Feridas tumorais e suas implicações para o cuidado de enfermagem
Tumoral wounds and their implications on nursing care
DOI:
https://doi.org/10.31011/reaid-2018-v.85-n.23-art.577Resumo
O panorama da saúde mundial tem sido alterado por intensas modificações nos hábitos de vida da população. O desenvolvimento de
novas tecnologias, aliado ao avanço do diagnóstico e da terapêutica, contribuem para o aumento da expectativa de vida, com consequente transição no perfil epidemiológico das doenças, sobretudo em países desenvolvidos e industrializados. No Brasil, os avanços
descritos impactam na saúde pública e destaca-se em relação à incidência de doenças crônicas como o câncer, devido à sua grande
relevância epidemiológica, social e econômica.
Apesar dos avanços, no Brasil muitos pacientes acessam o serviço de saúde tardiamente, o que se traduz em: expressivos impactos
econômicos, diagnóstico da doença em estágio avançado e, por vezes, impossibilidade de cura. Destaca-se a importância da promoção
da saúde e prevenção, considerando que cerca de 33% dos novos casos de câncer no âmbito mundial poderiam ser prevenidos.1
Com o início tardio do tratamento, pessoas com o câncer em estágio avançado podem apresentar infiltrações de células malignas do
tumor em estruturas da pele, as quais se denominam feridas tumorais. Nesses casos, ocorre a ruptura na integridade do tegumento, em
decorrência da proliferação celular descontrolada, característica do processo de oncogênese, originando uma ferida evolutivamente
exofítica. Além desse termo, outros ainda são encontrados na literatura, como: lesões vegetantes malignas, lesões tumorais, feridas
oncológicas, feridas malignas ou lesões fungoides.2,3
As feridas tumorais têm características bem peculiares, como odor fétido, dor, exsudato, sangramentos e a não cicatrização da lesão.
Esta última característica constitui um desafio paradigmático para muitos enfermeiros, considerando alguns limites de sua formação
acadêmica e uma visão reducionista do cuidado pautado apenas na cura da pessoa com câncer. A noção de cuidado paliativo é, por
vezes, pouco abordada em alguns cursos de graduação, ocasionando uma formação limitada para o tratamento do câncer e de possíveis
lesões, em que a busca pela cicatrização das lesões torna-se o único objetivo.
No entanto, diante de uma lesão originada no câncer e da velocidade do potencial replicativo das células, o objetivo do enfermeiro
deixa de ser a cicatrização e sim as medidas de conforto. Isso porque a utilização de tecnologias que busquem aceleração do processo
cicatricial também promove aumento da proliferação neoplásica e consequente progressão tumoral.
As feridas tumorais geram grande impacto para o paciente, e o tratamento é pautado na redução de sinais e sintomas, considerando que
somente a cura do tumor que originou a lesão pode suprimir o problema. Portanto, a equipe de enfermagem que lida diretamente com
os pacientes com estas feridas tão peculiares deve estar atenta e utilizar métodos que venham a controlar os sinais e sintomas acima
citados apresentados pelo paciente. Os tratamentos oferecidos permeiam as intervenções cirúrgicas, quimioterapias, radioterapias e o
próprio manejo da ferida.4
Um dos sintomas mais constrangedores ao paciente é sem dúvida o odor fétido, em função da colonização bacteriana nessas lesões.
O tratamento de escolha para a melhora deste sintoma deve levar em conta aspectos físicos do cliente e próprios da lesão, para que
seja possível lhe garantir qualidade de vida. Os aspectos da lesão são avaliados a partir da classificação do odor existente, por meio
da escala: odor em grau I (o odor fétido é sentido apenas ao se abrir o curativo), grau II (o odor fétido é sentido ao se aproximar do
paciente, sem abrir o curativo) e grau III (o odor fétido é forte e/ou nauseante sentido no ambiente, sem abrir o curativo). Um produto
amplamente utilizado para a redução do odor é o Metronidazol, em diversas apresentações e concentrações.2
Outra possível queixa que cursa com esse tipo de lesão é o aparecimento da dor. O tumor tem relação direta com seu aparecimento,
por vezes em função da compressão local de estruturas adjacentes ou infiltração e compressão de algum nervo sensorial periférico.