MIME-Version: 1.0 Content-Type: multipart/related; boundary="----=_NextPart_01D7A95C.6857D130" Este documento é uma Página da Web de Arquivo Único, também conhecido como Arquivo Web. Se você estiver lendo essa mensagem, o seu navegador ou editor não oferece suporte ao Arquivo Web. Baixe um navegador que ofereça suporte ao Arquivo Web. ------=_NextPart_01D7A95C.6857D130 Content-Location: file:///C:/ACF69E54/1040-TextodoartigoHTMLPT.htm Content-Transfer-Encoding: quoted-printable Content-Type: text/html; charset="windows-1252"
ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM PRE=
STADA
A VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA EM UNIDADES DE PRONTO ATENDIMENTO
NURSING ASSISTANCE PROVIDED TO VICTIMS OF DOMESTIC
VIOLENCE IN EMERGENCY CARE UNITS
Maycon Hoffmann Cheffer[1]
* Caroline Mariana Valério[2]
* Bianca Simardo Varella[3] * Bianca Machado Cru=
z Shibukawa<=
![if !supportFootnotes]>[4] * Rafaela Bra=
matti
Silva Razini Oliveira[5]
* Ariana Cristina Tasca[6]
* Ieda Harumi Higarashi[7]
RESUMO
Objetivo: descrever e identificar a percepção e
atuação dos profissionais enfermeiros que trabalham em unidades de pronto
atendimento, fazendo frente a assistência prestada a mulheres vítimas de
violência doméstica. Métodos: estudo descritivo com abordagem qualitativa.
Participaram do estudo 15 enfermeiros que atuam em duas Unidades de Pronto
Atendimento no oeste do Paraná. Os participantes preencheram os questionári=
os
com perguntas acerca da assistência de enfermagem para vítimas de violência
doméstica. Os dados passaram por análise temática de Minayo. Todos os prece=
itos
éticos e legais foram cumpridos. Resultados: Foram identificadas cinco
categorias: representando a violência doméstica pelo medo e sinais visíveis=
de
agressão; aplicação do Protocolo de Manchester, acolhimento e encaminhament=
o à
equipe multiprofissional; acolhimento e realização de curativos; atendimento
multiprofissional humanizado e focado na resolução do problema; sentimento =
de
impotência, despreparo e insegurança por parte da equipe e falta de assistê=
ncia
específica. Conclusões: o profissional enfermeiro é responsável por diversas
etapas do atendimento as pacientes vítimas de violência doméstico, as quais=
vão
desde a aplicação do Protocolo de Manchester, até mesmo a realização de
curativos para as vítimas. Mesmo estes relatando sentimento de impotência e
despreparo, os enfermeiros conseguem prestar uma assistência humanizada.
Palavras-chave:
ABSTRACT
Objective: to describe and identify the
perception and performance of professional nurses who work in emergency care
units, facing the assistance provided to women victims of domestic violence.
Methods: descriptive study with a qualitative approach. Fifteen nurses who =
work
in two Emergency Care Units in western Paraná participated in the study.
Participants filled out the questionnaires with questions about nursing care
for victims of domestic violence. The data went through Minayo's
thematic analysis. All ethical and legal precepts have been met. Results: F=
ive
categories were identified: representing domestic violence through fear and
visible signs of aggression; application of the Manchester Protocol, recept=
ion
and referral to the multiprofessional team; reception and placement of
dressings; humanized multiprofessional service focused on solving the probl=
em;
feeling of helplessness, unpreparedness and insecurity on the part of the t=
eam
and lack of specific assistance. Conclusions: the professional nurse is
responsible for several stages of care for patients who are victims of dome=
stic
violence, ranging from the application of the Manchester Protocol, even
performing dressings for victims. Even though they report feeling helpless =
and
unprepared, nurses are able to provide humanized assistance.
Keywords: Patient Care Team; Domestic Viol=
ence;
Nursing Care; Nurse's Role.
INTRODUÇÃO
A violência pode ser
compreendida pelo uso de força física ou poder, sendo ela em forma de ameaç=
as
ou na prática, contra si próprio, outra pessoa, grupo e comunidade resultan=
te
em danos psicológicos, sofrimentos, algum tipo de privação, traumas ou mort=
e(1).
A violência doméstica,
por muitas vezes sofrida pela mulher, é prevista pela Lei n° 11.340,
popularmente conhecida por Lei Maria da Penha, a qual adota medidas para co=
ibir
e eliminar todas as formas de discriminação, violência doméstica e familiar
contra a mulher, objetivando prevenir, punir e erradicar este tipo de violê=
ncia(2).
Segundo o Ministério =
da
Saúde em dados disponíveis no Sistema de Informação de Agravos de Notificaç=
ão,
no ano de 2017 foram 220.559 casos de violência doméstica, sexual e/ou outr=
as
violências no Brasil, já no ano de 2018 esse número aumentou para 252. 668
novos casos(3).
A China triplicou o
número de denúncias de violência contra a mulher durante a pandemia do
coronavírus. No ano de 2020, quando eclodiu a pandemia do COVID-19 no Brasi=
l,
houve aumento nos casos de violência doméstica contra a mulher. Este cenári=
o se
deve ao aumento do tempo de convivência com o parceiro, crise econômica e m=
edo
da pandemia(4).
Desse modo, diante de=
uma
vítima de violência doméstica a equipe de enfermagem tem o papel imprescind=
ível
de desempenhar as habilidades e competências necessárias para o seu acolhim=
ento
e tratamento, sempre promovendo a segurança do paciente e de sua família
Considera-se importan=
te
que o profissional da saúde deva abordar o paciente de maneira acolhedora,
respeitosa, segura, privativa, humanizada e preservando sua integralidade.
Destaca-se, ainda, que o atendimento necessita de um cuidado contínuo, para=
que
o processo ocorra o mais natural possível(1).
Contudo, nem sempre os
profissionais de saúde possuem treinamento específico para este tipo de
abordagem(5), o que ressalta a importância deste trabalho, tendo=
em
vista que abordamos os sinais de agressões que são identificados pelos
profissionais, a postura destes à frente dessa situação; como é realizado o
atendimento humanizado e multiprofissional; e se estes receberam algum
treinamento para realizar esse cuidado.
Nesse sentido, o estu=
do
tem como objetivo descrever e identificar a percepção e atuação dos profiss=
ionais
enfermeiros que trabalham em unidades de pronto atendimento, fazendo frente=
à
assistência prestada a mulheres vítimas de violência doméstica.
MÉTODOS
Estudo exploratório e descritivo, com abordagem qualitati= vo. Pesquisas descritivas possuem como finalidade descrever com exatidão as característic= as de determinado fenômeno. Nas pesquisas descritivas, o pesquisador registra e descreve os fatos observados sem interferi-los. Para coletá-los, utiliza-se= de entrevistas, formulários, questionários, testes e observações, os quais permitem classificar, explicar e interpretar(6).
Para tanto, foi realizada coleta de =
dados
em um munícipio localizado na região Oeste do Paraná, com 328.454 habitantes(7). <=
/sup>Foram
participantes do estudo 15 enfermeiros que atuam nas duas Unidades de Pronto
Atendimento (UPA) do município, uma localizada na região norte e outra na
região sul.
Os critérios para participar do estu=
do foram:
ser enfermeiros das unidades de pronto atendimento e ter idade entre 21 e 60
anos. Como critério de exclusão, estabeleceu-se os profissionais que estive=
ssem
de férias, licenças, atestado ou que se recusasse a participar do estudo.
Devido ao cenário de pandemia do Cov=
id-19
e isolamento social, optou-se pelo encaminhamento do formulário com pergunt=
as
objetivas e descritivas via Google Formulários com acesso à pesquisa por me=
io
do grupo de aplicativo de conversa (WhatsApp).
O questionário de coleta de dados foi
elaborado pelos pesquisadores após revisão da literatura e levantamento dos
pontos mais importantes referentes à assistência de enfermagem, que o
enfermeiro oferece à vítima de violência doméstica na unidade de pronto
atendimento. Os dados foram coletados através de um guia de perguntas, cont=
endo
seis questões descritivas, para que os participantes respondessem como é sua
atuação frente às vítimas de violência doméstica.
O formulário para a
coleta de dados foi respondido entre os dias 13 e 24 de agosto de 2020, e
permitiu caracterizar os participantes quanto a idade, sexo, tempo de servi=
ço e
experiência no atendimento de mulheres vítimas de violência doméstica.
As
perguntas descritivas foram: 1) Como você identifica uma vítima suspeita de=
violência
doméstica quando ela dá entrada na unidade de pronto atendimento?; 2) Quais
foram suas condutas/encaminhamentos realizados para vítima?; 3) Quais os
cuidados da assistência de enfermagem você realizou após a identificação?; =
4)
Como é o atendimento multiprofissional para as vítimas de violência domésti=
ca?;
5) Você já participou de alguma formação/preparação para esse tipo de
atendimento?; 6) Ao atender uma vítima de violência doméstica, qual a sua
percepção em relação a assistência prestada?
As respostas foram
transcritas na íntegra e as informações obtidas foram tratadas segundo a
técnica da análise temática de Minayo realizada nas seguintes etapas: na pré
análise foi realizada leitura flutuante e interpretativa do conjunto de dad=
os,
seguida de leitura extenuante para definição das unidades temáticas. Na exp=
loração
do material foi realizada a redução do texto e classificação e definição das
unidades/categorias. No tratamento dos resultados obtidos e interpretação
buscou-se a conferência dos dados obtidos com vista à concordância e solidez
das categorias temáticas(8).
Após análise e
interpretação dos dados, emergiram cinco categorias, sendo elas: Identificando a violência doméstica pelo medo e sinais
visíveis de agressão; Aplicação do Protocolo de
Manchester, Acolhimento e encaminhamento à equipe multiprofissional;
Acolhimento e realização de curativos; Atendimento multiprofissional
humanizado e focado na resolução do problema e Sentimento de impotência,
despreparo e insegurança por parte da equipe e falta de assistência específ=
ica.
As perguntas foram respondidas somen=
te após
os enfermeiros aceitarem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE=
). O
projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética sob parecer n°
077406/2020, atendendo aos aspectos contidos na Resolução 466/2012 sobre
pesquisa com seres humanos do Conselho Nacional de Saúde. O anonimato dos
participantes foi garantido, substituindo seus nomes pelas iniciais e
posteriormente identificados aleatoriamente pela sigla E seguido de um nume=
ral.
RESULTADOS
Dos 15 participantes,=
11
(73,3%) pertenciam ao sexo feminino e quatro (26,7%) ao sexo masculino. Ref=
erente
à idade, três (20%) classificavam-se na idade entre 20-30 anos, oito (53,3%)
entre 30-40 anos, 1 (6,7%) entre 40-50 anos e três (20%), entre 50-60 anos.=
Com relação ao tempo =
de
profissão, um entrevistado (6,7%) possuía até cinco anos de profissão, cinco
(33,3%) de 5 a 10 anos, seis (40%) de 10 a 20, dois (13.3%) de 20 a 30 anos=
e
um (6,7%) com mais de 30 anos.
Todos os enfermeiros =
que
participaram da pesquisa, descreveram já ter atendido vítimas de violência
doméstica. Sobre a formação ou preparação para atendimento dessas, três (20=
%)
tiveram alguma preparação pela administração municipal, quatro (26,6%) na
graduação e oito (55,=
3%) descreveram
não ter nenhum preparo teórico.
Identificando a violência doméstica pelo medo e sinais visíveis de
agressão
Os enfermeiros descreveram como
identificam uma mulher com suspeita de violência. E as respostas coletadas
foram: sinais da linguagem corporal como medo, pânico e também, a presença =
de
ferimentos visíveis pelo corpo.
Vítima está sempre na defensiva, amedrontada (E2).
Geralmente apresentam marcas de agressão aparente,=
e
seu discurso, na maior parte das vezes, tenta esconder a violência. O emoci=
onal
delas sempre está muito abalado (E3).
Quando chega apresentando sensação de pânico (E4).
Edema, hematomas e o próprio relato da mesma (E10).
Por seu primeiro relato, a maneira que se comporta=
e
sinais visíveis de lesão” (E11).
Geralmente muito nervosa, sentindo-se ameaçada (E14).
No tocante às condutas que os enfermeiros realizaram apó=
s os
atendimentos das vítimas de violência doméstica na unidade de pronto
atendimento, as respostas foram: aplicação do Protocolo de Manchester,
acolhimento e encaminhamento à equipe multiprofissional.
Protocolo de Manchester e assistente social (E1).
Acolhimento, inspirar confiança, notificar o caso;=
envolver
multiprofissional (E2).
Classificamos conforme o Protocolo de Manchester, =
se o
caso de enquadra em grave, tentamos conversar com o médico para priorizar o
atendimento, evitando que a mesma fique exposta na recepção. Avisamos o ser=
viço
social para encaminhamentos posteriores e notificação (E3).
Primeira ação é deixar a pessoa se sentir segura d=
ando
a ela além do tratamento físico, em caso de agressão, encaminhar para servi=
ço
social psicólogo e incluir na rede de proteção (E4).
Acolhimento de enfermagem seguindo os itens da
consulta de enfermagem (E6).
É priorizado o atendimento. Quando possível já
colocado a paciente em local reservado. A triagem é realizada como priorida=
de
no atendimento (amarelo ou laranja) (E9).
Conversa, atendimento preferencial, aconselhamento,
contato com serviço social e psicológico para trabalho em conjunto <=
/i>(E14).
Acolhimento e realização de
curativos
Ainda, sobre quais cuidados da assistência de enfermagem
foram realizados para a mulher, após o enfermeiro identificar que se trata =
de
uma vítima de violência doméstica, as respostas foram: acolhimento, cuidados
com as lesões e a realização dos curativos necessários.
Preservação da identidade, minimizar a exposição,
atuação ética, psicologia da enfermagem (E2).
Acolhimento, curativos, orientação nos cuidados co=
m as
lesões (E3).
Escuta ativa. Realização de curativos. Notificação=
de
agressão. Comunicado polícia. E serviço social (E9).
Acolhimento e atender da forma mais rápida e
humanizada (E10).
Apoio emocional, cuidados com as lesões. Encaminha=
mento
para serviços de apoio (E12).
Curativos, polícia e assistente social (E13).
Escuta qualificada, procedimentos curativos em cas=
o de
lesões, agendamento de procedimentos posteriores e acompanhamento geral (E14).
Atendimento multiprofissional
humanizado e focado na resolução do problema
Ao descreverem como é o atendimento multiprofissional, as=
respostas
foram: acompanhamento para o serviço social, encaminhamento ao psicólogo,
atendimento humanizado e resolução do problema.
Ainda está fragmentado em alguns momentos da
assistência. Requer melhor abordagem clínica e social com melhor preparo do=
multiprofissional
para gerar um atendimento mais humanizado e acolhedor (E2).
Focado na resolução do problema momentâneo e
identificação de formas de continuidade do cuidado na alta desta paciente p=
ara
que ela seja acompanhada e fortalecida pela rede de atenção à saúde do
município com o objetivo de evitar que ela sofra nova violência =
(E3).
É muito importante porque cada profissional vai
prestar seu atendimento específico dentro da sua área e com certeza a vítima
será encorajada a tomar atitude certa diante do agressor que é a denúncia <=
/span>(E4).
Serviço social aborda a paciente. Buscando compree=
nder
a situação vivenciada para dar os encaminhamentos necessários (E9).
Se a agressão for física já é identificada pela eq=
uipe
de enfermagem onde em conjunto com médico se trata o curativo primeiramente=
. Em
todos os casos trabalha-se em conjunto com assistente social e acompanhamen=
to
psicológico” (E14).
Sobre as percepções, após a realização dos atendimentos
prestados pelos enfermeiros, são relatados sentimento de impotência,
despreparo, insegurança e a falta de profissionais para uma assistência
específica, como a assistência social e psicológica.
Que a assistência ainda está fragmentada, mas de
início visa curar os ferimentos e realizar os encaminhamentos (E1).
Que a paciente necessita do apoio humano do outro e
que o profissional vá desprovido dos olhos do preconceito. Fará toda a
diferença (E2).
De suma importância pois em alguns momentos o
atendimento da enfermagem é o único apoio que a vítima possui (E4).
Que eu poderia ter feito mais, se a "rede&quo=
t;
funcionasse na prática (E6).
Não existe muito preparo da equipe para cuidados c=
om
esses tipos de atendimento, apenas são encaminhados para serviços
especializados, por isso não vejo muita perspectiva (E8).
Sentimento de Constrangimento. E as vezes impotênc=
ia.
Às vezes apatia. Quando os agentes da violência doméstica homem ou mulher e=
stão
etilizados (E9).
A rede de proteção ainda não protege a mulher de
maneira segura. Muitas vezes demora muito acolhimento (E12).
Que a escuta qualificada e o acolhimento em geral
fazem parte da identificação da mesma. E que o olhar atento do profissional
pode salvar uma vida vítima de violência e para isso os profissionais preci=
sam
estar preparados para olhar o paciente como um todo a sua frente (E14).
DISCUSSÃO
A violência está present=
e na
sociedade desde o início da existência humana, independentemente da sua
tipificação, tornando-se um problema historicamente mundial e de aspectos
multifatoriais, principalmente associado ao gênero feminino. O Brasil retém=
um
alto número de vítimas, ocasionando uma situação a ser considerada um probl=
ema
de saúde pública, consequentemente, gerando grandes custos para a nação(9).
Quando a mulher se apresenta na unidade, o enfermeiro deve utilizar a
anamnese para determinar fatores importantes, como seu círculo social, iden=
tificando
pessoas próximas que podem colaborar, de alguma forma, com o tratamento, se=
ja
com apoio emocional, material ou serviços. O enfermeiro deve encorajar a mu=
lher
e orientá-la quanto a todas as opções de redes de assistência, utilizando de
referenciais teóricos e metodológicos para aplicação de técnicas do atendim=
ento(10).
As mulheres apresentam sinais após a agressão, como insegurança, est=
resse,
depressão, dificuldades de novos relacionamentos, dificuldades no sono,
cefaleia, desconforto na coluna, náusea e hipertensão. Sinais que o
profissional enfermeiro pode identificar durante a anamnese(11).
Os sinais que caracterizam comprometimentos na conservação de energi=
a da
mulher são os distúrbios do sono, desgaste físico, alimentação inadequada,
fraqueza e falta de energia; características essenciais para integridade da
mulher e que o enfermeiro deve se atentar. Ao exame físico, faz se necessár=
io
observar hematomas, escoriações, luxações e lacerações. No processo saúde e
doença, observa-se obesidade, doenças imunológicas, gastrite e úlceras(12).
A violência física deixa marcas aparentes no corpo, e transparecem
efeitos negativos na saúde mental da mulher, principalmente pela baixa
autoestima e a humilhação que elas sentem(13). As
consequências da violência resultam em marcas físicas, psicológicas, sexuai=
s,
sociais e profissionais, o que faz necessário o encaminhamento para serviço=
s de
saúde especializados para enfrentar os problemas e ter uma melhora
significativa na qualidade de vida(14)=
.
Algumas condutas do enfermeiro são necessárias para identificar que a
mulher sofreu violência. Entre as consultas, o profissional precisa realizar
anamnese com exame físico, verificação de sinais vitais, avaliação nutricio=
nal,
padrão de eliminações e ciclos menstruais(12).
O profissional enfermeiro deve ficar à frente desse tipo de atendime=
nto,
sendo o primeiro contato e acolhendo a mulher. Posteriormente, deve prestar=
as
devidas orientações e realizar os acompanhamentos e encaminhamentos a outros
profissionais quando houver necessidade. Para isso, precisa estar capacitad=
o e
preparado para desenvolver tais habilidades e procurar capacitações em cent=
ros especializados(15).
Conforme também citado pelos enfermeiros no questionário, o Protocol=
o de
Manchester é um grande aliado para determinar o tempo do atendimento da mul=
her
e a complexidade, de acordo com o estado físico em que ela se encontra,
diferenciando por cores os cinco níveis, separados pela queixa da mulher e
visualização do enfermeiro(16).
Um dos importantes passos no atendimento é o acolhimento a vítima, de
acordo com o Ministério da Saúde, é o ato ou efeito de acolher, uma ação de
aproximação e uma atitude de inclusão. O acolhimento tem papel fundamental =
no
momento em que as vítimas procuram atendimento. Nesse sentido, a assistência
deve ser individualizada e humanizada, estabelecendo um vínculo afetivo e u=
ma
relação de empatia. O profissional deve mostrar à vítima que entende sua
situação de dor e sofrimento(15)=
.
O cuidar das vítimas de violência doméstica exige mais do que somente
habilidades técnicas, pois não há um modelo único a ser seguido. O cuidado
requer uma atenção individualizada para tratar e curar, pois no momento em =
que
a vítima procura um serviço de saúde, o profissional tem a oportunidade de
acolhê-la e direcioná-la para os demais serviços(17).
A qualificação da
assistência prestada é favorecida, respeitando a privacidade dos usuários e
deve se adequar ao ambiente e a cultura na qual eles se encontram. Ainda, o
acolhimento desses pacientes, conforme a Política Nacional de Humanização (=
PNH)
do Sistema Único de Saúde (SUS), deve conter as práticas e promoções de saú=
de(18).
Dessa forma, para des=
envolver
o atendimento
multiprofissional humanizado e focado na resolução do problema, o modelo de
assistência deve ser intensificado no acolhimento do usuário. Cabe ressalta=
r,
ainda, que junto com outras propostas de mudanças, como maior integralidade=
e
universalidade no cuidado multiprofissional, visa o desenvolvimento da
humanização do atendimento desses serviços(19).
Os profissionais enfe=
rmeiros
que atuam no atendimento às vítimas de violência doméstica relatam dificuld=
ades
na evolução do atendimento. Contexto esse que acontece, principalmente, pel=
as
barreiras pré-estabelecidas pelas vítimas durante as ações prestadas. Tal f=
ato
se deve, geralmente, por causa de diversos fatores, como a insegurança, o m=
edo,
o constrangimento e a vergonha. Dessa forma, esses profissionais devem
construir estratégias para se posicionarem como um facilitador do processo
terapêutico, respeitando o contexto social e as particularidades de cada
mulher, se aproximando da vítima e fornecendo o suporte necessário para as
queixas(19).
Ainda, as equipes rel=
atam
uma série de dificuldades nas ações prestadas, dentre elas, a fragmentação =
das
instituições que fazem o atendimento dessas vítimas e a falta de colaboraçã=
o, integração
e compartilhamento de conhecimento entre os profissionais da área, o que ge=
ra
obstáculos durante o atendimento. =
Entre
os relatos obtidos, destaca-se o acolhimento individual realizado pelas equ=
ipes
em diversos níveis multidisciplinares a principal forma para se garantir qu=
e o
processo de atendimento seja concluído de maneira íntegra(19).
Portanto, é notório, =
que
a reunião das equipes, com participações de profissionais de diversas áreas=
do
cuidado, como a da assistência social e da psicologia, aprimora e contribui=
com
novas formas de se obter uma melhor definição das estratégias de cuidados a
serem tomados, com o intuito de compartilhar responsabilidades e atribuições
aos diversos setores do cuidado(20)=
span>.
CONCLUSÃO
O profissional enferm=
eiro
é responsável por diversas etapas do atendimento às pacientes vítimas de
violência doméstico, as quais vão desde a aplicação do Protocolo de Manches=
ter,
até mesmo a realização de curativos para as vítimas. Apesar dos relatos de =
sentimento
de impotência e despreparo, os enfermeiros conseguem prestar uma assistência
humanizada para estas mulheres.
No que diz respeito a
problemática discutida, muitos conhecem a teoria, mas não sabem lidar com a
situação e acabam não reagindo conforme o esperado, contudo, se moldam à
necessidade da vítima e no sentido de resolubilidade, fazem o melhor dentro=
dos
seus limites e dos limites impostos pelo sistema. Sendo assim, faz-se
necessário mais estudos, pesquisas e investimentos em treinamentos sobre, c=
aracterizada
a importância e complexidade do assunto. Portanto, é primordial o entendime=
nto
amplo por parte do profissional para prestar um atendimento efetivo de forma
individualizada no momento em que a vítima procura o serviço de saúde, pois=
é
nesse momento que ela será direcionada aos demais encaminhamentos por parte=
do
profissional.
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Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0104-12902014000300007
Autor
correspondente:
Bianca Machado Cruz Shibukawa.
Endereço:
Avenida Colombo, 5790. CEP: 87020-900. Bloco 2.
E-mail: bih.cruuz@gmail.com
Submissão:
2021-02-24
Aprovado:
2021-05-11
[1] Doutorando em
enfermagem – UEM. Docente de enfermagem do Centro Universitário Assis Gurgacz – FAG. E-mail: maycon-cheffer@hotmail.com. OR=
CID:
https://orcid.org/0000-0002-9361-0152
[2] Enfermeira. =
Centro
Universitário Assis Gurgacz – FAG. E-mail:
carolinemarianav@hotmail.com. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2289-=
0054
[3] Discente de
enfermagem do Centro Universitário Assis Gurgacz –
FAG. E-mail: Bianca.=
simardo@hotmail.com.
ORCID: https://orcid.or=
g/0000-0002-7393-0802
[4] Doutoranda em enfermagem no Programa de Pós-Gradu=
ação
da Universidade Estadual de Maringá. Professora do departamento de enfermag=
em
da Universidade Estadual de Maringá. E-mail: bih.cruuz@gmail.com<=
/a>. ORCID: https://orcid.or=
g/0000-0002-7739-7881
[5]=
Doutorando em
enfermagem – UEM. Docente de enfermagem do Centro Universitário Assis Gurgacz – FAG. E-mail: rafaelabramatti@fag.edu.br=
. ORCID: https://orcid.or=
g/0000-0003-1797-842X
[6] Docente de
enfermagem do Centro Universitário Assis Gurgacz –
FAG. E-mail: ariana@fag.edu.br. ORC=
ID: https://orcid.org/0000-0002-7062-=
3655
[7] Professora d=
outora do Programa de Pós-Graduação de
enfermagem. Universidade Estadual de Maringá, Maringá, PR, Brasil.
E-mail: ieda1618@gmail.com. OR=
CID:
https://orcid.org/0000-0002-4205-6841
ARTIGO ORIGINAL