NEURODESENVOLVIMENTO INFANTIL, USO DE TELAS E ESTRESSE PARENTAL: QUAL É A CONEXÃO?

 

CHILD NEURODEVELOPMENT, SCREEN USE AND PARENTAL STRESS: WHAT IS THE CONNECTION?

 

NEURODESARROLLO INFANTIL, USO DE PANTALLAS Y ESTRÉS PARENTAL: ¿CUÁL ES LA CONEXIÓN?

 

https://doi.org/10.31011/reaid-2025-v.99-n.1-art.2465

Bianca Machado Cruz Shibukawa1

 

1Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.  Orcid: https://orcid.org/0000-0002-7739-7881.  E-mail: bianca.shibukawa@ufms.br

 

Submissão: 09-01-2025

Aprovado: 15-01-2025

 

O desenvolvimento infantil possui diversos fatores determinantes, que passam desde a combinação genética dos genitores, até as condições ambientais em que a criança crescerá exposta. Portanto, a avaliação do desenvolvimento neurológico de crianças é fundamental para aferir as habilidades motoras fina e grossa, cognição, domínio linguístico, capacidade de resolução de problemas, além da comunicação psicossocial. O acompanhamento à saúde infantil prevê portanto, não apenas a análise do crescimento saudável, mas também auxilia na identificação precoce de possíveis atrasos neurodesenvolvimentais, que proporcionam a identificação de crianças em risco de subdesenvolvimento e intervenção precoce(1).

            Os motivos para uma criança apresentar atraso no desenvolvimento, podem derivar da falta de estímulo, subnutrição, prematuridade, fatores genéticos, ambientais, entre outros. Contudo, com a mudança da dinâmica familiar perante a entrada da mulher no mercado de trabalho, crises econômicas, globalização e o fácil acesso à internet, fazem com os pais ofereçam telas aos seus filhos para entretê-los, recompensá-los, educá-los e até mesmo acalmá-los(2). No entanto, o uso desordenado de telas está associado a desfechos adversos somáticos como sobrepeso, sono prejudicado, hipertensão, distúrbios metabólicos, baixo desempenho acadêmico, baixa interação social, retardo do desenvolvimento das habilidades linguísticas, cognitivas e de atenção(3).

            Mediante aos já sabidos efeitos deletérios do uso precoce e excessivo de telas por crianças, a Organização Mundial de Saúde (OMS) não recomenda o uso de telas em menores de dois anos, e que não se ultrapasse uma hora de tela diária entre crianças de dois a cinco anos. Contudo, apesar das recomendações da OMS e dos resultados negativos do uso excessivo, a oferta de tela antes dos dois anos de idade é frequentemente citada na literatura(1-4).

Estudo conduzido na China revelou que o perfil das famílias que expõem seus filhos ao tempo excessivo de tela é de pais jovens, com menor grau de instrução formal, baixa renda percapita e com questões emocionais negativas como, depressão, estresse e ansiedade(3). Entretanto, famílias em âmbito global passaram a ter amplo acesso aos dispositivos móveis como o aparelho celular e tablet, o que facilitou a oferta de tela para as crianças(3-5).

As razões para a oferta precoce e excessiva de tela são diversas e variam de acordo com a realidade familiar, mas podem ser didaticamente divididas em dois grupos: razões centradas na família e razões centradas na criança. Nos motivos relacionados à criança, tem-se a possibilidade do aprendizado de novas habilidades, conhecimento, entretenimento e prevenção do tédio. Já nas causas familiares, destaca-se a manutenção da ocupação da criança para que suas atividades cotidianas possam ser executadas, além de redução estresse parental que pode surgir ao cuidar dos filhos(5).

            As famílias são unidades funcionais que necessitam de dedicação para sua manutenção. Manter o equilíbrio entre as necessidades pessoais, a vida profissional, as atividades inerentes da vida doméstica e da criação dos filhos, não é uma tarefa simples. Logo o uso de telas é utilizado como uma cuidadora infantil conveniente, o que por vezes corrobora para seu uso excessivo(3). Sabe-se que o uso massivo de tecnologias é uma tendência mundial, contudo, faz-se necessário uma autocrítica sobre em que momento a criança será exposta às telas, e por qual motivo.

            Ressalta-se ainda que a exposição precoce às telas pode prejudicar o desenvolvimento cerebral normal, devido a mudanças neuroquímicas e anatômicas no cérebro e, eventualmente, levar a problemas de qualidade de vida relacionadas à saúde, comportamentais e emocionais(3). Portanto, cabe aos profissionais de saúde a orientação constante das famílias sobre os riscos de uso de tela, bem como traçar planejamento estratégico para identificação e tratativa do estresse parental, além de ficar atento aos sinais de atrasos neurodesenvolvimentais(1,5).

 

REFERÊNCIAS

1-     Zoumenou R, Bodeau-Livinec F, Chausseboeuf L, Boivin MJ, Wendland J. Is Neurodevelopmental Assessment in Early Childhood Predictive of Performance Assessed Later in Childhood and Adolescence in Sub-Saharan Africa? A Systematic Review of the Literature. Arch Clin Neuropsychol. 2024; 39(1):98-116. doi: 10.1093/arclin/acad051.

 

2-     Jourdren M, Bucaille A, Ropars J. The Impact of Screen Exposure on Attention Abilities in Young Children: A Systematic Review. Pediatric Neurology,. 2023; 142: 76-88. doi: 10.1016/j.pediatrneurol.2023.01.005.

 

3-     Xiang,H, Lin L, Chen W, Li C, Li J, Ren Y, et al. Associations of excessive screen time and early screen exposure with health-related quality of life and behavioral problems among children attending preschools. BMC Public Health. 2022; 22(2440): 1-12. doi: 10.1186/s12889-022-14910-2.

 

4-     Ma S, Li J, Chen EE. Does Screen Media Hurt Young Children’s Social Development? Longitudinal Associations Between Parental Engagement, Children’s Screen Time, and Their Social Competence. Early Education and Development. 2022; 35(1): 10–25. doi:10.1080/10409289.2022.2151401

 

5-     Brauchli V, Sticca F, Edelsbrunner P, von Wyl A, Lannen P. Are screen media the new pacifiers? The role of parenting stress and parental attitudes for children's screen time in early childhood. Computers in Human Behavior. 2024; 152:108757. doi: 10.1016/j.chb.2023.108057.

 

Declaração de conflito de interesses

Nada a declarar.

 

Todos os autores contribuíram na elaboração do trabalho.

Editor Científico: Francisco Mayron Morais Soares. Orcid: https://orcid.org/0000-0001-7316-2519

Rev Enferm Atual In Derme 2025;99(1): e025008                    

 Atribuição CCBY