Aumento das exposições aos agrotóxicos: contribuição da enfermagem
Increased exposures to pesticides: contribution of nursing
DOI:
https://doi.org/10.31011/reaid-2019-v.87-n.25-art.207Resumo
O Brasil é uma potência em agricultura. Há longo tempo, já se sabe que o uso de agrotóxico tem aumentado na
agricultura brasileira devido à exploração inadequada dos solos e à aplicação de métodos produtivos defasados. Só
em 2017, cerca de 540 mil toneladas de ingredientes ativos desses produtos foram consumidas(1).
Em fevereiro de 2019, com a publicação no Diário Oficial, do ato n.º 10 da Coordenação-Geral de Agrotóxicos e
Afins, que concede para o ano de 2019, mais de 29 registros de agrotóxicos. Junto com mais três atos semelhantes
publicados em janeiro e fevereiro, deste mesmo ano, o total de registros de agrotóxicos concedidos já chega a 86. De
2010 a 2016, os registros foram sempre abaixo de 20 por ano. Nos dois últimos anos o número subiu para 47 (2017)
e 60 (2018), recorde em apenas 50 dias(1).
De acordo com dados pasta do Ministério da Agricultura, no período de 2015 a 2018 o número de registros autorizados cresceu na ordem de 220%. E com estas liberações recentes, o país passou a contar com 2.123 agrotóxicos,
se consolidando na liderança do ranking de um dos maiores consumidores de agrotóxicos do planeta(2).
Desta forma, o governo mais uma vez se contradiz com o discurso de que novos agrotóxicos são menos perigosos, onde quase metade dos registros de hoje se enquadra na categoria extremamente tóxico ou altamente tóxico
para o ser humano. Para esta classificação levasse em conta apenas os sintomas agudos provocados pelos agrotóxicos. Os sintomas crônicos, como o câncer, depressão e mutagênese não entram nesta avaliação. E os efeitos decorrentes da mistura entre agrotóxicos também são ignorados(3).
Destes produtos extremamente tóxicos registrados atualmente, encontram-se o Glifosato, já proibido na França
por seu potencial cancerígeno. E outro agrotóxico liberado recentemente é a base de 2,4-D. Nos seres humanos, esta
molécula (o 2,4-D) causa alterações genéticas, malformações de embriões, neurotoxicidade, alterações hematológicas, distúrbios metabólicos e desregulação hormonal, além dos efeitos agudos(1,2).
Essas aprovações vêm fomentando discussões na área da saúde, uma vez que expõe cada vez mais, não só os
trabalhadores agrícolas, que lidam diretamente com as substâncias tóxicas no dia-a-dia de trabalho, mas também para
toda população, que é exposta seja no alimento, na água ou no contato indireto desses produtos(3).
As intoxicações por exposições aos agrotóxicos resultam em uma interação complexa entre as características
do agrotóxico e a exposição ao produto. A exposição prolongada aos produtos agrotóxicos e ciclos de intoxicação
aguda pode ocasionar uma intoxicação subaguda e crônica, com danos irreversíveis(2).
Alguns agrotóxicos podem causar efeitos no desenvolvimento humano, como malformações fetais. Há estudos
que apontam a exposição ambiental materna aos agrotóxicos foi associada a maior ocorrência de malformação fetal,
em todos os trimestres da gestação. E ainda por cima, existem literaturas que associam a exposição ocupacional aos
agrotóxicos do pai ou da mãe na ocorrência de malformação fetal(