, nenhum participante respondeu corretamente no período pré-intervenção, enquanto após a intervenção o índice de acertos foi de 83,72%. Ressalta-se que nessa dimensão, o percentual de acertos aumentou em todos os itens. Cenário similar foi identificado na dimensão sobre interação dieta enteral e medicamento, sendo o maior acréscimo de acertos relacionado ao medicamento domperidona, conforme tabela 1.

 

Tabela 1 – Distribuição de acertos na avaliação de conhecimento, nos períodos pré e pós-intervenção. Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 2023.

 

Dimensões do conhecimento

Acertos

Pré-intervenção

 

Pós-intervenção

N

%

N

%

Como é realizada a trituração

 

 

 

 

Cápsulas

39

92,86

39

92,86

Comprimidos de ação prolongada

24

57,14

37

88,10

Comprimidos revestidos

23

54,76

38

90,48

Drágeas

32

76,19

40

95,24

Pílulas

23

54,76

37

88,1

Soluções utilizadas para diluição

 

 

 

 

Água destilada

23

54,76

36

85,71

Soro fisiológico 0,9%

40

95,24

41

97,62

Água filtrada

Boas práticas no preparo e administração de medicamentos por sonda enteral

40

95,24

42

100,0

Medicamentos na forma líquida precisam ser diluídos

0

0

36

83,72

Quando há mais de um medicamento para ser preparado no mesmo horário, pode ser misturado durante o preparo

39

92,86

42

100,0

Interrupção da dieta antes da administração de qualquer medicamento por sonda enteral

21

50,0

41

97,62

Interrupção da dieta antes e após a administração de medicamentos que

necessitam de jejum

39

92,86

42

100,0

Interrupção na dieta na existência de medicações com interação

23

54,76

37

88,1

Lavagem da sonda antes da administração de medicamentos

29

69,05

38

90,48

Lavagem da sonda depois da administração de medicamentos

38

90,48

41

97,62

Lavagem da sonda entre dois ou mais medicamentos no mesmo horário

37

88,1

40

95,24

Interação dieta enteral e medicamento

 

 

 

 

Acetilcisteína

17

40,48

36

85,71

Haloperidol

19

52,78

39

92,86

Fenitoína

26

61,9

38

90,48

Domperidona

17

40,48

40

95,24

Fonte: Elaborado pela autora (2023).

 

No período pré-intervenção o escore foi de 13,07 (±1,7) pontos, enquanto no período pós-intervenção foi de 18,57 (±1,34) pontos. A diferença dos escores no período se mostrou estatisticamente significativa (p<0,001).

O escore de conhecimento sobre trituração de medicamentos, no período pré-intervenção, foi de 3,35 (±0,79) pontos, enquanto no período pós-intervenção foi de 4,54 (±0,66) pontos. A diferença dos escores no período se mostrou estatisticamente significativa (p<0,001).

O escore de conhecimento dos participantes sobre diluição de medicamentos no período pré-intervenção foi de 3,38 (±0,76) pontos, enquanto no período pós-intervenção foi de 4,69 (±0,51) pontos. A diferença dos escores no período se mostrou estatisticamente significativa (p<0,001).

Com relação ao escore de conhecimento dos participantes sobre administração de medicamentos por sonda enteral no período pré-intervenção foi de 4,45 (±1,04) pontos, enquanto no período pós-intervenção foi de 5,69 (±0,60) pontos. A diferença dos escores no período se mostrou estatisticamente significativa (p<0,001).

O escore de conhecimento dos participantes sobre interação entre medicamentos e nutrição enteral no período pré-intervenção foi de 1,88 (±1,04) pontos, enquanto no período pós-intervenção foi de 3,64 (±0,61) pontos. A diferença dos escores no período se mostrou estatisticamente significativa (p<0,001) e estão apresentados na tabela 2.

Tabela 2 - Comparação de escores de conhecimento geral e por domínio nos períodos pré e pós-intervenção. Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 2023.

 

Escores de conhecimento geral e por domínio

Valor de p

Média (±DP)

Mediana (IIQ)

Mínimo/máximo

Escore geral

 

 

<0,001

Pré-teste

13,07 (±1,7)

13 (5)

9/17

Pós-teste

18,57 (±1,34)

19 (4)

15/20

Trituração

 

<0,001

Pré-teste

3,35 (±0,79)

3 (2)

2/5

Pós-teste

4,54 (±0,66)

5 (1)

2/5

Soluções utilizadas para diluição

 

<0,001

Pré-teste

3,38 (±0,76)

4 (2)

¼

Pós-teste

4,69 (±0,51)

5 (1)

3/5

Boas práticas no preparo e administração de medicamentos por sonda enteral

 

<0,001

Pré-teste

4,45 (±1,04)

5 (3)

2/6

Pós-teste

5,69 (±0,60)

6 (1)

3/6

Interação dieta enteral e medicamento

 

<0,001

Pré-teste

4,45 (±1,04)

5 (3)

2/6

Pós-teste

5,69 (±0,60)

6 (1)

3/6

DP = Desvio-padrão. IIQ = Intervalo interquartílico. Teste t de Student para amostras pareadas.

Fonte: Elaborado pela autora (2023).

 

DISCUSSÃO

O preparo e administração de medicamentos por sonda enteral é uma das competências da equipe de enfermagem, exigindo conhecimento sobre essa prática (13,14). O perfil de profissionais apresentados nessa pesquisa, assemelha-se a um estudo sobre intervenção educativa realizado em um hospital universitário de João Pessoa, onde 78% dos profissionais eram técnicos em enfermagem(15).

Outro estudo sobre conhecimento da equipe de enfermagem na administração de medicamentos por via enteral, mostrou similaridade com a pesquisa em tela no que diz respeito a formação profissional, constituída, em sua maioria, por técnicos de enfermagem(6).

Sobre o tempo de experiência profissional verificou-se que influencia na segurança para execução de procedimentos, um dos maiores desafios na UTI, onde os pacientes estão em estado crítico de saúde(16).

Neste estudo houve, após a intervenção, aumento no número de acertos sobre trituração de drágeas, cápsulas, comprimidos revestidos e comprimidos de ação prolongada. As formas farmacêuticas sólidas como drágeas podem ser trituradas e devem passar por processo de preparo mais complexo (trituração, dispersão e solubilização), o que demanda maior atenção e tempo por parte da equipe de saúde para tais procedimentos(17).

Com relação às cápsulas, é necessário abri-las e misturá-las em água. Além disso, é recomendado lavar o recipiente de preparo com um volume adicional para garantir a transferência completa do conteúdo(8).

Estudo de revisão apontou que alguns medicamentos revestidos ou drágeas (onde o revestimento tem o objetivo de mascarar o sabor), podem ser triturados ou administrados por sonda enteral, porém apresentam riscos de obstruí-las, reforçando a necessidade de limpeza apropriada da sonda após a administração do medicamento(8).

No que se refere a trituração de comprimidos de ação prolongada, os respondentes conhecem que esse tipo de medicamento não deve ser triturado, pois pode causar efeitos tóxicos aos pacientes, uma vez que o revestimento visa favorecer a liberação do medicamento no sítio adequado de absorção(13).

Quanto a diluição de medicamentos administrados por sonda, a transformação de uma forma farmacêutica sólida em líquida deve ser realizada de maneira apropriada, buscando garantir a estabilidade do medicamento. A diluição deverá ser realizada com água filtrada, purificada ou estéril a fim de evitar contaminações(10).

             Na dimensão boas práticas no preparo e administração de medicamentos por sonda enteral, o conhecimento sobre preparo de mais de um medicamento simultaneamente, no mesmo horário, apresentou maior número de acertos pós-intervenção. Corroborando com esse achado, uma revisão de literatura ressalta a necessidade de preparar e administrar medicamentos de forma individual, pois podem ocorrer interação entre eles.  A administração de vários medicamentos juntos pode elevar o risco de obstrução, além da possibilidade de incompatibilidade entre eles, aumentando a chance de interação entre os diferentes componentes da formulação, e alteração na estabilidade das soluções(8).

A interrupção da dieta antes e após a administração de medicamentos que necessitam de jejum, deve-se ao fato de que drogas como acetilcisteina, fenitoína, haloperidol e domperiona podem sofrer interação com a nutrição enteral pois os alimentos diminuem a sua absorção e, portanto, é necessário a pausa na administração da dieta uma hora antes e uma hora após a administração desses medicamentos. É importante que as equipes de enfermagem conheçam as interações medicamento-nutriente para que a prática da interrupção não ocorra para todo e qualquer medicamento por sonda enteral(11).

Com relação a lavagem da sonda é necessário realizar com pelo menos 20 ml de água (mineral ou filtrada) antes e após o término da administração do medicamento e entre dois ou mais medicamentos no mesmo horário(10). Para pacientes com restrição hídrica, sugere-se o uso de cinco mililitros (mL) de água filtrada antes e 10 mL após a administração de medicamentos(8).

Para administração de medicamentos na forma farmacêutica sólida, deve ser realizada a tritura e dissolução em água filtrada, assim como as medicações na forma líquida que também necessitam ser diluídas, sendo esse um dos itens de maior aumento de acertos no pós-intervenção. Mesmo na forma líquida, a diluição dos medicamentos antes da administração por sondas é necessária para reduzir a osmolaridade e viscosidade do medicamento(10,13).

No presente estudo houve significativo aumento no score de conhecimentos sobre trituração, soluções utilizadas para diluição, boas práticas no preparo e administração de medicamentos e interação de medicamentos por sonda enteral, podendo inferir que as intervenções educativas realizadas ampliam o conhecimento da equipe de saúde, podendo impactar na qualidade do cuidado e no processo assistencial(18).  Além disso, a prática educativa realizada no local e no horário de trabalho, facilita a participação dos profissionais da instituição, proporcionando uma reflexão e discussão sobre o assunto abordado(9).

 

CONCLUSÕES

Os resultados da pesquisa mostraram aumento no escore após intervenção educativa nos domínios trituração, soluções utilizadas para diluição, boas práticas no preparo e administração de medicamentos por sonda enteral, interação medicamentosa, demonstrando a efetividade da ação.

Como limitações do estudo, a impossibilidade de avaliar a efetividade da intervenção a longo prazo e a continuidade no seguimento das boas práticas, abordadas na ação educativa.

Sugere-se a elaboração de protocolo para administração de medicamentos por sonda enteral abordando formas de diluição, tritura, e boas práticas na administração de medicamentos por sonda enteral.

 

REFERÊNCIAS

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Fomento e Agradecimento: A pesquisa não recebeu financiamento.

Critérios de autoria (contribuições dos autores)

Aniele Fernandes Evangelista - Contribuiu substancialmente na concepção e/ou no planejamento do estudo; na obtenção, na análise e/ou interpretação dos dados; assim como na redação e/ou revisão crítica e aprovação final da versão publicada.

Vanessa Galdino de Paula - Contribuiu substancialmente na concepção e/ou no planejamento do estudo; na obtenção, na análise e/ou interpretação dos dados; assim como na redação e/ou revisão crítica e aprovação final da versão publicada.

Caroline de Deus Lisboa - Contribuiu substancialmente na concepção e/ou no planejamento do estudo; na obtenção, na análise e/ou interpretação dos dados; assim como na redação e/ou revisão crítica e aprovação final da versão publicada.

Luciana Guimarães Assad - Contribuiu na redação e/ou revisão crítica e aprovação final da versão publicada.

Ronilson Gonçalves Rocha - Contribuiu na redação e/ou revisão crítica e aprovação final da versão publicada.

Luana Ferreira de Almeida - Contribuiu na redação e/ou revisão crítica e aprovação final da versão publicada.

Declaração de conflito de interesses

Nada a declarar.

Editor Científico: Ítalo Arão Pereira Ribeiro. Orcid: https://orcid.org/0000-0003-0778-1447     
Editor Associado: Edirlei Machado dos-Santos. Orcid: 
https://orcid.org/0000-0002-1221-03

Rev Enferm Atual In Derme 2024;98(2): e024332