INTRODUÇÃO

O envelhecimento é um processo biológico dinâmico, progressivo e irreversível cujas alterações são caracterizadas por mudanças estruturais e funcionais no corpo humano ^(=
1). O processo de envelhecimento da população está expresso no aumento da expectativa de vida, que é decorrente de avanços tecnológicos na área da sa= úde, alterações na estrutura familiar, nos padrões de trabalho e nas migrações, = bem como nas percepções dos indivíduos acerca de aspectos biológicos, culturais, psicológicos e sociais ⁽²⁾.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o número de pessoas com 60 anos ou mais terá aument= ado em aproximadamente 70% até 2025, especialmente nos países em desenvolviment= o ⁽³⁾. No Brasil, são estimadas cerca de 32,9 milhões de pessoas com 65 anos ou ma= is, com projeção de curva de crescimento para 58,2 milhões até 2060, o equivale= nte a 25,5% da população ⁽²⁾.

Na atualidade é verificada a elevação na incidência de distúrbios psicológicos em idosos. A= OMS estima que aproximadamente um em cada 10 idosos pode sofrer de depressão (4).

Em pessoas idosas, a depressão é o transtorno psiquiátrico mais frequente, e está associada ao m= aior risco de morbidade, mortalidade e falta de controle sobre o próprio estado emocional ⁽⁵⁾. Ainda assim, é uma doença frequentemente subdiagn= osticada e subtratada por ter semelhanças com complicaçõ= es físicas e mentais, consideradas naturais ao envelhecimento ⁽⁶⁾.<= /span>

A ansiedade é associ= ada às limitações presentes na velhice, ocasionando percepções negativas da realidade e questionamentos acerca das próprias habilidades intelectuais. A= ltos níveis de ansiedade em idosos ocasionam vivências, que interferem na atenção seletiva e na codificação de informações na memória, bloqueando assim a compreensão e o raciocínio ⁽⁷⁾.

A qualidade de vida = é o conjunto multidimensional e multifatorial de satisfações subjetivas que os sujeitos obtêm no seu dia a dia, que considera os aspectos físicos, psicológicos e sociais da vida, sendo útil para determinar o impacto global= das doenças e dos tratamentos médicos a partir da perspectiva do indivíduo (8). Sendo assim e, considerando que os transtornos de ansiedade e depressão ten= dem a diminuir a qualidade de vida, compreender a relação entre estas condições= é especialmente importante em idosos, uma vez que estes distúrbios podem afet= ar as relações interpessoais, o suporte físico, social e o desempenho cognitiv= o, o que impacta negativamente sobre a qualidade de vida ⁽⁹⁾. No entanto, há poucas investigações a respeito da relação entre estes transtornos psiquiátricos e= a qualidade de vida na população idosa ⁽¹⁰⁾.

O objetivo deste est= udo foi testar a associação entre ansiedade, depressão e a qualidade de vida de idosos.

MÉTODOS
Participantes, local e tipo de estudo=

Trata-se de um estudo descritivo, transversal, com abordagem quantitativa. O procedimento de amostragem utilizado foi o não probabilístico por conveniência, sendo a amo= stra constituída por idosos cadastrados no programa Universidade Aberta da Terce= ira Idade – UATI da Universidade do Estado da Bahia – UNEB, em Senhor do Bonfim, BA. Esta pesquisa foi realizada a partir de dados provenientes de um projeto maior que tem como objetivo verificar o efeito de um programa de abordagem multidisciplinar na qualidade de vida de idosos da UATI, o qual foi desenvolvido por pesquisadores vinculados ao grupo de estudos e pesquisa em qualidade de vida e envelhecimento saudável ( QualES) da UNEB-BA, Brasil. O desenho e a condução do presente estudo seguiram as recomendações do Rep= orting of Observational Studies in Epidemiology (STROBE).

Como critérios de inclusão, definiu-se que os participantes foram idosos (60 anos ou mais), de ambos os sexos, matriculados na UATI. Como critério de exclusão, considerou= -se a presença de declínio cognitivo de acordo com o Mini Exame do Estado Mental (MEEM) ⁽¹¹⁾.

Instrumentos de avaliação dos participantes

Foi aplicada uma fic= ha de identificação para coleta dos dados sociodemográficos: sexo, idade, esta= do civil, escolaridade, arranjo familiar e renda.

Escala de Depressão Geriátrica

A depressão foi aval= iada por meio da Escala de Depressão Geriátrica (EDG-15), uma versão simplificad= a da escala original, utilizada amplamente para o rastreamento de sintomas depressivos na população idosa, tanto na identificação do quadro quanto no monitoramento de mudanças ao longo do tempo. Pode ser auto aplicada ou aplicada por um entrevistador ^{(12).
A escala possui uma variação de zero (ausência de sintomas depressivos) a
quinze pontos (pontuação máxima de sintomas depressivos), para qual os auto=
res ⁽¹³⁾
definiram o ponto de corte igual ou maior que cinco para determinar a prese=
nça
de sintomas depressivos nos idosos.}

Inventário de Ansiedade Geriátrica

O Inventário de Ansiedade Geriátrica (GAI) é um instrumento para avaliação de ansiedade em idosos nos contextos geriátricos e comunitários, proposto pelo estudo ^=
(14). Este questionário é composto por 20 questões, em que o respondente declara concordar ou discordar das afirmações apresentadas. A somatória das respost= as concordo > 10 caracteriza o indivíduo com sintomatologia de Ansiedade. P= ode ser administrado de forma auto aplicada, ou aplicada pelo entrevistador.

WHOQOL-Old

Para avaliação da qualidade de vida dos idosos, foi utilizado o instrumento do Grupo de Quali= dade de Vida da Organização Mundial de Saúde (WHOQOL-Old) ⁽¹⁵⁾. Este instrumento é constituído de 24 perguntas, atribuídas a seis facetas: = (I) Funcionamento do Sensório, (II) Autonomia, (III) Atividades Passadas, Prese= ntes e Futuras, (IV) Participação Social, (V) Morte e Morrer e (VI) Intimidade. = Cada uma das facetas possui quatro perguntas, cujas respostas seguem uma escala = de Likert (1-5). Para todas as facetas, o escore dos valores possíveis pode oscilar de 0 a 100, onde maiores valores representam uma maior qualidade de vida.

Coleta e análise de dados

A coleta de dados foi realizada entre novembro e dezembro de 2019. Os questionários foram aplicados sob forma de entrevi= sta, de forma clara e objetiva, sem que ocorresse interferência do entrevistador= na resposta. Em caso de dúvidas na compreensão pelo idoso, o entrevistador rep= etiu a questão até que ocorresse a compreensão por parte do entrevistado.=

Este estudo foi apro= vado pelo Comitê de Ética em pesquisa envolvendo seres humanos da Universidade do Estado da Bahia, com CAAE: 25875819.8.0000.0057. Todos os participantes assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Os princípi= os éticos gerais foram acatados considerando-se que a pesquisa em qualquer áre= a do conhecimento, envolvendo seres humanos, deve ser coerente com os princípios= da ciência. Este estudo assegurou o cumprimento dos princípios éticos da resol= ução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde.

Os dados foram testa= dos quanto à normalidade, em seguida foram submetidos à análise descritiva por = meio de frequências absolutas e percentuais para variáveis categóricas e medidas= de tendência central e dispersão para variáveis numéricas. Para realizar a aná= lise de correlação, em decorrência da identificação da não normalidade dos dados, optou-se em utilizar o teste não paramétrico (ρ) de Spearman para verificar a associação entre as variáveis depressão, ansiedade e quali= dade de vida. Para critérios de decisão, foi adotado o nível de significância α ≤ 0,05 e as análises foram realizadas no software Statistical Package of the Social Sciences (SPSS 21.0, IBM, EUA).

RESULTADOS

A amostra do presente estudo foi composta por 28 idosos, predominantemente do sexo feminino (n = =3D 27; 96,4%), com idade variando entre 60 e 86 anos (média de 68,6 ± 6,2), sendo a maioria viúvas (n =3D 14; 50,0%), com ensino fundamental (n =3D 16; 57,1%) = e com renda mensal de até um salário mínimo (n =3D 15; 53,6%), conforme apresenta= do na Tabela 1. Todas participantes do programa Universidade Aberta à Terceira Id= ade.

DISCUSSÃO=

A participação de id= osos em programas intervencionistas de educação em saúde e autocuidado tem impac= to positivo na promoção da saúde mental e estilos de vida saudável, bem como na prevenção de declínios físicos e cognitivos ⁽¹⁶⁾. Um exemplo de = um programa deste género é a Universidade Abertas à Terceira Idade (UATI) que = se apresenta como alternativa de promoção à reinserção psicossocial e ao desenvolvimento de ações educativas de caráter permanente.

Neste estudo, conduz= ido na UATI de Senhor do Bonfim, BA, a amostra foi constituída, em sua maioria,= por mulheres, viúvas, com ensino fundamental e com renda mensal de até um salár= io mínimo. Uma provável explicação para a predominância feminina está descrita= em estudo socioepidemiológico demográfico em uma UATI do estado de Pernambuco,= no qual os autores ⁽¹⁷⁾relacionam as diferenças quanto à percepção= do envelhecimento e como os indivíduos vivenciam tais mudanças, sendo que mulh= eres demonstraram maior interesse em cultura, bem estar e saúde e homens interes= se em assuntos políticos.

No que se refere ao arranjo familiar, a maioria dos participantes convivia com o cônjuge e/ou parentes próximos, incluindo filhos e netos. Estes dados trazem aspectos positivos relacionados à saúde, pois segundo estudo realizado ^{(18),
o suporte familiar tende a reduzir os efeitos negativos do estresse na saúde
mental, possibilitando assim, uma influência positiva no bem-estar psicológ=
ico.
Em seus estudos, os autores}⁽¹⁹⁾, sugerem que a interação social reduz o isolamento e ofere= ce ao idoso a estimulação do desempenho cognitivo, aumentando sua satisfação e melhorando a qualidade de vida.

Neste estudo foi observado que a média geral dos domínios de qualidade de vida do questionár= io WHOQOL-Old foi alta, destacando que os domínios relacionados à participação social e funcionamento do sensório obtiveram as maiores médias, o que pode ser reflexo da participação em um programa intervencionista de promoção à saúde e bem-estar, com a prática de exercício físico regular e intervenções que estimularam o desempenho mnemônico. Em um estudo realizado⁽²⁰⁾, foi observado que idosos participantes de = um programa regular de exercícios físicos mostraram melhora significativa na mobilidade funcional = e na qualidade de vida. Para os autores ⁽²¹⁾⁼ o exercício físico diminui o declínio funcional, especialmente as atividades aeróbicas e de resistência. O estudo ⁽²²⁾ afirma que intervenções com o objetivo de melhorar o desempenho mnemônico, propiciam a manutenção da capacidade funcional, minimizando os riscos de dependência e possível institucionalização da pessoa idosa.

A prevalência das doenças psiquiátricas investigadas neste estudo é menor do que aquelas observadas ^(23,24), em indivíduos brasileiros da comunidade, com características sociodemográficas similares, que variou entre 29,6% e 47,4%= . A população estuda= da apresentou baixa prevalência de depressão (14,3%) em comparação a estudos <= /span>brasileiros realizad= os com idosos da Atenção Primária à Saúde, com variações entre 26,1% a 30,6% <= sup>(25-27). Em estudo realizado⁽²⁸⁾ afirma que idosos com níveis mais elevad= os de desenvolvimento nas relações sociais são mais ativos e têm melhor qualid= ade de vida e menos sintomas depressivos do que idosos sedentários e isolados socialmente.

A qualidade de vida = é um conceito multifatorial e pode ser influenciada por diferentes circunstância= s, ocasionando distintos níveis de ansiedade, o conceito de ansiedade pode ser entendido como um sentimento desagradável, relacionado a percepções negativ= as de antecipação de perigo, ocasionando desconforto e tensão. Desse modo, é importante compreender as influências da ansiedade sobre a saúde do idoso p= ara que não ocorra confusão entre a detecção e o diagnóstico de transtornos de ansiedade com sintomas físicos comuns na terceira idade ⁽²⁸⁾.

Destaca-se a correla= ção negativa entre ansiedade e qualidade de vida nos idosos, em concordância com resultados encontrados na literatura em estudos realizados pelos autores (9,29), os quais observaram que há uma associação entre transtornos de ansiedade e a piora da qualidade de vida, além de maior uso de serviços de saúde. Indivíd= uos com altos níveis de ansiedade obtiveram piores escores de qualidade de vida= em campos como o da vitalidade, aspectos sociais e retraimento social ^(30=
).

Foi possível verific= ar a associação negativa, moderada e estatisticamente significativa entre qualid= ade de vida e depressão em alinhamento com os resultados de um estudo brasileiro realizado pelos autores ⁽³¹⁾, que observaram piora na qualidade = de vida em domínios como autonomia, atividades, intimidade, e participação soc= ial em idosos depressivos, em comparação com idosos sem sintomas de depressão. = Os autores ⁽³⁰⁾, verificaram que indivíduos em estado depressivo tem pouca interação social e utilizam mais os serviços de saúde.

Constatou-se uma correlação positiva, mo= derada e estatisticamente significativa entre ansiedade e depressão. Os autores (32) destacam que indivíduos acometidos no mesmo período por ansiedade e depress= ão, sofreram aumento na ocorrência de distúrbios físicos, incluindo problemas de visão, tosse persistente, hipertensão e problemas gastrointestinais, além de doenças cardíacas e asma, em comparação àqueles que sofriam apenas com ansiedade e apenas com depressão. De acordo com os autores ⁽⁷⁾, indivíduos com sintomas depressivos avaliam sua saúde como ruim e estão men= os satisfeitos com seu estado de saúde do que pessoas sem depressão. Além diss= o, os autores reportam que é comum portadores de ansiedade também apresentarem depressão em alguma intensidade. =

São muitos os estudos que indicam a carência de investigação destas doenças psiquiátricas por par= te dos profissionais de saúde no contexto clínico, embora sejam comuns como queixas clínicas apresentadas pelos pacientes⁽⁷⁾. É importante a= avaliação clínica e laboratorial da ansiedade e da depressão, visto que é preciso investigar doenças que podem estar associadas a estes transtornos, de modo = que, se não forem compreendidas e tratadas de modo adequado, podem ocasionar repercussões negativas na saúde e na qualidade de vida de pessoas idosas, podendo levar a um aumento da morbidade e da mortalidade, como também a elevação de custos para o sistema de saúde ⁽³³⁾.

Apesar de pequena,= a amostra é representativa e vislumbra o desfecho situacional local, tendo em vista que idosos participantes de programas intervencionistas tendem a não formar grupos grandes.

Este estudo apresenta algumas limitações como a utilização de um delineamento transversal, onde a associações entre as variáveis deve ser interpretada com cautela, pois, em estudos de associação não é possível realizar inferência causal. Outra importante limitação está relacionada ao fato de que, embora tenham sido utilizados questionários validados, mas a utilização de medidas autorreferi= das, aumenta a possibilidade do erro de aferição, do viés de recordação e o efei= to do desejo social.

CONCLUSÕES

Foi observado que ansiedade e depressão se correlacionam positivamente entre si e negativamen= te com a qualidade de vida. Há relação estatisticamente significativa e modera= da entre os três aspectos supracitados. Logo, torna-se compreensível a intríns= eca relação entre os transtornos psicológicos e seus efeitos na saúde do idoso = de forma integral, uma vez que este começa a buscar mais os serviços de saúde.= O diagnóstico e tratamento adequados da depressão e ansiedade podem melhorar a qualidade de vida dos idosos. Em se tratando dos domínios da qualidade de v= ida, a participação social e o funcionamento do sensório apresentaram as maiores médias para os idosos participantes do estudo, evidenciando a efetividade de programas intervencionistas, como a UATI, em prover melhora da qualidade de vida.

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Submissão: 2021-07-12

Aprovado: 2021-08-02

^#Autor correspondente: Glauber Sá Brandão. Rodovia Lom= anto Júnior, BR 407, Km 1= 27, Senhor do Bonfim, BA, CEP 48970-000, Brasil. Telefone: +55 74 98121-3811. E-mail: gbrandao@uneb.br

Variável sociodemográfica	n	%
Sex= o
Fem= inino	27	96,4
Ida= de
60-= 69 anos	18	64,3
70+ anos	10	35,7
Estado civil
Solteiro (a)	4	14,3
Casado (a)	10	35,7
Viúvo (a)	14	50,0
Escolaridade
Ensino fundamental	16	57,1
Ensino médio	9	32,1
Ensino superior	3	10,7
Arranjo domiciliar
Moram só	9	32,1
Moram com cônjuge ou parentes próximos	19	67,9
Renda
Até 1 salário mínimo	15	53,6
2-3 salários mínimos	10	35,7
4 ou mais salários mínimos	3	10,7

Domínio	Média ± DP	Mínimo	Máximo
Funcionamento do Sensório	76,3 ± 17,1	43,8	100,0
Autonomia	67,0 ± 11,0	50,0	81,3
Atividades Passadas, Presentes e Futuras	74,3 ± 17,1	43,8	100,0
Participação Social	77,9 ± 11,3	56,3	100,0
Morte e Morrer	65,6 ± 19,1	12,5	87,5
Intimidade	68,5 ± 21,9	25,0	100,0
Média geral	71,6 ± 10,8

		Ansiedade	Qualidade de vida
Depressão	ρ	0,671	-0,439
p-valor<= /span>	<0,0001	0,0196
Ansiedade	ρ		-0,436
p-valor<= /span>		0,0207