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OS ASPECTOS
MULTIFATORIAIS DA AUTOMUTILAÇÃO NA ADOLESCÊNCIA: UMA ABORDAGEM EDUCATIVA
THE MULTIFACTORIAL ASPECTS OF SELF-MUTILATION IN
ADOLESCENCE: AN EDUCATIONAL APPROACH
Alicyregina
RESUMO
Introdução: A infância e a adolescência são fases do desenvolvimento
humano caracterizadas por mudanças fisiológicas, psicológicas e sociais. Di=
ante
de tantas alterações, surgem sentimentos e pensamentos que podem gerar atos=
e
consequências graves, como a automutilação, assunto que tem levantado pesqu=
isas
e debates em diferentes áreas. Objetivo: relatar a experiência sobre a
realização de uma atividade com orientadores sociais, que possuiu como foco
abordar a temática da automutilação no público adolescente e infantil, de m=
odo
a elaborar posteriores estratégias de prevenção que minimizem o número de c=
asos
e garantam uma melhor abordagem para lidar com a temática. Metodologia: Trata-se de um estudo
descritivo, do tipo relato de experiência, realizado no Centro de Referênci=
a da
Assistência Social de um município do estado do Ceará. Resultados: A realiz=
ação
da atividade possibilitou a visualização da automutilação como um fenômeno =
que
vai além do contexto da saúde e que envolve um conjunto de aspectos sociais=
e
políticos. Tendo o conhecimento de que se trata de um problema multifatoria=
l, é
essencial que todos os profissionais envolvidos trabalhem em torno de um me=
smo
objetivo. Considerações finais: Portanto, torna-se necessária a constante
capacitação e atualização dos profissionais com relação ao tema da automuti=
lação,
de modo a proporcionar e guiar atitudes e decisões eficazes para resolução =
do
problema e melhor acompanhamento e detecção dos casos, visto que se trata d=
e um
fenômeno ainda pouco conhecido e explorado. A atuação da equipe
multidisciplinar, que inclui profissionais da saúde e da educação, é essenc=
ial
na promoção do bem-estar de adolescentes. =
Palavras-chave: Automutilação; Adolescente; Saúde Mental; Promoção da
Saúde.
ABSTRACT
Introduction: Childhood and such as self-mutilation, =
a subject that has raised research and debat=
es in different areas. Objective: to report the =
experience of carrying out an
activity with social counselors, which
focused on addressing the theme of self-mutilation =
in adolescent and child audiences, in order to develop further prevention strategies that
minimize the number of cases and guarantee
a better approach for deal=
with the theme. Methodolog=
y:
This is a descriptive study, an
experience report, =
carried out at the Reference
Center for Social Assistance in a municipality
in the state of Ceará. Res=
ults:
The performance of the activity enabled the
Keywords: Self Mutilation; Adolescent;
Mental Health; Health Promotion.
INTRODUÇÃO
A fase da adolescência é caracterizada
como uma das etapas mais importantes na vida do ser humano, envolvendo aspe=
ctos
multifatoriais e problemáticas que podem afetar a vida adulta. Esse processo, embora transitório, cons=
iste
em uma fase onde o indivíduo se reinventa, aprende, vive e experimenta
diferentes realidades e emoções. No entanto, tais mudanças podem ser perceb=
idas
de maneira turbulenta por alguns indivíduos, gerando sentimentos de medo, r=
aiva
e frustração (1). Essa realidade pode resultar em atos e
consequências graves, entre estas destaca-se a automutilação, que tem levan=
tado
pesquisas e debates em diferentes áreas, incluindo os setores familiares,
educacionais e de saúde.
A automutilação se caracteriza pelo at=
o ou
hábito de um indivíduo de causar lesões e/ou danos a si próprio, incluindo,
comumente, cortes auto infligidos ou envenenamento intencional, podendo est=
ar
associados ou não à intenção e ideação suicida (2). A prática da automutilação pode ainda e=
star
associada a alguns transtornos, como os transtornos de personalidade ou
transtorno de escoriações, sendo mais prevalente e recorrente em jovens adu=
ltos
e adolescentes, também estando frequentemente associada a ansiedade e abuso=
s de
substâncias (3).
A persistência desse comportamento pode
estar relacionada a diversos fatores, dentre eles, pode-se exemplificar a
necessidade de reprimir ou extinguir estados emocionais e cognitivos
indesejados, baixa autoestima ou tentativa de fuga da realidade (4).
Estudos em psicanálise discorrem sobre esta ação como sendo do campo da
subjetividade, onde o mal-estar psíquico gera diferentes sintomas. Esses
sintomas emergem mediante as marcas da angústia, de forma que estes são tra=
nsferidos
para o corpo, através do transbordamento somático, e sentidos na pele em fo=
rma
de cortes que silenciam os gritos desesperados e aliviam o sofrimento =
(5).
Nesse aspecto, uma constatação relevante diz respeito ao fato de, em geral,=
os
adolescentes não fazerem referência a dor no momento que se cortam. Desse m=
odo,
a dor física é vista como uma maneira de substituir a dor moral e psicológi=
ca.
A dor infligida no corpo é compreendida por estes como mais tolerável e como
forma de aliviar o sofrimento psíquico (6).
Segundo Ribeiro (7), a
adolescência é uma fase do desenvolvimento humano caracterizada por mudanças
fisiológicas, psicológicas e sociais, definidas pela maturação entre a infâ=
ncia
e a vida adulta. Esse momento é marcado por muitas inseguranças, onde o
adolescente não se ver mais como uma criança e também percebe que não
representa o adulto reconhecido socialmente. Nesse contexto, a compreensão =
das
representações sociais da adolescência, no aspecto da automutilação, repres=
enta
uma discussão sobre o modo como o indivíduo cria, interpreta e transforma s=
ua
realidade. Dessa forma, pode-se destacar que a automutilação ocorre em um m=
eio
marcado pelas representações, sendo estas individuais, surgindo através da
percepção do próprio sujeito sobre algum acontecimento de sua vida, ou se
originando de uma característica coletiva, correspondendo a ideia de um
determinado grupo.
Considera-se importante, também, a
influência dos meios de comunicação na divulgação de atitudes e pensamentos=
que
impulsionam esta prática. Segundo =
Silva
e Botti (8) a internet, embora possa
apresentar-se como estratégia de prevenção, possui também impacto sobre o
comportamento autolesivo, à medida que atua como
importante meio de conectividade, em especial para os indivíduos mais isola=
dos
socialmente. Dessa forma, se obser=
va a
troca de experiências e apoio mútuo, principalmente em redes sociais, onde
ocorre a criação de espaços virtuais que podem ativar comportamentos de ris=
co e
gatilhos, além da troca de informações nocivas divulgadas, muitas vezes,
anonimamente. Diante disso, os alcances da internet para a divulgação de ta=
is
conteúdos têm elevado a atenção de pais, profissionais da saúde, da educaçã=
o, e
de diferentes órgãos governamentais sobre a temática da automutilação e do
suicídio.
Nesse aspecto, é também importante
destacar o papel significativo da família no contexto da saúde mental de
adolescentes. Segundo Sales (9), a família se apresenta como med=
iadora
de relações entre os sujeitos pertencentes a sociedade, sendo considerada t=
ambém
um suporte que sustenta os indivíduos nas diferentes etapas de sua vida. De=
sse
modo, uma família fragilizada exerce efeito prejudicial sobre o desenvolvim=
ento
psicoemocional e cognitivo, juntamente com a influência de aspectos biológi=
cos,
psicológicos e ambientais.
Pode-se também salientar a importância=
da
educação no processo de prevenção e identificação precoce dos casos. A esco=
la
enquanto instituição formadora social de um indivíduo pode atuar na
identificação de sinais de automutilação. Dessa maneira, vale ressaltar que=
a
criança e/ou adolescente pode apresentar alterações em comportamentos
relacionados à sua afetividade, humor e aparência física, onde estão incluí=
das
as vestimentas, no intuito de mascarar ou camuflar as lesões. Desse modo,
através da instituição de ensino é possível prover as primeiras tentativas =
de
assistência, ao identificar e, posteriormente, notificar os casos para a
família e órgãos competentes, no intuito de quantificar e direcionar as
possíveis intervenções (10).
Diante do exposto, destaca-se a Lei Nº
13.819, de 26 de abril de 2019 sancionada e instituída, que versa sobre a
Política Nacional de Prevenção da Automutilação e do Suicídio. A lei busca =
pôr
em prática em suas atividades, a obrigatoriedade de notificações da automut=
ilação
e ideação suicida em ambientes escolares, tal como a prevenção da violência
autoprovocada e promoção da educação permanente de gestores e de profission=
ais
de saúde em todos os níveis de atenção relacionados ao sofrimento psíquico =
(10).
Por isso, se torna extremamente importante que os orientadores sociais,
profissionais da educação e os profissionais da saúde, se apropriem do assu=
nto
buscando capacitações de qualidade para que saibam as melhores formas de
intervir nessa problemática.
Segundo Costa, Matos e Reis (11)<=
/sup>,
o orientador social corresponde a um profissional que possui, no mínimo, ní=
vel
médio de escolaridade, e que atua na área de políticas públicas de assistên=
cia
social, desempenhando funções nos serviços de atendimento a pessoas em
situações de vulnerabilidade social. Ademais, as atividades planejadas e
executadas por esses agentes, podem ser realizadas em determinadas unidades=
de
serviço ou dentro das próprias comunidades, considerando o público
envolvido. Ressalta-se que a organ=
ização
de atividades ou oficinas de cunho artístico e cultural também fazem parte =
das
atribuições dos orientadores sociais.
Desse modo, é de suma importância que
sejam traçadas intervenções intersetoriais e interdisciplinares que visam a
criação de planos de ações cabíveis para a minimização de tais problemas. N=
esse
sentido, é necessário o trabalho multidisciplinar, podendo incluir o
profissional de enfermagem, visto que este tem papel importante no
estabelecimento de vínculo e conhecimento dos fatores associados, de modo a=
não
subestimar os riscos e prestar uma assistência qualificada. A enfermagem at=
ua,
também, por meio da identificação dos casos em triagens e nos demais tipos =
de serviços,
dando as primeiras ações de auxílio para o adolescente, bem como para sua f=
amília,
facilitando o encaminhamento para os serviços especializados (12).
Nesse contexto, o enfermeiro tem função essencial na promoção de um cuidado
integral ao cliente e seus familiares, visando atender suas diferentes
necessidades (13).
Diante disso, esse estudo tem como
objetivo relatar sobre a experiência de uma atividade realizada no Centro de
Referência da Assistência Social (CRAS) do município de Redenção no interio=
r do
Ceará, com um grupo de orientadores sociais. A atividade tinha como finalid=
ade
discutir sobre a adolescência e as inúmeras alterações e riscos
biopsicossociais que podem estar inseridos nessa fase, com ênfase na
automutilação, de modo a possibilitar a posterior elaboração de estratégias=
que
visam uma melhor abordagem da problemática.
MÉTODOS
Trata-se de um estudo descritivo, do tipo re=
lato
de experiência. Nesse contexto, realizou-se no dia 22 de julho de 2019, uma
atividade educativa no Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) da
cidade de Redenção-CE. Vale destacar que a ação foi organizada por quatro
alunos do curso de enfermagem que se encontravam em período de estágio da
disciplina Processo de Cuidar na Saúde Mental, com a supervisão da docente =
da
disciplina e do coordenador do CRAS.
A atividade foi direcionada para os profissi=
onais
que lidam direta ou indiretamente com crianças, adolescentes e jovens. Entre
eles estavam presentes pedagogos, participantes do Programa Criança Feliz,
assistentes sociais, e psicólogos. Os participantes foram convidados pelo
coordenador do CRAS na semana anterior ao momento educativo e a temática
atendia a uma demanda atual do município. O encontro foi realizado com o
intuito de debater e elaborar possíveis estratégias para o fenômeno da
automutilação, que apresentava grande número de ocorrências no município. A
capacitação teve duração de quatro horas e contou com a participação de 40
profissionais.
Para sistematizar e organizar a ação, o enco=
ntro
foi divido em três momentos principais, sendo o primeiro momento destinado à
apresentação da equipe e dos demais profissionais presentes, seguida de uma
dinâmica inicial, como forma de promover maior contato entre os envolvidos e
para contextualizar as temáticas relacionadas à saúde mental na infância e
adolescência. No segundo momento ocorreu abordagem do tema da automutilação,
com auxílio dos recursos audiovisuais como suporte para exposição sobre a
temática, de modo que se deu ênfase aos sinais de alerta e as atitudes que
deveriam ser tomadas após a identificação desses casos. O terceiro momento
integrou a conclusão da ação por meio de uma atividade final intitulada como
“Dinâmica do Corredor do Cuidado”.
Salienta=
-se,
ainda, que por se tratar de um relato de experiência e por não envolver a
coleta de dados ou a exposição dos participantes, não foi necessário a
solicitação do comitê de ética em pesquisa. No entanto, foi requerida a
autorização do coordenador local do CRAS, através de solicitação formal da
instituição proponente da intervenção. Além disso, os profissionais present=
es
na ação educativa consentiram, livremente, em participar da atividade, de m=
odo
que também foram respeitados os referenciais básicos da bioética, relaciona=
dos
ao indivíduo e a coletividade, conforme proposto pela Resolução n° 466/12 <=
sup>(14).
RESULTADOS E DISCUSSÃ=
O
Primeir=
amente,
foi colocado um comando nas costas de cada participante, sem que eles soube=
ssem
o que estava escrito, os comandos incluíam atitudes como ignorar, abraçar,
elogiar ou criticar. Em seguida, eles deveriam circular pela sala enquanto =
cada
pessoa realizava o comando. Após três minutos, solicitou-se que eles ficass=
em
em um grande círculo, e cada um deveria tentar adivinhar que comando possuí=
a,
baseados nas atitudes dos demais participantes para com ele. Deveriam falar também quais
sentimentos essas atitudes haviam despertado. Ao final da dinâmica, iniciou=
-se
um debate sobre como tais ações podem influenciar na vida e nas decisões
tomadas pelos adolescentes, podendo ser possíveis desencadeadores da
automutilação.
Após a
dinâmica, os participantes relataram diferentes sentimentos que variaram de
acordo com as atitudes que cada um havia recebido dos demais, de modo que
gratidão e alegria foram destacadas pelos que receberam elogios e carinhos.
Entretanto, raiva, tristeza e insegurança foram sentimentos relatados pelos=
que
haviam sido ignorados ou pelos que receberam críticas. Percebe-se nessas
afirmações as respostas que a dinâmica despertou nos mesmos, de modo que se
fez, posteriormente, uma analogia da influência que essas ações podem acarr=
etar
na vida das pessoas que estão em crises psicológicas.
Segundo
Momento: Exposição Audiovisual e Discussão do Tema <=
/span>
O segundo momento da atividade
correspondeu a abordagem da temática, seguida de uma explanação sobre os
fatores que contribuem para a sua ocorrência. Dentre estes, foram abordados
aspectos relacionados à adolescência, incluindo as diversas alterações físi=
cas,
mentais e sociais, seguida da explanação sobre a influência destas sobre a
automutilação.
A conceituação de transtornos
mentais, como a depressão e a ansiedade, também fez parte deste momento da
atividade, de modo a demonstrar o impacto desses sobre a temática apresenta=
da.
No decorrer da realização da ação educativa, foi definido o conceito de
automutilação, seguido dos sinais e frases de alerta a serem observadas nos
adolescentes, aos quais os profissionais deveriam estar atentos, como forma=
de
identificar precocemente os casos nesse público.
Além disso, dialogou-se sobre os
principais aspectos que podem contribuir para a prática da automutilação, c=
omo
a influência dos meios de comunicação, bem como do contexto familiar e esco=
lar
sobre esse evento, sendo estes classificados como os aspectos multifatoriai=
s da
automutilação. A importância da rede de apoio, que inclui a atuação integra=
da
da família dos adolescentes e da equipe multiprofissional, composta por age=
ntes
essenciais como pedagogos, psicólogos, psiquiatras, enfermeiros e assistent=
es
sociais, também foi destacada na atividade como importante estratégia e for=
ma
de atuar diante desses casos.
Nesse sentido, destaca-se que a
escolha da temática ocorreu devido ao aumento da incidência de novos casos =
de
automutilação em adolescentes e jovens na região, adicionada da carência de
conhecimentos sobre as formas de identificação e intervenções adequadas para
essa problemática, em diversos aspectos, incluindo os setores familiares,
educacionais e de saúde. Desse modo, surge a necessidade de intervenções que
visem a prevenção, identificação precoce dos casos e melhor manejo relacion=
ado
à automutilação, para que esses possam ser identificados e melhor
acompanhados.
Durante essa etapa, os
profissionais expressaram suas principais dúvidas e dificuldades, bem como
destacaram suas experiências, caracterizando o importante momento de
aprendizado para a equipe e para os profissionais presentes. Dessa forma, os
participantes no momento da ação também indagaram algumas dúvidas relaciona=
das
aos transtornos depressivos e de ansiedade, tendo em vista que estes podem
influenciar diretamente para a ocorrência e incidência de casos de
automutilação. Assim, todos os questionamentos foram esclarecidos de
forma a deixá-los mais capazes de atuar com os jovens e adolescentes do
município. Nesse sentido, esta etapa destacou-se como importante momento de
diálogos e produção de conhecimento, à medida que se uniu a teoria à
prática.
Outro aspecto bastante trabalha=
do
na atividade diz respeito ao fato da adolescência consistir em um momento de
maior vulnerabilidade, resultante das tensões e mudanças que ocorrem no
indivíduo. Segundo (15), a sociedade enfatiza que adolescentes em
situação de vulnerabilidade social, apresentam mais problemas associados ao=
psíquico,
como tendências suicidas e autolesões.
Nesse aspecto, os participantes
relataram muitos casos de jovens do município que estavam em sofrimento
psicológico e posteriormente passaram a apresentar indícios de ações e prát=
icas
autolesivas. Foi relatado sobre o fato de alguns
jovens chegarem a expor através de transmissões de vídeo ao vivo o momento =
em
que estavam se automutilando. Os comportamentos de automutilação online
ressaltam o quanto o ambiente virtual é passível de sofrer manipulação e se
transformar em um meio capaz de gerar, promover e divulgar ações
autodestrutivas (8).
De acordo com Silva e Botti (8) o modo como os jovens e adolesce=
ntes
utilizam as redes sociais e a internet pode representar consequências negat=
ivas
em seu desenvolvimento emocional e psicológico. Ressalta-se, ainda, que o m=
undo
virtual auxilia na expressão distinta dos jovens com relação a dor e sofrim=
ento
enfrentados, de modo que esse fenômeno passa a englobar um conjunto de
consequências psicossociais.
Nesse sentido, a atuação de profissionais das áreas de assistência social,
enfermagem, psicologia e pedagogia, são extremamente importantes para um
acompanhamento dos sujeitos que procuram a prática automutiladora como uma
alternativa para amenizar os sofrimentos encontrados em suas realidades,
considerando que é possível desenvolver o processo pedagógico e de aprendiz=
ado
somente quando se estar aberto ao mundo e as experiências vividas, através =
da
compreensão integral do ser humano, composto por suas dimensões e
particularidades (15).
Terceiro
Momento: Dinâmica do Corredor do Cuidado
A última etapa da atividade
consistiu na dinâmica do corredor do cuidado, com o objetivo de estimular a
prática do cuidado sobre diferentes dimensões, tendo em vista que os
orientadores sociais presentes exerciam importante papel no cuidado dos ado=
lescentes
e suas respectivas famílias. Para a realização dessa etapa, os profis=
sionais
fizeram duas filas com a finalidade de formar uma estrutura semelhante a um
corredor, onde cada integrante da fila deveria passar e receber algum tipo =
de
cuidado de cada um dos demais participantes, durante um minuto, enquanto ou=
viam
uma música tranquila, para promover maior interação e relaxamento. Os
cuidados incluíam massagens, abraços, um gesto de carinho e elogios. =
Ao
final da dinâmica, foi discutido sobre os impactos e consequências positivas
relacionadas ao ato de cuidar e ser cuidado.
A ideia de introduzir esse mome=
nto,
surgiu diante da possibilidade de sobrecarga na atividade lab=
oral
e desenvolvimento do estresse ocupacional ao qual os trabalhadores podem es=
tar
sujeitos (16). Tal fato é proveniente das dificuldades de
enfrentamento sobre os fatores do ofício, visto que o período do adolescer é
marcado por demasiadas mudanças com as quais os profissionais precisam lida=
r,
sendo inúmeras destas situações caracterizadas como estressantes para ambos=
os
lados, podendo comprometer em algum nível os processos mentais do profissio=
nal
responsável como cuidador (=
17).
O estresse ocupacional sem a
atenção adequada para a saúde mental, pode comprometer o físico e a psique =
do
servidor, acarretando danos em vários âmbitos, incluindo o nível profission=
al,
social ou comportamental, podendo ocasionar com frequência, faltas,
rotatividades, dentre outros fatores que podem interferir no atendimento
prestado. Torna-se essencial o zelo com o colaborador para a prevenção dest=
es
episódios (18).
Por vezes, o cuidar é listado e=
ntre
as emoções e sentimentos humanos responsáveis pela promoção do equilíbrio, e
mediação da convivência entre os indivíduos, sendo parte fundamental da
existência. Manter boas relações de cuidado entre os sujeitos e sobre si, é
essencial para um ambiente harmonioso e unido, onde os sentimentos podem ser
mais facilmente controlados, gerando assim resultados positivos acerca do
desempenho profissional e pessoal. Desse modo, é essencial que o trabalhador
cuide de si mesmo, com auxílio de outros profissionais, visando alcançar a
conciliação biopsicológica e social, através de liberdade de escolha sobre =
os
processos que o tornem por sua concepção um ser feliz, com o intuito de que
esses sentimentos fluam de dentro para fora, atingindo de forma positiva to=
dos
com os quais ele tem contato (19).
Desse modo, a dinâmica do corre=
dor
do cuidado possibilitou a reflexão sobre o modo como o afeto funciona como =
um
dispositivo capaz de ativar a sensibilidade das diferentes pessoas que se
permitem participar e compartilhar experiências e vivências nestas teias de
afeto, através da possibilidade de construir histórias e caminhar na busca =
por
alternativas dialógicas e educativas de práticas de saúde, participação soc=
ial
e cidadania (19). Tal vivência também foi
sugerida como uma estratégia de cuidado que poderia ser utilizada com crian=
ças,
adolescentes e jovens em alguns ambientes para discutir e refletir a temáti=
ca
de autocuidado e cuidado com o outro.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A realização da atividade representou um apr=
endizado
essencial para a formação acadêmica e profissional, visto que possibilitou a
união da prática com a teoria abordada. A compreensão das diferentes
experiências profissionais apresentadas contribuiu para a visualização da
automutilação como um fenômeno que vai além do contexto apenas da saúde, mas
que envolve um conjunto de aspectos sociais. Tal afirmação confirma a visão=
de
Saúde Mental em sua transversalidade, à medida que engloba os diferentes
fatores, contextos e faixas etárias.
A limitação do estudo consistiu no fato de q=
ue,
por se tratar de uma atividade realizada com profissionais de diferentes
localidades, a realização de encontros posteriores com a equipe não foi
possível. Nesse sentido, torna-se necessária a realização de outros estudos=
que
abordam também a temática da automutilação no contexto da infância e
adolescência, possibilitando um aprofundamento sobre o tema e a realização =
de
ações que visem o melhor manejo dos casos.
Foi notória a relevância da comunicação e
atuação da equipe de forma integrada e participativa, diante da problemátic=
a.
Tendo o conhecimento de que se trata de um problema multifatorial, é essenc=
ial
que todos os profissionais envolvidos trabalhem em torno de um mesmo objeti=
vo.
Portanto, torna-se necessária a constante capacitação e atualização dos
profissionais com relação ao tema da automutilação, de modo a proporcionar e
guiar atitudes e decisões eficazes para e resolução do problema e melhor
acompanhamento e detecção dos casos, visto que se trata de um fenômeno aind=
a pouco
conhecido e explorado. A atuação da equipe multidisciplinar, que inclui
profissionais da saúde e da educação, é essencial na promoção do bem-estar =
dos
adolescentes de maneira holística e satisfatória.
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Autor correspondente
Alicyregin=
a Simião Silva
Endereço: Rua Monsenhor
Manuel Cândico, Centro, CEP: 62.760-000,
Telefone: (85) 98871-2=
666
E-mail: alicy.reginasi=
lva@outlook.com
Submissão: 2021-04-26
Aprovado: 2021-06-04
[1]=
Universidade da
Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB), Redenção,
Brasil. ORCID: https://or=
cid.org/0000-0002-8337-2728.
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Universidade da
Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB), Redenção,
Brasil. ORCID: https://or=
cid.org/0000-0002-5601-0086.
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Universidade da
Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB), Redenção, B=
rasil.
ORCID: https://orcid.org/=
0000-0003-3612-0541.
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Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB), Redenção,
Brasil. ORCID: https://or=
cid.org/0000-0003-0508-084X.
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Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB), Redenção,
Brasil. ORCID: https://or=
cid.org/0000-0002-1049-8231.
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[6]=
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Brasil. ORCID: https://or=
cid.org/0000-0003-0426-0347.
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[7]=
Universidade da
Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB), Redenção,
Brasil. ORCID: http://orci=
d.org/0000-0002-4126-2256.
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[8]=
Escola de Saúde
Pública do Ceará, Fortaleza, Brasil. ORCID: http://orcid.org/0000-0002-16=
25-1889.
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[9]=
Universidade da
Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira – UNILAB, Redenção,
Brasil. ORCID: https://or=
cid.org/0000-0002-5173-5360.