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EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL E EXPOS=
IÇÃO
OCUPACIONAL SOLAR DIANTE DA SAÚDE DO TRABALHADOR DA CAJUCULTURA<=
/span>
<=
/p>
P=
ERSONAL
PROTECTION EQUIPMENT AND OCCUPATIONAL SUN EXPOSURE BEFORE THE CAJUCULTURE
WORKER'S HEALTH
Objetivo:
Avaliar a utilização de equipamentos de proteção individual e a exposição s=
olar
entre trabalhadores que atuam no beneficiamento da castanha de caju e seus =
derivados.
Método: Trata-se de uma pesqui=
sa
transversal, quantitativa, epidemiológica, realizada no município de Barrei=
ra –
CE, no período entre dezembro de 2019 e maio de 2020. A coleta de dados deu=
-se
por meio da anamnese e da aplicação de instrumento semiestruturado que abor=
dou
as condições laborais e aspectos sociodemográficos desses trabalhadores. O
processamento estatístico dos dados foi realizado através do programa Epi
Info v. 7.2.1.0. Essa pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética e Pesq=
uisa
com parecer de número 3.466.070. R=
esultados:
Participaram do estudo 100 pessoas, predominando participantes do sexo
masculino (66%). Observou-se que a exposição solar acarretou, em 23% dos
entrevistados, eritema. Sobre a utilização de equipamentos de proteção
individual (EPI) durante a atividade laboral, 63% dos entrevistados utiliza=
vam
apenas um EPI, havendo uma maior prevalência da utilização de camisa de man=
ga
comprida em 26% dos participantes. Assim, foi possível observar que a não
utilização de EPIs e a exposição solar devido à atividade laboral são fator=
es
de risco consideráveis que podem levar a sérias consequências à saúde do
trabalhador, como por exemplo a ocorrência de câncer de pele. Conclusões: É imprescindível repe=
nsar
estratégias em prol da saúde desse grupo para que tanto o empregado como o =
empregador
tenham conhecimento das Normas Regulamentadoras que visam amparar a ativida=
de
laboral com o caju e seus derivados. =
Palavras-chave: Equipamento de Proteção Individual. Exposição
Ocupacional. Dermatite Ocupacional. Saúde do Trabalhador. Enfermagem do
Trabalho.
ABSTRACT
Objective:=
span> To evaluate the use of
personal protectiveequipm=
ent
and sun exposure among workers who work in the =
processing of cashewnuts and their derivatives. Method:This=
is a cross-sectional, quantitative, epidemiological research, carried out in the city of Barreira - CE, between December 2019 and May =
2020.
Data collectiontookplace through anamnesis a=
nd the
application of a semi-structuredinstrument
which addressed the workin=
gconditions and sociodemogr=
aphicaspects of these wo=
rkers.
Statistical data processing was performedusing the PPE Info v. 7.2.1.0. This
research was approved by the Ethics
and Research Committeeund=
eropinionnumber 3.46=
6.070. Results: One hundred
people participated in the study, predominantly
male participants (66%). It was observed
that exposure to the sunc=
aused
by erythema in 23% of resp=
ondents.
Regarding the use of personal protectiveequipment (PPE) during labor activity, 63% of respondents used only one PPE, with a higherprevalence of wearing a long-sleevedshirt in 26%=
of the participants. Thus, it wa=
s possible to note that the non-use of PPE and sun exposure due to work activities are considerable
risk factors that can lead
to seriousconsequences for
workers' health, such as the occurrence
of skin cancer. Conclusions: It is esse=
ntial
to rethink strategies in favor of the health of=
thisgroupso
that both the employee and the employer
are aware of the Regulator=
yNorms that aim to s=
upport
the work activity with cashew and its derivatives
Keywords: Personal
ProtectiveEquipment. Occupational
Exposure. Occupational Dermatitis. Occupational
Health. Occupational Health Nursing.
INTRODUÇÃO
A agricultura familiar representa forte presença no
contexto da agricultura do nordeste brasileiro (82,6%)(1). Essa
realidade dá-se pela necessidade de os produtores rurais utilizarem, de for=
ma
eficiente, os fatores terra e mão de obra da própria família nas atividades
econômicas que os alocam da forma mais racional possível, visando o sustento
familiar e a geração de emprego para a população(2). =
Cerca de 75% desses produtores são compostos por
agricultores familiares que possuem áreas inferiores a 20 hectares, gerando
anualmente 250 mil empregos diretos e indiretos. O caju gera uma importância
econômica ainda maior na região Nordeste devido à colheita permitir uma
intercalação entre outras culturas de subsistência, como arroz, feijão,
mandioca e milho(3).
Dessa forma, o cultivo e a comercialização do caju,
também conhecido como cajucultura, vêm sendo ba=
stante
difundidos no Nordeste Brasileiro, tanto por ser uma atividade agrícola mais
propícia às regiões de climas quentes e secos, como por ser um fruto fornec=
edor
de matéria-prima para a fabricação de vários subprodutos como a madeira, a
castanha, a cajuína e o líquido da castanha-de-caju (LCC)(4).
Durante o ano de 2016, a ocupação territorial de
plantações de caju no Brasil correspondia a 594 mil hectares, sendo que 99,=
4%
desse total concentravam-se na região Nordeste, tendo como principal produt=
or o
estado do Ceará, com 384 mil hectares (64,7%)(4-5). Esse estado
apresenta os municípios de Aracati, Aracoiaba, Beberibe, Bela Cruz, Cascave=
l,
Itapipoca, Russas, Barreira e Pacajus como os principais produtores de
castanhas de caju. Estes dois últimos destacam-se como polos produtores de =
caju
e de amêndoa da castanha-de-caju, com aglomeração de micro e pequenas
agroindústrias formais e informais. Em Barreira, a caj=
ucultura
caracteriza-se como a principal fonte de renda, com produção baseada no man=
ejo
manual e semimecanizado com exposição aos componentes do LCC(4).=
O LCC é usado como base para revestimentos, isolan=
tes
elétricos, plastificantes para borracha, reveladores fotográficos, tintas,
vernizes, esmaltes, abrasivos e antioxidantes. No entanto, o principal prod=
uto
da cajucultura nordestina continua sendo a amên=
doa de
castanha-de-caju (ACC)(6). Já a castanha contém uma película
envolvente que é removida durante o processamento, da qual são extraídos al=
caloides
e taninos. Da casca, obtém-se um líquido cáustico inflamável, subproduto do
agronegócio do caju, o LCC, que constitui, aproximadamente, 25% do peso tot=
al
da castanha(7). Este possui propriedades cáusticas e irritantes =
que,
em contato direto com a pele de trabalhadores, podem causar irritações e
queimaduras químicas(8).
Todas as etapas que compõem este process=
o de
beneficiamento da castanha contam com diversos riscos à saúde do trabalhado=
r,
como exposição ambiental como poeira, calor e frio, assim como aspectos
relacionados à atividade em si como fritura da amêndoa, embalagem e
armazenamento, em que pode haver contato frequente com o LCC(8).=
A
exposição constante aos raios ultravioletas sem a correta utilização de med=
idas
preventivas, deixa o trabalhador vulnerável ao desenvolvimento de câncer de
pele(3).
Diante do exposto, a
adoção de medidas de biossegurança no ambiente de trabalho constitui fator
determinante na prevenção de acidente e doenças ocupacionais, sendo preconi=
zado
pela legislação o uso de equipamentos de proteção individual (EPI), bem com=
o a
correta manipulação e supervisão no uso destes, além de medidas comportamen=
tais
e organizacionais no trabalho(9).
A
enfermagem, por sua vez, tem um papel fundamental no contexto da prevenção =
de
agravos à saúde do trabalhador. Para que isso aconteça, é importante que o =
profissional
seja capaz de realizar busca ativa, além de orientar e instigar o uso de EP=
I(7).
Neste sentido, fez-se=
necessário
investigar sobre a utilização de EPI e exposição solar entre indivíduos que
exercem atividade laboral com castanha de caju pois, além de ser um tema po=
uco
explorado na literatura, este ambiente de trabalho/produção expõe o agricul=
tor
a agentes que podem causar riscos e danos à saúde.
MÉTODO
Trata-se de estudo transversal,
realizado no município de Barreira, no estado do Ceará, sendo este escolhid=
o devido
a relevância desta cidade no contexto da cajucultura=
span>.
No período de dezembro=
de
2019 a maio de 2020. A população do estudo foi
composta de indivíduos que praticavam atividade laboral de
beneficiamento da castanha de caju, pseudofruto e derivados.
O município apresenta população estimada para 2019=
de
22.425 habitantes, com a maioria em zona rural (58,48%), distribuição
equitativa quanto ao sexo, sendo uma leve maioria nos homens (9.837 - 50,25=
%),
com principal fonte de renda o beneficiamento da castanha de caju e dos seus
demais derivados e uma considerável proporção de habitantes em extrema pobr=
eza
(4.560 - 23,3%)(5). A população do e=
studo
foi composta de indivíduos que praticavam atividade laboral de
beneficiamento da castanha de caju, pseudofruto e derivados.
O
local de aplicação do instrumento de coleta de dados foi o Ambulatório de
Dermatoses, que funciona na sede do Sindicato dos Produtores Rurais de
Barreira, entidade sindical de primeiro grau, sem fins lucrativos, que abra=
nge
cerca de 20 minifábricas de castanha. O Ambulatório conta com sala de esper=
a e
consultório, segundo os padrões do Sistema Único de Saúde.
A população do estudo foi selecionada por meio da aplicação da
técnica metodológica de amostragem do tipo bola de neve, segundo a qual o
participante inicial do estudo indica três novos participantes que, por sua
vez, apontam novos indivíduos e assim sucessivamente, até que seja alcançad=
o o
objetivo proposto(10).
Foram utilizados como critérios de inclusão: <=
span
style=3D'font-family:"Times New Roman",serif'>indivíduos com idade maior ou=
igual
a 18 anos, que apresentassem lesões de pele adv=
indas
do contato com o LCC em virtude da atividade laboral relacionada ao
beneficiamento da castanha de caju, pseudofruto e derivados. Foram excluídos
indivíduos com algum comprometimento neurológico que impossibilitasse o
entendimento sobre os objetivos da pesquisa e os apresentassem
lesões de pele advindas de outras causas não associadas ao contato com o LC=
C. Resultando
em uma amostra de 100 indivíduos.
Inicialmente,
realizou-se a divulgação da presente pesquisa na emissora de rádio situada =
no município,
assim como divulgação pelos profissionais de saúde e produtores de castanha
locais, por intermédio do Sindicato. Os voluntários foram convidados a
comparecer ao ambulatório, reunindo pessoas que possuíam lesões de pele e
exerciam atividades relacionadas diretamente ao contato com o caju, a casta=
nha
de caju e/ou derivados.
A anamnese foi o prim=
eiro
passo na abordagem diagnóstica, com a coleta da história da doença atual, a
história ocupacional, as atividades realizadas nos tempos livres, as tarefas
domésticas, os produtos pessoais e a história pregressa. Posteriormente, com a finalidade de identifica=
r o
que permanece arraigado nas atividades tradicionais da cajucultura,
apontando os avanços e permanências, analisou-se, por meio de um formulário padronizado aplicado em campo, d=
uas
variáveis principais pertinentes ao risco da atividade de trabalho associad=
a ao
beneficiamento do caju e seus derivados: o uso de EPI e a exposição solar.<=
span
style=3D'color:red'>
Além disso, foram
abordadas variáveis sociodemográficas correspondentes à idade, ao sexo e à
escolaridade, como também questões sobre fatores de risco e sinais/sintomas
decorrentes da exposição solar, tempo e horário de exposição assim como
utilização de EPI durante a atividade laboral.
O banco de dados foi
construído em planilha eletrônica Microsoft ExcelÒ
2016 e processado no Programa Estatístico Epi Info, versão 7.2.1.0 para
Windows (CDC, Atlanta –EUA). Foram calculadas estatísticas descritivas,
incluindo medidas de posição e de variabilidade como média e desvio padrão =
(dp) para características numéricas, além de frequênci=
as
absolutas e relativas adequadas às variáveis categóricas.
Foram entrevistadas 100 pesso=
as, de
21 localidades do município, o que apresentou
predominância do sexo masculino (66 – 66%), média de idade em ambos os sexo=
s de
33,21 anos, (dp± 12,42), escolaridade, predomin=
aram
participantes que não estavam estudando atualmente, sendo estes 88% (n=3D88=
) dos
entrevistados. <=
o:p>
Em
relação às características devido à exposição solar, a maioria não apresenta
sintomas (47 – 47%), mas cabe elencar que eritema em local exposto ao sol (=
23 –
23%), sensação de queimação (21 – 21%) e estes sintomas de modo simultâneo =
(9 –
9%) foram relatados entre o grupo. A
predominância de trabalhadores que não se expõem diretamente ao sol (41 - 4=
1%) acontece
por estes trabalharem em áreas cobertas.
Tabela 1 - Tempo de exposição solar d=
iária
relatado por trabalhadores do setor produtivo de beneficiamento do caju e s=
eus
derivados, Barreira - Ceará, Brasil - 2020.
Tempo de exposição solar di=
ária
N
%
< 1 hora
4=
5
4=
5,0
Entre 1 e 3 horas
1=
2
1=
2,0
Entre 3 e 5 horas
0=
2
2=
,0
Não se expõe ao sol=
p>
4=
1
4=
1,0
Fonte: Dados da pesquisa de campo –
autoria própria (2020).
Quanto ao horário em que se d=
á o maior
tempo de exposição solar, a maioria o faz durante o período do dia em que h=
á a
maior incidência de raios solares na cidade, entre 8 e 13h (52 – 52%), sendo
boa parte dos trabalhadores não expostos diariamente ao sol por meio de sua
atividade laboral (41 – 41%).
As Tabelas 02 e 03 apresentam=
os
dados acerca da quantidade de EPI utilizados entre os entrevistados durante=
a
jornada de trabalho. Houve predominância de trabalhadores que não os utiliz=
am
(63%), podendo apresentar consequências. A tabela 03 foi construída a parti=
r de
uma questão de múltipla escolha, por esse motivo, o percentual ultrapassa 1=
00%,
visto que um único entrevistado poderia utilizar mais de um tipo de EPI.
Tabela 02 - Utilização de equipamentos de
proteção individual relatada por trabalhadores do setor produtivo de
beneficiamento do caju e seus derivados, Barreira - Ceará, Brasil - 2020.
Quantidade de EPI utilizados
N=
%
Apen=
as
um
63
63%
Até =
dois
31
31%
Até =
três
05
05%
Até
cinco
01
01%
Fonte: Dados da pesquisa de campo –
autoria própria (2020).
Tabela 03 - Utilização de equipamentos de
proteção individual para a proteção durante a atividade laboral. Barreira -
Ceará, Brasil - 2020.
Tipo
de EPI=
n=
%
Camisa de mangas compridas=
span>
26
26%
Luvas
09
09%
Boné/Chapéu
04
04%
Avental impermeável=
p>
02
02%
Pano amarrado na cabeça
Calça comprida
01
01
01%
01%
Máscara descartável=
p>
01
01%
Protetor solar
01
01%
Não utiliza
63
63%
Fonte: Dados da pesquisa de campo – autoria própria (202=
0).
De forma unânime, os particip=
antes
utilizavam detergente ou sabão após a atividade laboral, como também limão,=
o
que relatam ser útil para impedir o aparecimento de manchas mais escuras qu=
e a
cor da pele.
Vale ressaltar que todos os
entrevistados afirmaram utilizar óleo vegetal durante a atividade laboral p=
ara
evitar queimaduras devido ao contato com LCC. Além disso, quando o LCC resp=
inga
em qualquer parte da pele, imediatamente, os trabalhadores relatam utilizar
álcool 70% para prevenir a progressão da queimadura na pele.
DISCUSSÃO<=
/o:p>
<=
/p>
Prevaleceu a população mascul=
ina,
dado semelhante a outro estudo que identificou a maioria dos trabalhadores =
do
gênero masculino (66,67%). No que =
se
refere ao nível de escolaridade, a maioria dos entrevistados apresentava ba=
ixo
grau de escolaridade(12). O que pode justificar a não adesão ao =
uso
do EPI.
Com relação às características
encontradas devido à exposição solar, prevaleceu a presença de eritemas, o =
qual
se caracteriza por desordem inflamatória, que surte efeitos sobre a pele e
mucosas. Não tem predileção por idade ou raça, porém é mais comum em adultos
jovens do gênero masculino. As manifestações cutâneas aparecem inicialmente=
nas
extremidades, são planas, redondas e vermelho-escuras, sendo, comumente,
notados o eritema e as queimaduras solares. As lesões cutâneas mais marcant=
es
do eritema são os anéis eritematosos circulares e concêntricos em forma de =
alvo
ou olho de boi(13-14). =
Quanto
ao tempo de exposição solar, observou-se que a maioria dos entrevistados
permanecem por até duas horas expostos ao sol por dia durante a semana (seg=
unda
a sexta), referente ao trajeto até o ambiente de trabalho, resultado também
observado em Mato grosso, Brasil(15).
Os funcionários da
produção de castanha de caju também estão expostos a numerosos riscos
ocupacionais no ambiente de trabalho, entre eles, a adoção de posturas forç=
adas
devido ao trabalho manual e semimecanizado durante o corte da castanha, poi=
s o processamento
da castanha de caju exige intensa utilização de mão de obra. Esse atributo necessita de me=
didas
para prevenção de agravos, para isso deverá ser fornecido aos trabalhadores=
um
EPI apropriado(16).
Por esse motivo, o
empregador rural ou equiparado deve fornecer aos trabalhadores rurais expos=
tos
ao sol EPIs como chapéu de aba larga ou boné com touca árabe, ou outra prot=
eção
contra o sol e chuva, óculos de proteção contra radiações não-ionizantes e
proteção do corpo inteiro nos trabalhos em que haja perigo de lesões provoc=
adas
por agentes de origem térmica, biológica, meteorológica e química, como
aventais, jaquetas, capas e macacões(17).
Estudo realizado em outro cen=
ário
brasileiro encontrou que a maioria de seus entrevistados protegem-se da
radiação solar utilizando somente chapéu e/ou boné como forma de proteção (=
15 -
42,85%)(18). Pode-se observar que o estudo aponta exatamente o q=
ue
foi encontrado na presente pesquisa, ou seja, a grande maioria utiliza apen=
as
um tipo de equipamento de proteção individual ou não o utiliza.<=
/span>
O manuseio do líquido da casca de castanha, por sua
vez, torna-se extremamente danoso, pois, devido à castanha conter alto teor=
de
oleosidade e os trabalhadores não usarem os EPIs, estes chegam a perder as =
digitais
durante o manuseio. Portanto, a falta de instrumentos essenciais é prejudic=
ial
às condições físicas, além das perdas de digitais, queimaduras das mãos
provocadas pelas oleosidades que contém a castanha, inalação da fumaça pela
falta de proteção nas narinas, forte radiação do calor do fogo e a posição =
do
corpo contorcido nas cadeiras inadequadas, baixas e pequenas, que resultam =
em
problemas de saúde futuros(19).
Outros
estudos apontam que as condições de trabalho dos povoados que manuseiam a
castanha acabam por expor os trabalhadores a uma situação de risco
socioambiental e, muitas vezes, insalubre e imprópria para o bem-estar dos
trabalhadores e de seus familiares, pois,
para a obtenção deste produto (amêndoa de castanha-de-caju), integram o gru=
po
dos principais insumos: castanha de caju, óleo vegetal para proteção das mã=
os
dos trabalhadores que atuam na etapa de corte e/ou fritura da amêndoa(=
20-21).
Os entrevistados afirmam que só não utilizam luvas
porque a castanha não ficava firme quando eles a manipulam, então ela foi
substituída pelo uso de um óleo(22). Esse estudo mostra que o us=
o de
óleo vegetal se sobressai em relação ao uso de luvas, achado que vai ao
encontro do disposto nos resultados de nossa pesquisa. Contudo, não existem
estudos que possam comprovar a eficácia da utilização do óleo vegetal para
queimaduras advindas do líquido da casca de castanha, porém, sabe-se que o =
óleo
vegetal tem uma capacidade antioxidante que representa parte da bioatividade dos componentes dos óleos vegetais(=
23).
Diante do exposto, observa-se que
esse trabalhador, enquanto detentor da força de trabalho, pode vivenciar
situações de conflitos decorrentes de seu processo laboral. De um lado, a
certeza de garantia de seu sustento e de sua família; de outro, as
intercorrências sobre sua saúde e risco de morte(24).=
CONSIDERAÇÕES F=
INAIS
<=
/p>
A partir desse estudo, foi possível observar que a=
maioria
dos profissionais não fazem uso de EPIs e estão expostos ao sol devido à
atividade laboral, sendo considerados fatores de risco consideráveis que po=
dem
levar a sérias consequências à saúde do trabalhador, como por exemplo a
ocorrência de câncer de pele. Portanto, sabendo que o setor agroindustrial
possui relevância indiscutível no Nordeste Brasileiro, principalmente no que
diz respeito à cajucultura, deve-se estar atent=
o às repercussões
na saúde do trabalhador da área devido aos inúmeros riscos ocupacionais.
À vista disso, é indispensável repensar as estraté=
gias
em prol da saúde desse grupo, com ações direcionadas a fim de que esses tra=
balhadores
possam se proteger da radiação solar, como também orientar sobre a utilizaç=
ão
de equipamentos de proteção individual na atividade laboral a fim de evitar=
que
ocorram futuras complicações de pele, visando à prevenção de doenças e à
promoção da saúde no trabalho.
Por esse motivo, é imprescindível que tanto o
empregado como o empregador tenham conhecimento das Normas Regulamentadoras=
que
visam amparar a atividade laboral com castanha de caju, a fim de que o
empregador possa oferecer melhores condições de trabalho como também o
empregado sentir-se protegido no seu cargo. Sendo assim, reafirma-se a
importância do enfermeiro como agente educador, juntamente com sua equipe,
desempenhando ações que devem ir além da prevenção de doenças, sendo preciso
também trabalhar nas mudanças de atitude dos usuários por meio de palestras,
capacitações e oficinas para que obtenham qualidade de vida.
Vale ressaltar que o presente estudo apresentou, como limitação, o f=
ato
de não ter sido executado por uma equipe multiprofissional. A
interdisciplinaridade profissional, nesse contexto, poderia proporcionar uma
investigação ainda mais holística acerca das condições laborais dos
trabalhadores vinculados à cajucultura, assim c=
omo
das manifestações clínicas dermatológicas atreladas à atividade ocupacional=
apresentadas
por esta população.
Finalmente,
sugere-se a realização de novos estudos acerca da temática, haja vista a es=
cassez
de publicações, principalmente envolvendo pessoas que trabalham com castanha de caj=
u e
derivados, como também estudos que visem conhecer os benefícios e malefícios
que a utilização prolongada de óleo vegetal pode trazer à pele do trabalhad=
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