ARTIGO DE REVIS�O

PREPARO DO LEITO DA FERIDA POR MEIO DO DESBRIDAMENTO: UMA REVIS�O INTEGRATIVA

WOUND BED PREPARATION THROUGH DEBRIDATION: AN INTREGRATIVE REVIEM

PREPARACI�N DEL LECHO DE LA HERIDA MEDIANTE DEBRIDAMIENTO: UNA REVISI�N INTEGRATIVA

https://doi.org/10.31011/reaid-2024-v.98-n.3-art.2343

Caren Cerqueira Mina�

Everton da Silva Santos2

Viviani Silva Nascimento3

Marcia Danielle de Sousa e Silva4

 

� Discente de Enfermagem da Universidade do Estado da Bahia, Senhor do Bonfim, Brasil, Orcid: https://orcid.org/0000-0002-9528-5488

2 Discente de Enfermagem da Universidade do Estado da Bahia, Senhor do Bonfim, Brasil, Orcid: https://orcid.org/0000-0003-2144-0016

3 Discente de Enfermagem da Universidade do Estado da Bahia, Senhor do Bonfim, Brasil, Orcid: https://orcid.org/0000-0001-5218-6669

4 Enfermeira especialista em dermatologia, Mestranda em Ci�ncias da Sa�de e Biol�gicas (Univasf), Docente substituta da Universidade do Estado da Bahia, Petrolina, Brasil, Orcid: https://orcid.org/0000-0001-7384-2768

 

Autor correspondente

Caren Cerqueira Mina

Rodovia Lomanto Jr, Br. 407 Km 127, s/n, Sr. do Bonfim - BA, Brasil. CEP: 48970-000, contato: +55(75) 998807-9888, E-mail: carenminaenf@gmail.com.

 

Submiss�o: 06-08-2024

Aprovado: 24-08-2024

 

RESUMO

Introdu��o: A higieniza��o e o desbridamento s�o ferramentas que representam de forma conjunta uma etapa crucial para promover a transi��o da fase inflamat�ria para a fase proliferativa no processo de cicatriza��o de feridas. Objetivo: Investigar o que existe de evid�ncia cient�fica sobre o preparo do leito da ferida atrav�s do desbridamento. M�todo: Trata-se de uma revis�o integrativa da literatura, realizada na base PubMed a partir da estrat�gia PICO tendo como quest�o norteadora de pesquisa: Quais evid�ncias existem sobre os tipos de desbridamento e a efetividade no tratamento de feridas para a cicatriza��o? Foram inclu�dos todos os estudos dispon�veis gratuitamente na �ntegra, em portugu�s, ingl�s e espanhol, com um limite temporal de 5 anos e que no protocolo de tratamento foi utilizado alguma t�cnica de desbridamento para o preparo do leito da ferida. Resultados: A sele��o de cinco artigos revelou uma ampla gama de abordagens de desbridamentos para os diferentes tipos de les�es, incluindo �lceras diab�ticas, queimaduras e as �lceras de origem venosa ou mista. Em rela��o aos tipos de desbridamento foram encontrados os autol�ticos, hidrocir�rgicos, instrumental conservador e de terapia larval para tratamento da les�o. Conclus�o: A presente an�lise evidenciou uma variedade de t�cnicas eficazes em diferentes contextos cl�nicos, por�m nem todos os tipos de desbridamento s�o acess�veis e vi�veis para todos os tipos de paciente. Logo, � importante frisar que a condi��o cl�nica do paciente e a natureza de cada ferida s�o �nicas e isso exigir� a individualiza��o da terapia de desbridamento.

Palavras-chaves: Desbridamento; Cicatriza��o; Enfermagem.

 

ABSTRACT

Introduction: Cleaning and debridement are essential steps in promoting the transition from the inflammatory phase to the proliferative phase in the wound healing process. Objective: To investigate the scientific evidence regarding wound bed preparation through debridement. Method: This study is an integrative literature review conducted on PubMed using the PICO strategy, with the guiding research question: What evidence exists on the types of debridement and their effectiveness in wound healing treatment? All studies available in full text for free, in Portuguese, English, and Spanish, within a 5-year time frame, and that used some form of debridement technique for wound bed preparation in their treatment protocol were included. Results: The selection of five articles revealed a wide range of debridement approaches for different types of wounds, including diabetic ulcers, burns, and venous or mixed-origin ulcers. Types of debridement identified included autolytic, hydrosurgical, conservative instrumental, and larval therapy. Conclusion: This analysis highlighted a variety of effective techniques in different clinical contexts. However, not all types of debridement are accessible and feasible for all patients. Therefore, it is crucial to emphasize that the clinical condition of the patient and the nature of each wound are unique, requiring individualized debridement therapy.

Keywords: Debridement; Wound Healing; Nursing.

 

RESUMEN

Introducci�n: La higienizaci�n y el desbridamiento son herramientas que, en conjunto, representan una etapa crucial para promover la transici�n de la fase inflamatoria a la fase proliferativa en el proceso de cicatrizaci�n de heridas. Objetivo: Investigar la evidencia cient�fica existente sobre la preparaci�n del lecho de la herida a trav�s del desbridamiento. M�todo: Este estudio es una revisi�n integrativa de la literatura, realizada en la base de datos PubMed utilizando la estrategia PICO, con la pregunta de investigaci�n gu�a: �Qu� evidencias existen sobre los tipos de desbridamiento y su efectividad en el tratamiento de heridas para la cicatrizaci�n? Se incluyeron todos los estudios disponibles gratuitamente en su totalidad, en portugu�s, ingl�s y espa�ol, con un l�mite temporal de 5 a�os y que en su protocolo de tratamiento utilizaron alguna t�cnica de desbridamiento para la preparaci�n del lecho de la herida.Resultados: La selecci�n de cinco art�culos revel� una amplia gama de enfoques de desbridamiento para diferentes tipos de lesiones, incluyendo �lceras diab�ticas, quemaduras y �lceras de origen venoso o mixto. Entre los tipos de desbridamiento encontrados se incluyen los autol�ticos, hidrocir�rgicos, instrumental conservador y terapia larval.Conclusi�n: Este an�lisis evidenci� una variedad de t�cnicas eficaces en diferentes contextos cl�nicos. Sin embargo, no todos los tipos de desbridamiento son accesibles y viables para todos los pacientes. Por lo tanto, es importante enfatizar que la condici�n cl�nica del paciente y la naturaleza de cada herida son �nicas, lo que requiere una individualizaci�n de la terapia de desbridamiento.

Palabras clave: Desbridamiento; Cicatrizaci�n de Heridas; Enfermer�a.

 

 

INTRODU��O

A cicatriza��o de feridas � um processo complexo e din�mico, no qual envolve uma s�rie de eventos celulares e moleculares coordenados. Esses eventos ocorrem em uma sequ�ncia preditiva de fases sobrepostas que incluem tr�s fases principais: inflamat�ria, proliferativa e de remodela��o. Onde, devido � complexidade desses eventos e os fatores associados que tendem a retardar esse processo de cicatriza��o, a escolha do tratamento deve se adequar �s caracter�sticas de cada ferida(1).

A higieniza��o e o desbridamento s�o ferramentas que representam de forma conjunta uma etapa crucial para promover a transi��o da fase inflamat�ria para a fase proliferativa no processo de cicatriza��o de feridas. Tal pr�tica visa a remo��o de tecido invi�vel e da carga microbiana que prejudicam o avan�o adequado do processo fisiol�gico de cicatriza��o(2).

A higieniza��o de ferimentos tem sido amplamente reconhecida como um aspecto indispens�vel no tratamento de les�es, contribuindo para a elimina��o de res�duos celulares, detritos e agentes patog�nicos. Ajudando assim, a controlar a carga microbiana, prevenir infec��es e promover um ambiente prop�cio para a cicatriza��o(2).

O conceito de desbridamento foi citado originalmente como a cir�rgica de tecido morto, necr�tico ou invi�vel de uma ferida. No entanto, com os avan�os no tratamento de feridas e a maior necessidade de t�cnicas menos invasivas, o termo tem evolu�do a diversas modalidades de desbridamento n�o cir�rgico. Com objetivo al�m de remover tecido morto, mas tamb�m, detritos, biofilme e qualquer material que possa interferir no processo de cicatriza��o(1).

�A maior complexidade do tratamento se encontra nas feridas de dif�cil cicatriza��o, que devido � complexidade da etiologia (grandes queimados, p� diab�tico e �lceras venosas) nem sempre seguem fases previs�veis e temporal de cicatriza��o devido � interrup��o de um ou mais elementos do processo de cicatriza��o(3).

�Embora haja um consenso inequ�voco entre os especialistas em apoio � necessidade de desbridamento regular da ferida para facilitar a cicatriza��o, evid�ncias de alta qualidade para justificar o desbridamento em geral e para identificar a melhor forma de desbridamento, s�o limitadas⁽�⁾.

Atualmente, os pesquisadores tentam encontrar melhores t�cnicas de desbridamento, para melhorar o desfecho da cicatriza��o das feridas⁽�⁾.

Dessa forma, de acordo com o exposto, o estudo tem como objetivo investigar o que existe de evid�ncia cient�fica sobre o preparo do leito da ferida atrav�s do desbridamento.

 

M�TODOS

O estudo trata-se de uma revis�o integrativa da literatura. Segundo Souza et al (4), a revis�o integrativa � um m�todo que proporciona a s�ntese de conhecimento e a incorpora��o da aplicabilidade de resultados de estudos significativos na pr�tica. O que torna esse tipo de estudo importante para a implementa��o de boas pr�ticas nos servi�os de sa�de.

Por meio da estrat�gia PICO (Participants, Intervention, Comparations, Outcomes), foi utilizada como quest�o de investiga��o: Quais evid�ncias existem sobre os tipos de desbridamento e a efetividade no tratamento de feridas para a cicatriza��o?

P - Pessoas com feridas

I - T�cnicas de desbridamento

C - T�cnicas de desbridamento e/ou curativo convencional

O � Ocorr�ncia ou n�o de cicatriza��o, mudan�a na �rea total da ferida, tempo de dura��o at� a completa cicatriza��o, propor��o na redu��o do tecido invi�vel, viabilidade da t�cnica de desbridamento.

Para compor a amostra, os estudos potencialmente relevantes foram identificados por meio de uma pesquisa na base de dados PubMed. Como estrat�gia de busca foram utilizados os descritores controlados da National Library of Medicine�s (MeSH) e Descritores em Ci�ncia da Sa�de (DeCS) relacionados � desbridamento (�desbridament�) e � cicatriza��o de ferida (�Wound Healing�, �Healing, Wound�, �Healings, Wound�, �Wound Healings� e �healing�). Os descritores foram ligados pelos operadores booleanos �and� e �or�, conforme descri��o:

�Debridement� AND �Wound Healing� OR �Healing, Wound� OR �Healings, Wound� OR �Wound Healings� OR �healing��

Foram inclu�dos todos os estudos dispon�veis gratuitamente na �ntegra, em portugu�s, ingl�s e espanhol, com um limite temporal de 5 anos e que no protocolo de tratamento foi utilizado alguma t�cnica de desbridamento para o preparo do leito da ferida.

Foram exclu�dos, os artigos indispon�veis na �ntegra, resumos publicados em anais de congresso, carta ao editor; revis�o de literatura, revis�o integrativa, scoping review, revis�o sistem�tica com ou sem metan�lise, overview de revis�o sistem�tica com ou sem metan�lise, cap�tulo de livro, disserta��o, tese, estudo em que a popula��o e/ ou a interven��o estudada n�o estavam claras; estudos em que n�o foi poss�vel extrair resultados referentes � rela��o entre a cicatriza��o e o desbridamento.

A partir desses crit�rios, foi realizada uma an�lise descritiva dos artigos dividida em tr�s etapas: avalia��o de t�tulos, de resumos e por �ltimo, de textos completos, de modo duplo cego. A an�lise foi realizada por dois pesquisadores distintos e as discord�ncias foram avaliadas por um terceiro. Os artigos repetidos foram considerados apenas uma vez.

A extra��o dos dados dos artigos foi realizada atrav�s da utiliza��o do programa Rayyan QCRI. As vari�veis na pesquisa foram: autor, ano de publica��o e pa�s; tipo de estudo; dura��o; tipo e tamanho da amostra, tipo de desbridamento estudado; principais resultados; e limita��es ou vieses descritos.

A Figura 1 representa o processo conduzido para a identifica��o, triagem, elegibilidade e inclus�o dos estudos, de acordo com a base de dados consultada (PubMed). Inicialmente, foram localizadas publica��es, e mediante a aplica��o dos crit�rios de inclus�o, foi poss�vel identificar um total de 56 publica��es. Posteriormente, foram exclu�dos 46 artigos ap�s uma an�lise dos t�tulos e resumos. 10 artigos cumpriram com o crit�rio de elegibilidade. Na etapa de leitura na �ntegra, foram exclu�dos 5 artigos, o desbridamento fazia parte dos procedimentos realizados no estudo, no entanto, o objetivo de tais estudos n�o estava relacionado ao desbridamento, a amostra final foi composta por 05 pesquisas.

Figura 1 - Fluxograma dos artigos inclu�dos na revis�o integrativa da literatura

 

RESULTADOS E DISCUSS�O

Tabela 1 - Resultados encontrados

Autor, ano e pa�s

Tipo de estudo

Dura��o

Tipo e tamanho da amostra

Tipo de desbridamento

Principais resultados

Limita��es e ou vieses descritos

Barbosa et. al. 2022.

Brasil.(5)

 

 

Ensaio cl�nico randomizado cego

12 semanas

�lceras do p� diab�tico

19 participantes

Autol�tico x limpeza x curativo simples n�o aderente.

Hidrogel enriquecido com alginato de s�dio e vitaminas A e E n�o mostrou nenhuma diferen�a significativa (�rea da ferida, pontua��o total do PUSH, subescores do PUSH) entre o grupo controle (limpeza e curativo simples) e o grupo experimental. 

A an�lise microsc�pica revelou diminui��o dos infiltrados inflamat�rios no grupo experimental ap�s 12 semanas de tratamento. N�o houve nenhum aumento significativo na produ��o de col�geno ap�s o uso de hidrogel. 

Os pacientes de um grupo apresentaram les�es maiores, embora tenha havido cuidado na randomiza��o e aloca��o. Essa diferen�a pode ter resultado em um vi�s nos resultados deste estudo, o que pode ter afetado negativamente a avalia��o dos resultados.

Nube, et. al. 2021.

Nova Zel�ndia.(6)

Ensaio cl�nico randomizado prospectivo de interven��o multic�ntrico

12 semanas

92 pacientes, adultos com diabetes e �lcera neurop�tica plantar no p� 

Desbridamento semanal x desbridamento a cada duas semanas (bisturi, cureta e pin�a). 

N�o houve diferen�a significativa na cicatriza��o, redu��o da �rea da ferida, entre o grupo semanal e o grupo a cada duas semanas. 

As limita��es do estudo incluem o uso de dispositivos remov�veis de al�vio de press�o. No entanto, o uso de dispositivos iremov�veis limitaria o recrutamento apenas aos participantes capazes de aceitar e utilizar tais m�todos.

Sigal et. al. 2019.

Fran�a. (7)

 

Dois ensaios cl�nicos multic�ntrico, de bra�o �nico, prospectivos, abertos: NERIDES e CASSIOPEE

12 semanas

Adultos com �lcera exsudativa origem venosa ou mista. 

88 participantes, 37 NERIDES (feridas em fase de desbridamento) 51 CASSIOPEE (feridas em fases de granula��o).

Fibras poliabsorventes, revestida com matriz lip�dico-col�ide contendo sacarose octassulfato

(UrgoStart Plus)

Tanto no NEREIDES quanto no CASSIOPEE, as redu��es da �rea da ferida, as taxas de fechamento da ferida e o tempo para atingir o fechamento da ferida foram bastante consistentes, apesar da diferen�a acentuada nas caracter�sticas do tecido descamado entre as feridas no in�cio do estudo.

O desempenho global do novo curativo TLC-NOSF foi considerado 'muito bom' ou 'bom' nas etapas de desbridamento e granula��o nos dois estudos. 

O uso de diferentes sistemas de terapia compressiva e a aus�ncia de uma t�cnica de desbridamento �nica e adequada para todos os pacientes podem ser considerados limita��es destes estudos. 

Legemate et. al.2022. Holanda.(8)

Ensaio cl�nico randomizado, duplo-cego, multic�ntrico e controlado 

12 meses

137 pacientes queimados

Desbridamento hidrocir�rgico x desbridamento convencional

A qualidade e flexibilidade da cicatriz foram melhores no desbridamento. hidrocir�rgico. 

O tempo para reepiteliza��o n�o diferiu entre os dois grupos de interven��o.

N�o foram encontradas diferen�as significativas na infec��o da ferida, percentagem de perda do enxerto e outras complica��es entre os dois grupos.  

As principais limita��es foram o desenho dentro do paciente e a medida dos resultados. 

Gaffari et. al. 2023.

Ir�.(10)

Ensaio cl�nico randomizado

6 dias

31 casos com pelo menos uma queimadura de espessura total (grau III)

Terapia larval x tratamento convencional (desbridamento cortante, curativos com prata)

Os pacientes que receberam larvas melhoraram significativamente a granula��o e diminu�ram a necrose no mesmo per�odo em compara��o com o grupo de tratamento convencional. 

Foi observado uma melhora significativa no tempo de cura para o grupo que recebeu larvas.

Essas larvas tamb�m podem eliminar infec��es microbianas da superf�cie afetada, bem como, previne o crescimento de novo biofilme atrav�s do qual promove o tecido de granula��o.

N�o est� descrito

 

 

A amostra foi composta por 5 pesquisas, todos ensaios cl�nicos randomizados classificados com n�vel II de evid�ncia.

Destes artigos inclu�dos, 40% (n=2) tratam de �lceras diab�ticas, 40% (n=2) sobre queimaduras, 20% (n=1) de �lceras de origem venosa ou mista. Em rela��o aos tipos de desbridamento foram encontrados: autol�tico, hidrocir�rgico, instrumental conservador e terapia larval. Os estudos foram conduzidos em diferentes locais, abrangendo Brasil, Fran�a, Nova Zel�ndia, Ir� e Holanda.

Com base no recorte temporal, 20% (n=1) dos artigos foram publicados em 2019, 20% (n=1) em 2021, 40% (n=2) em 2022 e 20% (n=1) em 2023.

Um estudo realizado no Brasil, pelos autores(5), avaliou a efetividade do hidrogel enriquecido com alginato de s�dio e vitaminas A e E, quando comparado com o curativo simples com acetato n�o aderente, em pacientes com �lceras do p� diab�tico. Tal estudo n�o mostrou nenhuma diferen�a significativa de cicatriza��o em rela��o aos par�metros estudados, a saber: �rea da ferida, pontua��o total do PUSH e subescores do PUSH.

Tal achado diverge de pesquisas anteriores, que apontam que o hidrogel foi relacionado a uma taxa de cicatriza��o mais r�pida em compara��o com curativos convencionais. No entanto, o desbridamento autol�tico leva mais tempo para funcionar e depende das pr�prias c�lulas e enzimas do paciente para remover o tecido necr�tico, as comorbidades do paciente pode impedir a migra��o e o desempenho das c�lulas no processo de cicatriza��o(3).

Os autores descreveram como, limita��o do estudo e possibilidade de resultado negativo, o fato do grupo experimental apresentar les�es maiores, embora tenha havido randomiza��o e aloca��o. Outro fator importante para o baixo resultado � a presen�a de comorbidade no grupo estudado. Em contrapartida, a an�lise microsc�pica revelou diminui��o dos infiltrados inflamat�rios no grupo experimental ap�s 12 semanas de tratamento(5).

Outro ensaio cl�nico realizado com 92 pacientes com �lcera no p� decorrente do diabetes(6) comparou o desbridamento agudo semanalmente com o desbridamento a cada duas semanas, e n�o encontrou diferen�a significativa na cicatriza��o, redu��o da �rea da ferida, entre o grupo semanal e o grupo a cada duas semanas.

Esses estudos nos mostram a complexidade da tomada de decis�o na escolha do tipo de desbridamento para os pacientes que apresentam comorbidades, que impedem o seguimento das fases de cicatriza��o.

O estudo multic�ntrico realizado em duas coortes(7), avaliou a efetividade das Fibras poliabsorventes revestida com matriz lip�dico-col�ide contendo sacarose octassulfato (UrgoStart Plus), em paciente com �lcera de perna n�o infectadas em grupos distintos. Um grupo com feridas em fase de desbridamento e outro grupo com feridas em fase de granula��o.

Em ambos os grupos, a redu��o da �rea da ferida, as taxas de fechamento da ferida e o tempo para atingir o fechamento da ferida foram bastante consistentes. O desempenho global do curativo UrgoStart Plus foi considerado 'muito bom' ou 'bom' nas etapas de desbridamento e granula��o(7).

����������� Esse achado nos mostra uma possibilidade de tratamento f�cil, eficaz e que traz bons resultados em diferentes fases de cicatriza��o.

����������� O ensaio cl�nico randomizado, realizado pelos autores(8), comparou o desbridamento hidrocir�rgico com o desbridamento convencional em 137 pacientes queimados. Nos achados, observou-se que n�o houve diferen�a significativa na infec��o da ferida, percentagem de perda do enxerto e outras complica��es entre os dois grupos. Tamb�m n�o houve diferen�a no tempo de reepiteliza��o. No entanto, o estudo encontrou no grupo interven��o (desbridamento hidrocir�rgico) melhora na qualidade e flexibilidade da cicatriz.

Corroborando com os achados, a revis�o sistem�tica conduzida pelo estudo(9), n�o observou diferen�as significativas entre os desbridamentos no que diz respeito ao tempo m�dio de cicatriza��o ou ao risco de infec��o p�s-operat�ria. No entanto, � importante ressaltar que, os achados quanto a qualidade da cicatriz � significativa, � medida que impacta diretamente da mobilidade do membro queimado e consequentemente na qualidade de vida do paciente.

Os autores(10) realizaram um ensaio cl�nico randomizado com 31 casos com paciente queimados que apresentavam pelo menos uma queimadura de espessura total (grau III), comparando o desbridamento atrav�s da terapia larval (TL) com o tratamento convencional (desbridamento cortante e curativos com prata). Observou-se que, os pacientes que receberam a terapia larval tiveram uma melhora significativa na granula��o, diminui��o da necrose e tempo de cicatriza��o quando comparados ao tratamento convencional. Outro achado importante da pesquisa foi o tempo m�dio de desbridamento, na terapia larval foi de 96 horas e no grupo de tratamento convencional foi de 156,5 horas.

Esse achado � importante, � medida que entendemos a necessidade de um desbridamento eficaz e r�pido, que garante o seguimento da cicatriza��o e afastar o risco de infec��o. Al�m disso, o estudo aponta que as larvas t�m a capacidade de eliminar infec��es e prevenir o crescimento do biofilme, favorecendo assim o desenvolvimento do tecido de granula��o(10).

Corroborando com os achados, a revis�o integrativa(11), constatou que, em pacientes com �lceras venosas, a terapia larval proporcionou desbridamento eficaz em compara��o ao uso de hidrogel, outro achado relevante � a rapidez do desbridamento e os mecanismos bactericidas das larvas. A revis�o encontrou que o movimento das larvas estimula a angiog�nese, promovendo assim o crescimento do tecido de granula��o.

 

CONSIDERA��ES FINAIS

����������� A an�lise das evid�ncias demonstra que para a tomada de decis�o quanto ao tipo de desbridamento que ser� empregado, � necess�rio considerar cuidadosamente v�rios aspectos, como a condi��o do paciente, etiologia da ferida, comorbidades que o paciente apresenta e tipo de tecido.

����������� Nem todos os tipos de desbridamento s�o acess�veis e vi�veis para todos os tipos de pacientes, pois al�m de acesso a pessoal m�dico habilitado e capaz de realizar os procedimentos, � necess�rio amplo acesso �s diversas tecnologias existentes atualmente.� Exemplo disso, � a terapia larval e hidrocir�rgico, que apesar dos excelentes resultados t�m acesso limitado ao procedimento.

A pesquisa com desbridamento agudo, apesar de n�o ter mostrado evid�ncias significativas, apresentou limita��es que podem ter interferido no resultado. Al�m disso � uma t�cnica que tamb�m exige habilidade t�cnica-cient�fica e aparato para a sua realiza��o.

Deste modo, entende-se que o desbridamento atrav�s de coberturas � uma possibilidade f�cil, segura, acess�vel e que necessita de menos conhecimento t�cnico-cient�fico para a sua realiza��o. Contudo, n�o podemos deixar de destacar que a condi��o cl�nica do paciente e a natureza de cada ferida s�o �nicas e isso exigir� a individualiza��o da terapia de desbridamento.

REFER�NCIAS

1 Miranda JTS de, Silva E dos S, Tavares W de S, Moreira DC, Mello MVF de A. Conhecimento de enfermeiros sobre desbridamento de feridas em uma unidade de terapia intensiva na amaz�nia. Rev. Enferm. Atual In Derme [Internet]. 15� de agosto de 2023 [citado 2024 Jun 25];97(3):e023123. doi: 10.31011/reaid-2023-v.97-n.3-art.1550

2 Murphy C, Atkin L, Dissemond J, Hurlow J, Tan YK, Apelqvist J, James G, Salles N, Wu J, Tachi M, Wolcott R. Defying hard-to-heal wounds with an early antibiofilm intervention strategy: 'wound hygiene'. J Wound Care. 2019 Dec 2;28(12):818-822. doi: 10.12968/jowc.2019.28.12.818. PMID: 31825771.

 

3 Woo KY, Keast D, Parsons N, Sibbald RG, Mittmann N. The cost of wound debridement: a Canadian perspective. Int Wound J. 2015 Aug;12(4):402-7. doi: 10.1111/iwj.12122. Epub 2013 Jul 9. PMID: 23834451; PMCID: PMC7950378.

 

4 Sousa LMMS, Marques-Vieira CMA, Severino SS, Antunes AV. Metodologia de Revis�o Integrativa da Literatura em Enfermagem. repositorio-cientificoessatlapt [Internet]. 2017 Nov 1; Available from: https://repositorio-cientifico.essatla.pt/handle/20.500.12253/1311

 

5 Barbosa MG, Carvalho VF, Paggiaro AO. Hydrogel enriched with sodium alginate and vitamins A and E for diabetic foot ulcer: a randomized controlled trial. Wounds. 2022 Sep;34(9):229-35. doi: 10.25270/wnds/20103. PMID: 36219460.

 

6 Nube VL, White JM, Brewer K, Veldhoen D, Meler C, Frank G, Carroll K, Featherston J, Batchelor J, Gebski V, Alison JA, Twigg SM. A Randomized Trial Comparing Weekly With Every Second Week Sharp Debridement in People With Diabetes-Related Foot Ulcers Shows Similar Healing Outcomes: Potential Benefit to Resource Utilization. Diabetes Care. 2021 Dec;44(12):e203-e205. doi: 10.2337/dc21-1454. Epub 2021 Oct 21. PMID: 34675055; PMCID: PMC8669526.

 

‌7 Sigal ML, Addala A, Maillard H, Chahim M, Sala F, Blaise S, Dalac S, Meaume S, Bohbot S, Tumba C, Tacca O. Evaluation of TLC-NOSF dressing with poly-absorbent fibres in exuding leg ulcers: two multicentric, single-arm, prospective, open-label clinical trials. J Wound Care. 2019 Mar 3;28(3):164-75. doi: 10.12968/jowc.2019.28.3.164. PMID: 30840551.

 

8 Legemate CM, Kwa KAA, Goei H, Pijpe A, Middelkoop E, van Zuijlen PPM, Beerthuizen GIJM, Nieuwenhuis MK, van Baar ME, van der Vlies CH; HyCon Study Group. Hydrosurgical and conventional debridement of burns: randomized clinical trial. Br J Surg. 2022 Mar 15;109(4):332-39. doi: 10.1093/bjs/znab470. PMID: 35237788; PMCID: PMC10364696.

 

9 Wormald JC, Wade RG, Dunne JA, Collins DP, Jain A. Hydrosurgical debridement versus conventional surgical debridement for acute partial-thickness burns. Cochrane Database Syst Rev. 2020 Sep 3;9(9):CD012826. doi: 10.1002/14651858.CD012826.pub2. PMID: 32882071; PMCID: PMC8094409.

‌10 Gaffari J, Akbarzadeh K, Baniardalani M, Hosseini R, Masoumi S, Amiri ZS, Shabani Kordshouli R, Rafinejad J, Dahmardehei M. Larval therapy vs conventional silver dressings for full-thickness burns: a randomized controlled trial. BMC Med. 2023 Sep 19;21(1):361. doi: 10.1186/s12916-023-03063-7. PMID: 37726738; PMCID: PMC10510148.

11 Ferreira LFSL, Figueiredo RMP, Oliveira LS, Vieira RPC, Leal EPBV, Pereira JD, Abreu AM, Figueiredo RAR. Larvoterapia no Tratamento de Les�es de Dif�cil Cicatriza��o: Revis�o Integrativa. ESTIMA, Braz. J. Enterostomal Ther. 2022 20: e2622.doi: https://doi.org/10.30886/estima.v20.1239_PT

Fomento e Agradecimento: A pesquisa n�o recebeu financiamento.

 

Crit�rios de autoria (contribui��es dos autores)

 

Caren Cerqueira Mina�

Everton da Silva Santos2

Viviani Silva Nascimento3

Marcia Danielle de Sousa e Silva4

 

1. Contribuiu substancialmente com o planejamento, busca nas bases de dados, an�lise e interpreta��o

dos dados e reda��o do manuscrito.

2. Contribuiu substancialmente com an�lise e interpreta��o dos dados e reda��o do manuscrito.

3. Contribuiu substancialmente com a reda��o do manuscrito;

4. Contribuiu substancialmente com o planejamento, an�lise e interpreta��o dos dados, revis�o cr�tica e

aprova��o final da vers�o publicada.

 

Declara��o de conflito de interesses: �Nada a declarar�.

 

Editor Cient�fico: �talo Ar�o Pereira Ribeiro. Orcid: https://orcid.org/0000-0003-0778-1447

Rev Enferm Atual In Derme 2024;98(3): e024378

Atribui��o CCBY