REVISÃO INTEGRATIVA

 

LESÃO CUTÂNEA RELACIONADA AO USO DE ADESIVOS MÉDICOS (MARSI): REVISÃO INTEGRATIVA

 

SKIN LESION RELATED TO THE USE OF MEDICAL ADHESIVES (MARSI): INTEGRATIVE REVIEW


LESIÓN CUTÁNEA RELACIONADA CON EL USO DE ADHESIVOS MÉDICOS (MARSI): REVISIÓN INTEGRADORA

 

https://doi.org/10.31011/reaid-2025-v.99-n.1-art.2443

 

1Adrieli Aparecida Simões de Oliveira

2Márcia Helena de Souza Freire

3Paula e Souza Silva Freitas

 

1 Universidade Federal do Paraná, Paraná, Brasil. Orcid: https://orcid.org/0000-0001-8052-7993
2
Universidade Federal do Paraná, Paraná, Brasil. Orcid: https://orcid.org/0000-0003-3941-3673

3 Universidade Federal do Espirito Santo. Brasil. Orcid: https://orcid.org/0000-0001-9066-3286

 

Autor correspondente

Adrieli Aparecida Simões de Oliveira

Universidade Federal do Paraná.  R. XV de Novembro, 1299 - Centro, Curitiba - PR, Brasil. CEP: 80060-000

Submissão: 06-12-2024

Aprovado: 11-02-2025

 

RESUMO

Introdução: A lesão de pele associada a adesivos médicos (Medical Adhesive Related Skin Injury – MARSI), é caracterizada pela presença de eritema e/ou outras anormalidades na pele, como vesículas, bolhas, erosão e ruptura cutânea, persistindo por 30 minutos ou mais após a remoção do adesivo. Essas lesões são classificadas em três tipos: Mecânico, dermatite e outros. Objetivo: Identificar a incidência e a prevalência da Medical Adhesive Related Skin Injury – MARSI, e as evidências científicas que possam subsidiar a prevenção. Método: Revisão integrativa com busca nas bases dados: CINAHL, PubMed, Scopus, BVS e Web of Science, realizada em fevereiro/2024, a partir da pergunta no modelo acrônimo PICo. Resultados: Amostra final incluiu 14 artigos, publicados entre 2019 e 2023. Os estudos foram caracterizados para análise em grupos, a saber: no grupo de cuidados para prevenção de MARSI, seis estudos (42,85%), no grupo incidência, quatro estudos (28,57%), no grupo incidência e cuidados preventivos dois estudos (14,28%), no grupo prevalência, dois estudos (14,28%). Observou-se prevalência em pacientes críticos 22,7%, a maior incidência foi de 34,6% sendo a causa de MARSI a lesão mecânica.  Quanto aos cuidados, estudos trouxeram prevenção com aplicação de película barreira antes do adesivo, aplicar removedores antes de remover para evitar dor e MARSI. Também sugerem treinamento da equipe quanto a técnica de aplicação e remoção de adesivos. Conclusão: Prevenir MARSI é necessário qualificar a equipe assistencial quanto aos cuidados na escolha do adesivo.  

Palavras-Chaves: Adesivos; Ferimentos e lesões; Cuidados de Enfermagem; Estomaterapia.

 

ABSTRACT

Introduction: Medical Adhesive Related Skin Injury (MARSI) is characterized by the presence of erythema and/or other skin abnormalities, such as vesicles, blisters, erosion and skin rupture, persisting for 30 minutes or more after removal of the adhesive. These injuries are classified into three types: mechanical, dermatitis and others. Objective: To identify the incidence and prevalence of Medical Adhesive Related Skin Injury – MARSI, and the scientific evidence that can support prevention. Method: Integrative review with search in databases: CINAHL, PubMed, Scopus, VHL and Web of Science, carried out in February/2024, based on the question in the PICo acronym model. Results: Final sample included 14 articles, published between 2019 and 2023. The studies were characterized for analysis in groups, namely: in the care group for MARSI prevention, six studies (42.85%), in the incidence group, four studies (28.57%), in the incidence and preventive care group, two studies (14.28%), in the prevalence group, two studies (14.28%). A prevalence of 22.7% in critically ill patients was observed, the highest incidence was 34.6%, with mechanical injury being the cause of MARSI.  As for care, studies have brought prevention with the application of a barrier film before the adhesive, applying removers before removing to avoid pain and MARSI. They also suggest training the team regarding the technique of applying and removing stickers. Conclusion: To prevent MARSI, it is necessary to qualify the care team regarding the care in choosing the adhesive.

Keywords: Adhesive; Wounds and Injuries; Nursing care; Stomatherapy.

 

RESUMEN

Introducción: Lesiones cutáneas asociadas a adhesivos médicos (Medical Adhesive Related Skin Injury – MARSI) caracterizan por presencia de eritema y/u otras anomalías en la piel, como vesículas, ampollas, erosión y rotura de la piel, que persisten durante 30 minutos o más después de quitar la pegatina. Estas lesiones se clasifican en tres tipos: Mecánicas, dermatitis y otras. Objetivo: Identificar la incidencia y prevalencia de Lesiones Cutáneas Relacionadas con Adhesivos Médicos – MARSI, y la evidencia científica que puede apoyar prevención. Método: Revisión integrativa con búsqueda en bases de datos: CINAHL, PubMed, Scopus, VHL y Web of Science, realizada en febrero/2024, a partir de la pregunta del modelo de siglas PICo. Resultados: Muestra final incluyó 14 artículos, publicados entre 2019 y 2023. Estudios caracterizaron para el análisis en grupos, a saber: en el grupo de atención para la prevención MARSI, seis estudios (42,85%), en el grupo de incidencia, cuatro estudios (28,57%), en grupo de incidencia y cuidados preventivos, dos estudios (14,28%), grupo de prevalencia, dos estudios (14,28%). Se observó una prevalencia del 22,7% en pacientes críticos, mayor incidencia fue del 34,6%, siendo lesión mecánica causa de MARSI.  En cuanto a los cuidados, los estudios han traído la prevención con la aplicación de una película barrera antes del adhesivo, aplicando removedores antes de retirar para evitar dolores y MARSI. También sugieren capacitar al equipo sobre técnica de aplicación y eliminación de stickers. Conclusión: Prevenir MARSI es necesario capacitar equipo de atención en cuanto al cuidado en elección del adhesivo.

Palabras clave: Adhesivos; Heridas y Lesiones; Cuidado de Enfermera; Estomaterapia.

 

INTRODUÇÃO

A lesão de pele associada a adesivos médicos (Medical Adhesive Related Skin Injury – MARSI), foi definida nos Estados Unidos da América, em 2013, por McNichol e colegas Lesão Cutânea Relacionada a Adesivos Médicos é caracterizada pela presença de eritema e/ou outras anormalidades na pele, tais como vesículas, bolhas, erosão e ruptura cutânea, persistindo por 30 minutos ou mais após a remoção do adesivo. Essas lesões são classificadas em três tipos: Mecânico, dermatite e outros¹.

No Brasil, em 2023, realizou-se a tradução e adaptação transcultural e a validação de conteúdo do instrumento de classificação Medical Adhesive Related Skin Injury – MARSI, para o português. Contudo, a expressão "medical Adhesive" gerou divergências significativas entre os juízes e os tradutores, levando a uma redução nos valores do Índice de Validade de Conteúdo (IVC). Alguns juízes sugeriram o termo "insumos adesivos", argumentando que os adesivos não são exclusivos para uso médico. No entanto, após discussões com o grupo focal, a tradução selecionada manteve-se "adesivos médicos", por ser um termo conhecido e aceito no Brasil, assim como a expressão "lesão por pressão relacionada a dispositivo médico". Outro ponto de discussão importante foi a terminologia "skin (epidermal) stripping", que levou alguns juízes a sugerirem o uso de "remoção superficial da pele (epiderme)". No entanto, essa terminologia também foi modificada durante as discussões no grupo focal. Ao final, optou-se pela desnudação da epiderme².

Tem-se a MARSI como um evento sentinela no cenário dos cuidados às pessoas hospitalizadas pois entende-se que a manutenção da integridade da pele é um indicador importante da qualidade assistencial nas instalações de saúde. Mesmo sendo frequentemente subestimadas, as lesões de pele relacionadas a adesivos médicos são significativas, e ainda têm o potencial de impactar nos resultados, na satisfação e na segurança dos pacientes. É sabido que os adesivos médicos são amplamente utilizados em ambientes de saúde, eles abrangem uma significativa variedade de produtos, tais como: fitas; curativos; eletrodos; barreiras para estomas; entre outros adesivos usados para fixar dispositivos na pele, monitorar pacientes de forma não invasiva, realizar cobertura secundária de feridas, aproximar as margens das lesões e promover o processo de cicatrização da pele10.

Tem-se a epiderme como defesa física do corpo contra o ambiente externo. Contudo, quando a umidade ou trauma danificam a camada externa da pele, sua capacidade de proteção fica comprometida, podendo resultar em dor, lesão, infecção ou até mesmo o atraso na cicatrização. E ainda a pele também desempenha funções na regulação da temperatura e pressão corporal, além de contribuir para a homeostase do organismo, uma vez que recebe cerca de um terço do volume sanguíneo circulante e evita a perda ou absorção excessiva de líquidos. Assim, quando exposta a níveis elevados de umidade, a pele tende a amolecer, inchar e enrugar, tornando-se suscetível a danos por fricção4

Afirma-se, por fim, que MARSI é um evento clinicamente significativo e potencialmente evitável. Em um estudo realizado em Guangxi na China (2017) foi revelada a ocorrência de MARSI em locais de inserção de cateter em pacientes oncológicos, apontando para fatores de risco independentes que apoiam a identificação dos idosos como população de alto risco para a ocorrência dessas lesões. Em idosos, nota-se o afinamento da junção entre a epiderme e derme, bem como a redução do colágeno e da elastina, tornando a pele mais suscetível às lesões mecânicas e por fricção, quando exposta a adesivos. Além disso, a pele dos idosos apresenta uma resposta reduzida aos fatores de crescimento necessários para que seja iniciado o processo de cicatrização, devido à redução da perfusão, fato que pode atrasar a reparação e a cicatrização da barreira cutânea³. 

Frente ao cenário exposto, conclui-se pela relevância de se conhecer tanto a incidência quanto a prevalência de MARSI na população adulta e de idosos hospitalizados, bem, como as evidências científicas já produzidas em artigos primários, para subsidiar a padronização de ações preventivas de MARSI, no que tange aos cuidados com a pele para receber o adesivo, como aplicá-lo, e, removê-lo adequadamente, com segurança. 

 

MÉTODOS

Este estudo consiste em uma revisão integrativa da literatura, que possibilita a exploração dos resultados de estudos primários originais, elencando informações para o conhecimento de interessados na temática e, para apoiar o cuidado seguro e preventivo de MARSI.  

A revisão integrativa compreende as seguintes etapas de desenvolvimento:  1) Identificação do problema; 2) Pesquisa de literatura; 3) Avaliação dos dados; 4) Análise dos resultados e 5) Apresentação da revisão7

            Para garantir a sustentação do rigor metodológico, desde o início da pesquisa até a publicação, foram aplicadas atentamente as recomendações do Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses – PRISMA8.

A pergunta de pesquisa foi elaborada com o apoio do acrônimo PICo: P (População) - pacientes adultos e idosos hospitalizados, em uso de dispositivos e adesivos e com MARSI; I (Fenômeno de interesse) - Cuidados para a prevenção; a incidência e prevalência da MARSI; Co (contexto) - hospitalar 9. Assim, a pesquisa se desenvolveu a partir da seguinte questão: Qual é a incidência, a prevalência e os cuidados para prevenção de lesões cutâneas causadas relacionadas ao uso de adesivos médicos em pacientes adultos e idosos hospitalizados?

Para a pesquisa na literatura foram utilizadas as palavras-chaves aplicáveis às especificidades do tema e, para ampliar o leque da pesquisa, visto que não há descritores específicos no DeCs - Descritores em Ciência da Saúde, os termos foram associados com os operadores booleanos AND e OR. Apoio do bibliotecário, com a sua experiência em pesquisas nas principais bases de dados, foram construídas as estratégias para cada base conforme Quadro 1. Houve apoio de um bibliotecário, com a sua experiência em pesquisas nas principais bases de dados, e foram construídas as estratégias para cada base, conforme apresentadas no Quadro 1. Os termos utilizados na busca foram adaptados conforme necessário, à cada base de dados, sempre atentando-se para a pergunta de pesquisa e os critérios de inclusão e exclusão traçados para a pesquisa.

 

Quadro 1 - Bases de dados segundo as estratégias de busca e o quantitativo (n) de artigos, Curitiba, PR, Brasil, 2024

Bases

de dados

Estratégias

 de busca

(n)

PubMed

('medical adhesive related skin injury’) AND ((skin/exp. OR 'cutis' OR 'derma' OR 'human skin' OR 'skin' OR 'skin layer') OR ('skin infection'/exp OR 'cutaneous infection' OR 'cutaneous infectious disease' OR 'dermal infection' OR 'infection of the skin' OR 'infection, skin' OR 'infectious disease of the skin' OR 'infectious skin diseases' OR 'skin diseases, infectious' OR 'skin infection')) AND ('hospital patient'/exp OR 'hospital patient' OR 'hospitalised patient' OR 'hospitalised patients' OR 'hospitalized patient' OR 'hospitalized patients' OR 'in-hospital patient' OR 'in-hospital patients' OR 'in-patient' OR 'in-patients' OR 'inpatient' OR 'inpatients' OR 'patient, hospital')

44

Scopus

('medical adhesive related skin injury’) AND ((skin/exp OR 'cutis' OR 'derma' OR 'human skin' OR 'skin' OR 'skin layer') OR ('skin infection'/exp OR 'cutaneous infection' OR 'cutaneous infectious disease' OR 'dermal infection' OR 'infection of the skin' OR 'infection, skin' OR 'infectious disease of the skin' OR 'infectious skin diseases' OR 'skin diseases, infectious' OR 'skin infection')) AND ('hospital patient'/exp OR 'hospital patient' OR 'hospitalised patient' OR 'hospitalised patients' OR 'hospitalized patient' OR 'hospitalized patients' OR 'in-hospital patient' OR 'in-hospital patients' OR 'in-patient' OR 'in-patients' OR 'inpatient' OR 'inpatients' OR 'patient, hospital')

148

BVS

(("medical adhesive related skin injury" )) AND (((skin OR "cutis" OR "derma" OR "human skin" OR "skin" OR "skin layer") OR ("skin infection" OR "cutaneous infection" OR "cutaneous infectious disease" OR "dermal infection" OR "infection of the skin" OR "infection, skin" OR "infectious disease of the skin" OR "infectious skin diseases" OR "skin diseases, infectious" OR "skin infection"))) AND (("hospital patient" OR "hospital patient" OR "hospitalised patient" OR "hospitalised patients" OR "hospitalized patient" OR "hospitalized patients" OR "in-hospital patient" OR "in-hospital patients" OR "in-patient" OR "in-patients" OR "inpatient" OR "inpatients" OR "patient, hospital")) AND adults AND (elderly OR aged)

73

CINAHL

medical adhesive related skin injury

119

Web of Science

medical adhesive related skin injury

42

Fonte: As autoras (2024).

 

A pesquisa bibliográfica foi realizada do dia 02 à 11 fevereiro de 2024, utilizando o portal de periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), do Ministério da Educação (MEC), por meio da Universidade Federal do Paraná. Foram consultadas as seguintes bases de dados: Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature (CINAHL); U.S. National Library of Medicine (PubMed); Scopus; Biblioteca Virtual em Saúde (BVS); e, Web of Science (WOS). Nas bases CINAHL e WOS foram utilizadas apenas as palavras chaves, Medical Adhesive Related Skin Injury, devido a especificidade do tema.

As pesquisadoras que buscaram e selecionaram os artigos são enfermeiras, especialistas em Enfermagem em Dermatologia, e em Estomaterapia, possuindo uma delas o doutoramento, portanto detêm conhecimento na área do presente estudo. Para definir a amostra, foram estabelecidos e aplicados, por ambas as pesquisadoras, os critérios de inclusão, como o tipo de estudo, buscou-se ser primário, de consenso ou recomendação de especialistas; com método quantitativo, qualitativo ou mistos de pesquisas; que incluísse população adulta ou idosa, com idade superior há 18 anos, publicado eletronicamente entre 2019 e 2024, o recorte dos últimos cinco anos visou-se a busca de recentes evidências, disponível na íntegra em revistas indexadas, no formato de artigo, independentemente do idioma (com possibilidade de tradução). E ainda, a abordagem da incidência e prevalência de lesões de pele relacionada ao uso de adesivos médicos, e os cuidados com a pele para a prevenção da ocorrência em adultos e idosos internados, ou seja, no contexto hospitalar. 

Após a busca nas bases de dados, as pesquisadoras utilizaram a ferramenta Rayyan de gerenciamento de referências, disponível online. Nesta plataforma, os artigos foram selecionados de forma independente por pares e às cegas, mediante a leitura do título e resumo, em seguida transferidos para uma planilha do software Excel®. Os artigos que apresentaram divergências passaram por discussão de consenso para decisão de inclusão ou não. Posteriormente, foi realizada a leitura completa dos artigos selecionados.

O processo de seleção dos estudos seguiu as recomendações do checklist do Statement for Reporting Systematic Review and Meta-Analyses of Studies – PRISMA, e foi estruturado o fluxograma preconizado conforme apresenta a Figura 1.

Para a organização e análise dos estudos selecionados, foi empregada uma matriz de informações, contendo os seguintes elementos: identificação alfanumérica do artigo, especificando o P como artigo de prevalência, I como incidência, o C de cuidados, o IC de incidência e cuidados, letras que foram seguidas por um número que identifica a ordem e quantidade de cada categoria, seguida pelo número da referência na qual é apresentado na listagem final do artigo, exemplos: P1; I4; C5; IC2. Na sequência, as próximas colunas apresentam: autoria e ano de publicação; método e amostra; intervenção e tipos de adesivos utilizados; objetivo do estudo; os achados; e o nível de evidência do estudo.

            À medida da leitura dos artigos incluídos eles eram analisados e extraíam-se as informações que respondessem à pergunta de pesquisa (denominados de principais resultados) e, aos objetivos do estudo, cumprindo-se e organizados na matriz, passou-se à análise lógica e explicativa de todo o processo, da elaboração à conclusão, sustentando-o com referências científicas, para que, por fim, fosse encaminhado para divulgação. 

            Para análise do nível de evidência aplicou-se o referencial de Developed by the Joanna Briggs Institute Levels of Evidence and Grades of Recommendation Working Party October, logo, as autoras disponibilizaram na última coluna, após os resultados dos estudos24.

Figura 1 - Fluxograma de seleção dos artigos primários incluídos na amostra desta revisão integrativa. Curitiba, PR, Brasil, 2024

Fonte: Adaptado do PRISMA (2020).

RESULTADOS

A organização dos resultados foi realizada de acordo com a temática do estudo, contemplando a incidência, a prevalência, e os cuidados para prevenção de MARSI, apresentados no Quadro 2. 

Em relação aos Países de desenvolvimento dos estudos destaca-se em primeiro lugar a China com 5 estudos (P2; I3; I4; IC1 e IC2)15,23,17,12,20, na sequência Brasil com 3 (P1; C3 e IC1)10,16,12, o Reino Unido com 2 (C1 e C2)13,14. E com 1 estudo em cada um dos Países: Coréia (I2)22; Austrália (C6)21; Estados Unidos (C5)5e Rússia (C4)19. Quanto ao ano de publicação: 1 estudo em 2024 (I4)17; 4 estudos (28,57%) foram em 2023 (P2; I3; C3 e C4)15,23,16,19, 2 estudos em 2022 (IC2; C6)20,21, 3 estudos em 2021 (C1; IC1 e I2)13,12,22; 3 estudos em 2020 (I4, P1 e C5)17,10,5 e 1 em 2019 (C2)14,

Ademais, no que se refere ao idioma todas as publicações foram encontradas e inglês (P2; C1; C2; C4; C5; C6; I1; I2; I3; I4 E I5)15,13,14,19,5,21,18,22,23,17, ou em português (P1, C3 e IC1)10,16,12.  Na caracterização das publicações observou-se o predomínio (6; 42,9%) dos estudos que abordaram os cuidados para a prevenção de MARSI (C1 a C6)13,14,16,19,5,21. Na sequência, ficaram as do grupo incidência de MARSI (4; 28,6%) (I1 a I4)18,22,23,17; seguida pelo grupo de incidência e cuidado (2;14,3%) (IC1 e IC2) 12,20 e, por fim, o grupo de prevalência de MARSI (2;14,3%) (P1 e P2)10,15.

Quanto aos métodos dos estudos prevaleceu os estudos de coorte com 4 (28,57%)12,16,12,23, 4 estudos randomizados (28,57%)20,19,21,5 2 relatos de casos (14,28%)13,14, 3 estudos transversais (21,42%)15,17,22, e 1 estudo observacional (14,28%)10. No grupo de prevalência, apenas dois estudos, sendo um em pacientes internados em unidade de terapia intensiva cardiológica10 e, o outro, estuda a prevalência de MARSI em profissionais de saúde na China, durante a Pandemia de COVID-1915.


Quadro 2 - A organização dos resultados foi realizada de acordo com a temática do estudo, contemplando a incidência, a prevalência, e os cuidados para prevenção de MARSI

ID

Autor/Ano

Método, abordagem e amostra

Intervenção/ Tipos de adesivos

Objetivo

Principais resultados

Nível de evidência

P110

Alcântara et al.,

2020

 

 

 

Estudo observacional, epidemiológico, transversal, quantitativo

N=123 pessoas internadas em UTI, idade >18 anos

       Filme de poliuretano

       Eletrodo

       Bandagem elástica adesiva

       Fita microporada

       Fita cirúrgica

       Esparadrapo

       Equipamento                                                                                                                                                                                                                                                                                                   coletor

 

 

 

Identificar e analisar a prevalência pontual de lesão de pele relacionada a adesivos médicos em pacientes internados em Unidades de Terapia Intensiva cardiológicas e os fatores demográficos e clínicos associados à sua ocorrência.

O estudo evidenciou que a prevalência de MARSI foi de 22,7%, a remoção da epiderme foi o subtipo prevalente, seguida da lesão por fricção. O adesivo que causou mais lesão foi o filme de poliuretano transparente com 46,9%. A região com maior incidência foi a cervical com 25,1%.

2C

P215

Wei et al.,

2023

 

 

 

 

Pesquisa transversal

N=414

Profissionais de saúde

Idade <30 anos e 50 anos.

 

       Espuma de silicone

       Hidrocoloide

       Fita de acrilato

       Removedor de adesivo

Identificar a prevalência e fatores de risco de MARSI causadas nos membros da equipe médica na China durante a Pandemia de COVID-19

A prevalência de MARSI foi de 41,9% em profissionais que utilizaram hidrocoloide, espumas de silicone e fitas adesivas de acrilato, no período entre 4h e 8h Frente a análise estatística identificou-se que houve relação entre tipo de curativo, tempo de uso e escore de dor, como fator de risco para MARSI.

2C

C113

Hitchcock et al.,

2021

 

Série de casos, N=3

Idades: 28 anos; 66 anos; 83 anos

       Spray barreira

       Removedor de adesivos

Relato de três casos de MARSI e indicação para prevenção e educação em saúde.

Preconiza-se a avaliação da pele antes de receber o adesivo. E entre os cuidados de prevenção de MARSI, tem-se aplicado spray barreira na pele antes de aplicar o adesivo, e cuidados com a remoção, aplicando removedores de adesivos para evitar dor e manter a integridade da pele.

2A

C214

Collier,

2019

 

 

Série de casos N= 2

Idade: 56 anos; 36 anos.

       Removedor de adesivo

       Espuma com silicone

Manter a integridade da pele ao redor do Cateter Central de Inserção Periférica (PICC).

Aliviar a dor e melhora tecidual nos pacientes do estudo, os cuidados com a avaliação da pele, a remoção do adesivo, e o tratamento de MARSI.

2A

C3 16

Frota et al.,

2023

 

 

Estudo de coorte prospectivo N=150 indivíduos N= 439 cateteres em duas UTIs gerais adultos de dois hospitais públicos.   População acima de 18 anos; com cateteres fixados na pele por mais de 48 horas

 

       Borracha natural

       Acrilato

       Filme de poliuretano

       Hidrocoloide

 

Cuidados de prevenção

 

       Hidratação da pele

       Removedores de adesivos

       Evitar produtos à base de álcool

       Aplicação da escala de Braden

 

Identificar a incidência e os fatores de risco para MARSI em pacientes críticos com cateteres.

A taxa de incidência foi de 42%, foram associados à ocorrência de MARSI, idade avançada (61,4 anos); hidratação e elasticidade da pele reduzidos, internação hospitalar prolongada (18,4 dias); pele ressecada, remoção repetitiva de adesivos, baixo escore na escala de Braden, e hipoalbuminemia foram associados a MARSI.

2A

 

 

 

 

 

C419

Gogoleva, Kucher, Bogomolnyi

2023

 

 

Ensaio Clínico Randomizado N=46 indivíduos adultos de 18 a 66 anos. Grupo controle: (n=26) usaram solução com álcool. Grupo Intervenção: (n=20) usaram solução com silicone

 

 

       Curativo filme adesivo com antisséptico de gluconato de clorexidina 2%

       Removedor de adesivo

       Solução à base de isopropanol

Comparar a segurança e eficácia de um removedor de adesivo contendo silicone e de uma solução à base de isopropanol, em procedimentos de CVC em pacientes hematológicos.

 

Curativos de CVC foram retirados com solução antisséptica cutânea à base de isopropanol e outros com spray removedor à base de silicone. A irritação cutânea no local do curativo foi menor (5%) no grupo controle, e seis vezes maior (30,1% com o uso de spray contendo silicone. Nenhum paciente do estudo apresentou alergia ao spray de silicone.

2B

C55

 Cole, et al.,

2020

 

 

Ensaio Clínico

Randomizado

N=185

Grupo controle: N=92

Grupo tratamento: N=93

Idade: 40 a 70 anos

       Avaliação com a escala de Braden

       Película barreira cutânea

Avaliar a eficácia da película barreira cutânea sobre curativos padrão na prevenção de MARSI em pacientes pós-operatórios de cirurgia de coluna.

Aproximadamente 15% dos participantes do grupo intervenção e 15% dos participantes do grupo de controle desenvolveram lesão cutânea pós-operatória. Os resultados do estudo não apoiam o uso de película barreira em pacientes cirúrgicos de coluna.

 

2B

C621

 Pearse, et al.,

2022

 

Ensaio Clínico Randomizado e Controlado de dois braços, realizado em três hospitais da Austrália. N=160 GC=80 curativos adesivos padrão de acordo com a política do hospital local. GI=80 com curativos padrão e adesivo líquido.

       Adesivo líquido

       Barreira cutânea

 

Avaliar a eficácia do adesivo líquido em comparação aos cuidados padrão em relação aos eventos adversos, trocas de curativos, carga de trabalho e custos.

Os pacientes foram acompanhados desde o momento da inserção do cateter venoso central até 48 horas após a remoção do cateter.

O resultado primário foi ‘falha do curativo’, definido com a necessidade de substituição do curativo no cateter central inicial antes de sete dias.

O adesivo líquido foi aplicado sobre o curativo padrão na instituição. 

 

 

 

 

1A

IC112

Pires-Júnior et al.,

2021

 

 

 

 

 

Coorte prospectivo

Realizado em UTI em um Hospital Oncológico

N=100

Idade entre 26 e 89 anos

Cor parda

 

       Avaliação da pele

       Escala de Braden

       Fatores de risco

 

Estimar a incidência de MARSI na região de fixação do cateter venoso periférico em pacientes oncológicos críticos, identificar fatores de risco e estabelecer modelo de predição para MARSI.

A incidência de MARSI foi de 31,0%, com densidade de 3,4 casos por 100 pessoas-dia, variando entre 1,9 e 3,7% casos por 100 pacientes-dia. A média do tempo para a ocorrência foi de 5,60 dias. MARSI foi identificada como remoção da pele. Fatores associados foram: etilismo, tabagismo, trombose venosa profunda, insuficiência respiratória aguda, pós-operatório imediato, cardiopatia, dislipidemia, uso de antiarrítmico, ter recebido concentrado de hemácias, presença de lesão por pressão, lesão por fricção, turgor diminuído, edema, hematoma, petéquias, escores de risco na escala de Braden, gravidade clínica, elasticidade, umidade, textura e coloração da pele.

2A

IC220

Zhao,
Bian, Yang

2022

 

 

Caso-controle N= 156 participantes com PICC,

GC: 85 participantes, cuidados de enfermagem convencionais

GI: 71 participantes, gerenciamento de cuidados de enfermagem MARSI

Avaliação da pele, cor, uniformidade, textura, aparência, integridade, umidade e edema.

Avaliação geral Idade, Desnutrição, Desidratação e Tratamento quimioterápico.

Prevenção de riscos: Seleção individualizada da escolha do adesivo adequado, uso de espuma fina autoadesiva; removedores de adesivos, evitar o uso de produtos irritantes para a pele, limpar a pele com solução fisiológica, aplicar protetor cutâneo, curativo com filme

curativo hipoalergênico.

Gestão de risco: Educação e treinamento da equipe de enfermagem.

Preparo da pele: Técnica de aplicação e remoção dos adesivos, produtos barreira, Uso de removedores de adesivos.

 

Avaliar a eficácia da intervenção no manejo de enfermagem de lesões cutâneas relacionadas a adesivos médicos no local da inserção do cateter central de inserção periférica (PICC) em pacientes oncológicos.

A incidência total de MARSI foi de cerca de 30,59% no GC e 7,04% no GI.

A lesão mecânica no GC foi de 12,94%, reduzindo para 2,8% no GI.

A dermatite no GC foi de 11,76% e no GI 2,82%.

A maceração no GC foi de 5,88% e no GI 1,41%.

A foliculite no GC 2,35% e no GI 0%

3B

I118

Kim,
Shin,

2021

 

 

Estudo transversal N= 143 indivíduos com idade igual ou superior à 20 anos, submetidos à cirurgia eletiva na coluna vertebral.

Curativo de espuma de poliuretano adesivo de silicone

Adesivo de tecido não tecido

 

 

Determinar a incidência, tipos e fatores associados à MARSI em pacientes de cirurgia de coluna vertebral.

A incidência de MARSI em áreas cirúrgicas foi de 36,4%; e, a taxa por 100 adesivos médicos foi de 9,8%. As lesões de MARSI ocorreram no 1º ou 2º dia de pós-operatório, sendo elas: Skin stripping 23,1%; Skin Tears 28,8%, Lesão por tensão ou bolha 13,5%, Dermatite de contato 34,6%

2C

I222

Yang, et al.,

2023

 

Coorte prospectivo

N=382 indivíduos com idade igual ou superior à 18 anos, em tratamento oncológico e submetidos à colocação de PICC.

Curativo filme transparente

 

Identificar a incidência de MARSI e os fatores de risco.

A incidência global de MARSI foi de 15,7%. Os tipos mais comuns de MARSI foram danos mecânicos na pele (7,1%) e dermatite de contato (8,1%). A lesão por tensão/bolha foi o tipo mais comum de dano mecânico na pele (4,7%). A dermatite de contato (3,7%). As lesões de MARSI foram observadas em média em 7,2 dias após a colocação do PICC. Não foi observada foliculite durante o estudo.

 

 

2A

I319

Gao-Chao et al.,

2020

 

Transversal

N=430 indivíduos acima de 18 anos, internados na unidade de terapia intensiva.

       Filme transparente;

       Fita de seda;

       Fita em malha;

       Hidrocoloide;

       Espuma.

 

Apresentar dados epidemiológicos sobre MARSI e enfatizar a necessidade de implementação de medidas preventivas.

A incidência de diferentes tipos de MARSI em 57 pacientes com cateteres. A incidência global de MARSI foi de 11,86%. MARSI (94,5%) foram causados por lesão mecânica. Três pacientes desenvolveram dermatite e dois desenvolveram dermatite de contato irritante.

 

2C

I417

Mengying et al.,

2024

Estudo de Coorte observacional prospectivo N=340 participantes com câncer, com idade igual ou superior a 18 anos, com ICC.

 

Curativo filme transparente

Explorar a incidência e os fatores de risco para MARSI em locais de inserção periférica (PICC) em pacientes com câncer.

A incidência de MARSI foi de 9,7%,

       Lesão cutânea 24,2%,

       Lesão por tensão 15,2%

       Dermatite de contato irritante 30,3%

       Dermatite alérgica 21,2%

       Maceração 9,1%

 

 

 

2A

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Legenda: P - prevalência I - incidência; C- Cuidados IC- incidência e cuidados.


DISCUSSÃO

 

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), enquanto órgão regulamentador Brasileiro no campo de vigilância sanitária, ainda não normatizou as lesões cutâneas relacionadas ao uso de adesivos médicos como um evento adverso de notificação compulsória, como ocorre com as lesões por pressão³.

            Nesse cenário, de não obrigatoriedade de notificação, há dificuldades em avaliar a prevalência de MARSI nas instituições hospitalares e consequentemente há poucas publicações na temática, sendo sintetizadas neste artigo dois estudos de prevalência de MARSI, P1 e P2.  Contudo, somente P1 trata-se de um estudo de prevalência em pacientes, já P2 retrata a prevalência de MARSI em trabalhadores de saúde fora do cenário brasileiro.

O estudo P1 foi realizado em dois hospitais de ensino de alta complexidade, especializado em Cardiologia, localizado na cidade de São Paulo, apresentou prevalência de MARSI em Unidade de terapia Intensiva, onde observou que a prevalência foi de 22,7%, tendo como agente causador prevalente, o filme de poliuretano 46,9% e a região mais acometida foi a cervical com 25,1%, por uso de filme para fixação de cateter, os subtipos predominantes no estudo foram, remoção da epiderme (43,8%), lesão por fricção (40,6%), lesão por tensão (12,5%) e dermatite irritativa com (3,1%), onde a cauda pode ser considerada o trauma mecânico pela remoção do adesivo, também podemos considerar a gravidade da população sendo que o estudo foi em unidade de terapia intensiva10.

Coaduna com resultados apresentados no estudo supracitado, estudo prospectivo e descritivo realizado em uma Instituição Universitária nos Estados Unidos em 2015, demonstrou uma prevalência de 3,4 a 25,0% de MARSI em pacientes internados em unidades não intensivas, o qual a média demonstrada foi de 13,0%, sendo para fixação de cateter venoso a prevalência foi de 35,6%6.

O consenso (2020) Overlooked and underestimated: medical adhesive-related skin injuries, incentiva a análise de evento adverso de forma profunda, por meio de instrumentos de análise de causa raiz, sendo fundamental para melhoria da qualidade da assistência e redução de MARSI4.

Já o outro estudo de prevalência de MARSI em trabalhadores de saúde, P2, realizado na China, ouviu por meio de questionários, 46 hospitais e 414 membros da equipe assistencial durante a Pandemia de CODIV-19. Os profissionais que utilizaram curativos no rosto e na cabeça para prevenção foram 83,1%, sendo a prevalência de MARSI 41,9%.  A maior incidência do evento se deu em profissionais que usaram hidrocoloide, e ainda relataram dor na remoção15.

A pandemia de COVID-19 emergiu temáticas até então inéditas, como MARSI em trabalhadores, no Brasil a Sociedade Brasileira de Estomaterapia lançou um Manual sobre Lesões de pele relacionadas ao uso de equipamentos de proteção individual em profissionais de saúde, para orientar e informar os profissionais sobre as recomendações de proteção, uso de EPI’s e medidas de autocuidado para prevenir lesões de pele. Com o intuito de prevenir lesão por pressão relacionado a dispositivo médico (LPRDM), o profissional de saúde usava diversos tipos de adesivos como interface para prevenção de LPRDM e era acometido de MARSI pela remoção repetidamente do adesivo, causando fragilidade da pele e aumentando o risco para MARSI11.

            Apesar do público distinto, P1 e P2 relatam alta prevalência de MARSI, seja pelo uso do curativo de hidrocolóides ou filme para fixação de cateter. Neste sentido, é importante ressaltar que a escolha do adesivo, frequentes remoção do adesivo na pele, aumenta o risco de MARSI, e a ausência dos cuidados de prevenção4.

Referente à incidência de MARSI, o artigo I1, utilizando um método transversal realizado na Coreia, analisou uma amostra de 143 pacientes. Os resultados demonstraram uma incidência de dermatite de contato em 34,6%, seguida por Skin Tear em 28,8% dos pacientes cirúrgicos no pós-operatório de coluna vertebral, com início observado até o segundo dia pós-operatório18.

Os estudos I2 e I3, que abordaram pacientes com câncer, relataram a ocorrência de MARSI no local de fixação do PICC. O estudo de coorte I2, com uma população de 382 pacientes, identificou dermatite de contato em 8,1% dos casos, seguida por lesão mecânica em 7,1%22. Já o estudo transversal I3, com uma população de 430 pacientes, apresentou uma taxa de incidência de 11,86%. Este estudo destacou a lesão mecânica em 94,55% dos casos, seguida por skin stripping em 72,73% e skin Tear em 14,55%19. Os pesquisadores atribuíram esses resultados à fragilidade da pele da população estudada e ao uso de medicamentos como imunossupressores e anticoagulantes, considerados fatores de risco independentes para MARSI5.

Esses resultados ressaltam a fragilidade da pele da população estudada e o impacto do uso de medicamentos como imunossupressores e anticoagulantes, considerados fatores de risco para MARSI4. Por fim, o estudo de coorte I4, com uma população de 340 pacientes oncológicos em uso de PICC, relatou uma incidência de 9,7% de MARSI. Os principais tipos de ocorrência foram dermatite de contato (30,3%), lesão cutânea (24,2%), dermatite alérgica (21,2%) e lesão por tensão (15,2%)17.

Os fatores de risco para MARSI, citados nos artigos de incidência, são mencionados no consenso, no qual demonstra que é sine qua non avaliar os fatores de risco, como imunossupressão, infecção, diabetes, insuficiência renal e insuficiência venosa crônica, e ainda, faz-se necessário atenção nas escolhas do adesivo a serem utilizados nesta população mais propensa ao dano4.

Quanto aos cuidados, o estudo IC1, de coorte prospectivo com 338 pacientes oncológicos em uso de cateter venoso periférico, demonstrou incidência de 31,0% sendo que a médica para ocorrência de MARSI foi de 5,6 dias sendo identificada como remoção da pele. Os fatores de risco associados foram etilismo, tabagismo, trombose venosa profunda, insuficiência respiratória aguda, pós-operatório imediato, cardiopatia, dislipidemia, uso de antiarrítmico, hemotransfusão, presença de lesão por pressão, lesão por fricção, turgor diminuído, edema, hematoma, petéquias, escala de Braden com risco, gravidade clínica, elasticidade da pele, umidade e alteração de coloração12.

A importância da avaliação da pele, dos fatores de risco do paciente, além da aplicação da escala de Braden e outras escalas preditivas de risco fazem parte das melhores práticas para prevenção de MARSI5,16.

Conforme o quadro 2, acima citado, encontrou-se seis estudos que disseram sobre os cuidados com a pele para prevenção de MARSI, sendo C3 e C5 destacam a importância da aplicação da escala de Braden para avaliação da pele.

            Ainda no grupo de Incidência/ Cuidado, estudo caso-controle realizado na China com amostra de 156 pacientes IC2, demonstrou a incidência de 30,59% no grupo controle e 7,04% no grupo intervenção, e identificou-se no grupo controle a lesão mecânica com 12,94% diminuindo para 2,82 no grupo intervenção. Foi realizado avaliação da pele quanto a cor, uniformidade, textura, aparência, integridade, idade, pele úmida, edema, desnutrição, desidratação e tratamento com quimioterápicos. No que tange a prevenção de risco, ressaltou-se a seleção individualizada da escolha do adesivo, removedores, aplicação protetor cutâneo, utilização filme transparente e uso de curativos hipoalergênicos. Os autores indicam realizar treinamento com a equipe, preparo da pele, usar técnicas de aplicação e remoção dos adesivos, utilizar produtos barreira e removedores20.

            Quanto aos cuidados encontrados neste estudo e listados no quadro 2, eles coadunam com o consenso (2020), Overlooked and underestimated: medical adhesive-related skin injuries, onde recomenda-se avaliação da pele quanto ao turgor, integridade, realização de avaliação de risco, verificação de microclima da pele, e avaliação dos fatores de risco como imunossupressão, insuficiência venosa crônica4.

O supracitado consenso, quanto aos treinamentos sobre a prevenção das lesões de MARSI, sugere que seja de forma ampla e disponibilizado para todos os profissionais de saúde4.

            Cuidados referente à aplicação de película barreira como prevenção foram mencionados em C1, que orientou os cuidados para a pele periferida em lesão por pressão em região sacra, também na pele periferida antes de aplicar filme transparente para terapia por pressão negativa e região sacra com risco para dermatite associada à incontinência13. De igual forma, C5 em seu estudo com pacientes pós-operatórios de coluna, aplicou película barreira antes de aplicar o adesivo em seu grupo intervenção5. Já o estudo C6, utilizou adesivo líquido para fixar cateter central em região cervical, aplicou película barreira para proteção da pele22.

            Essas recomendações conformam-se ao consenso de 2020, que enfatiza a importância de aplicar barreiras cutâneas para criar uma interface protetora entre a pele e o adesivo, podendo assim diminuir o trauma na remoção e aliviar a dor, prevenindo MARSI4.

            Quanto aos removedores de adesivos, nos estudos C1, C2, C3 e C4 aplicou-se esta prática, em consonância ao consenso, que recomenda sua utilização para afrouxar a ligação adesiva e aliviar a dor13,14,16,19.

            Não encontramos nos estudos a descrição da técnica de aplicação e remoção de adesivos, há somente citação da necessidade da utilização das técnicas. Não foi observado nos estudos sintetizados o incentivo ao ensino e envolvimento do paciente e acompanhante nos cuidados com a utilização dos adesivos.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os estudos relatam que as lesões de pele são comumente encontradas nos pacientes com risco, em centros de terapia intensiva, extremos de idade, porém pode-se reduzir sua incidência com o cuidado individualizado, com a escolha do produto adequado e realizar treinamentos para a equipe assistencial, alcançando a conscientização de todos incluindo paciente e família. Lesões cutâneas relacionadas a adesivos médicos são em sua maioria evitáveis quando há medidas de prevenção implantadas e equipe treinada.

 

REFERÊNCIAS

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3- Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Nota Técnica GVIMS/GGTES/Anvisa n. 05/2023 (1° Versão atualizada da Nota Técnica GVIMS/GGTES n. 03/2017). Práticas de Segurança do Paciente em Serviços de Saúde: Prevenção de Lesão por Pressão. Brasília-DF: ANVISA; 2023.

 

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23- Gao C, Yu C, Lin X, Wang H, Sheng Y. Incidence of and Risk Factors for Medical Adhesive-Related Skin Injuries Among Patients: A Cross-sectional Study. J Wound Ostomy Continence Nurs. 2020 Nov/Dec;47(6):576-81. doi: 10.1097/WON.0000000000000714. PMID: 33201143.

 

24- Developed by the Joanna Briggs Institute Levels of Evidence and Grades of Recommendation Working Party October. The Joanna Briggs Institute; 2013.

 

 

Declaração de conflito de interesse

Nada a declarar.

Critérios de autoria (contribuições dos autores)

Adrieli Aparecida Simões de Oliveira, 1. contribui substancialmente na concepção e/ou no planejamento do estudo; 2. na obtenção, na análise e/ou interpretação dos dados.

Márcia Helena de Souza Freire, 1. contribui substancialmente na concepção e/ou no planejamento do estudo; 2. na obtenção, na análise e/ou interpretação dos dados; 3. assim como na redação e/ou revisão crítica e aprovação final da versão publicada.

Paula e Souza Silva Freitas, 1. contribui substancialmente na concepção e/ou no planejamento do estudo; 2. na obtenção, na análise e/ou interpretação dos dados; 3. assim como na redação e/ou revisão crítica e aprovação final da versão publicada.

Editor Científico: Francisco Mayron Morais Soares. Orcid: https://orcid.org/0000-0001-7316-2519

Rev Enferm Atual In Derme 2025;99(1): e025027                    

 Atribuição CCBY